Nota¹: Tempo cronológico e Tempo Pscicológico se misturam em narrativas na 1° pessoa

Nota²: O shipper principal é Neji/Tenten mas há muitos outros e insinuações.

Obrigada Srta. Abracadabra, beta paciênte e lecal n.n''


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The world we knew won't come back
O mundo que nós conheciamos não vai voltar
The time we've lost can't get back
O tempo que nós perdemos não pode voltar
The life we had won't bleed us again
A vida que tinhamos não vai sangrar-nos outra vez

( Three Days Grace - Never too Late)

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Todas as palavras dela foram especiais, hoje eu me lembro de cada pequeno gesto e de cada pequena demonstração de preocupação, e sinto que já não posso agüentar mais. Como se os olhos dela continuassem brilhando na minha memória, e o sorriso que raramente era abalado novamente existisse. Sinto por saber o quanto eu perdi sem ela. Fecho os olhos e posso visualizar aquele dia singular, aquela conversa que tivemos, o mesmo lugar onde estávamos.

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Novamente eu tenho dezessete anos e sou um jounin, mais uma vez eu estou sentado arrumando as ataduras dos meus braços, já tomadas pela sujeira da terra que acumula-se seca no campo de treinamento, é quando ela finalmente se aproxima.

- Já está cansado?

Não respondo. Deixo-a pensar que nem ao menos notei a presença dela. O que mais me intriga são os olhos atentos de meu ex-sensei e de Lee, que miram-na e a mim também, esperando por algum movimento, parecem atentos concentrados e ansiosos, e pelo que esperam? Alguma palavra. Continuei o que fazia, no meu silêncio sepulcral, como se aquilo fosse um ritual a ser seguido sem interrupções, eu ainda não gostava das interrupções dela.

- Precisamos falar, Neji.

- Você está falando, e eu sou obrigado a escutar Tenten. Isso não é uma conversa?

- É... se for com você é.

Ela baixa os olhos e retira uma das kunais que carrega na cintura, começando a riscar o chão. Parece despreocupada e aérea ao mundo, mas esta incrivelmente em silêncio. Eram raras essas ocasiões, as vezes em que ela tinha o discurso "Precisamos falar", sempre seguiam-se de uma quase interminável lição de moral sobre meu comportamento, que abrangiam desde a forma fria como eu tratava Rock Lee, até o modo como eu mantinha certa rivalidade com minhas primas. Desta vez ela limitou-se a se calar, e continuar desenhando formas incoerentes na terra, sem levantar muita poeira, formas essas que por vezes ela apagava, usando a mão livre.

- Eu te amo.

Ela não esta corada, sua voz não se mostra entrecortada e os olhos não têm lágrimas. Demoraram anos em minha vida para que eu pudesse entender que ela estava envergonhada, e o silêncio anterior as palavras era a ela o mesmo que o gaguejar de Hinata, ou o corar de Sakura. Pisco os olhos algumas vezes, mas não a fito e ela ainda mantêm o rosto voltado para baixo, ainda com seus rabiscos inteligíveis que parecem-lhe muito interessantes, a única mostra de nervosismo que deu fora o fato de que sua mão começou a desenhar mais rápido, e de repente parou. Mesmo assim os olhos não se voltaram a mim. Eu admito em silêncio que a companhia dela era agradável, mas aquelas palavras não têm o efeito desejado em mim.

- Bom pra você.

Não sei por que aquelas palavras foram ditas, e pensando nisso hoje em dia vejo o quão cruel eu pude ser ao tratá-la daquele modo. Naqueles dias nada daquilo me interessava. Nem o amor dela, nem as palavras doces ou o modo como ela finalmente levantou os olhos para mim. Quase de imediato eu fitei o rosto da minha ex-companheira de equipe, poucos segundos antes que ela se levantasse. Não havia lágrimas, ou dor, não havia perda ou expressão. Ela apenas me sorri como sempre faz, curvando os lábios rosados de uma forma agradável e deu os ombros, antes de sair correndo em direção da vila. Observo-a desaparecer ao longe e me levanto por fim, a aproximação de Lee e Gai não fora despercebida por mim. Lee apenas lançou-me um olhar de desprezo, muito semelhante a como eu olhava-o quando o considerava um completo inútil. Gai mesmo não sendo mais nosso sensei ainda acompanha e auxilia em muitos de nossos treinos. Os olhos dele eram incômodos sobre mim, mesmo assim sempre fui orgulhoso demais para desviar sua atenção. Continuo o encarando firmemente, esperando pelo sermão que viria.

- Gênios morrem sozinhos, Neji.

Foram suas únicas palavras.

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Novamente eu sou velho e estou debilitado, dependente da boa vontade alheia e de uma bengala. O chá que minha filha servira já está frio, e os meus pensamentos estão longe demais. Estão anos e anos atrás, em um tempo no qual eu ainda não sabia o significado do kanji que eu encontrei escrito naquele dia na terra. 'Ai'¹ . Meus olhos já não são os mesmos, mas eu posso ver com clareza o menino Uzumaki nos portões, beijando a mão de minha filha mais nova, com um respeito admirável para jovens daquela idade. Ele não se parece com Naruto, é tranqüilo e educado sempre fala respeitosamente e pelo que Tsunade dizia, ele é exatamente igual ao Minato. O sol está pondo-se lentamente, e as memórias em minha mente continuam fazer-me sentir o peito pesar. Sempre ela. Sempre os mesmo olhos castanhos e os cabelos no mesmo tom. Pura e simples.

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Mais uma vez eu sou um jovem shinobi de Konoha. Desta vez eu tenho vinte anos recém completos, e aquela conversa que tive com Tenten não saíram de minha mente, assim como as palavras de Gai também não. Gênios morrem sozinhos. Eu deveria acreditar nisso? Se tudo isso vinha de um homem que acreditava que o mais importante era o 'fogo da juventude'? Talvez não. Provavelmente sim.

- Bem... então isso é um adeus.

A voz dela tem um tom de diversão. Parece acostumada com o fato de estar partindo. Lee desaba em lágrimas e a abraça de uma forma exagerada, a qual ela corresponde, finalmente mostrando algum sentimento. Irá sentir tanta falta de Konoha quanto a vila dela. Em pouco tempo ambas iram se esquecer.

- Não diga adeus Tenten... é mais um até logo.

Gai novamente está conosco, e veio assim que soube que ela iria para Iwa². Eu só recebi a notícia dela no mesmo dia em que iria partir. Tsunade havia encarregado-a de uma missão rank-S de espionagem em Iwa, a qual nem ela mesma sabia quanto tempo poderia durar. Tudo para que não explodisse a guerra que Konoha estava há tantos anos tentar impedir com a vila da Pedra. Ninguém tinha certeza se um dia ela iria retornar, e mesmo assim eu continuava impassivo a ida dela. Os olhos de chocolate finalmente se voltam a mim, após quase ter as costelas esmagadas pelo excessivo abraço dos dois cabeça de cuia. É a primeira vez que eu a vejo tímida.

- Posso te abraçar também?

Ela pede em um quase sussurro, e meus braços antes cruzados ladeiam o corpo enquanto ela se aproxima. Finalmente sinto o corpo aparentemente frágil tocar o meu, e os braços finos passaram pelo meu pescoço o enlaçando sem força exagerada, o máximo que faço para corresponder e segurar-lhe o corpo com as mãos fracas, querendo mantê-la junto a mim. É estranho pensar dessa forma, mas eu não desejo que ela se vá. Separamos-nos pouco, o suficiente para que eu me surpreendesse. Para que me surpreendesse com o gosto adocicado dos lábios unidos aos meus, enquanto ela mantém os olhos cerrados, os meus permanecem abertos fitando-a de um modo como eu jamais havia feito. Como se olha para uma mulher. Não tenho tempo de responder ao beijo, ou ao menos de fechar os olhos e ela já se afasta, com um brilho diferente no olhar, mas já não tímida. Sorriu daquele modo como apenas ela sorria e deu-me as costas correndo pela floresta. É madrugada alta, e apenas Lee e Gai viram o beijo que eu não correspondi... Sinto-me mais leve. Mas o meu mais leve adoece e morre uma semana depois.

No piscar de olhos, foram-se três semanas.

Passaram-se três semanas, e ela não retornou. Tsunade nada sabe, e afirma que ela decidiu por não manter comunicação. Eu quero contar a ela, contar a Tenten que estou me casando. Casando-me com Hinata-sama.

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Novamente eu sou velho, e a noite se aproxima tão lenta quão a morte. Natsumi me pergunta educadamente se eu irei me juntar a eles no jantar. Eles. Hizashi, Natsumi e Hanna. Meus filhos. Filhos incestuosos de uma relação conturbada... Filhos de uma mulher que eu nunca amei, e que também não me amou. Dou como desculpa a minha falta de disposição, e peço que ela se retire, ela imediatamente o faz obediente como Hinata sempre fora. Lembrar de Hinata também dói. Mas dói pelo que fiz com que ela passasse. E saber que tudo o que ela teve que sofrer foi em vão. Lembro-me dos olhos aflitos na nossa noite de núpcias, e do modo com prendia o choro apertando os lábios enquanto eu estava dentro dela. Subjugada, triste, amargurada e bela. Ainda me lembro do rosto humilhado quando Hiashi-sama a declarou inútil para a família, e no silêncio das noites vazias eu ainda escuto os soluços que embalavam o choro noites antes do nosso casamento. Ela sempre fora obediente as ordens.

- Otou-san? - Hizashi me chama, parado à porta. Parece preocupado, mas ele não tem o mesmo semblante duro que eu tinha, nasceu à mãe, mesmo com um poder inesgotável ele ainda lidava com o coração que possuía, talvez grande demais. - Natsumi e Hanna já se recolheram, e eu também estou indo. O senhor precisa de alguma coisa?

Eu tinha empregados espalhados por aquela casa, e sei que na hora que eu precisar era apenas necessário que os chamasse. Mesmo assim, a preocupação dele ainda me comove, desnecessária, porém forte como eu não tinha em sua idade.

- Não, pode ir dormir. - Ele sorriu. Provavelmente aprendeu a sorrir com a mulher que chamava de amada, a mesma encrenqueira pela qual se apaixonou e manteve-se fiel desde os oito anos. Talvez o nome Uchiha exercesse algum poder sobre a minha família também. Hizashi tem dezoito anos, meu primogênito que carregava o nome de meu falecido pai, está de casamento marcado com a menina Uchiha dois anos mais nova um kunoichi tão problemática quanto a mãe, que provavelmente é mais forte do que Sakura e Sasuke juntos.

Então eu estava novamente sozinho, acompanhado da Lua que mantinha-se alta em sua fase mais visível, como se continuasse a me observar me condenando em silêncio. E sobre minhas filhas, Natsumi havia nascido um ano após o irmão ainda não estava casada, porém eu percebia que os olhares do Aburame pra ela não eram coincidência. Era tão arrogante quanto eu quando era um chunnin, mas aprendeu a curvar-se diante de um sentimento, coisa a qual eu não me permiti. Hanna é a minha pequena boneca de porcelana com seus delicados olhos de vidro que derramam lágrimas ardidas, foram três anos de diferença entre ela e Natsumi, e mesmo ela já recebe olhares bem intencionados do único Uzumaki restante, e tenho que confessar que isso me agrada. Meus filhos não terão o destino que eu ou Hinata tivemos. E eu agradeço a cada segundo por isso. Levanto-me apoiado na bengala a qual eu sou dependente. Dependente de tempos que também fazem com que eu sinta o peito apertar, enquanto caminho para os jardins. Paro para respirar, e meus olhos se fecham quando minha mente é inundada por outra lembrança.

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Abro os olhos e a mesa está completa. Tenho quase trinta anos. Hanabi e o marido, Konohamaru, juntam-se a nós naquele café da manhã. Hinata mantém a conversa com a irmã, mesmo que não demonstre nenhum interesse real na companhia de Hanabi, nem mesmo eu tenho interesse na companhia deles. As portas se abrem e as babás entram acompanhadas das quatro crianças. Fazem exatos oito anos desde a noite em que Tenten foi embora. Hizashi irá completar sete anos e já está na academia, tanto ele como a menina Uchiha são considerados novos gênios e ela só tem cinco anos. Natsumi caminha calmamente em seu pequeno kimono acompanhada do primo, o qual ainda segura sua mão apenas para não ser carregado pelas babás, Hiashi é filho de minha cunhada tão orgulhoso como aquele de quem herdou o nome... E tem apenas quatro anos. Hanna vem nos braços de uma das serviçais, parecendo descontente por ser tratada como um bebê. Nada estava acontecendo para que essa lembrança se tornasse memorável, até que eu pude ouvir a voz de Lee discutindo com uma das empregadas antes de entrar bruscamente no cômodo.

- Neji, Konohamaru, a Godaime quer fazer um comunicado urgente. Venham.

Não fazia idéia do que se tratava, e nem porque Hinata e Hanabi não foram chamadas. Hinata não havia se tornado uma jounin, porém se especializara em medicina o que fez dela útil para a vila. Hanabi fazia parte de um esquadrão de espionagem especialmente montado por Tsunade, apenas com kunoichis. Mas Lee não havia as chamado. Vi minha cunhada protestar para Konohamaru, e este afirmar que se ela não havia sido chamada não era de seu interesse, ele tinha o respeito dela, enquanto ao olhar nos olhos de Hinata eu só via o medo que ela tinha de mim. Vamos até o escritório da Godaime. Já há muitas pessoas lá dentro. Os Uchiha estão em um canto, calados parecendo preocupados, Aburame e Inuzuka conversam com a ex-traidora e agora shinobi da folha Karin, Ino parece absorta nos próprios pensamentos. Há uma coisa em comum entre todos nós ali. A falta do conhecimento do chamado. Mas ainda faltam shinobis. A cortina que separa o escritório do cômodo reservado move-se levemente e de lá saem Shikamaru, a Sabaku que ele tornou Nara há tantos anos e Uzumaki. Nenhum deles parecia otimista. Mais uma pessoa saia da sala. Eu reconheceria os olhos dela em qualquer situação, mesmo que os cabelos estivessem diferentes e o rosto mais cansado, Tenten estava de volta. Quase posso a ouvir rindo, mas ela apenas lança um sorriso enviesado na minha direção e de Lee. Nenhuma palavra. A Godaime se coloca em seu lugar, onde deveriam estar os anciões e conselheiros da vila estavam Shikamaru, todos sabem que ele é um gênio e agora ele lida com os assuntos de política da vila. Tenho a sensação de que algo está errado.

- É com grande pesar que anuncio a morte de um amigo e um grande shinobi de Konoha. O corpo de Maito Gai foi encontrado na Floresta Norte.

Não havia sequer um ruído na sala. Ninguém se moveu. As kunoichis tapavam o rosto ou a boca, e eu vi que muito dos shinobis fechavam os olhos em sinal de respeito. Quem poderia matar alguém como Gai? Seu único inimigo tratava-o como um melhor amigo, e todos ali sabem que Hatake Kakashi nunca se voltaria contra Konoha. Eu sempre achei que apenas Kakashi fosse capaz de derrotar Gai, de igual para igual. Rock Lee chora de joelhos no chão, e a cada lágrima silenciosa faz com que todos ali sintam o pesar semelhante da perda.

- É com igual pesar que eu anuncio que tempos de guerra se aproximam. Iwa vai romper o tratado de paz.

Nem as lágrimas e os soluços de Lee resistiram a tal notícia. Ele seca o rosto com o tecido que cobre seu antebraço e levanta-se orgulhoso, talvez agora mais preparado para lutar do que nunca esteve, porque dessa vez o crime fora cometido contra alguém quem considerava ser sua família. Um pai que amou e admirou durante toda a vida. Lembro-me que eu também, sempre lutei pela minha própria liberdade, baseada na prisão do meu pai.

- Eu estou velha... - A Godaime começou o discurso e Sakura adiantou-se para falar, mas com apenas um gesto Tsunade pediu que ela se calasse, lançando-lhe um olhar doce. -... velha demais para que possa comandar uma vila em guerra. E em tempos de guerra, médicos-nin são mais necessários do que nunca. A partir de hoje treinarei um número alto de jounins médicos para que eles me auxiliem nos campos de batalha, e hoje me retiro do cargo de Hokage.

- Uma guerra não começa sem um objetivo. - Após o silêncio que se abateu na sala, foi Sasuke Uchiha a falar. Ele disse exatamente o que se passava em minha mente. Sempre havia algum interesse. - O que eles querem de Konoha?

- Algo que ninguém nessa sala esteja disposto a entregar, Uchiha-sama... - Ela parecia cada vez mais enigmática. Porem não continuou. Foi a primeira vez naquele dia que eu escutei a voz de Uzumaki.

- Eles querem a Kyuubi.

Novamente o silêncio instaurava-se entre nós. Era possível ler nos olhos do homem-raposa que ele estaria disposto a qualquer coisa para salvar a aldeia. Mesmo que isso significasse sua morte evidente. Vi nele o que vi no meu pai. É a segunda vez em minha vida em que admiro Uzumaki Naruto. Ele é mais honrado do que eu havia pensado. Morreria para salvar a todos. Não iríamos entregá-lo, era nossa obrigação. Tsunade suspirou alto, e fez com que o silêncio fosse dissolvendo-se, com os comentários dos shinobis presentes naquela sala. Nenhuma das vozes apoiava a entrega da Kyuubi. Eu silenciosamente concordava com todos, entregá-lo era o mesmo que reviver o sacrifício que meu pai fez em nome de Konoha, e eu não veria mais ninguém morrer daquele modo. Por um momento quase me esqueço que Uzumaki também perdeu o pai, como eu, porém o perdeu sem ter a chance de conhecê-lo, uma única benção a qual eu havia recebido. Eu me mantenho em silêncio, mas posso sentir os olhos sobre mim... Tenten está calada, e assim como eu é uma das únicas, além de nós apenas Shikamaru não se pronuncia. Ela está linda, se parece com Kurenai quando nova, com os mesmos cabelos soltos. Deveria ter vivido desse modo em Iwa apenas para disfarçar seu interesse naquela vila. O que ela havia feito naqueles anos todos? Será que ela havia se apaixonado? Ela estaria com alguém? Ela perdera alguém quem amava? Incrivelmente os olhos dela pararam nos meus. E ela sorri. Não como ela fazia antigamente, não era hora para sorrir satisfeita, porém mesmo o pequenino sorriso já me é mais do suficiente. Desvio os olhos para a Godaime, e ela faz o mesmo quando a mulher bate sobre a mesa, chamando a atenção daqueles que se expressavam quase aos berros.

- Só existe um nome que eu considero bom o bastante para o próximo Hokage. - Em silêncio, cada jounin daquela sala sabe qual é o nome. Ela fecha os olhos e um suspiro quase doloroso é escutado em meio ao silêncio. - Uzumaki Naruto. Porém, todos nessa sala são considerados por mim como iguais, então eu tenho que saber se alguém entre vocês se opõe a minha última decisão como Hokage.

Nem ao menos um som. O filho do Yondaime, Uzumaki Naruto agora era o Rokugaime³.

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A volta dela. O anúncio da futura guerra. A saída de Tsunade Godaime e o homem-raposa que se tornava Rokugaime. Nunca mais esqueci aquele dia, apenas por ter os olhos dela novamente fitando-me. Tenho certeza de que a noite estar tornando-se mais fria não é apenas uma impressão ruim que eu tenho, minha respiração e meu corpo não são mais os mesmos e até mesmo Sakura se surpreende de que eu continue vivo depois de tudo o que passei. Queria não ter sobrevivido à última guerra que Konoha vivenciou. Meus olhos cansados repousam sobre a pedra dos Hokages. Há sete restos esculpidos nela, poderiam ser apenas seis se não fosse por uma guerra estúpida.

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Estou de volta àqueles dias de caos. Já faz quase dois anos que estamos em guerra. Quase dois anos que Uzumaki não descansa e não sorri feito o paspalho que todos pensaram que ele era, quase dois anos que eu convivo com a figura sóbria de Tenten, sem me acostumar com o fato de que nem mesmo os sorrisos dela puderam resistir aquilo tudo. Nenhum lugar é seguro e nenhuma família tem paz em Konoha, os que puderam fugiram para vilarejos distantes os que ficaram, sabiam o que estavam enfrentando. É desgastante olhar para os olhos cansados de Hinata e saber que eu não posso fazer nada por ela, ela vem sendo treinada por Tsunade assim como tantas outras esposas de shinobis como eu, se antes ela não passava de uma enfermeira agora ela pode orgulhar-se de ser uma medica-nin das mais competentes, queria eu que fosse em outra época. Não volto para minha casa há três dias, tento me concentrar nas linhas traçadas sobre o mapa, mas nem mesmo as estratégias de Nara parecem fazer sentidos, estamos sendo acuados cada vez mais rapidamente e isso me preocupa. Estou cansado dessa vigia constante, cansado de ter que permanecer aqui sozinho. Fecho os olhos e posso sentir o chackra de alguém se aproximando, e logo as batidas na porta. É irritante, não tenho vontade de abrir, e continua chovendo como se aquilo fosse um prenuncio de que Konoha iria chorar.

- Porque diabos você não abriu a porta? - Ela pergunta parecendo altamente irritada, mas a irritação transforma-se em rubor no momento em que encontra meus olhos. Tenten está ensopada, e me fita aparentemente surpresa. - O que você está fazendo aqui? Achei... Achei que o Sasuke iria ficar com o turno hoje.

- Sasuke quis ficar com a esposa essa noite. Não sabe o que pode acontecer amanhã pela manhã.

Os olhos dela continuam surpresos, mas rapidamente desviam-se de mim. O que eu disse sobre Sasuke é verdade, pela manhã haverá um ataque e todos estão inseguros quanto a suas vidas, temo em admitir, mas sinto inveja de Uchiha. Ele tem a mulher que ama ao seu lado, não o condeno por abandonar o posto de vigia. Eu poderia estar sobre a proteção da casa dos Hyuuga, mas não agüentaria por mais uma noite ver os olhos chorosos da minha esposa e a ouvir a voz fraca dela suplicar pela vida de outro homem em seus sonhos, desde que ele tornara-se um Hokage, ela chora preocupada mesmo enquanto dorme.

- E Hinata?

- Que tem ela?

- Porque você não está com a sua esposa, Neji?

- Alguém tem que ficar de vigia. - Eu já não sabia o porquê de continuar respondendo-a. Eu apenas o fazia.

- Podia ter pedido para outra pessoa. Uma que não fosse casada.

- Isso te interessa?

- Muito.

- Por quê? -Ela caminhava na minha direção. Os olhos transtornados em raiva nem ao menos pareciam com os olhos doces que sempre me fitavam com uma alegria incomparável. Parecia ferida, orgulhosa, fria. Em um choque inicial notei que se parecia comigo.

- Por que amanhã podemos estar mortos, Neji.

Sim, amanhã poderemos estar mortos. Mais uma batalha anunciada em uma guerra a qual o Rokugaime tentara várias vezes parar simplesmente se entregando. Já não podíamos deixar que ele fizesse isso. Meus ombros cedem a pressão e minha expressão finalmente denota algum cansaço, sinto-me esgotado física e emocionalmente, ela consegue esse efeito em mim.

- Ou não, e continuaremos a guerrear. - Minha resposta faz com que ela dê uma risada rancorosa.

- Se morrermos, essa conversa seria especial. - Ela se senta ao meu lado, posso sentir o calor da pele mesmo que ela esteja encharcada pela chuva, ela parece não se abalar.

- Se não, será mais uma noite de vigia e não nos lembraremos dela. - Os lábios dela curvam-se, e sinto como se novamente eu tivesse encontrado o que me faltava. Estou me comportando como um adolescente e mesmo assim não parece algo tão grave. Não no momento.

- Você se lembra da noite em que eu parti?

- Sim. - Eu queria negar, mas os olhos dela não me permitiam mentir.

- Você se lembra... Lembra-se do meu pedido?


Pequeno glossário:

Ai¹ - amor

Iwa² - Pedra ( Vila da Pedra )

Rokugaime³ - Sexto Hokage

Seshigaime - Sétimo Hokage

Nii-san - irmão ( mais velho )

N/a : Bem... essa fic é longa, difícil de entender e cheia de passagens sem explicação, mesmo assim eu considero a melhor que eu já consegui escrever. Espero que não tenham erros muito gritantes na fic, e qualquer correção, comentário ou sugestão eu adoraria saber. Sem mais por enquanto, espero mesmo que gostem e o próximo - e último - capítulo já está escrito ( só separei em duas partes, porque ficaria cansativa a a leitura )