DISCLAIMER: Os personagens da série Power Rangers e do filme O Corvo II - City of Angels não me pertencem. Essa fic não tem fins lucrativos.


Capítulo 1

Noite. Los Angeles.

- Pai, o que você está fazendo?

A pergunta foi feita por um menino, andando num velotrol. No alto de seus sete anos, Danny continuava fazendo perguntas do tipo "por que isso?" "por que aquilo?" e sempre dirigidas a mesma pessoa, aquela que mais confiava na vida... quem sabe a única.

- Arrumando umas caixas. – respondeu, enquanto suas mãos continuavam ágeis em sua tarefa.

- E o que tem aí?

- Coisas da loja, umas peças, umas ferramentas... nada de interessante pra crianças.

- E quem disse que sou criança? – protestou Danny.

- Bem, eu nunca vi um adulto andando de velotrol. – brincou, provocando-o claramente. Danny detestava ser chamado de criança e protestava com veemência ao ouvir qualquer coisa deste gênero. Gostava de provocar o filho, ver o rostinho dele ficar vermelho, numa irritação momentânea, as sobrancelhas arqueando, emoldurando olhinhos infantis em busca de argumentos que satisfizessem sua lógica.

- Ainda sou muito pequeno pra dirigir a sua moto.

A resposta o satisfez. Riu e continuou arrumando as caixas nas prateleiras.enquanto mantinha um olho em Danny, que desistira do velotrol em busca de algo mais complexo, mais desafiador: desenho, ou prática de arte abstrata pois se tratava de seu filho. Era no mínimo intrigante descobrir o que estava desenhado nos dias mais inspirados. Qualquer borrão colorido poderia ser algo concreto, e não entender isso poderia significar a morte... mas era bom que ele fosse se distrair: por algum tempo esqueceria as perguntas.

Ashe ainda estava sentado arrumando as caixas calmamente embora estivesse com sono. Era melhor dormir mais tarde para não ter que acordar mais cedo. Pensava que era bom não ter pressa e ir deixando as coisas prontas. Muita coisa em sua vida acontecera de forma abrupta, inclusive as melhores, mas sabia que precisaria de calma, que deveria ser prudente. Há sete anos tinha responsabilidades definitivas e irrevogáveis, mas não poderia esperar que simplesmente acontecesse.

- Olha aqui o que eu desenhei! – Danny veio correndo até ele com uma folha nas mãos.

- Vai, me mostra. – pegou o papel das mãos do filho que já estava ao seu lado, quase se pendurando em seu pescoço. Pensou inicialmente que fosse um dos borrões incompreensíveis mas deparou-se com um desenho comum, pouco mais elaborado que bonequinhos de palito e que soube exatamente o significado. Ainda assim, perguntou. – Que é isso? Quem são eles?

- Ah, pai! Não ta reconhecendo?! – fez um tom de voz bravo e por pouco não lhe tomou o desenho – Olha aqui, você e eu. – apontou para cada um dos bonecos.

- Ahhh, mas eu não sou tão bonito assim! – disse, enquanto desarrumava o cabelo do garoto com um cafuné. No desenho, reconheceu os brinquedos preferidos dele: o velotrol, a bola de futebol, a capa e a espada de super herói. Pensou que os dons para o desenho estavam melhorando. Ia falar algo sobre isso, mas viu-o se afastando. – Não vai levar o desenho?

- Não, fica pra você.

Sentou para continuar desenhando. Ashe observou-o: Danny estava sentado, praticamente debruçado sobre o papel e mal podia ver o seu rosto, mas sabia que isso era pura concentração. Quando fazia algo de que gostava era sempre a mesma coisa.Ashe Corven reconhecia-se quando olhava para ele: a concentração imediatista, mas inabalável, o gosto em provocar quem estivesse ao seu redor, os "por quês" que pareciam não ter fim... coisas bem maiores que o simples reconhecimento de seus traços físicos, como a maioria dos pais gostavam de se gabar. Não importava se as feições de Danny fossem as da mãe. No fundo era algo que lhe trazia alívio, tinha medo de encontrar os traços da personalidade de Kendall. Esperava que isso já o tivesse livrado de problemas como os vícios. Tinha medo de descobrir que Danny havia herdado alguma predisposição quanto às drogas, sofrera tanto por Kendall! Não queria ver seu garoto repetindo a história. Não queria sentir de novo aquela sensação de fracasso.

De repente um barulho alto.

- Que é isso? – perguntou Danny, milésimos de segundo antes de correr para a porta.

- Danny! Não!

Continua...