Veja bem, meu bem
Veja bem, meu bem
Sinto te informar que arranjei alguém
pra me confortar.
Light olhava pela vidraça do apartamento. Tinha tudo que faria alguém feliz: poder, riqueza, mulheres.
Ninguém acima dele – o estudante acima de qualquer presidente, instituição ou líder religioso -, ninguém a negar qualquer coisa que fosse para ele – tinha quase tudo o que queria – e nenhuma mulher em plena consciência negaria fogo ao rapaz de madeixas castanhas – levemente avermelhadas.
Este alguém está quando você sai
E eu só posso crer, pois sem ter você
nestes braços tais.
Mas não sentia o poder como achava que sentiria. Aliás, pensava em si mesmo como a pessoa mais infeliz do mundo. Quando diziam que o amor era necessário, Yagami nunca fizera questão de levar à sério.
Tinha Misa, uma mulher encantadora, perfeitamente desenhada e carinhosa, que lhe apoiaria. Mas Misa só lhe tinha serventia para satisfazer seus desejos em pequenos momentos – quando se imaginava com outro.
A riqueza não comprava o que queria. Nunca compraria a vida de alguém, não quando a queria de volta. Só um vai-e-vem. Curioso como se arrependia de seu maior feito.
Veja bem, amor.
Onde está você?
Somos no papel, mas não no viver.
Queria, desejava, cobiçava alguém. Alguém que não estava mais entre eles.
Alguém que ele próprio matara.
Precisava dele.
A loira chegara. Ouviu o barulho da porta e reconheceu a melodia de seus passos quando tocavam o chão, com a bota de salto alto fazendo um ruído irritante.
Viajar sem mim, me deixar assim.
Tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins.
Misa se aproximou dele, abraçando-o pelas costas e lhe dizendo várias palavras carinhosas que não lhe faziam o menor sentido. Ela arranjaria alguém melhor.
Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Afastou as mãos dela de si, era o melhor a se fazer. Talvez ela não compreendesse e, com toda a certeza e experiência que ele tinha sobre a garota, com certeza sairia chutando tudo, trancando-se para chorar em silêncio.
Girou nos calcanhares. Não fazia sentido continuar daquele jeito.
Sem ter um porto, quase morto,
sem um cais.
Ela chamou seu nome, mas Light não pôde ouvir sua voz feminina. Imaginara a dele.
Cansara-se de fingir que não lembrava mais do antigo rival, que não sentiu nada por ele, que a noite de luxúria tida com o moreno não significava nada e fora só um capricho para sua vitória.
Sua vitória certa. Agora ela não tinha mais sabor. A não ser um amargo, quando Kira desejava o doce.
E eu nunca vou te esquecer amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.
Fitou-a com firmeza, sem dizer uma única palavra. Seu olhar transmitia-as – sempre gostou de ser entendido apenas por um mirar.
Misa negou, de primeiro momento. Não era um homem muito bom em consolações, sabia que o tempo era o melhor para fazê-lo. Aliás, seria mesmo uma boa decisão á longo prazo.
Não era poético o bastante. Não para terminar uma relação, nem nada mais.
Começou a caminhar, ignorando também os pedidos da ex-namorada.
Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Agora sim, não havia mais volta. Trocar misa, trocar sua vida perfeita como casal perfeito em uma sociedade perfeita, controlada por si mesmo... por lembranças. A traiu por memórias.
As escadas nunca pareceu tão demoradas à se subir. Morava no último andar. Ainda ouvia o choro desesperado de Misa e, consequentemente, seus gritos de fúria.
Sorriu, verdadeiramente, em anos. Seus músculos estavam quase todos enrijecidos.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Caminhou até a beirada do prédio. Como se naquele passeio após o tênis que tivera com seu amado. O vento castigava sua pele e seus cabelos curtos. Entreabrira os lábios.
Amado. Já admitia à si mesmo. Relutar contra a realidade era tolice.
Não sentiu mais o chão sob seus pés. Não havia mais estrada, mas, tinha um caminho, sabe-se-lá para o quê, seria a mesma coisa.
Amor, veja bem...
No último momento, com seu corpo caindo miseravelmente em direção ao chão, vestido daquele humilde terno de grife famosa, ele apareceu.
L caía junto de si.
Tocaram-se. A mão dele era mais quente que a própria. Seus olhos permaneceram abertos – diferente da maioria das pessoas que fechavam os olhos em frente a dor, como se isso a amenizasse -, belamente negros. Aquele sorriso gentil e estuporador, simétrico nos lábios dos dois.
...arranjei alguém
chamado "Saudade'.
E tudo foi perfeito – mesmo que por um curto instante.
O último instante da vida de Light Yagami, o melhor dela.
Fechou os olhos, o solo parecia incrivelmente doce, agora.
L estava junto de si, quando ocorreu-lhe seu último pensamento.
"Eu te amo."
Quase poético.
Death Note NÃO me pertence, falou? U-U
Só um final diferente para o Light ( Por que eu escrevo Light, e tá certo, cara ) em Death Note. Pode estar meio confuso - ou totalmente - e sem nexo com a história - por que é shonen-ai -, mas ta aí, e foi rapidinho.
A música é Veja bem, meu bem dos Los Hermanos. Bloco do Eu Sozinho. CD que era da minha mãe e eu achei jogado no sofá e pá... É triste, meu, é de se ouvir deitado, pensando na vida, nos erros... Chega, que isso aqui tá ficando triste.
Mandem Reviews ! \O/