Título: Longitude Devoção
Ficwriter: Kaline Bogard
Classificação: yaoi, angust, crossover com Glühen
Pares: AyaxYohji
Resumo: Quando é preciso enfrentar a dura realidade e se descobre que não existe meio termo.
"O que é... o que é... clara e salgada, cabe em um olho e pesa uma tonelada. Tem sabor de mágoa, pode ser discreta... inquilina da dor, morada predileta. Na calada ela vem... refém da vingança, irmã do desespero e rival da esperança. Pode ser causada por vermes e mundanas, o espinho da flor cruel que você ama. Amante do drama, vem pra minha cama por querer. Sem me perguntar me fez sofrer. E eu que me julguei forte. E eu que me senti... serei um fraco quando outras dela vir. Se o barato é louco e o processo é lento, no momento, deixa eu caminhar contra o vento. O que adianta eu ser durão, e o coração ser vulnerável? O vento não, ele é suave, mas é frio e implacável. É quente... borrou a letra triste do poeta. Só... correu no rosto pardo do profeta. Verme sai da reta, a lágrima de um homem vai cair. E esse é o seu B.O. pra eternidade... diz que homem não chora. Tá bom, falou... não dá ouvido irmão. Aí, um homem chorou..." (Racionais MC's)
Longitude Devoção
Kaline Bogard
PRÓLOGO
A noite estava um tanto fria, e muito úmida. O sereno parara de cair, mas antes conseguira diminuir quase drasticamente a temperatura daquela cidade.
Graças ao frio, poucas pessoas se aventuravam a sair de casa, e isso fazia com que Aya se sentisse ainda mais solitário.
Desanimado, o líder da Weiss correu os olhos pela rua, de um lado para o outro. Não havia viva alma em nenhum lugar. E nada indicava o contrário... afinal, quem seria louco de sair de casa com aquele frio?
Quem, além de Aya...?
A pessoa com a qual o ruivo marcara um encontro, é claro. E que por sinal estava meia hora atrasada.
(Aya) Maldição.
Se não fosse tão importante... se não precisasse tanto da ajuda dele, já teria mandado tudo as favas e voltado para a Koneko. Mas não faria aquilo. Não fugiria do confronto...
Só de pensar em como estaria exposto, e em quanto baixaria a guarda, quase ficava assustado. No entanto, coisas importantes dependiam do resultado daquele encontro. Naquela noite, todas as suas esperanças seriam renovadas, ou, destruídas definitivamente.
Suspirando, o espadachim pensou em como desejava ter um cigarro naquele momento. Normalmente Aya não fumava. Não suportava o cheiro de tabaco, e só a duras penas admitia que Yohji fumasse próximo a si.
Mas se sentia tão tenso em expectativa, que talvez uma boa tragada acalmasse seus nervos judiados.
(Aya) Quarenta minutos...
Respirando fundo e puxando a manga do sobretudo, Aya olhou pela milésima vez em seu relógio. Desencostou-se da parede que se aquecera com o calor de seu corpo, e estralou os dedos das mãos, que estavam doloridos por causa da friagem, apesar da luva de couro preta.
Erguendo os olhos violetas, Aya fitou o céu.
Estava escuro e sombrio, sem estrela nenhuma, nem mesmo para indicar um caminho... uma solução... parecia muito com sua própria vida. Um reflexo zombeteiro do inferno que fora os últimos meses.
Foi então que o som de passos ecoou na rua deserta, fazendo o Weiss tencionar o corpo e se por na defensiva. Lentamente virou-se para a direita, no sentido rua abaixo.
Durante alguns segundos, Aya e Schuldig se entreolharam, medindo-se em silêncio. Se avaliando com minúcia quase predatória.
O coração do espadachim acelerou e seu rosto ficou lívido. Se por um lado era um alívio saber que o Schwarz atendera seu chamado, por outro era um sinal nítido a expressão séria, e a ausência do sorrisinho sempre debochado nos lábios do alemão.
Ele não estava ali para ajudar...
Lendo os pensamentos desanimados do inimigo, Schul deu de ombros, permanecendo muito compenetrado, quase solene.
(Schul) O que queria, Weiss? Não sou Deus... não faço milagres.
Schul não estava zombando. Na verdade, nunca falara tão a sério em sua vida.
Em todos aqueles meses, desde que sua vida se tornara um verdadeiro inferno, o Weiss não sucumbira em nenhum momento... até agora.
A última esperança fora arrancada de seu peito. Aquele fiozinho de luz ao qual se agarrara tão tenaz e desesperadamente rompera-se, fazendo-o despencar na dura e incontestável realidade: fracassara mais uma vez...
Ter que encarar o futuro que se desenhava a sua frente foi demais. Pela primeira vez o espadachim esmaeceu e fraquejou.
As íris ametistas buscaram a negritude celestial, e tudo o que encontraram foi uma mancha desfocada e irreconhecível, borrada pelas lágrimas.
Perdendo toda a sua fortaleza, Aya chorou.
Continua...
