Brandon
A neve sabe como ser cruel, mas se você tem a seu redor pessoas em quem confiar e que sabem como confortar seu coração o caminho pode ser muito mais fácil. Estávamos de ida a Correrio, onde haveria um torneio em honra ao Decimo Quinto dia do nome da senhora Lysa, que provavelmente seria prometida a um de nós. Eu e meus irmãos, Eddard e Benjen, cavalgávamos a frente do grupo, na companhia de Jon Arryn, que mesmo com a idade de ser nosso pai ainda era forte e viril como cada um de nós. Lyanna, nossa adorável irmã, decidira vir a cavalo também, mas estava mantendo um ritmo mais vagaroso e marchava ao lado de nosso pai.
-Algum de vocês já viu alguma das meninas Tully? –perguntou Ned.
-Lyanna esteve em Correrio há alguns anos, deve lembrar-se delas. –Benjen falou desinteressadamente. Ele, no momento, pensava apenas em de que se valeria para conseguir desposar Gwineveré, uma bela aldeã de uma das vilas próximas a Winterfell- Mas não importa o que achamos delas, Ned. Eu duvido muito que Hoster Tully entregará alguma de suas filhas a alguém que não seja Brandon.
-Vocês também são senhores de Winterfell. –argumentei, por mais que precisasse admitir que meu irmão estava coberto de razão.
De algum modo isso plantou um sorriso em meu rosto. Os Tully eram conhecidos por sua beleza, de cabelos vermelhos e olhos azuis como agua marinha. Lyanna particularmente voltara encantada com a mais velha das garotas, que tinha exatamente sua idade.
-Não quero me casar dessa forma. –dissera Benjen.
-Essas garotas foram criadas para serem senhoras de castelos e esposas de reis. –Eddard ajuntou- Somando-se a isso a beleza dos Tully, acredito que nosso Bran tirou a sorte grande! –e golpeou meu ombro amistosamente.
-Ou você. –eu disse- Quem sabe não voltamos de Correrio com uma irmã cada um?
-Já estão escolhendo onde dar agua aos cavalos? –Lyanna havia se aproximado, usando um vestido verde musgo de lã por debaixo de um colete de couro fervido. Trazia um punhal de ouro preso ao cinto e botas de cano longo.
-Não seja deselegante! –Benjen ralhou, sempre tentando fazer de Lyanna mais feminina, o que era difícil para uma garota que vivia cercada de irmãos e cavaleiros.
-Ben, não seja tolo! Vocês sabem que estou apenas brincando! –ela riu graciosamente- Sei que estão falando das Tully, papai disse que um de vocês se casará com uma delas. Pelo menos estou à salvo de Edmure! –ela gargalhou, enchendo nossos ouvidos com sua melodiosa risada.
-Você já é de Robert. –Ned disse, fazendo Lyanna fechar a cara em desagrado.
-Ainda não há nenhum acordo selado. E se vocês insistirem nisso eu juro que fugirei com o primeiro que me oferecer sua sela!
-Aqui estou eu, cara donzela! –Jon dissera num tom que poderia ser verdade ou brincadeira, mas que sabíamos que Lya nunca levaria a sério.
-Jon, só você para me salvar de um destino cruel como o que me aguardaria como uma Baratheon! Mesmo que isso signifique o isolamento do Ninho da Águia! –ela estendeu a mão e segurou a dele por um instante, e logo todos rimos.
Sabíamos que o senhor do Ninho da Águia estava buscando um acordo de casamento, e que podia muito bem ser uma das Tully. Mais facilmente Lyanna se casaria com Jon, a quem amava como a um pai, do que com Robert, mas o destino era quem decidiria isso, e parecia que à medida que nos aproximávamos de Correrio suas tramas ficavam mais aparentes.
-Me fale sobre as meninas. –pedi para quebrar a tensão.
-Lysa é a menor. –Lyanna começou- É um pouco excêntrica e tem saúde frágil. Não acredito que se habituaria bem ao Norte. Ela é até bem bonita, e deve estar melhor agora. Catelyn é a mais velha dos três irmãos, deve estar pelo decimo primeiro dia de seu nome, e é uma verdadeira lady. Mais voluntariosa e ativa que a irmã. Vive por ai com um tal de Mindinho, que decididamente a venera. Vive correndo em volta dela, ele é filho de um dos vassalos, creio eu.
-Eu não escolheria essa se fosse você, Brandon. –disse Jon- Mesmo que seja apenas uma menina, crescer ao lado de um homem assim...
-O que quer dizer? –Lya perguntou sem perceber os significados ocultos da frase de Jon.
-É difícil para uma mulher ignorar tanta devoção.
-Bem... –ela murmurou- Eu estou ignorando há anos!
-Mas você é uma moça diferente. –eu disse- Talvez a pequena Catelyn já tenha dado seu coração ao amigo.
-Mas ela é uma Tully e foi criada para obedecer às ordens do pai levando as palavras de sua casa em consideração acima de tudo. –Jon ajuntou- E se você bem pensar seguirá o exemplo dela, Lya.
-Por isso digo que não quero me casar assim. Se ela já ama a outro, o que faria eu com ela? Quero uma mulher por inteiro, e não apenas alguém para parir meus filhos. –Benjen provou seu ponto.
-Devia ensinar isso a seu amigo Robert, Ned. –eu precisei dizer- Lyanna não parece muito inclinada a aceitar seus pedidos de casamento.
-Se você pudesse escolher uma irmã, quem seria? –Ned mudou bruscamente de assunto, desconfortável por minhas palavras e pela negativa pertinente de Lya.
-Edmure! –e gargalhou- Não tenho paciência para mulheres, Ned! Por isso os sete sabiam que deviam me enviar para vocês.
-De qualquer forma, não podemos nos adiantar muito e nem criar expectativas. Soube que o príncipe Rhaegar está vindo a Correrio também, com seus queridos Lannister. Se for como você diz Ned, uma dessas garotas pode ser nossa futura rainha.
-Eu não duvidaria. –Lyanna disse- Por mais que o príncipe já esteja prometido à Princesa de Dorne.
Mas ao chegar a Correrio tivemos nosso destino traçado. No banquete oferecido por Lorde Hoster Tully no dia da nossa chegada, pudemos observar de perto as meninas e devo dizer desde o presente momento que quando meus olhos encontraram a imensidão azul dos olhos de Cat eu soube que lutaria por ela até no mais profundo dos sete infernos.
-Ainda é uma menina, Bran. –Ned me disse- Mas quando formar-se mulher, não haverá outra mais bonita.
-Amanhã eu conversarei com nosso pai. E vencerei as justas para corá-la a Rainha da Beleza e do Amor.
-Fico feliz por você, meu irmão.
Mas havia algo em Ned que não estava transparecendo a felicidade que ele dizia sentir.
-O que te aflige irmão?
-Estou temeroso a respeito de Robert e Lyanna. Nossa irmã é uma garota valente e voluntariosa e isso faz com que Robert a adore.
-Sim.
-Temo que se ela siga negando-o teremos problemas. Mesmo Jon ordenando que ele siga no Ninho da Águia durante estamos fora...
-Não me diga que Robert está a caminho?
-Simplesmente porque imagina que Lya está conosco.
-Não obrigarei Lya a casar-se com quem ela não queira. –eu disse firmemente- Estarei ao lado dela qualquer que seja sua decisão.
-Não fale como se eu fosse fazer diferente! –Ned me encarou ofendido- Lya é tudo pra mim.
-Me desculpe irmão. –eu disse.
Ficamos em silencio por alguns momentos.
-A única coisa em que consigo pensar agora é que eu não posso aceitar que aquele príncipe com antecedentes de loucura na família ponha os olhos em cima dela. –eu disse sem o mínimo de coerência.
-Então não perca tempo. –Ned disse captando de quem eu falava e se ergueu do banco onde estávamos- Aproveite agora que nosso pai ainda não se recolheu.
-Quanto tempo eu teria que esperar para desposá-la?
-Uns dois ou três anos. –Ned disse- Visto que ela está por volta do decimo segundo dia de seu nome.
-E a garota mais nova? –perguntei observando Ned balançar negativamente a cabeça.
-Não gostei dela. Quando eu for escolher minha esposa quero perder o folego assim como você perdeu pela sua menina Tully. Você é realmente um homem de sorte, Bran.
E se afastou, me deixando sozinho pra refletir melhor a respeito do que era aquilo que havia nascido dentro do meu peito, feroz como um lobo e protetor como guardião. Ela não olhava em minha direção e eu podia sentir seu desconforto. Ela talvez ainda vivesse cercada de bonecas e brincadeiras, enquanto eu já era praticamente um homem feito. Eu não queria esperar, mas aquilo era loucura.
Aproximei-me da mesa principal, onde meu pai, Lorde Tully e Lorde Arryn conversavam a respeito do inverno que começava a morrer.
-Meus senhores. –curvei a cabeça respeitosamente diante dos Lordes e do senhor meu pai.
-Este é o seu herdeiro, Lorde Stark? –perguntou Hoster Tully observando-me e sustentando meu olhar.
-Sim, Brandon.
-É um rapaz de porte nobre e de olhar firme. –o Senhor de Correrio elogiou.
-E de sentimentos ainda mais nobres e coração ainda mais firme, meu senhor. Assim como sou uma espada bem afiada e destemida, colocada às suas ordens. –eu prometi.
-Diga o que quer, rapaz.
-Quero sua permissão para desposar sua filha, a senhora Catelyn, cuja beleza nenhuma princesa vivente nesse mundo é capaz de equiparar.
E a observei por um instante, e o espanto em seus olhos denunciava que ela não estava preparada para a atitude que tomei. Temi haver-me precipitado, mas eu não tinha como esperar.
-Se for do agrado dela e de sua vontade, meu senhor. –ajuntei.
-Cat? –seu pai a observou, estendendo-lhe a mão.
Ela ficou de pé e se aproximou, seus passos estavam vacilantes e suas mãos tremeram levemente quando seu pai as tomou nas suas.
-Este senhor é Brandon Stark, herdeiro de Winterfell. Ele deseja desposá-la quando chegar a hora certa e pergunta se isso é do seu agrado.
-O que o senhor decidir será minha lei, meu pai. –ela disse com a voz suave, mas firme.
-Então, no Decimo Quinto dia de seu nome, você passará a ser a esposa deste homem.
Ela me brindou com o mais puro dos sorrisos quando seu pai uniu nossas mãos. Catelyn usava um vestido de seda azul, debruado em tons de prata, com o mais discreto e singelo dos decotes. Seus cabelos cor de fogo estavam presos no alto da cabeça e delicados cachos caiam-lhe por sobre os ombros. Estava corada e seus olhos brilhavam.
Beijei suas mãos sem deixar de observar seu rosto, o que a fez corar ainda mais e abaixar os olhos, envergonhada. De fato ainda era só uma menina, mas que seria minha mulher em breve.
