Domo pessoal

Para quem se surpreendeu com o Shun em Siempre, preparem-se agora para conhecer a história de como tudo aconteceu, "Quando nos Tocamos", se passa após Siempre, porém iremos voltar um pouquinho no passado para entender como o novo Shun nasceu, ou seja, preparem-se para muitas surpresas com mais essa fic, integrante da Saga de Uma Nova Vida.

E ao falarmos de Shun, não podemos deixar de falar também sobre Arthemisys, a quem dedico essa fic. Acho que entre todas as ficwriters, sem desmerecer ninguém, mas se tem uma mestra especialista em Shun e Hades, essa pessoa certamente é ela.

Por isso, dedico essa mais nova obra a ela.

Ademais, espero sinceramente que todos também gostem de acompanhá-la.

Um forte abraço e Boa Leitura!


QUANDO NOS TOCAMOS

By Dama 9

Prólogo – Natureza Humana.

.I.

Eu ainda ouço sua voz, quando você dorme ao meu lado.

Eu ainda sinto seu toque nos meus sonhos

Entrou a passos firmes no templo, ouvindo risos infantis chegarem até si, respirou mais calmo ao reconhecer de imediato à voz do filho. Jamais se perdoaria se algo acontecesse a ele; pensou enquanto seguia pelos corredores largos até o terraço onde a sogra e o menino, estavam.

-PAI; Atreu gritou correndo até ele, abraçando-lhe as pernas.

-Vim buscá-lo, espero que já esteja pronto para ir; Hades falou afagando as melenas negras do filho.

-...; a criança assentiu, enquanto o olhar calmo da deusa da colheita recaia sobre eles.

Há alguns anos atrás, jamais imaginaria que veria uma cena dessas ou que todo aquele ódio e rancor que sentia pelo genro fossem apagados completamente de suas vidas. Naquela época, acreditava que jamais o perdoaria por ter-lhe tirado a filha e obrigado-a a viver naquele mundo onde tudo se resumia a dor e tristeza, mas muitas coisas haviam mudado.

-Como esta Hades? –Demeter perguntou calmamente.

Voltou-se para a senhora, encontrando-a sentada em uma cadeira de vime, com uma cesta de linhas a seus pés e um bastidor no colo.

-Bem e você? – ele perguntou pegando Atreu no colo.

-...; a divindade assentiu em concordância. –Porque não espera um pouco, pedi que trouxessem um lanche para Atreu, você poderia nos acompanhar; ela sugeriu.

-Bem...;

-Por favor, vamos esperar um pouquinho...; o menino pediu com os olhos brilhando.

Suspirou resignado, porque ele tinha de ter herdado os olhos de Cora? –Hades se perguntou.

-Acho que eu já lhe disse sobre a sorte que você tem de ter herdado os olhos da sua mãe, não? –Hades perguntou, indo sentar-se numa cadeira em frente à Demeter.

-Sem dúvida ele deve saber; a senhora brincou. –Só tenho pena das garotas daqui a alguns anos, ele irá arrasar corações;

-Garotas! Puff! –o menino resmungou com ar contrariado.

-O que foi? –Demeter perguntou vendo o ar emburrado do menino de cinco anos.

-Ele esta naquela fase de detestar garotas; Hades explicou, lembrando-se da surra que o menino levara de Cessil, a pequena filha de Hypnos que se enfezara com o filho e não pensara duas vezes em dar-lhe uns bons safanões, que nem o pobre Dorian foi capaz de segurá-la.

Ainda se perguntava como geminianos conseguiam ser tão perigosos, principalmente quando eram mulheres, porque já ouvira falara sobre o gênio difícil de Harmonia, a filha de Ártemis.

Se bem que nesse caso o nome influenciava e muito, somado ao signo, que já era bem complicado, causava uma verdadeira reação bombástica, mas Atreu, apesar de ser uma criança bem agitada, não se satisfazia apenas com a companhia de Cessil e Dorian, não eram mais raros os momentos que encontrava o pequeno rodeando Thanatos, tentando suborná-lo para ser levado ao santuário de Athena, para passear.

Não que Thanatos fosse fazer algo tão insano como obedecer ao garoto sem lhe avisar, mas estava começando a ponderar a idéia de deixar. Afinal, poderia fazer bem a ele, só precisava ver se Cora aprovava a idéia.

-Logo isso passa; Demeter comentou vendo o ar pensativo dele. –Mas e você, esta meio disperso, algum problema? –ela perguntou.

-Não, problema algum; Hades desconversou.

-Atreu, porque não vai ver se o lanche esta pronto, enquanto seu pai e eu conversamos; Demeter falou.

-...; o menino assentiu deixando o colo do pai e correndo pelo templo, desaparecendo da vista deles.

-Então? –ela perguntou sem esconder a curiosidade.

-Estava pensando, Atreu tem vontade de conhecer o santuário de Athena e bem...;

-Você não sabe se deixa, ou não? –Demeter perguntou, pensando ser esse o problema.

-De certa forma; Hades falou em meio a um suspiro, não era só isso.

-Creio que não seja só isso que esta lhe preocupando, não é? –a divindade falou calmamente.

-...; negou com um aceno. –São só algumas dúvidas inúteis;

-Que estão lhe tirando a paz; ela completou. –Vamos, me diga logo, o que esta te aborrecendo?

-Não diria bem isso, só que...; ele ponderou. –Passei pelo Japão antes de vir até aqui;

-Por quê? –Demeter perguntou surpresa.

-Fui ver o que tinha acontecido, parece que Zeus finalmente liberou Athena daquela promessa ridícula; Hades explicou.

-Já não era sem tempo, mas como isso aconteceu? –ela perguntou curiosa.

-Um dos cavaleiros dela o obrigou a fazer isso; ele respondeu um tanto quanto contrariado, pelo rumo que o assunto tomou.

-Que cavaleiro? –Demeter perguntou desconfiada.

-Andrômeda; Hades falou quase num sussurro.

-Ah! Agora eu entendi; ela falou casualmente. –E isso te aborrece por quê?

-Não é isso? Eu só não gostei da conversa que tivemos; ele respondeu.

-Uhn! Hades. Hades. O que esta escondendo? –a divindade quis saber.

-Nada;

-Vamos, admita; Demeter insistiu.

-Já disse, não é nada; ele rebateu começando a se irritar.

-Você esta com ciúmes; Demeter falou taxativa.

-Eu? Com ciúmes de um mortal, me poupe Demeter; o Deus dos Mortos ralhou indignado, mas viu um sorriso nada inocente surgir nos lábios da sogra e foi assim que se deu conta da pequena explosão.

-Não de um mortal qualquer Hades, você sabe; ela falou de maneira enigmática. –Aliás, você sabe também o que ele representou a Cora e que não pode competir com isso. Não me leve a mal, mas não há motivos para ciúmes, então, o que esta lhe tirando a paz é outra coisa;

-Por um momento eu duvidei; Hades falou num sussurro, deixando-se cair na cadeira novamente, enquanto os orbes verdes perdiam-se em algum lugar. –Por um momento eu perdi a fé; ele completou num sussurro com os orbes perdidos em algum ponto à frente.

-Vocês passaram por muitos momentos conturbados, ninguém fica livre de sentir-se assim; Demeter ponderou vendo-o num estado de fragilidade que simplesmente não condizia com a figura sempre imponente e majestosa do imperador, aquele olhar transmitia tanto incerteza quanto arrependimento.

-Mas não eu! Eu não tinha esse direito; ele falou serrando os punhos.

-O que ela pensa sobre isso? –Demeter perguntou.

-Que já passou, que eu não deveria me preocupar com isso, mas...;

-Ela esta certa; a senhora o cortou. –Todos os casais têm seus momentos conturbados, mesmo quando acham que tudo é perfeito. Tudo bem que às vezes o passado condena; ela comentou gesticulando nervosamente. – Mas já foi enterrado;

Respirou fundo passando a mão pelos cabelos, às vezes nem tão bem enterrados.

-Cora te ama Hades, nada nem ninguém vai mudar isso; Demeter falou em tom suave, chamando-lhe a atenção. –O que aconteceu entre ela e àquele cavaleiro faz parte do passado, mas entendo que apesar de tudo, o que mais lhe irrite é o fato de você não conseguir odiá-lo;

-O que? –ele perguntou surpreso.

-Você sabe Hades, o que tanto lhe incomoda é que apesar de tudo, você não consegue odiá-lo; ela repetiu. -Esse rapaz poderia ter feito diferente e isso certamente iria lhe ferir, mais do que feriu a ele, quando viu as pessoas importantes que tinha morrendo para lutar pelo mesmo ideal, mas ele não fez; a divindade insistiu em ressaltar.

-Por quê? –Hades perguntou num fraco sussurro.

-Acho que esta na hora de você descobrir sozinho, eu não tenho as respostas. Porque não pergunta você a ele? –Demeter falou.

-Uhn? –ele murmurou confuso.

-Isso mesmo, vá e pergunte a ele o porquê as coisas não aconteceram de acordo com o que você tem por 'natureza humana'; ela falou sem esconder uma pontinha de ironia.

-VOVÓ. PAI; Atreu gritou correndo até eles seguido por uma ninfa que trazia nas mãos uma bandeja com o lanche.

-É, talvez você tenha razão; ele murmurou depois de alguns segundos de reflexão. –Pode cuidar de Atreu pra mim, por mais algumas horas?

-...; Demeter assentiu compreensiva. Certas coisas eram melhores arriscar em saber a resposta do que viver sob o beneficio da duvida, estar ou não estar errado.

Levantou-se, vendo o olhar curioso do filho sobre si, afagou-lhe os cabelos antes de abaixar-se na altura de seus olhos, pousando um beijo em sua testa.

-Vou precisar resolver uma coisa e já volto, enquanto isso, você pode esperar mais um pouco com sua avó? –ele perguntou.

-...; Atreu assentiu abraçando-o fortemente. –O senhor volta logo?

-Volto; Hades falou, enquanto o menino se afastava.

Logo deixou o templo da deusa, tendo um tortuoso caminho a seguir, entender a verdade ou fugir dela. Eis a questão?

Continua...

Nota:

Cessil e Dorian são irmãos gêmeos, filhos de Hypnos.