E eram flashes dos beijos já dados. De todos. Mas meu pensamento sempre parava nas vezes em que você me deixava.
- Eu não fiz por mal, não quis te machucar.
- Seria ideal fugir, te abandonar pra sempre, mas não...
Dessa vez a dor e a escuridão seriam eternas. O arrependimento me mataria, e fui apenas ter consciência da noite que tivera quando parei na frente da sua velha casa. Chovia forte.
As poucas luzes que tentavam iluminar a rua negra pareciam deixar a chuva mais intensa, e lá dentro, eu tinha certeza de que dentro da casa Monstro ria alto, queimava seus pertences na lareira da sala. Me senti mais fraco que nunca, mas meu corpo se mantinha imóvel, observando a água cair em meu rosto e se espalhando por onde quisesse. Foi ao lembrar da última palavra dita, do último pensamento, lembrei do seu sorriso. Dos seus olhos, e lábios, corpo e cabelo.
Eu desejava ter te abandonado antes de te perder, iria doer menos. Te perder assim não me deixa te esquecer. É dor demais diante da eternidade da morte.
Eu não sabia mais diferenciar minhas lágrimas das gotas d'água, apenas chorava feito um bebê no meio da rua deserta. Eu detestava continuar te amando cada segundo mais e mais, como se ainda estivesses comigo. Detestava ser frágil e detestava meu estado, minha insignificância agora que você se fora. Eu só me sentia especial com você. Você me deixou.
Pensei que um dia eu conseguiria viver sem você, mas levaste tudo de mim ao quebrar a promessa mais importante.
- Perdoa por eu não poder te perdoar. Dói muito mais em mim não ter mais a quem amar.
O silêncio da solidão ecoava em mim sem piedade. A última vez que vi seus olhos, eles se apagavam sem sua, sem minha vida. Pensei perder minha estrela maior acima de mim ao perder você.
Pisquei de forma violenta e olhei a minha volta. Poças da chuva que jamais somariam nem um décimo do que sofro.
