O Voo do Passarinho
Capítulo I – A Fuga
Sansa correu para o seu quarto assim que viu a oportunidade para tal, seguindo o conselho de Shae. Ela tinha a consciência de que não estava a salvo em lugar algum, mas ela queria acreditar que a Rainha Regente, Cersei Lannister, estava sendo gentil e protetora quando chamou todas as garotas nobres que tinha como visita na Fortaleza Vermelha, localizada dentro de Porto Real; todavia, quando Sor Ilyn Payne chegou naquele quarto secreto em que estavam escondidas, ficou claro que algo ruim aconteceria mais cedo ou mais tarde. Eu devo chegar rapidamente em meu quarto! Pensou em desespero. Todos os corredores pelos quais passou e até mesmo a escadaria estavam vazios, mas o som vindo de fora do Castelo era horrível. A Batalha da Água Negra estava encontrando seu fim ou estava em seu auge, ela não conseguiu dizer, mas os gritos, o triste som do cruzar de espadas e os cavalos caídos lá fora eram perturbadores. Eles irão estuprar todas as garotas que estão aqui e no dia seguinte metade delas estarão carregando bastardos em suas barrigas; Você estará feliz por estar tendo o sangue da lua, a Rainha disse-lhe enquanto lhe servia uma taça de vinho. Eu não deveria ter tomado o que ela me deu… Pensou ao chegar no ultimo par de degraus que a conduziu ao seu quarto. Sansa estava se sentindo um pouco tonta devido ao vinho tomado, mas foi graças a ele que teve coragem de fugir e se esconder em seus aposentos. Pelo menos, aqui não haverá ninguém que irá me machucar. Eu só queria que Shae tivesse vindo também. A garota perdeu a conta de quantas servas ela teve nos últimos meses, mas Shae era a que mais gostara e que estava em seu encargo por mais tempo. A mulher de longos cabelos negros com leves ondulações em sua extremidade não era de Westeros e trabalhou para Lollys antes, mas como Lollys não desejava ver ninguém por causa de sua gravidez, a mulher foi mandada para atender as ordens de Sansa.
Finalmente à salvo! Gritou em sua cabeça ao correr para a grande porta de madeira de seus aposentos. Depois de atravessá-la fez questão de trancá-la, pegou a vela que estava sobre sua mesa e correu para a janela. Ela pôde ver a guerra lá fora. O rio estava verde e pareceu estar queimando, porém Sansa não conseguiu ver direito e não acreditava ser possível a atear fogo no mar. Espera... Eu não me lembro de ter acendido essa vela... Olhou para a vela em sua mão e logo seus pensamentos desvaneceram ao encontrar a boneca que seu pai lhe dera. Como eu queria que o senhor estivesse aqui.
- A garota começa a entrar em pânico - Uma voz vinda de suas costas a deixa sobressaltada. Por um instante Sansa pensou que fosse seu pai, Lorde Eddard Stark, mas quando ela se virou para olhar a face do homem, o ódio e a frustração a golpearam.
- O que está fazendo aqui? – Perguntou, tentando manter-se confiante. Sua voz por outro lado denunciou seu estado de espírito. Sandor Clegane era o primeiro cavaleiro do Rei Joffrey e intitulado por esse papel como Cão de Caça e também era membro da Guarda Real. Se ele estava em seu aposento era porque o Rei ordenou que o fizesse.
- Eu não ficarei aqui por muito tempo, - Começou, - Eu estou partindo.
- Para onde? – Perguntou, não se importando como quão histérica a pergunta ressoou. Se ele não estava lá para acatar uma ordem do Rei Joffrey, a lógica da presença dele em seu encalço era inexistente.
- Algum lugar… Que não esteja queimando – Sandor afastou os olhos da direção de Sansa. Ela estava com medo e percebeu que ele também estava, só que não da guerra que estava ocorrendo lá fora como ela temia, mas do fogo. A face dele… Ele lembra-se de seu irmão e de sua infância. - Norte, talvez – Continuou a frase, voltando os olhos para ela mais uma vez. – Pode ser.
- E o Rei? – Ficou estupefata com a declaração de Sandor.
- Ele pode muito bem se matar sozinho.
Vinho. Ele estava bebendo vinho e estava provavelmente bêbado, não, ele certamente estava bêbado. Desde que chegara a Fortaleza Vermelha não houve um dia se quer que encontrou o homem sóbrio, todavia essa foi a primeira vez que o viu realmente bêbado.
- Eu posso te levar comigo; Levá-la para Winterfell.
As palavras não lhe vieram à mente. Eu posso ser livre! Ir embora desse lugar horrível, ficar distante dessas pessoas horríveis, voltar para a minha família, para a minha mãe, meus irmãos... Para a minha casa, para o Norte, caminhar na mata como fazia antes, ser amada pelas pessoas de lá e não odiada como aqui, mas...
- Eu a manterei a salvo. Você deseja ir para casa? – Agora ele estava em sua frente. Ela não o viu ficar em pé; seus olhos encontraram o rosto dele, a luz refletiu-o e as cicatrizes que carregava no lado esquerdo pareceram negras, carregadas de maldade. Sansa se virou imediatamente, pensando duas vezes na proposta.
- Eu irei ficar segura aqui. Stannis não me machucará.
Sansa deve ter dito algo realmente ruim, porque Clegane abruptamente limitou ainda mais a distancia que havia entre eles. Ele cheira a vinho e morte. As palavras que seguiram a ação do homem estavam carregadas de pesar e rancor:
- Olhe para mim, - Ordenou e obedientemente acatou sua ordem, olhando dentro de seus olhos cinza e então, ele continuou, - Stannis é um assassino, os Lannisters são assassinos, seu pai era um assassino, seu irmão é um assassino, seus filhos serão assassinos algum dia, o reino é construído por assassinos, então é melhor que você se acostume com eles.
Sansa entendeu o que ele estava pensando através da frase que ele disse; Eles irão estuprar todas as garotas que estão aqui e no dia seguinte metade delas estarão carregando bastardos em suas barrigas. Você estará feliz por estar tendo o sangue da lua, as palavras de Cersei não pareciam se encaixar com Sandor, pensou, mas não deveria... confiar nele mesmo assim.
- Você não me machucará… - A frase pulou de sua boca. Ela queria demonstrar a ele que não o temia, mas tudo o que conseguiu foi fazê-lo tossir uma risada.
- Não, passarinho, eu não a machucarei.
Sem dizer uma palavra ou fazendo mais do que jogar ao chão sua capa branca manchada de sangue, ele deixou o quarto e uma Sansa paralisada para trás. A garota nortenha caminhou até a capa e se abaixou recolhendo-a em suas mãos de repente se dando conta de estar tremendo. O tempo passou de forma anormal e a garota só se moveu quando Shae entrou no quarto com uma faca nas mãos.
- O que está fazendo, senhorita? – Perguntou confusa.
- Ele disse que me levaria embora, Shae… De volta para Winterfell… - Disse Sansa, mostrando a capa para Shae e em seguida desatou a contar o que aconteceu ali.
- Senhorita, eu lhe peço perdão… Mas és estúpida?
- O quê? Eu sou sua senhora e ordeno que me resp...- Sansa começou, com suas bochechas corando. A desvantagem de ser ruiva é que mediante situações que lhe causam vergonha a vermelhidão que deveria se localizar unicamente em suas maçãs do rosto se espalham de forma rápida até suas orelhas, lhe transformando em um grande tomate.
- Lady Stark - Shae escarneceu – Esta era a sua oportunidade de encontrar com sua família, você sabe disso, não sabe?
- Eu estarei segura aqui. – A mesma frase dita para Clegane foi repetida.
- Por enquanto, embora seja mais provável que você encontre com o seu pai do que com sua mãe e irmãos. Não há nada aqui para você, nem mesmo esperança. Sua única chance está indo embora. - Shae se ajoelhou próxima de Sansa e segurou-lhe as mãos de uma forma estranhamente gentil que não fazia parte do feitio da mulher.
- Mas Arya…
- Ela está provavelmente morta agora. Se preocupe apenas consigo, fuja desse lugar horrível.
- … Ele já deve ter partido. - Sansa se pôs de pé e olhou pela janela; fora as luzes esverdeadas ao longe, ela não viu ninguém no jardim ou próximo dele.
- Ele não foi, eu o vi quando estava subindo ao seu encalço, mas ele não continuará aqui por muito tempo. Pegue suas joias, você poderá vendê-las e leve uma capa também. Deixe-me fazer isso para você. - Shae estava determinada. Se Sansa soubesse quem Shae realmente era, ela poderia dizer que a garota já havia feito isso antes.
Então as coisas aconteceram depressa. Quando Sansa 'acordou' para o mundo ela estava em frente a um homem de armadura utilizando um elmo de cabeça de cachorro. Em uma mão a garota segurava uma capa ensanguentada branca e na outra, uma boneca; ela trajava um vestido azul e sobre ele uma capa marrom. Ela parecia mais pálida do que o normal, apenas suas bochechas tinha uma coloração rosada, efeito da corrida até o estábulo. O homem a sua frente pareceu surpreso. Em baixo do elmo ela pode ver seus olhos, ambos a encarando, tentando lhe dizer algo, mas nenhuma palavra veio de sua boca. Ele apenas a levantou e a colocou em cima de seu cavalo negro e subiu atrás dela segurando as rédeas do animal.
- Obrigada – Sansa murmurou com o resto de sua voz que lhe restara, a voz da coragem.
- Deixe-me libertá-la, passarinho! – Ele gritou e soou feliz com alguma coisa que ela não compreendeu.
O cavalo começou a galopar; todas as pessoas que apareceram na frente deles foram mortas com apenas um movimento da espada de Sandor Clegane, que ria como louco. Ele gosta de matar. Sansa lembrou que uma vez ele havia lhe dito algo do tipo. Eu não devo ter medo. Ele não me fará mal. Ele não me fará mal. Ele não me fará mal. Repetiu a frase diversas vezes depois que mais pessoas foram mortas por ele. Cada vez que a espada cortava a carne de alguém, sangue era jorrado, quase sempre caindo sobre ela. Sansa estava enojada, mas se esse era o preço de sua liberdade, ela estava disposta a pagá-lo.
