Capítulo 1: Inicio
Notas iniciais do capítulo
Oi gente,
mais uma fic, li um livro incrivel e decidi fazer uma fic baseada nele, e é claro, com o meu casal favorito.
Vamos lá? (^-^)
Ikki abriu a porta da sala de estar e anunciou:
−Bom dia, Shun, hora dos seus remédios.
Ele tentou entrar marchando a passos rápidos e decididos, como os enfermeiros que conhecia nos seriados de TV passados em hospitais, mas a sala estava tão entulhada de móveis que, em vez disso, ele precisou forçar a passagem para chegar até mim.
Quando eu chegara a Osaka, havia oito semanas, não podia subir as escadas porque estava com a rótula deslocada, então meu irmão trouxe a cama para o andar de baixo e colocou na grande sala de estar, que estava cheia de moveis aleatórios da mudança que eles fizeram recentemente e ainda não tinham decidido o destino daqueles móveis específicos.
−Muito bem, rapazinho. – Ikki consultou um papel onde havia uma tabela com instruções hora a hora de todos os medicamentos receitados: antibióticos, antidepressivos, pílulas para dormir e analgésicos potentes que me deixavam com a agradável sensação de flutuar.
Ikki começou a vistoriar todos os vidros de remédios com atenção, sacudindo-os e entornando comprimidos e capsulas na mão.
Por consideração a mim, ele havia instalado a cama de frente para a janela grande que dava para a rua, para que eu pudesse acompanhar a vida que seguia lá fora. Só que isso não era possível: havia uma parede de aço. Não fisicamente irremovível, entendam, apenas socialmente. É que nos últimos tempos eu criei um certo nível de fobia com a vida lá fora.
−Muito bem, tome isso aqui. – ele despejou um punhado de comprimidos na minha mão e me deu um copo d'água. Ele andava me tratando muito bem, bem de verdade, embora, no fundo, eu suspeitasse que ele estivesse apenas desempenhando um papel. Ikki não é disso, ele é mais do tipo bruto e insensível. Aquele papel de irmão atencioso não caia muito bem nele.
−Eu sei pegar os comprimidos, Ikki.
−Com esse braço quebrado? Não sei como.
−Será que vocês podem não discutir toda vez que chega a hora do remédio? – essa é a Esmeralda, esposa do meu irmão.
Ela adentra a sala ziguezagueando os moveis como o Ikki fez, acho que essa tarefa seria mais fácil se ela não tivesse que transportar essa barriga enorme de sete meses por toda parte. Se aproxima e coloca mais um travesseiro atrás das minhas costas.
−Como se sente, querido? – ela sorri atenciosa. As vezes parece que ela tá treinando como vai tratar seu futuro filho enquanto cuida de mim.
−Estou bem, só um pouco tonto.
−Será que é efeito do remédio? – ela pergunta.
−Deve ser. – Ikki diz em dúvida também.
−Poxa, se o Hyoga estivesse a... – Esmeralda se cala antes de dizer algo mais que me faça lamentar o restante do dia.
−Bom, não vai ficar nessa cama pra sempre. – Ikki diz pra romper logo aquele silencio. –Está na hora do banho.
...
Depois de me dar banho, Ikki tirou os curativos dos meus ferimentos, como fazia todo dia, e me enrolou com um cobertor. Fiquei sentado no banquinho do quintal, observando atentamente a grama crescer. Os analgésicos superfortes me deixavam idiotizado e sereno. Esse ritual servia pra eu tomar um pouco de ar nos cortes.
O céu azul, o dia razoavelmente quente e tudo me pareceu agradável. A única reclamação que tenho daqui é que a comida da Esmeralda é como alguns chamam: para poucos estômagos fortes. Mas não se pode ter tudo na vida, e essa percepção desencadeou pensamentos completamente diferentes. Foi só quando as lagrimas salgadas escorreram pelas minhas feridas e eu senti fisgadas de dor é que descobri que estava chorando.
Queria tanto voltar para Tóquio. Nos últimos dias eu andava pensando muito sobre isso. Não apenas pensando, como também me agarrando a uma poderosa compulsão de cair fora, incapaz de compreender por que já não o fizera antes. O problema é que Ikki e Esmeralda iriam ficar loucos quando eu lhes dissesse isso, já podia até ouvir as broncas.
Ao pensar no quanto eles iriam protestar, reclamar e espernear, senti outro ataque de pânico: eu tinha que voltar para Tóquio.
Precisava voltar para meu emprego. Precisava rever meus amigos. Além do mais (embora eu não pudesse contar isso para ninguém, pois me mandariam para o hospício), eu precisava voltar para Hyoga.
Fechei os olhos e comecei a cochilar. De repente, porém, como se as engrenagens meio enferrujadas da minha mente girassem, mergulhei de cabeça em um mundo de dor e escuridão. Abri os olhos. As flores continuavam lindas, as grama estava verdinha como antes, mas meu coração martelava e eu lutava por um pouco de ar.
Essa situação começara havia poucos dias. Os analgésicos já não funcionavam tão bem quanto no início. O efeito deles acabava mais depressa e alguns furos e fiapos começaram a aparecer no cobertor de suavidade e amor com o qual meu irmão e cunhada haviam me protegido. Percebi que o horror iria inundar tudo com agua represada quando a barragem rompe.
Coloquei-me de pé com dificuldade, entrei em casa para assistir mais um dos doramas que Esmeralda gostava. Mais tarde eu almocei, ou engoli, um pouco da comida radioativa da Esmeralda e então Ikki trocou meus curativos novamente, antes da minha caminhada.
−Vamos ver... – ele tirou minha franja da frente e olhou bem de perto. –Eles realmente estão melhorando um pouco. – Ikki anunciou, como se soubesse perfeitamente o que dizia. –Acho que já podemos tirar os curativos. Talvez o do queixo também, mas nada de coçar, rapazinho! Ainda bem que esses cortes no rosto são muito mais fáceis de curar hoje em dia. – acrescentou, repetindo o que o médico nos dissera. –Essas suturas modernas são muito melhores do que pontos. Só vai ficar a cicatriz desse ferimento aqui. – completou ele, espalhando carinhosamente gel antisséptico no corte pavoroso com traços irregulares que atravessava a minha bochecha direita, fazendo uma pausa cada vez que eu me encolhia de dor. Aquela feriada não cicatrizava só com o auxílio de suturas adesivas; por causa dela eu tive de levar pontos dramáticos estilo Frankenstein, pontos que pareciam ter sido feitos por agulhas de cerzir.
−É pra isso que existe cirurgia plástica – eu murmurei.
−Isso mesmo! – Ikki concordou, mas a voz dele pareceu distante e abafada. Na mesma hora abri os olhos, ele estava encurvado e pude ver seus olhos marejarem, meu irmão quase nunca demostrava fraqueza na minha frente, mas há momentos que até mesmo uma pessoa durona como ele não suporta, desde que nossos pais morreram ele tem cuidado de mim, sempre me protegeu, e me ver nessa situação deve ser muito difícil pra ele, como se ele fosse responsável de alguma forma.
−Ikki, não chore!
−Como se eu fosse. – ele diz invocando seu auto controle para não desmoronar.
−Ótimo.
−Ouça só, acho que o Seiya está chegando.
Meio às pressas, enxugou algumas lagrimas impertinentes e foi pra calçada, a fim de zoar o carro novo do Seiya.
Seiya chegara para nosso passeio diário. Ele é um amigo nosso de infância, sempre alegre e elétrico, vive brincando, nem parece que tem vinte e cinco anos, temos a mesma idade, mas sempre fui mais maduro que ele em muitos quesitos. Embora ele seja o mais infantil dos meus amigos, é o único que já tem filhos. Ele se casou com uma amiga nossa de infância também, a Saori. Seiya é o único dos nossos amigos que tem tempo pra me visitar todos os dias, sempre faz o possível pra me animar.
−Olha só a calça caipira que o Seiya está usando! – murmurou Ikki. –As pessoas vão pensar que ele vai cortar lenha.
−Ouvi isso! – avisou Seiya. –E não me importo.
−Seu carro parece um rinoceronte. – foi a resposta final do meu irmão.
−Mas há um minuto ele era um elefante. – ele disse abrindo a porta de trás do carro.
Foi então que Tomoe me avistou e ficou desorientado de tanta alegria. Talvez fosse só a novidade, mas o fato é que eu era, no momento, seu tio favorito. Ele é uma criança maravilhosa, é o filho mais velho do Seiya, tem cinco anos de pura maravilha. Estar perto dele definitivamente levantava meu astral.
Quando começamos a caminhar, ou talvez desfilar: eu mancando, apoiado em Ikki com o braço não quebrado, Seiya com a outra filha Atami de três anos no colo e Tomoe, o mestre de cerimônia, liderando o grupo.
Esmeralda havia se recusado a juntar-se a nós naquele dia, com a desculpa de que se ela fosse passear conosco o grupo ficaria tão grande que as pessoas iriam começar a olhar. E de fato nós causávamos furor por onde passávamos, tanto as crianças quanto o Seiya eram barulhentos, e eu todo arrebentado e cheio de curativos, certamente as pessoas se convenceriam de que o circo chegou à cidade.
Demos a volta na pracinha e sentamos em uns bancos para tomar um pouco de ar, ignorando a curiosidade das pessoas sobre mim. Não me importava com os olhares, não havia motivo para ter vergonha. O que aconteceu comigo poderia ter acontecido com qualquer um.
Durante meia hora, mais ou menos, ficamos sentados apenas conversando amenidades. Mas o momento de devaneio acabou quando Atami começou a guinchar desesperadamente. Segundo Seiya, a fralda precisava ser trocada. Então todos marchamos em grupo de volta pra casa. Ao chegar lá, Seiya tentou, sem sucesso, conseguir que Ikki ou Esmeralda trocasse a fralda de Atami. Ele não me pediu nada. Às vezes é ótimo estar de braço quebrado.
...
No jantar eu me alimentei muito bem: em vez de cinquenta grãos de arroz eu comi cem, um pedaço de frango e um pepino acompanhado de alguns comprimidos.
A hora da refeição se transformara em batalhas de determinação, onde Ikki e Esmeralda sugeriam o tempo todo pra que eu comece mais um pouco. Eu fazia o possível, só que, não importa o quanto eu comesse, nunca era o bastante pra eles.
Exausto da batalha épica, retirei-me para meu quarto, ou sala. Havia algo que começava a surgir na superfície: eu precisava falar com Hyoga.
Eu falava com ele o tempo todo, mas agora queria mais: queria ouvir a voz dele. Como é que isso nunca tinha acontecido antes? Será que foi porque eu estava muito ferido e em estado de choque? Ou dopado demais pelos analgésicos pesados?
Passei pelo corredor e olhei para aquela maquininha fabulosa. Telefones sempre me pareceram mágicos por conseguirem conectar os mais distantes e improváveis pontos geográficos.
Meu coração martelava em meu peito e eu estava esperançoso – a palavra certa é empolgado. Para onde eu poderia discar? Não para o trabalho, pois alguma outra pessoa poderia atender. O celular era a melhor opção, mas eu não sabia o que acontecera com o aparelho, talvez a linha estivesse até mesmo desligada; mas depois de teclar o número e esperar o telefone tocar, tocar e tocar mais de mil vezes ouvi o clique e então a voz dele. Não era a sua voz de verdade, apenas uma mensagem, mas aquilo foi o bastante para me tirar o folego:
"Oi, aqui é o Alexei. No momento não posso atender, mas deixe um recado e eu ligarei de volta assim que puder. Até."
−Hyoga – ouvi minha voz dizer. Ela me pareceu tremula. –Sou eu. Você está bem? Dá pra você ligar de volta assim que puder? Ligue mesmo, por favor. Ahn... O que mais? Eu te amo, meu anjo. Espero que você saiba disso.
Desliguei, tremendo, meio tonto, mas muito animado, ouvi a voz dele. Mas sabia que logo depois eu ia desmoronar. Deixar mensagens no celular não era suficiente.
Eu podia mandar um e-mail pra ele, mas isso também não seria suficiente. Eu tinha de voltar pra Tóquio pra encontra-lo.
Sempre havia a possibilidade de ele não estar lá, mas eu precisava colocar essa ideia em pratica porquê de uma coisa eu tinha certeza: ele não estava aqui.
Silenciosamente, recoloquei o telefone sobre a mesinha do corredor. Se Ikki e Esmeralda descobrirem o que eu tramava, não haveria a mínima chance no mundo de me deixarem ir.
Notas finais do capítulo
Muitos mistérios nesse primeiro.
Muita coisa será esclarecida no próximo.
Até lá.
bjs
