Logo amanheceria, faziam pouco mais de dois meses desde a morte dos cavaleiros na batalha contra Hades. A noite chuvosa e fria forçando a amazona vestir um pijama longo e sedoso, o suficiente para não pegar um resfriado. Levantou-se emburrada da cama, já era a quarta vez que despertava no meio da noite ainda mais com aquele sonho, sonho não pesadelo isso sim.

Um lampejo e um raio, Zeus com toda certeza deveria estar furioso com algum pobre diabo, mas sinceramente nada tinha feito o suficiente para receber algum castigo divino. Sentou-se à beirada da cama a ficar observando melhor o quarto. Era de fato uma casa simples, como a de toda amazona era. O quarto em tons pastel, e preto na parede maior, gostava de preto, deixava o lugar mais escuro nas noites claras. Uma cama de casal simples, onde jazia jogado de qualquer jeito dois travesseiros e um cobertor. Uma vela no criado mudo, escorrida de cera até a metade, agora apagada, não precisaria dela com a noite iluminada de trovões. Um banheiro simples, banheira simples, cores simples, impossível dizer que não gostava daquela vidinha simples de amazona de prata. Alguém quer algo melhor que isso? Só se fosse louca.

Um novo lampejo a iluminar o relógio de parede, 1h15. Haja paciência para alguém perder o sono com tão pouco tempo de cama. Levantou-se caminhando até a cozinha, batia o pé sem cerimônia conforme a raiva lhe subia. Abriu a geladeira a pegar a garrafa de leite. Virou-se em direção a caixa de luz para iluminar o local, antes que conseguisse o encontrar viu-se ali, sozinha em uma casa pequena que por dentro parecia tão grande. Uma mesa simples, quatro cadeiras simples. Uma bancada simples, geladeira, fogão quatro bocas, armários, nada muito luxuoso, gostava de sua vida calma e nada luxuosa. Sentia-se acolhida entre suas coisinhas mesmo que simples, suas, havia o suor de seu corpo ali, o sangue que por vezes escorria, até mesmo as lagrimas de raiva e de amor. Era pouco, mais um pouco aconchegante e querido. Mas se estava tão feliz porque raios não queriam ficar ali sozinhos, o escuro lhe incomodava, pegou-se correndo a acender o interruptor. Permitiu que a lágrima contida lhe escorresse sem culpa.

Um pacote de bolachas, um copo de leite quente, uma cama que mesmo aconchegante gritava por companhia, um travesseiro ensopado por lagrimas, e a vela a pingar mesmo com a luz acesa. Um sonho, a maldita lembrança que há tanto tempo não via, os malditos olhos a perderem-se nós seus, amaldiçoava tudo nele, ele, ou qualquer um que tocasse no nome ou lembrança dele, mesmo que esse fato fosse a seus próprios pensamentos. 5h30. Hora de levantar, de morrer, e de por fim renascer sem esperanças de novamente revê-lo, havia acabado, antes mesmo de começar, talvez fosse apenas saudade do tempo em que o conheceu, ou de quando ele ainda existia. Talvez apenas remorso por ter sido fraca e não poder fazer algo para ajudá-lo.