O ar estava frio e mal se via o trabalho que a garota estava a fazer, devido a todo o nevoeiro que se aproximava, a luz do alpendre da casa de Mitchie, a vizinha do lado, não fazendo muito para o dispersar.

Diante da garota de 12 anos erguia-se agora uma impressionante, e altamente instável torre. A entrada era feita através de um buraco cortado na madeira que compunha a torre, e não havia janelas. Estando entre os quatro e os seis metros, a construção não era mais do que um bando de tábuas de madeira de cor e constituição diferentes de 5 pés por 5 pés, resgatadas dos mais estranhos sítios e coladas por fita cola, pastilha elástica, alguma dúzia de pregos e muita muita fé. A construção ameaçava cair a qualquer momento. Quem visse a torre (que era tão alta como o primeiro andar da casa da garota, Alex Russo) tomá-la-ia por um estranho assertado e mistura de lixo. Mas para Alex, era um castelo. Ela entrou, o seu metro e sessenta e cinco rastejando para o buraco, e olhou para o teto, que era composto por uma tampa de madeira. A madeira estava molhada da humidade do nevoeiro, e a escuridão começara-se a apoderar do pequeno interior, a única luz vindo das lascas na madeira, onde duas tábuas se encontravam.

- Meio escuro….já sei! – Disse a pequena, rastejando para fora do sitio onde estava e entrando em casa, de onde trouxe, entre outras coisas, uma velha toalha e duas lanternas, acendeu-as e colocou a velha toalha entre as quatro tábuas que constituíam a primeira camada das quatro paredes. A toalha serviria para não se sentar na terra fria, e as lanternas serviriam para iluminação, acendendo uma ela viu as sombras tomarem forma sobre as paredes, que, à luz da lanterna, pareciam irregulares e pouco convidativas, cheias de farpas e prestes a cair. Mas ela não se importou, tão entrançada estava no seu jogo, de sombras.

- É perfeita!

Para ela, este era o seu castelo, um projeto que durava há mais de duas semanas, e que estava finalmente concluído, a sua mãe chamara-a para a cama, e, apesar de murmurar para si mesma que as "Princesas não têm hora de ir para a cama", ela foi, obedientemente, após um último olhar ao seu castelo.

Na casa ao lado, Mitchie torrez, sua vizinha do lado, também estava ocupada, com os seus problemas, essa também já estava na cama e também tinha uma lanterna. Para que usava ela a lanterna? Apenas para a atividade mais nobre desde que a atividade fora inventada, ler, a sua mãe mandara-a desligar a luz e ir-se deitar e apesar de não gostar de desobedecer à sua mãe, ela tinha que acabar de ler este livro, que tanto a cativara. Sendo furtiva e abafando o riso, a menina, de 13 anos, sub-repticiamente usou a lanterna para ler a próxima página. Talvez estivesse a fazer demasiado barulho, ou talvez fosse o instinto que cada mãe parecia ter, mas a sua mãe apareceu, e acendeu a luz.

A luminosidade foi suficiente para assustar a pequena garota, que quase saltou, mas definitivamente largou o livro, e deu um pequeno grunhido enquanto a lanterna lhe escorregava pelas pernas abaixo e a lombada do livro se enterrava na sua barriga.

- Eu disse-te para apagares as luzes, querida. – A mãe dela disse, a postura corporal parecia indicar que ela estava zangada, a principal pista sendo as mãos nos ombros, mas se se olhasse para o rosto dela podia-se ver que ela sorria.

- Eu sei…é apenas…

- Há sempre tempo amanhã. – A mulher mais velha recolheu o livro, aproveitando a proximidade para dar um beijo à filha na testa.

A moça deixou que a mãe saísse do seu quarto antes de se virar, espremer toda a sua cara contra almofada e dar um grito vindo do fundo dos pulmões. Um grito que ninguém ouviu pois, como os melhores silenciadores, abafou o grito. Ela deixou que lágrimas lhe viessem aos olhos. Às vezes tudo era difícil para ela, e esse era um desses dias, as rufias da escola, Hannah, e Omega, que se julgavam superiores a todas as outras garotas da escola apenas por terem peito, tinham estado a implicar com ela, todo o dia. Até se haviam sentado ao lado dela apenas para continuarem a lançar-lhe petardos verbais. Os temas variavam, o quanto ela não tinha peito, o quão estúpida e não popular ela era, o seu cabelo…o fato de ela só ser amiga com as professoras e professores…bem haviam muitos motivos, e Mitchie supunha que o tornava fácil para elas, simplesmente por não ser social. A sua mãe assegurava-a de que era bonita, mas não era esse o trabalho de toda a mãe? Dizer que a filha é bonita? De qualquer maneira a garotinha nunca revelara à mãe o total de agressões e ataques à sua autoestima diários.

Ela levantou-se, pés descalços sobre a alcatifa e dirigiu-se à janela, dali podia ver a construção da sua vizinha, com quem nunca tivera muito contato, daquele ângulo se parecia com um grande bloco irregular.

Alex sentia-se inquieta, não podia descansar quando tinha o seu "castelo" literalmente a 15 metros de distância! Ela levantou-se, e, como silhueta prateada, dirigiu-se, pé ante pé pela grama até ao seu castelo.

Mitchie viu Alex por entre o nevoeiro e decidiu falar com ela, talvez pela primeira vez em sempre.

- psst… - Sussurou para a noite, o vento levando o sussurro para a menina que se encontrava diante da torre.

Olhando para os lados e para cima, a menina viu a outra, e sorriu, não se sabe como, mas Mitchie viu o sorriso.

- Desce, vem ver o meu castelo!

"Então é isso que aquilo é " – Ela acenou, calçou-se, meteu umas pantufas e um cachecol, e desceu, de pijama e tudo.

As duas meninas olharam-se pela primeira vez. Nenhuma causou grande impressão à outra, de qualquer maneira, Alex estava mais interessada em mostrar a sua construção "perfeita ", enquanto que Mitchie olhava para a construção finalizada.

- Então o que achas? – Alex perguntou a uma Mitchie com a boca aberta.

Mitchie achava aquilo de extremo mau gosto, e se suas leituras de engenharia estivessem corretas, aquilo não aguentaria muito tempo em pé, mas não queria ofender a vizinha, que falara com ela pela primeira vez agora.

- É… - Ela tentou encontrar uma palavra que conseguisse descrever aquela "coisa" perfeitamente. – Cúbica? E isso é bom…?

Alex apenas se riu.

- Boa…queres entrar?

Todas as tentativas de dizer que não à rapariga deram em nada, mesmo temendo que aquilo desabasse em cima dela, enterrando-a viva, ela foi forçada a entrar.

- Nada mau, hun?

Mitchie sorriu….

- É, nada mau, na verdade. Mas eu devia ir….amanhã tenho escola.

O sorriso de Alex diminuiu.

- Eu também…mas ei…amanhã, aqui, mais cedo podemos brincar!

A apreensão de Mitchie sobre o desabamento e a sua possível estadia no hospital, deu lugar a um sorriso despreocupado.

- Sim, pode ser.

- Até então.

- Até.

E com isso, ambas se foram deitar, Mitchie, pela primeira vez em muito tempo, com um sorriso na cara ao adormecer.

Notas do autor: Este é meu "Projeto de Dia de São Valentim", é mais curto, se estiver a planear isto bem só terá cerca de 3 capítulos, mas espero que o apreciem na mesma, oh, e divirtam-se a ler, isso é o mais importante para mim.

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(Atualizado a cada sexta)