Notas: (1) – Harry Potter e seus personagens não me pertencem. E sim a J.K. Rowling.
(2) – Essa é uma história Slash, ou seja, relacionamento Homem x Homem. Se não gosta ou se sente ofendido é muito simples: Não leia.
(3) – Entre "..." pensamentos.
Entre - ... – diálogos.
Itálico: Parsel (língua das cobras).

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ESTOCOLMO

Nome do paciente: Harry James Potter.

Diagnóstico: Síndrome de Estocolmo.

- Por Merlin... – murmurou assustada, encarando fixamente o nome em letras douradas que estava gravado na ficha.

Quando a Dra. Elizabeth Jane Owens pegou a ficha de seu novo paciente naquela manhã, não esperava encontrar o nome do famoso menino-que-sobreviveu, o mesmo que havia desaparecido há seis anos no terrível ataque de Voldemort ao Ministério da Magia. Era certo que o próprio Alvo Dumbledore, há alguns dias, viera pessoalmente lhe pedir para assumir este caso, pois, segundo palavras do diretor de Hogwarts, não havia profissional melhor do que ela naquela área específica e modéstia a parte, dois prêmios – Varinha de Ouro e Entidade Mágica do Ano – comprovavam isto. Todavia, ela nunca imaginou que aquela pessoa tão importante para Dumbledore, a ponto de fazê-lo tratar da internação pessoalmente, fosse Harry Potter, o aclamado Eleito para destruir o Lord das Trevas.

Agora, ela pensava, fazia sentido os dois Aurores de guarda na porta daquele quarto, que era apenas o mais reservado e confortável quarto da ala psiquiátrica do Hospital de St. Mungus, o único quarto situado ao final do extenso corredor inteiramente branco, reservado somente para casos de alta periculosidade ou para celebridades mágicas que queriam ter aqueles 'problemas' escondidos de jornais sensacionalistas.

- Tenha calma – falou para si mesma – Ele é apenas mais um paciente que precisa de ajuda.

Dizendo isso, ela ingressou no aposento onde se encontrava o menino, recordando a si mesma que uma psicomaga que possuía dois doutorados nas melhores universidades mágicas de Zürich e Berlin não poderia se deixar abalar pela fama imposta a um garoto logo no seu primeiro ano de vida.

- Bom dia, Harry – cumprimentou calmamente, os olhos ainda fixados nos papéis em suas mãos – Eu sou a Dra. Elizabeth Owens e gostaria de conversar um pouco com você.

Ao levantar o olhar, porém, as palavras morreram em sua boca. O adolescente recostado na confortável cama de lençóis brancos era indubitavelmente bonito. O corpo esguio e de músculos pouco assinalados, coberto por uma camisa branca simples e uma calça de algodão da mesma cor, em conjunto com a face isenta de qualquer sombra de barba, formada por traços finos e aqueles impressionantes olhos verdes, davam um aspecto angelical ao menino e o confundia com um jovem de não mais que dezesseis anos – algo equívoco, pois ela mesma comprovou, ao voltar os olhos à ficha, que sua idade agora era vinte e um anos recém cumpridos –, não obstante, os cabelos negros como ébano, espalhados displicentemente pelo travesseiro, em contraste com sua tez alva e os lábios finos e rosados, acrescentavam um ar sensual e ao mesmo tempo pueril ao menino. Como um anjo voluptuoso fugido do paraíso.

Mas algo maculava aquele ente tão sublime.

E ao encarar os olhos verdes, perdidos e tristes, notou que não havia brilho algum ali. Apenas uma tristeza profunda. Deu-se conta, então, que era esse o motivo.

- Eu quero voltar para casa – uma voz melodiosa, baixa e suave, despertou a Dra. Owens de sua análise inicial.

Com uma expressão séria e o olhar fixo nos olhos sem brilho, ela se sentou na poltrona que havia junto à cama e perguntou em seguida:

- E onde é a sua casa, Harry?

Silêncio.

E o mesmo olhar sem brilho.

- Você está falando de Hogwarts? – ela insistiu – Você quer voltar para Hogwarts? É isso?

- Não. Eu quero voltar para casa.

- Está falando, então, da casa dos seus tios?

Ele suspirou e continuou a encarar as próprias mãos como se procurasse alguma coisa.

- Eu gostaria de poder te ajudar, Harry, mas para isso você precisa me dizer que casa é essa para a qual você quer tanto voltar.

O silêncio, porém, continuou.

- É o Largo Grimmauld?

- Não. Nenhuma dessas é a minha casa, para nenhuma dessas eu quero voltar, eu só quero voltar para a minha família – os olhos verdes fixaram-se nela finalmente – Para a família que tiraram de mim.

Os olhos de Harry acompanharam os rápidos movimentos da mão fina, mas isenta de anéis, escrevendo contra uma pequena prancheta. E então, suspirou novamente. Já havia passado por aquilo.

- Você quer me falar mais sobre esta família?

- Não – contestou firme – Eu só quero voltar para casa.

- Escuta, Harry, eu estou tentando te ajudar, mas...

- Eu conheço essa história – interrompeu com indiferença – A outra psicomaga, em Hogwarts, falou a mesma coisa, começou da mesma forma e também não chegou a lugar algum. Eu não estou louco. Eu só quero voltar para a minha casa.

Voltando o olhar para a ficha de Harry, ela releu o diagnóstico, provavelmente atribuído pela psicomaga que o assistira em Hogwarts. "Síndrome de Estocolmo" era algo sério, principalmente numa situação como esta, mas antes de confirmar o diagnóstico de sua colega de profissão era preciso ela mesma estudar e caso. Não fora a toa que Dumbledore recorrera a ela para tal labor, afinal, numa situação com possibilidades catastróficas como esta, apenas a melhor psicomaga do continente mágico-europeu teria possibilidades de reverter isto. Sem dúvida alguma, Harry Potter era o seu mais novo e profundo desafio.

- Com licença, Harry – desculpou-se com um amigável sorriso – Voltarei em seguida.

Dizendo isso, e recebendo apenas um silencioso balançar de cabeça do menino, ela seguiu ao banheiro daquele mesmo quarto para lavar o rosto e ficar alguns instantes sozinha. Era um lugar relativamente amplo, nas cores branco e azul-claro, com uma espaçosa ducha ao fundo – sem banheira, pois poderia representar riscos aos pacientes – o assento sanitário e a grande pia de mármore branco logo ao lado, e acima desta se encontrava um espelho revestido com uma fina película de segurança que impedia que os pacientes o quebrassem, algo simples, mas que ajudava a decorar e ampliar aquele aposento tranqüilo.

- "Lembre-se, Owens, não se deve dar crédito aos jornais e tablóides" – refletia – "Você conhecerá quem é Harry Potter aqui e agora, isento de qualquer estigma".

Ao encarar seu reflexo no espelho, deparou-se com uma mulher de quarenta e cinco anos que, porém, não aparentava mais do que trinta, o cabelo castanho-claro caindo em pequenos cachos até seus ombros e emoldurando a face de profundos olhos azuis, estes sempre destacados pelo jaleco branco que se sobrepunha ao sóbrio conjunto de calça social branca e camisa social na cor salmão, fazendo harmonia com o delicado colar e os brincos de pérola, que findavam elegância e profissionalismo à sua lânguida imagem. Era uma mulher bonita e inteligente, ex-aluna da casa Ravenclaw, que se formara em medimagia pela Universidade Mágica de Cambridge, especializada em psicomagia pelo Departamento Psicomágico de Oxford e que ainda contava com dois doutorados nesta área pelas melhores universidades mágicas da Suíça e da Alemanha sendo que na primeira, fizera sua tese com base na Síndrome de Estocolmo e recebera o prêmio Varinha de Ouro por tal trabalho, um prêmio equivalente ao Nobel de Ciência para os muggles. Era muito bem sucedida profissionalmente e no campo afetivo contava com o carinho de seus dois gatos persas, Freud e Young, pois não tinha tempo para qualquer outro tipo de relação afetiva e bem ou mal, era muito feliz assim. Vivia sua vida tranqüila como psicomaga chefe do departamento de psicomagia de St. Mungus, isto é, até o diretor de Hogwarts aparecer com aquele que intuía ser o seu maior desafio: Harry Potter.

Mas ela era conhecida por nunca se deixar vencer por um desafio.

- Está na hora – murmurou consigo, secando o rosto na toalha felpuda junto a pia.

Quando regressou ao quarto, deparou-se com o tranqüilo semblante de Harry, ainda na mesma posição, os olhos perdidos na janela protegida com grades de ferro. Respirando fundo, então, ela voltou a se sentar na poltrona junto à cama e reiniciou a conversa com o menino:

- Segundo o professor Dumbledore – notou um pequeno escurecer no olhar esmeralda – você passou os últimos dois meses submetido à terapia intensiva em Hogwarts, com uma profissional adequada o acompanhando vinte e quatro horas por dia, mas como você mesmo disse, não houve resultados.

Ele não fez qualquer comentário.

O olhar ainda adsorvido na janela.

- Como um favor pessoal, então, o professor Dumbledore pediu para eu recebê-lo aqui com segurança reforçada e absoluto sigilo – ela continuou – Apenas eu e os Aurores sabemos quem está hospedado neste quarto, pois todos os aposentos possuem magia-autolimpante e a comida, como você já deve ter percebido, aparece e desaparece da mesa como no Salão Principal em Hogwarts.

Um suspiro desanimado foi a única reação que ele esboçou.

- Você sabe por que está aqui?

E agora, um sorriso cansado.

- São sempre as mesmas perguntas – respondeu finalmente – Você sabe por que está aqui? Como você se sente sobre isso? E a sua infância? O que você está sentindo?

Ela deu uma risadinha e aquilo capturou a atenção do menino.

- Você está certo, a maioria dos psicomagos e até mesmo dos psicólogos muggles não é muito criativa em seus métodos e perguntas, mas como um ponto a meu favor devo dizer que faço uso de técnicas distintas.

A resposta recebida, porém, foi um olhar frio.

- Minha técnica consiste em conversarmos um pouco e então, eu extrair algumas lembranças suas para estudar nesta Penseira – indicou o pequeno recipiente de porcelana que levava consigo – depois de analisá-las, eu retomo a conversa com você e assim, vamos desvendando os interessantes labirintos da mente juntos.

- Se eu concordar com isso, vou poder voltar para casa?

- Depende. Se eu obtiver resultados satisfatórios você poderá sair daqui e fazer o que quiser.

- É mesmo?

- Sim, ajude-me a entendê-lo e você tem a minha palavra.

- Você dá a sua palavra, mas não leva em conta o que eles querem – seus olhos escureceram novamente – Eles não vão deixar você fazer isso.

- Eles quem?

- As pessoas que me seqüestraram – respondeu com segurança – que me tiraram da minha família.

- E quem são essas pessoas, Harry?

Ele a observou por alguns segundos para então, contestar com firmeza:

- Dumbledore e os outros.

Certo...

Ela o encarou profundamente, aquilo fora no mínimo, inesperado.

Ainda que, considerando o quadro analisado, era uma reação dentro dos padrões.

Era preciso, então, dar um passo de cada vez para tanto ela mesma quanto o menino-que-sobreviveu entenderem o que realmente se passava ali.

- Não se preocupe, Harry, se você me ajudar a entender o que eles pensam que está acontecendo, eu poderei convencê-los a deixá-lo ir, o que acha?

- Se você conseguir.

- Ora, não perdemos nada em tentar, não é mesmo?

Harry apenas deu os ombros e com um pequeno sorriso ela prosseguiu:

- Eu gostaria que você relaxasse e fechasse os olhos, isso mesmo, deixe sua mente fluir livremente... Agora eu quero que você deixe sua mente levá-lo há seis anos atrás. Quantos anos você tinha naquela época?

- Quinze anos.

- E o que estava acontecendo naquele período?

- Eu estava cursando o quinto ano em Hogwarts – respondeu monotonamente – Havíamos formado a Armada de Dumbledore para aprendermos aquilo que Umbridge, a nova professora, não nos ensinava.

- Você fala no plural, então me diga, quem mais estava com você?

- Hermione Granger e Rony Weasley.

- Seus amigos?

- Na época eu achei que fossem – sorriu com amargura.

Ela fez algumas anotações e continuou em seguida:

- Você se lembra da batalha que aconteceu no Ministério da Magia?

O silêncio que se seguiu à pergunta, alertou-a quanto a uma possível resistência que Harry viesse a esboçar, mas após alguns segundos ele respondeu tranqüilo:

- Sim.

- Certo, então eu gostaria que você pensasse nesse dia, de olhos fechados, por favor, concentre-se nos momentos que você vivenciou no Ministério de Magia há seis anos atrás...

Aproximando sua varinha, cujo núcleo era pelo de unicórnio dourado, do rosto sereno de Harry, ela começou a extrair para a pequena Penseira em seu colo as lembranças que o menino-que-sobreviveu guardava daquele fatídico dia.

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- SIRIUS!

O grito desesperado deixou os lábios de Harry.

- Não... Não pode ser... SIRIUS!

Mas já era tarde.

A intensa luz verde o havia atingindo e então, seu corpo se perdeu pelo misterioso arco coberto por um véu negro que jazia naquela sala abandonada. Quis correr. Quis impedir que ele desaparecesse para sempre. Quis trazê-lo de volta, como queria trazer seus pais. Mas o poderoso agarre do Prof. Lupin o deteve, acompanhado de aflitas palavras que o advertiam do perigo daquela ação impensada, que informavam que já era tarde de mais. Ele havia partido.

E então:

- EU MATEI SIRIUS BLACK! – a risada maligna num tom infantil.

E ele se desvencilhou do agarre de seu professor e correu. Correu como se sua própria vida dependesse disso. Correu empunhando a varinha, o ódio cintilando em seus olhos verdes. Correu atrás de Bellatrix Lestrange. Correu em busca de vingança.

- EU MATEI SIRIUS BLACK!

- CRUCIO!

Na mesma hora, ela parou de rir.

- O bebê Potter quer brincar? – perguntou, prostrada no chão, com um biquinho infantil.

- "Você tem que querer..." – Harry ouviu em sua mente.

Sim, ele precisava querer.

Precisava realmente querer feri-la, fazê-la pagar pelo quê havia feito ao seu padrinho.

- "Vamos, Harry, você conhece o feitiço..." – pareciam sussurrar em sua nuca.

E ele se lembrou de Sirius.

Lembrou-se que por causa daquela mulher caída aos seus pés, ele não o veria nunca mais. Por causa daquela mulher, ele perdera a única chance de ter uma família.

- "Não tenha medo, Harry, apenas sinta...".

E ele não pensou em mais nada.

Apenas sentiu.

- CRUCIO!

E os gritos de Bellatrix ecoaram pelas paredes sombrias.

Tais gritos inundados de dor, porém, eram música para os seus ouvidos.

Pareceram passar horas, quando, na verdade, haviam transcorrido poucos minutos.

Harry sequer estava consciente da tranqüila mão pousada em seu ombro, quando, de repente, Alvo Dumbledore apareceu por entre as chamas verdes de uma das chaminés. A expressão do diretor de Hogwarts era sombria, seus olhos fixando-se na mulher se contorcendo no chão, subindo ao semblante enraivecido de Harry para, então, enforca a pessoa por detrás do menino,

- Solte-o imediatamente.

- Eu acho que não, meu caro Alvo.

Quando Harry ouviu aquela voz serpentina à suas costas, arregalou os olhos e pareceu voltar à realidade. No instante seguinte, suspendeu a maldição e se virou rapidamente para encarar aquele ser que marcara sua vida. O último encontro dos dois havia sido no ano anterior, no cemitério dos Riddle, e graças à armadilha montada no Torneio Tribruxo, o Lord das Trevas regressara à vida com a ajuda do próprio sangue do menino.

- Você...! – Harry ofegou. A poucos centímetros do seu rosto, Lord Voldemort o encarava com aquela grotesca face de cobra, os olhos vermelhos como o sangue alheio que tanto derramara, o corpo alto e magro, a pele pálida semelhante a verdadeiras escamas que se destacavam por entre a túnica negra e sombria.

- Nos encontramos de novo, Harry.

Todavia, antes que o menino-que-sobreviveu pudesse pronunciar qualquer palavra, um poderoso feitiço de Dumbledore o afastou rapidamente do Lord e arremessou este há cem metros de distância. Agora, caído no chão, Harry observava uma moribunda Bellatrix se levantar e fugir pelas mesmas chamas que havia aparecido Dumbledore, sob o seu furioso, mas impotente olhar esmeralda, enquanto o diretor de Hogwarts e Lord Voldemort começavam uma batalha épica.

Harry mal podia acompanhar a velocidade alcançada pelos feitiços.

As intensas luzes, voando de um lado para o outro, em diferentes tons de colorido, quase o cegavam.

De um lado, Voldemort conjurava uma enorme serpente de fogo, do outro, Dumbledore se defendida com um poderoso muro de cristal.

- Por Merlin... – murmurou Harry, aflito, encolhendo-se no chão e protegendo o rosto com as mãos da poeira de vidro, resultante de um dos feitiços, que varria todo o piso.

De repente, notou, aquele lugar fora tomado pelo silêncio.

No instante seguinte, um intenso frio tomou conta do seu corpo, resultante do pequeno redemoinho gelado que o envolvera. E então, a falta de ar, a sensação de que algo mais queria adentrar no seu corpo e o sufocava. E a seguir, a total escuridão.

- Harry...? – a preocupada voz do diretor de Hogwarts quebrou o silêncio, ajoelhado ao lado do menino, que se contorcia no chão frio em meio à poeira de vidro.

Para completo horror de Dumbledore, ao abrir os olhos, Harry o encarou com um profundo olhar vermelho-sangue e no suave rosto do menino, marcado pelos arranhões e hematomas daquela batalha, desenhou-se um sorriso repleto de malícia.

- Harry...

- Desista, meu caro Alvo, você o perdeu.

A melodiosa voz de Harry encontrava-se cheia de ironia.

Mas o menino parecia lutar contra a invasão de seu inimigo.

Contorcia-se e lutava com todas as forças, lembrando-se de seus amigos.

- "Deixe-me paz!" – Harry gritou em sua mente, quebrando aos socos a espécie de espelho que o prendia.

E mais uma vez, tudo ficou escuro.

Mas agora podia respirar novamente.

Quando abriu os olhos, com dificuldade, observou a imponente imagem do Lord das Trevas observando-o de cima, a varinha em mãos e um sorriso sarcástico no rosto ofídico.

- Você vai perder tudo, Harry Potter – declarou com maldade – E no final, para você, restará só a mim.

Harry não entendeu aquelas palavras.

E Dumbledore, bem como os amigos de Harry que acabavam de chegar, sequer tiveram tempo de impedir o que se seguiu. Numa nuvem negra, como um redemoinho, Voldemort desapareceu, levando consigo Harry Potter, seu maior inimigo. As últimas palavras que Harry ouviu foi o Ministro da Magia, perplexo, afirmando ao fundo:

- Ele voltou...

E então, tudo ficou escuro.

Quando Harry voltou a abrir os olhos, sentiu que haviam passado dias. Seu corpo estava todo dolorido e uma das lentes de seus óculos havia quebrado, permitindo que apenas o seu olho direito enfocasse o que se passava ali. A julgar pelo intenso frio e pelas úmidas paredes de pedra a sua volta, a hipótese mais coerente seria estar num dos calabouços da fortaleza de Voldemort, a espera de uma morte certa. Bom, pensou, ao menos estaria com seus pais e com o seu padrinho.

- Sirius... – murmurou, seus olhos rapidamente se enchendo de lágrimas.

No entanto, não lhe foi permitido sequer afundar-se no luto e chorar pela grande perda que sofrera, pois, no instante seguinte, as imensas portas de ferro que guardavam aquele calabouço se abriram. E uma dor intensa tomou sua cicatriz.

- Ora, ora, temos uma celebridade em meus domínios – a serpentina voz ecoou repleta de malícia.

Com sua visão turva devido à dor e debilitada pelo estado de seus óculos, Harry pôde distinguir apenas o semblante ofídico do Lord, envolto em sua túnica negra, encarando-o com um sorriso de burla, ao lado dele, encontravam-se dois Comensais da Morte devidamente encapuzados e com suas máscaras de prata cobrindo seus rostos, mas Harry intuía que deviam compartilhar do mesmo sorriso.

- Não vai agradecer minha hospitalidade, Harry?

- Acabe logo com isso!

- Crucio.

Os gritos do jovem Gryffindor inundaram o ambiente e o sorriso do Lord apenas aumentou, acompanhado de um tom frio:

- Sou eu quem dá as ordens aqui, menino, não se esqueça disso. Enquanto você estiver em minhas mãos, eu vou decidir se você irá comer, se irá beber, se poderá se vestir... Sou eu quem vai decidir a hora da sua morte e isso vai acontecer quando você deixar de me ser útil, ou quem sabe, posso deixar meus Comensais se divertirem com o famoso menino-que-sobreviveu, isso tudo vai depender da minha boa vontade, entendeu bem?

Harry apenas apertou os punhos.

A dor daquele recente Cruciatus ainda lhe afligindo.

Mas nada era pior do que a sensação de impotência diante daquilo.

- Você entendeu?

Silêncio.

- Crucio.

E mais gritos.

- Você entendeu?

- S-Sim...

- Bom menino.

Com um sorriso debochado, o Lord o deixou sozinho.

E Harry, por sua vez, perguntava-se por quanto tempo agüentaria tudo aquilo. A morte parecia uma opção tentadora ali.

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Quando a Dra. Owens saiu da Penseira, uma vez que a lembrança de Harry chegara apenas àquele ponto, pois era quando acabava o fatídico dia, seu rosto estava pálido e seus olhos dilatados de susto. Ao contemplar o menino recostado na cama, porém, observou que este descansava com os olhos serrados e o semblante tranqüilo. Aquilo era no mínimo, impressionante. Somente o fato de estar numa lembrança tão vívida com o Terror do Mundo Mágico já havia deixado suas mãos trêmulas e seu corpo suando frio, sequer podia imaginar, então, o que Harry havia passado ali. Era um ambiente propicio para qualquer trauma psicológico, sem duvida alguma.

- No dia em que houve a batalha no Ministério, você foi levado pelo Lord das Trevas...

- Não o chame assim.

- Assim como?

- Com esse estereótipo horrível.

- E como eu devo chamá-lo?

- Tom.

Ela arregalou os olhos, inevitavelmente, quando viu um sorriso doce e apaixonado surgir nos lábios do menino.

- Tom? – perguntou atônica.

- Sim, é o nome dele, Tom Marvolo Riddle. Ele não gosta muito, mas eu o convenci de que é lindo.

- Oh... Realmente, é um nome bonito, mas você não acha que a aparência dele destoa um pouco disso?

Ao contrário do esperado, para desconcertá-la mais ainda, dos finos lábios originou-se um divertido e suave riso:

- Você diz isso porque o viu com aquela cara-de-serpente horrível, depois desse dia, com a ajuda do meu sangue novamente, ele recuperou a sua antiga aparência que nem se compara àquilo.

A mão da Dra. Owens movia-se com uma velocidade vertiginosa sobre o papel junto à prancheta em seu colo, cada palavra de Harry era analisada a fundo, e aos poucos ela começava a entender o cenário que se formava ali. Um cenário que a cada segundo se mostrava mais propício para a Síndrome de Estocolmo, sobre a qual ela se lembrava de ter lido e escrito em sua própria tese: "a fim de que a Síndrome de Estocolmo possa ocorrer, deve-se observar dentre significativos traços, uma relação de severo desequilíbrio de poder na qual o raptor dita aquilo que o prisioneiro pode e não pode fazer".

Tal relação de evidente desequilíbrio de poder, ela pôde observar logo de início, existira constantemente no cativeiro de Harry.

Mas muitas lembranças precisavam ser analisadas ainda. Antes que ela pudesse continuar sua conversa com Harry, porém, um delicado som de sinos se fez ouvir, indicando que em alguns minutos o almoço apareceria para ele na mesa. E então, ela notou, era hora de dar um descanso ao menino.

- Nossa manhã foi muito produtiva hoje, Harry, logo para o primeiro dia – sorriu com ternura – Mas agora vou deixar você descansar um pouco e almoçar em paz.

Ele, no entanto, apenas assentiu.

O olhar desinteressado e vazio outra vez.

Quando saiu do quarto e fechou a porta atrás de si, ela, por sua vez, não pôde conter um suspiro. Aquele menino seria realmente um desafio.

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Naquela tarde, para surpresa de Harry, a Dra. Owens ingressou em seu quarto acompanhada de mais duas pessoas e um alegre sorriso. Uma delas era uma mulher de vinte e dois anos, cabelos castanhos ondulados, que trazia consigo um belo bouquet de lírios e a outra, um homem alto de sua mesma idade, cabelos ruivos, costas levemente curvadas e um olhar desconfortável que percorria todo o perímetro.

Não, Harry pensou, aqueles dois não podiam ter a audácia de aparecer ali.

- Você tem visitas, Harry.

- Como você está, Harry? – Hermione Granger, aquela que até então ele sempre considerou sua amiga, perguntou suavemente.

- Olá, companheiro – cumprimentou, por sua vez, Rony Weasley.

Mas ele os ignorou de forma olímpica.

Hermione, então, sentou-se na cadeira ao lado da cama e Rony logo se pôs ao lado da menina. A Dra. Owens, enquanto isso, observava-os, há alguns passos, analisando tudo aquilo.

- O professor Dumbledore nos avisou que você viria para cá hoje, então Rony e eu aproveitamos para vê-lo, saber como você se sente... Er... Está confortável aqui? Esse quarto é incrível!

Tentando conter seu ar efusivo, Hermione olhou a sua volta, pigarreando de maneira incômoda. O quarto era realmente magnífico, ainda que, na concepção de Harry, fosse branco de mais. Ao centro, encontrava-se uma confortável cama de solteiro, maior do que as camas comuns e com dois colchões sobrepostos, ao lado desta estava a confortável poltrona branca, ocupada pela psicomaga mais cedo e por Hermione agora, e logo atrás se via uma grande janela protegida com grades mágicas totalmente anti-fuga, encoberta por uma cortina suave na cor creme. Do outro lado da cama estava a pequena mesa com duas cadeiras, na qual eram servidas as refeições de Harry e ao lado desta, uma pequena estante branca, como todos os móveis, disponibilizava alguns livros: romances muggles e mágicos diversificados. E no fundo do quarto, ao lado da porta que dava acesso ao banheiro, embutido na parede, estava o pequeno armário disponibilizando as roupas que ele usaria ali. Tudo branco de mais outra vez.

- O trabalho como Auror é realmente difícil – Rony comentou para tentar apaziguar o clima – Você precisava ter visto, na última semana tivemos um caso complicadíssimo, acho até que uma prova de poções seria mais tranqüila.

- Você é mesmo molenga, Rony, queria ver fazer as minhas provas do último ano em Direito Mágico.

- Mas você adora isso, Mione, esses tantos livros...

- Saiam – uma voz gélida demandou.

E Harry nem mesmo os encarou para ordenar aquilo.

- Mas... Harry...

- Nós acabamos de chegar, companheiro.

- Sim, você nem mesmo viu as flores que eu trouxe para você.

- Lírios – ele a encarou friamente – Eu detesto lírios.

- Mas eram suas flores favoritas!

- Saiam daqui.

- Droga, desde que aquele maldito bastardo sequestr...!

- CALE A BOCA!

Vendo que a magia se Harry se alterava, a psicomaga decidiu intervir:

- Senhor Weasley, por favor, contenha seus comentários – ela se aproximou com um suspiro – Eu não gostaria de precisar aplicar um sedativo para controlar a magia do senhor Potter depois que vocês saíssem.

- Er... – ele desviou o olhar, sentindo a furiosa mirada de Hermione em sua nuca – Desculpe, doutora.

Harry, por sua vez, apertava os punhos tentando normalizar sua agitada respiração. Queria matá-los. Queria matar todos eles. Queria matar todos aqueles que o haviam separado de Tom. Mas precisava se acalmar primeiro, caso contrário, a Dra. Owens não o ajudaria a sair dali.

Quando Hermione arriscou se pronunciar novamente, a porta do quarto se abrindo para dar entrada a uma nova pessoa, interrompeu-a.

- VOCÊ! – um enfurecido Harry encarou o recém chegado – SEU MALDITO TRAIDOR!

E na mesma hora, a magia do menino-que-sobreviveu se descontrolou.

Continua...

Próximo Capítulo: Um homem tão bonito... Não, não podia ser aquele monstro.

Mas os olhos vermelhos como sangue não o enganavam.

(...)

- Vou levá-lo à sua nova morada, Harry – um sorriso obscuro se desenhou nos lábios sensuais.

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N/A: Olá, meus queridos leitores! Hehehe... Cá estou eu com uma nova história para vocês! Depois de muitas pesquisas sobre esta curiosa síndrome, pensei que seria um cenário ideal para colocar este casal que eu tento amo e que espero que vocês também apreciem! O capítulo de hoje foi mais uma introdução, no próximo vocês já poderão observar o desenvolvimento da relação do Harry e do Tom e como o menino está reagindo ao "tratamento". E também, como se encontra o Lord depois desses meses afastado de Harry... Ah, e é claro, o aparecimento de Nagini! Hehehe... Quem estava sentindo falta dela? Eu sim! Mas acho que a pergunta que não quer calar agora é: quem é o estranho visitante que tanto alterou nosso amado Harry? Hihihihi... No próximo capítulo vocês poderão descobrir!

Enfim, este é mais um trabalho que eu espero sinceramente que vocês apreciem. Então, por favor, peço suas Reviews para saber o que lhes pareceu!

Qualquer comentário, críticas, elogios ou sugestões...
São sempre bem vindos!

Um grande beijo! E até a próxima.