Aviso: Blaise's POV.
Ciclo
Por B. Wendy
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"Procuro um momento que dure uma vida."¹
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1. Nascer
O ser humano, como qualquer outro animal, tem um ciclo de vida. Nascer, crescer, morrer. Mas onde, nesse ciclo tão perfeito, se encontra o clímax? Nunca entendi.
Nascimentos acontecem à toda hora. Os bebês vêm ao mundo e choram porque chegaram à esse grande cenário de idiotas². Minha mãe costumava dizer que eu não chorei quando nasci. Eu nunca acreditei. Porque, se não fosse ridículo demais, eu choraria até hoje por estar entre tantos idiotas. Minha mãe era uma deles.
Eu não a conhecia. Sabia quem ela era, mas não como era. Era como viver com dois estranhos. Ela matou meu pai quando eu tinha dois anos, e é estranho demais falar isso. Porque ela era boa o suficiente para esconder seis assassinatos do ministério, mas não para impedir que seu filho soubesse o verdadeiro motivo do infarto de seu pai. Duas conversas ouvidas por brechas de portas, aos cinco anos, e eu nunca mais acreditara nela. Nunca acreditara em nada.
2. Crescer
Eu só soube o que era crescer quando entrei em Hogwarts. Slytherin. As pessoas que eu conhecera durante toda a minha curta vida viraram meus colegas de quarto e amigos. E com eles eu percebi que a vida é fora de casa, e não dentro dela, e que, por mais que eles possam te dar as costas e não estar nem aí para você, eles são melhores que a sua mãe porque eles conhecem você.
E, ao contrário de Harry Potter, que dizia que seus amigos eram sua verdadeiramente família, eu chamava aos meus de parceiros, porque a família é uma instituição podre.
Nas férias de julho, quando eu era obrigado a voltar para casa, os maiores "diálogos" que eu tive foram por coruja, com Draco. Os "bom dia" e os "boa noite" que minha mãe dizia eram raros, pois ela normalmente viajava quando eu ia para casa, também de férias ou de lua-de-mel com seu novo marido. Ou vítima.
Eu nunca tive um momento na vida do qual eu nunca quisesse esquecer. Pelo contrário, eu queria esquecer tudo o que vivi em casa, todo aquele nada.
Eu cresci quando comecei a odía-la.
3. Morrer
Eu nunca liguei muito para a morte, porque convivi com ela a vida inteira. Nove vezes, ao todo. Talvez mais, talvez menos, devo ter perdido a conta no sexto. Mas morrer, por mais irônico que fosse, era parte da vida. Como dizem, é a única certeza que nós temos. E eu não tinha mais nada para me segurar que não fosse essa certeza.
Descobri qual era o clímax daquele ciclo quando decidi que matar não era errado quando se teve uma vida vazia. E que há certas pessoas que merecem a redenção, ainda que feita por outras mãos.
Eu dei a redenção para minha mãe quando pronunciei o feitiço, e quando vi o arrependimento nos olhos dela ao dizer "Você ia morrer sozinha e a culpa é sua³". Não foi impulso, não foi raiva. O ódio é finito.
¹ Casanova
² William Shakespeare
³ Adaptado de uma frase do livro Hell (Lolita Pille), "você vai morrer sozinho e a culpa é sua".
N/A: Fic escrita para o II Challenge de Drabbles do 6v. doSinto que estou ficando obcecada pelo Blaise (rolling eyes). Dedico essa fic pra Mylla e pra Mary, que são tão apaixonadas por esse negones como eu (mrgreen). Gatas, vocês fazem o meu dia! (L)
