Num shopping lotado, em meio a tantas pessoas afoitas por gastar o dinheiro que levaram um mês inteiro para receber, quem repararia numa garotinha ruiva de nove anos, vestida de dama de honra e tomando sorvete? Praticamente ninguém. A menos que ela parasse, como era de se esperar, na frente da vitrine de uma linda loja de bonecas e ficasse olhando para elas, admirada, quase esquecida de seu sorvete que, derretendo, estava prestes a pingar em seu vestido novinho.
Sua mãe não vai gostar nada se ver seu vestido sujo de sorvete. – um homem parou ao lado dela, sorrindo bondoso.
O quê? – ela olhou para ele assustada. – Vestido? – ela olhou para baixo a tempo de afastar o sorvete que, ao invés de sujar seu vestido, sujou o chão. – Nossa! Eu nem me dei conta de que ainda estava vestida assim!
Está vindo de alguma festa, mocinha? – ele perguntou, ainda sorrindo, enquanto jogava um pano de chão onde o sorvete havia pingado.
Não. Estava numa loja de roupas de festa com minha mãe. Aí saí para comprar um sorvete e nem notei que ainda estava com o vestido... – explicou calmamente.
Então esse vestido é da loja? – ele se assustou.
Hum... É... Mas eu não roubei não!
Acredito. – sorriu. - Uma mocinha tão linda não tem cara de quem anda por aí roubando vestidos de festa. – falou. – Vai pingar de novo!
Ai, droga! – ela afastou novamente o sorvete, mas antes que pingasse, lambeu o filete eu escorria pela casquinha.
Gostou das bonecas? – ele perguntou.
Muito! – ela sorriu, voltando a mirar as bonecas de pano da vitrine. – O senhor trabalha aqui?
Trabalho, mas não me chame de senhor, por favor.
Desculpe, mas mamãe sempre me disse para tratar assim os mais velhos... – sorriu, encabulada.
Ok, mas eu não me importo de ser chamado de você. Quer entrar e ver outros modelos?
Posso?
Claro! – o homem estendeu o braço e deu passagem para a garota.
Puxa! – ela exclamou. – São lindas! – preocupada em não sujar as bonecas ela se apressou em acabar logo o sorvete. – É você quem as faz?!
Na verdade há uma equipe de artesãos. Eu não levo muito jeito para isso.
Hum... – ela continuou, quase encostando o nariz nos exemplares que estavam nas estantes.
Sua mãe não vai ficar preocupada com você não? – ele perguntou, então, lembrando-se que ela estava sozinha ali.
Ela nem deve ter notado! – falou, chateada. – Está experimentando o vestido de noiva.
Como é? – ele não entendeu.
Ah... Minha mãe vai se casar... E eu vou ser a dama de honra! – ela abriu os braços e fez uma careta para o vestido que usava. – Enquanto ela procurava um vestido para ela, eu experimentava alguns de dama...
Hum... – ele pegou duas cadeiras e as posicionou na frente do balcão de atendimento. – E você não está muito feliz com isso, não é?
Não...
Você não se dá bem com o homem com quem ela vai se casar? – ele fez sinal para que ela se sentasse a seu lado.
Não.
E você já falou isso para ela?
Já, mas de que adianta? Ela não me ouve. Diz que eu estou com ciúmes e que tenho que me acostumar com a idéia! – falou, emburrada. – Além disso, todo mundo diz que ela precisa mesmo se casar de novo.
Por que? – ele ficou curioso. – O que houve com seu pai?
Ele morreu. – ela baixou a cabeça e engoliu a pontinha que restava da casquinha do sorvete.
Oh. Eu sinto muito.
Tudo bem... – ela balançou os ombros. – Eu não o conheci. Ele morreu antes de eu nascer.
Que pena...
O nome dele era Harry. – ela sorriu. – Eu tenho um monte de fotos dele no meu quarto. Meu tio e minha tia me deram um monte, mas só da época em que ele era criança. Eles diziam que ele era super legal e corajoso, e que amava muito minha mãe!
Aposto que sim. – ele sorriu, aliviado pelo fato de que ela não ficou extremamente abalada por tocar naquele assunto.
E ela ainda gosta dele. Ela pensa que eu não percebo, mas eu sei que ela não quer realmente se casar com o Draco. Só vai fazer isso para tentar não pensar mais no meu pai. Ela ainda o ama muito. Não devia se casar com outro!
Mas você acha justo que ela passe o resto da vida chorando pelo seu pai, mesmo sabendo que ele nunca mais vai voltar? – perguntou.
Mas ela ainda gosta dele! – insistiu.
Talvez ela seja feliz com esse Draco. Você não quer que sua mãe seja feliz?
Quero, mas não com ele!
Não se pode ter tudo, sabia?
Sabia... – resmungou. – E você? É casado?
Não, sou noivo.
É mesmo? E quando você vai se casar?
Ainda não sei, mas acho que vai ser logo. – sorriu.
Hum... E você quer ter filhos?
Quero.
O noivo da minha mãe também quer. – fez uma careta. - Humpf! Tomara que não se pareçam com ele e sim com a minha mãe.
Como é a sua mãe? – ele perguntou, curioso.
Igualzinha a mim! – exclamou, orgulhosa. – Só que os olhos dela são castanhos! Meus olhos são iguais aos do meu pai: bem verdes!
Sua mãe deve ser muito bonita se parece mesmo com você. – ele elogiou.
Obrigada, mas parece mesmo! Ela é linda. Todo mundo diz isso!
Seu pai tinha bom gosto então.
Uhum. Eu queria que ele voltasse, sabe? Aí não deixaria minha mãe se casar, mas um homem mal o matou... – suspirou. – Mas morreu também! Bem feito!
Oh, não diga isso. – ele pediu. – Por mais que ele fosse mal, não é certo desejar a morte dos outros.
Mas por causa dele eu não conheci meu pai! E agora vou ter que aturar o chato do namorado da minha mãe! – cruzou os braços, revoltada. – Pelo menos daqui a dois anos eu vou para Hogwarts e não vou ter que ver a cara dele todos os dias!
Hogwarts? O que é Hogwarts? – ele perguntou, curioso.
Oh! – ela se assustou. – É... É uma escola! Um colégio interno.
E você quer ir para um colégio interno? – ele se espantou. – Deve ser tão chato!
Não é não! Todos os meus primos foram para Hogwarts e foi lá que meus pais se conheceram! Meu tio Rony diz que é muito maneiro!
Rony?
É. Irmão da minha mãe. Ele era o melhor amigo do meu pai.
Hum...
Josh, querido, telefone. – uma mulher surgiu pela porta atrás do balcão. – Oh, oi. – sorriu.
Oi. – Lily respondeu.
Eu já volto... Qual é mesmo o seu nome?
Lily. – sorriu. – É o nome da mãe do meu pai.
Bonito nome. – falou. – Eu vou lá atrás atender o telefone. Escolha uma boneca para você. – ofereceu.
Sério?! – ela se levantou, empolgada.
Sério! Pode escolher, Stephane pega para você. – ele sorriu para a noiva.
Fique a vontade, Lily. – ela sorriu.
Obrigada! – ela agradeceu e começou a olhar as prateleiras em busca da mais bonita.
Eu já volto. – piscou para a noiva, feliz.
Nossa! São tantas! E uma mais linda que a outra! – ela dizia, com os olhos brilhantes.
Lily! – Gina a chamou do lado de fora da loja. – Lily, pelo amor de Deus! Como você sai da loja desse jeito! – ela caminhou até a menina, brava.
Desculpe. – ela pediu. – Mas eu te avisei que ia comprar um sorvete. Só que eu me distraí.
Sua mãe ficou muito preocupada, Lily. Não faça mais isso.
Humpf! Aposto que você ficou feliz com a possibilidade de eu sumir para sempre, não foi, Draco?
Lily! – Gina ralhou.
Deixa, Gina. – Draco sorriu. – Eu não me importo.
Que falta de educação! – ela falou. – E ainda por cima saiu com o vestido da loja! Francamente! Vamos embora! – ela pegou a mão da menina.
Não! Eu quero me despedir do meu amigo. Além disso, ele me deu uma boneca e eu estou escolhendo!
O quê? Que amigo? – ela perguntou, preocupada.
Hum... Desculpe. – Stephane, que assistia a tudo, começou a explicar. – Foi o meu noivo, Josh. Ele ofereceu uma boneca para ela e ela ainda não escolheu.
Oh, eu agradeço, mas ela não pode aceitar, não é Lily?
Por que não?!
Não tem problema mesmo. – Stephane insistiu. – Escolha uma. – sorriu para a menina.
Bom... Então escolha logo! – Gina insistiu.
Hum... Essa aqui! De cabelo vermelho! – sorriu.
Bela escolha! – Draco falou. – Quanto é moça? – ele caminhou até o balcão já tirando a carteira do bolso.
É um presente. – ela repetiu.
Tem certeza? É o meio de vida de vocês. Essas bonecas não devem ser baratas. – falou.
Foi um presente, senhor! – ela disse, meio ofendida. – Pode levar.
Ok então... – ele suspirou e guardou a carteira. – Vamos então?
Eu já disse que quero me despedir do Josh! – ela insistiu.
Ele deve estar ocupado, garota! – Draco falou, ríspido, depois sorriu. – Com certeza ele vai entender, não é?
Vamos, querida. – Gina insistiu. – No fim das contas eu nem escolhi meu vestido.
Ainda não?! – ela perguntou, indignada. – Isso deve ser um sinal, mãe, para você não se casar! – e olhou feio para Draco.
Sua mãe e eu vamos nos casar, Lily, nem que seja com roupa de banho! – afirmou, tentando não parecer muito rude.
Blah! – ela fez. – Obrigada srta Stephane. – ela foi até o balcão. – Por favor, agradeça ao Josh, sim?
Não se preocupe, Lily. – ela sorriu.
Vamos, querida. Obrigada pela boneca. – ela acenou para a moça no balcão.
Draco passou o braço pelo ombro de Gina e acenou para a moça também. Lily revirou os olhos, desgostosa, mas segurou a mão da mãe para voltarem até a loja dos vestidos.
Ué? Ela já foi? – Josh voltou para a loja e perguntou, decepcionado.
Já. Acabou de sair. A mãe dela apareceu aqui super brava porque ela havia sumido da loja. – sorriu. – O padrasto veio junto.
Hum... – ele caminhou até a frente da loja para vê-los se afastar. – Coitada... Ela não quer que a mãe se case.
Criança é assim mesmo, mas no fim vai acabar se acostumando.
Tomara. – ele continuou observando-os, impressionado com a figura de Gina, embora só a visse de costas, e imaginando como seria o rosto dela. – É bonita mesmo. – sorriu.
O quê? – Stephane perguntou.
Hum? Nada... – desconversou. – Tomara que ela volte qualquer dia.
Deve voltar. A mulher disse que acabou não escolhendo nenhum vestido.
Hum... Isso deve ser um sinal. – sorriu e voltou para o interior da loja a espera de algum cliente.
