PRÓLOGO
REMNANTS OF THE PAST
A noite fria trazia consigo uma atmosfera calma. Não havia vento. Não havia som. Não havia sinal de nada se movimentando pelas ruas silenciosas de Londres.
Potter ergueu sua varinha e iluminou o caminho à frente. O alvo estava próximo. O homem magro e aparentemente atordoado não se movimentava mais, apesar de toda a energia que tinha mostrado durante a caça que os tinha levado até ali.
- Cuidado com a varinha Potter. Não deixe que ele nos note – alertou Tyler, o auror encarregado desta operação de captura.
- Tudo sobre controle, chefe – garantiu Potter.
A rua à sua frente estava mal iluminada, para a sorte deles. As casas um tanto medíocres estavam relativamente afastadas umas das outras e a neve de um inverno não muito rigoroso apenas esbranquiçara os jardins relativamente bem cuidados de cada moradia.
O alvo dos aurores começou a movimentar a cabeça para todos os lados. Não sabiam mais se era desconfiança de sua presença ou apenas loucura. Pois todos aqueles que eles já haviam capturado pareciam loucos, estavam fora de si.
Potter e Tyler perceberam uma luz fraca piscando logo atrás de uma casa, mais próxima de seu alvo, e Potter reproduziu o ato. Olhando para o outro lado da rua, eles esperaram mais uma luz. Não demorou muito. Era o sinal. Estavam prontos.
Os seis aurores designados para a missão haviam sido avisados para tomarem cuidado, a área era habitada por trouxas. Muitos deles. O perigo que o alvo apresentava a eles era ínfimo, porém o alarde que ele poderia fazer causaria um estrago enorme.
- Hora do show, chefe? – Indagou Potter, mostrando sua ansiedade.
- Vamos pegá-lo.
Os dois começaram a avançar rapidamente pela rua, evitando ao máximo provocar barulhos com os sapatos. O homem continuava a fazer movimentos estranhos no meio da rua, até que caiu de joelhos.
Quando chegaram a uma distância onde sabiam que seriam vistos pelo alvo, Tyler falou:
- Sr. McFlint?
O homem levantou rapidamente. A expressão em seu rosto era de total terror. Seus olhos estavam arregalados e ele passou a mão esquerda, que não segurava a varinha, duas vezes em sua cabeça careca.
- NÃO SE APROXIMEM!
McFlint ergueu a varinha e mudou de uma pessoa totalmente aterrorizada para alguém terrivelmente ameaçador. Seu olhar tornou-se maligno e ele mostrava um sorriso psicótico.
Tyler levantou as mãos num pedido de calma. Lentamente, os quatro aurores escondidos atrás das casas nos dois lados da rua, moveram-se de forma a ficarem posicionados atrás de McFlint, varinhas em mãos.
- Não vamos machucá-lo, filho – falou Tyler. – Apenas entregue a varinha e nos acompanhe ao Ministério.
- NUNCA! – McFlint gritava com toda a força. – NÃO AVANCEM, CONHEÇO FEITIÇOS DAS TREVAS.
Todos eles conhecem, pensou Potter. Antes mesmo de Tyler poder reagir, Potter havia se adiantado, dando um sorrisinho malicioso para McFlint.
- Sabe mesmo? – Indagou Potter. McFlint pareceu confuso com a pergunta, mas continuava com seu semblante ameaçador. – Mostre-me.
O desafio desencadeou uma reação rápida. McFlint inspirou furiosamente e movimentou a sua varinha, bradando:
- AVADA KEDAVRA!
A ponta da varinha iluminou-se. Um jato fino de luz verde foi projetado em direção ao alvo. E, no meio do caminho, esvaiu-se no ar gelado.
Um segundo depois, em uníssono, cinco dos aurores gritaram "Incarcerous" e, das pontas de suas varinhas, surgiram cordas que amarram McFlint e o jogaram no chão.
Potter sorriu novamente. Já havia se deparado com isso antes. E sempre acontecia da mesma forma. O que todos eles nunca haviam aprendido, é que apenas pronunciar o nome da Maldição não era suficiente. Era preciso um desejo mais profundo. Mais sombrio.
Os aurores se precipitaram na direção de McFlint e o levantaram, ainda amarrado pelos feitiços. Ele estava agitado, ofegante, assustado.
- Por que? – perguntava McFlint. – Por que isso aconteceu?
- Por que você ainda tem fé no seu "Mestre"? – retrucou Potter.
McFlint ficou abalado com a indagação e se calou, fitando Potter enquanto era arrastado por dois aurores.
- Precisa sempre fazer com que eles tentem, Potter? – indagou Tyler.
- Não – respondeu, sorrindo. – Mas é mais divertido quando eles tentam.
Tyler balançou a cabeça negativamente.
Potter baixou seus olhos para evitar a repreensão do chefe e se deparou com algo no chão. Não conseguiu identificar o objeto retangular de cor preta, semi-coberto de neve.
Abaixando-se e aproximando a cabeça, conseguiu perceber que era um livro. Não havia título algum na capa. Tyler abaixou-se também.
- Tem alguma ideia do que seja? – perguntou o chefe.
Potter apenas negou com a cabeça. Pegou o livro, que se mostrou grande e frágil, e examinou-o por alguns segundos.
- Temos que ir pessoal – alertou um dos aurores que estava com McFlint.
Sem mais nenhuma palavra, Tyler e Potter se levantaram e começaram a andar em direção aos colegas. Todos os aurores se reuniram em um círculo mal formado e, a um sinal do chefe, produzindo um único estalo que ressoou na noite calma, todos aparataram.
...
Enquanto sentava na cadeira de seu escritório, bebericando uma xícara de chá quente, Potter inspecionava o livro que havia encontrado.
O material não era dos mais resistentes. Não havia nenhuma inscrição na capa ou na contra capa. E o mais intrigante: todas as páginas estavam em branco.
Passos ecoavam do lado de fora da pequena sala e, segundos depois, Tyler adentrou, perguntando:
- Algum resultado com o livro Potter?
- Nenhum senhor... as páginas estão em branco – Potter continuava a folhar, focando por alguns segundos cada folha, como se buscando ver o que havia escondido. Porque com certeza havia algo ali. – Isso me lembra algo, sabe, chefe?
- O que, exatamente? – Tyler mostrou-se interessado.
- O Mapa do Maroto.
Tyler ponderou a ideia por alguns segundos.
- Aquele do seu pai?
Potter concordou com a cabeça, ainda observando o livro misterioso. Tyler começou a se virar, mas parou quando viu outra pessoa se aproximar. Bufou e sorriu antes de dizer:
- Falando no diabo...
Potter ergueu a cabeça em resposta à frase de Tyler. O homem que vinha se aproximando em passos calmos mostrava um sorriso bonito. Seu cabelo negro conseguia estar mais desarrumado que de costume. O grau de seus óculos havia aumentado nos últimos tempos. E a característica que o fazia reconhecido no mundo inteiro ainda era bem visível na testa: a cicatriz em forma de raio. Aí vem ele de novo... pensou Potter, sorrindo.
- Ouvi dizer que capturaram mais um hoje, parabéns! – disse o homem que se aproximava – Vim ver como você está, querida.
- Estou bem, papai – disse Potter, levantando-se para abraçar o pai.
A alegria de rever o pai era sempre grande, não importava a situação. Afinal, ele sempre estivera ali para ampará-la, mesmo que fosse muito requisitado.
E com um grande amor que qualquer filha tem por seu pai, Lílian Luna Potter abraçou o homem da cicatriz, aquele que já fora uma vez chamado de "O Menino que Sobreviveu": Harry Tiago Potter.
Continua...
