Título: No fim do dia
Autora: RightUlna
Categoria: Bones, 7ª temporada, hiatus
Advertências: Inicialmente não tem. Fiquei em dúvida quanto à classificação, mas acho que está correta. Se eu me desviar um pouco dela, me perdoem, sim?
Classificação: T
Sumário: O quão difícil é ser impedido de viver sua vida? De estar ao lado de quem você ama?
Linha do tempo: Esta fic situa-se logo após a season finale da sétima temporada.
PS: Ah, e Bones e tudo relacionado à série não me pertence, infelizmente. Isso aqui são apenas devaneios de uma mente insaciável.
No fim do dia, o quintal parecia um ótimo lugar para brincar. "Ela irá adorar correr de um lado para outro, quem sabe cavando e descobrindo esqueletos de pequenos roedores", pensava. Havia algumas árvores, as folhas estavam espalhadas, mas nada que um bom jardineiro não resolvesse. A cerejeira, ainda pequena, iria ficar linda quando chegasse a primavera, e, quando estiver maior, será um plano de fundo lindo para a janela do quarto dela.
Minhas costas a esse horário já dava sinais de cansaço. Eu sabia que era devido aos meus esforços decorrentes de ficar o dia quase inteiro em pé no laboratório, mas eu não podia abandonar o que mais gosto de fazer. Booth cada vez mais tentava me persuadir a sair mais cedo, a tirar um dia de folga, a chegar um pouco mais tarde por causa da gravidez. Mas ele não entendia que isso não me afetava, e eu já havia parado de tentar explicar.
Inconscientemente minha mão pousa na minha barriga, sentindo mais um chute. "Estamos um pouco inquietas hoje?" permiti-me falar, tentando estabelecer algum tipo de ligação, que eu já sentia, desde que soube que carregava uma vida dentro de mim. Mesmo sabendo que ela não iria entender. Acho que devo isso ao fato de Booth constantemente fazer isso. Quando estou deitada e ele chega para "conversar" com ela, ou quando estou lendo um livro no sofá e ele chega perguntando se "nós" estamos com fome. Simplesmente me acostumei a falar com ela também, mesmo sabendo que ela não tem como entender.
Perdida em meus pensamentos, sinto uma mão deslizar sobre a minha, seguida por outra logo abaixo, acariciando carinhosamente minha barriga de quase oito meses de gravidez. "Já acordou, bebê?" ele sussurra, bem perto do meu ouvido, tentando conversar com ela.
"Você não tem como saber se ela estava dormindo, Booth. Um chute pode ser apenas uma manifestação involuntária do bebê em busca de mais espaço, em vista que dent-"
Ele me interrompe com um beijo logo abaixo da minha orelha. "Eu te amo" e isso é o bastante para mim, naquele momento. Eu poderia ficar daquele jeito para sempre, nos braços do homem que amo, sentindo nossa filha dentro de mim, olhando para a cerejeira que crescia no quintal, preparando-se para um novo ciclo, assim como a minha vida, a nossa vida.
Um puxão mais forte de Christine me trouxe de volta. Ela estava mesmo com fome naquela noite. Ela fazia isso algumas vezes, puxando com um pouco mais de força, como se tivesse medo que o leite fosse acabar. Eu estava bastante cansada depois de um dia no laboratório tentando identificar mais uma múmia, e tentando – muitas vezes sem sucesso – me concentrar totalmente nisso sem pensar na minha filha de minuto em minuto. "Será que ela já não está com fome? Mas ainda não está na hora... Será que ela está se adaptando bem? Acho melhor eu ir checar", pensava comigo mesma, e logo em seguida, me detia, chegando à conclusão de que precisaria terminar de fazer meu trabalho e que se qualquer coisa estivesse errada, a diretora da creche com certeza iria me ligar.
Mesmo cansada e louca para voltar para cama, eu simplesmente não conseguia deixar de olhar para aquele rosto. Ela mamando era um momento único que eu tratava de aproveitar o máximo que eu pudesse, mesmo que muitas vezes eu pegasse no sono por alguns segundos. Quando terminava, quase sempre ela já estava quase dormindo, e eu a colocava no berço, ao mesmo tempo grata, mas sem querer voltar para cama, para longe de meu bebê.
Fechei a porta do quarto com cuidado. Booth continuava dormindo. Na maioria das vezes ele acordava e me acompanhava na amamentação. Mas em dias cheios, quando ambos chegávamos cansados, raramente ele acordava, ou acordava quando eu já tinha voltado do quarto de Christine.
Mal deitei e senti seu braço me envolver a cintura. "Que horas são?", ele pergunta, com a voz sonolenta.
"Três e meia.", eu respondo, me aconchegando mais no seu abraço.
"Christine já mamou?"
"Já."
"Vem cá, baby. Vem dormir um pouco. Amanhã temos um longo dia.", ele dizia, e mais uma vez eu sentia que não existiria outro lugar em que desejaria estar, do que ali, nos braços do homem que amo, com minha filha dormindo no quarto ao lado, na expectativa do começo de mais um dia das nossas vidas.
Abri meus olhos lentamente, percebendo o que me fazia acordar no meio da noite. Era Christine. Olhei para o relógio. Três horas. "Sempre pontual", pensei. Ela choramingava, ainda não havia começado a chorar, mas eu já estava acostumada com aquela rotina, que começaria a ficar mais difícil agora.
Virei e me sentei contra a cabeceira da cama, amamentando minha filha. Ela mamava tranquila, alheia a toda a situação pela qual estava passando. Passei meus dedos em suas bochechas rosadas, apenas para senti-la, para ter certeza de que era real, de que não era apenas uma lembrança, como tem sido meus últimos sonhos.
Insuportável era a palavra que descrevia o que eu estava sentindo, a não ser pela minha filha. Era ela que me fazia seguir em frente, que me impulsionava a continuar com aquele plano, que não me deixava desistir de tudo e voltar para os braços de Booth, arriscando a vida dele, dela e de todos os que deixei para trás. Bastava olhar para ela e eu sabia o que tinha que fazer, que tinha que continuar.
Permaneci assim até ela dormir em meus braços. Coloquei-a novamente deitada na cama, rodeada por travesseiros e lençóis, e deitei-me ao seu lado. E assim fiquei, olhando para aquele pequeno ser humano, que tinha mudado minha vida para sempre, que me fazia ter vontade de continuar vivendo. Mas, ao mesmo tempo, não suportava olha-la por muito tempo. Seus olhos, seu sorriso, tudo me lembrava ele. E eu não conseguia, simplesmente não conseguia. Suas mãos me envolvendo, sua boca na minha pele, seus olhos nos meus, tudo isso me acertava violentamente. Naquele momento, eu não era Temperance Brennan, a brilhante antropóloga forense, era apenas uma mulher que desejava acima de tudo proteger sua família, mesmo que para isso fosse necessário fazer alguns sacrifícios.
Fechei meus olhos, na esperança de dormir um sono sem sonhos, ansiando apenas que, ao abri-los novamente, estivesse de volta ao lugar de onde eu nunca mais pudesse sair, nos braços do homem que amo, embalando minha filha, vivendo uma vida que jamais pudesse ser tirada de mim novamente.
Está aí, minha primeira fic. Espero que me perdoem por qualquer erro, seja de português ou de ideias. Essa fic é produto de uma mente inquieta e muito provavelmente provocada pela ausência de detalhes que o HH nos deu nessa temporada.
Então, o que acharam?
