Para a minha Toddynho. Porque ela merece uma fic UA cujo universo original ela desconhece só pra ela!

Divirta-se, Sami!

E, guys, R&R!


Prólogo

Quando ouve falar em Los Angeles, a maior parte das pessoas pensa em gente rica e famosa, doentiamente magra e bronzeada. Decididamente, nada a ver com o lugar onde se espera que um norueguês instale sua família. Mas foi ali que, em cinco de maio de 1980, nasci eu, o neto do norueguês em questão.

Eu era o que muita gente considera uma "aberração": um menino nascido em L.A. que não estava nem aí pras estrelas de cinema e que, desde sempre, tinha como objetivo de vida se formar na Brown University, um dos oito membros da Ivy League.

Em julho de 1990, pouco depois do meu aniversário de dez anos, meus pais decidiram se mudar para a "fabulosa Las Vegas" - reino dos jogadores e prostitutas, como alguns conhecidos nossos diziam - depois de concluir que a Califórnia não era o lugar ideal para criar uma criança. Não que Vegas seja um lugar melhor.

Escolhemos um lindo apartamento num prédio de luxo que ficava longe da Strip o suficiente para a parte "cidade que nunca dorme"de Las Vegas não atrapalhar a minha vida. O que nós não imaginávamos era que os moradores do apartamento ao lado eram um casal de vinte e tantos anos que tinha um bebê recém-nascido.

No começo, era um inferno: aquela maldita menina chorava a noite toda, e os pais só ficavam rodando de um lado para o outro da casa, tentando adivinhar qual era o problema da vez. Mas, lá pro fim de setembro, eles finalmente começaram a conseguir lidar com ela, e eu pude, enfim, dormir tranqüilo.

A menina se chamava Jennifer e era um daqueles bebês que fazem adultos como o que eu sou hoje quererem ter seus próprios filhos. Tinha olhos castanhos, num tom escuro, tão escuro que era difícil ver as pupilas, e cabelos cor de mel, quase loiros. Não parava quieta um segundo que fosse, por mais que seus pais insistissem - e eles insistiam muito. Mas eu parecia ter o dom de acalmá-la, porque era só ouvir a minha voz que ela sossegava.

Talvez essa tenha sido a razão pela qual eu acabei me tornando a babá dela, quando o sr. e a sra. Carter resolviam sair. No começo, eu fazia isso pelo dinheiro que eu ganhava - cinqüenta dólares por noite, quando ela era menor, vinte quando ela fez uns cinco anos -, mas, depois que ela fez uns sete anos e começou a estudar, eu aproveitava para fazer as lições de casa dela e parei de cobrar. Porque, afinal de contas, eu estudava numa escola para superdotados, o que é uma coisa altamente nerd, no sentido mais deprimente da palavra.

Naquela época, eu percebia que ela se sentia fascinada pelo que eu estudava. Não que eu não entendesse: dividíamos a mesma paixão pela Química, por mais que ela ainda não fosse capaz sequer de saber a tabuada.

No fim daquele ano letivo, eu me vi às voltas com os SATs e as entrevistas das faculdades. É claro que eu sabia que nenhuma universidade respeitável me recusaria, só que eu não podia deixar de me sentir apreensivo. Mas toda aquela apreensão foi esquecida quando, num lindo dia do começo do verão, eu recebi os envelopes com o formulário de matrícula de todas as minhas escolhas. Incluindo a Brown.

Foi realmente complicado fazer as malas para deixar Vegas, porque, durante aqueles oito anos, eu tinha aprendido a amar a cidade e a vida que eu tinha nela. Mas o meu plano de vida era ir para Rhode Island, e nenhum remorso do mundo me impediria de seguir o meu sonho.

Os quatro anos de faculdade foram especialmente complicados, porque, além de estar morando sozinho pela primeira vez - não que eu não desse conta disso -, eu também tinha decidido me formar em Química e na Academia de Polícia ao mesmo tempo, para poder trabalhar como CSI em, no máximo, cinco anos.

Foi também na faculdade, com todas as festas e bebidas e mulheres, que eu aprendi que a vida não deveria ser levada tão a sério. Aprendi a beber socialmente, a escolher uma garota numa festa e não me arrepender disso no dia seguinte, a viver a vida loucamente e, principalmente, a sobreviver à ressaca - e aprender alguma coisa na aula depois de um porre.

Não que eu não tenha tentado ser sério: até cheguei a namorar uma garota, mas acabamos terminando seis meses depois porque ela não conseguia aceitar que eu passasse tanto tempo estudando e tão pouco tempo com ela.

Mas todo esse estudo compensou: seis meses antes de me formar, eu já tinha recebido propostas de emprego dos maiores laboratórios de Farmácia e Bioquímica do país. E, mais importante ainda, podia escolher em qual laboratório de investigação criminal iria trabalhar: como analista de digitais em Miami, analista de vestígios em New York, analista de DNA em Vegas e técnico de audiovisual em Los Angeles. É claro que eu escolhi voltar para Nevada.

Vegas é a cidade dos cassinos e das festas, dos desertos e dos grandes lagos. Posh, como todas as outras. Mas diferente delas por ser o lugar que eu tinha aprendido a chamar de casa. E foi essa a razão mais importante para eu querer ir para lá.

Quando cheguei ao prédio onde, quatro anos antes, eu morava com os meus pais, encontrei a minha querida vizinha sentada no jardim da entrada. Ela correu para me abraçar e se jogou em cima de mim.

- Eu senti saudade de você, Greg - ela disse, daquele jeito empolgado que só as crianças têm. E foi naquele momento que eu descobri que também tinha sentido saudade dela.

Ela começou a contar por alto tudo o que eu tinha perdido nos últimos quatro anos e a me perguntar tudo o que podia imaginar sobre a minha vida.

- Olha, Jenny, eu viajei o país inteiro num avião - esse comentário fez os olhinhos dela brilharem. Era um pouco estranho pensar que ela tinha passado a vida toda em Vegas, enquanto eu já tinha morado na Costa Leste. - Quer ir lá pra casa pra eu te contar tudo enquanto descanso?

Ela fez que sim, empolgada. Ela gostava de estar comigo, de um jeito diferente daquelas garotas que tinham me irritado na faculdade só porque eu era bonito. E isso me fazia ansiar pela companhia dela, para variar um pouco.

- Cadê o sr. e a sra. Sanders? - ela perguntou, tímida, quando notou que o apartamento que, até ir embora, eu dividia com os meus pais só tinha os móveis.

- Meus pais foram morar em outro lugar, Jenny. Eu sou um adulto agora, sabe? Não preciso mais morar com eles.

- Eu quero virar uma adulta também. Meus pais são uns chatos.

Por um instante, eu desejei que ela não virasse uma adulta nunca. Sair de casa tinha me mostrado um mundo cruel. O mundo que me fez entrar para a Academia. Porque, no fundo, eu queria poder proteger meninas como a Jenny do mundo que eu tinha conhecido quando fui forçado a abrir os olhos.

Eu tinha aprendido que as pessoas se tornam mais cruéis quando o sol se põe, as luzes são apagadas, a música se torna mais alta e o álcool toma conta das mentes. E foi por isso que, no dia em que fui fazer a entrevista com o Diretor Assistente da LVPD, eu deixei muito claro o meu desejo de trabalhar no turno da noite.

Tudo o que ele fez foi me dizer que eu deveria me apresentar na recepção da delegacia naquela mesma noite, às dez em ponto, e procurar pelo supervisor do turno, Jim Brass. Dois dias depois eu já tinha aprendido a mexer em todos os equipamentos e finalmente recebi o meu crachá de funcionário.

No começo, a Jenny ficou meio triste de saber que não íamos mais nos encontrar quando ela estivesse indo para a escola e quando voltasse, como acontecia antes. Mas isso logo foi esquecido quando ela descobriu como os meus colegas de trabalho eram fascinantes.

É claro que os pais dela, no começo, reprovaram a idéia de continuarmos a nos ver com freqüência. Para eles, eu era uma má influência, tanto por conviver com assassinos e estupradores e seqüestradores - isso, claro, na cabeça deles - quanto por ter uma vida social - e, admito, sexual - tão ativa quanto possível.

Mas nós não ligávamos para isso. Quero dizer, ela não ligava. E era por isso que, sempre que podia, eu a chamava para vir me visitar e ouvir detalhes sobre os casos que eu pegava no laboratório. Eu sabia que não podia fazer isso, mas ela era tão insistente e seu fascínio era tão real que eu não conseguia evitar.

Um mês depois de eu começar a trabalhar, Grissom - recém-promovido a supervisor depois de uma imensa falha do Brass - chamou uma CSI de San Francisco - uma "amiga em quem ele confiava muito" - para ajudar numa investigação e ela acabou entrando para o time. O nome dela era Sara Sidle e, durante muito tempo, minha maior fantasia foi conseguir alguma coisa com ela. Cheguei até mesmo a conseguir chamá-la para sair, mas, na ânsia de impressionar o chefe, ela acabou desmarcando comigo para fechar um caso.

Com muito esforço e depois de alguns erros que eu próprio considero imperdoáveis, eu finalmente consegui ser promovido e recebi minha tão sonhada autorização para trabalhar em campo, três anos depois de começar a trabalhar no laboratório. Na mesma época, a Jenny entrou na High School e começou a descobrir por que a maioria das pessoas tem um ódio mortal de Química - pessoas, claro, que não são como eu. E, quando lembrou que eu era um químico, ela não hesitou em me pedir ajuda.

Com mais interesse no bolso do que no que eles chamavam de "integridade física e moral" de sua querida filha, os pais dela não hesitaram em nos deixar passar todo o tempo que fosse necessário juntos, o que apenas serviu para estreitar nossos laços - não que as notas dela não tivessem continuado perfeitas, claro. E para me proporcionar situações constrangedoras, como no dia em que ela achou as Playboys que eu tinha trazido do armário do vestiário da delegacia no dia anterior - procurando, ironicamente, um esconderijo mais seguro - e simplesmente começou a lê-las, como se não passassem de uma revista de fofocas. Mas o mais estranho de tudo foi notar que ela, depois disso, começou a me olhar de um jeito ligeiramente diferente. De um jeito que eu conhecia muito bem. Porque era o jeito como eu queria ser olhado pela Sara.

Não foi por coincidência, eu tenho certeza, que ela se inscreveu nos testes para cheerleader. E foi claramente proposital o fato de eu ter sido o primeiro a saber.

Eu tinha acabado de desligar o chuveiro quando a campainha tocou. Nem me sequei direito, porque não tinha certeza de quanto tempo já tinha feito a pessoa esperar lá fora e porque eu achava que era o entregador do restaurante chinês com o meu almoço. Se eu demorasse muito, ele iria embora e eu ficaria sem comer. Mas, quando abri a porta, dei de cara com a Jenny, uma Jenny visivelmente boquiaberta que não conseguia encontrar palavras para me explicar por que diabos ela estava na minha porta, às seis e meia da tarde, sem termos combinado nada. E vestindo o uniforme da escola, incluindo a minissaia de pregas e a meia-calça cor de pele.

- Eu... Posso entrar? - ela perguntou, hesitante. Dei um passo para trás, completamente embaraçado, e a observei enquanto ela caminhava até o sofá da sala e se instalava nele.

- Eu vou só me vestir, e... - era realmente difícil pensar naquele momento. Ela me olhava, daquele jeito meio "me joga na cama agora", e eu não sabia o que dizer ou fazer. Não com ela. - Me espera aqui?

Andei calmamente até o meu quarto, me esforçando para não pensar nela, nem tentar entender por que aquela imagem que eu já tinha visto tantas vezes quando ela era menor - e mesmo agora - tinha tido um efeito tão diferente em mim. Vesti as roupas que tinha deixado em cima da cama, com pressa porque não queria deixá-la esperando.

- Você só chegou da escola agora? - perguntei, antes de sair do quarto, ainda fechando os botões da camisa.

- Eu estava no treino.

- Treino?

- Treino - ela respondeu, como se me perguntasse se eu era surdo. - Entrei na equipe de cheerleaders.

- Eu achei que você tivesse cérebro - brinquei, só para irritá-la. A verdade era que eu sabia o que ser uma cheerleader queria dizer dentro de uma escola: uma garota bonita e fútil que qualquer cara consegue levar pra cama, especialmente se usar o uniforme de algum time. E isso, dentro ou fora da escola, significava uma coisa que eu não conseguia fazer caber na imagem que eu tinha da Jenny: não ser virgem.

- Eu tenho. Só que ser a nerd da turma não é meu sonho.

Esse tinha sido um ataque muito pessoal, eu sabia. Durante boa parte da minha vida, até meu décimo quinto aniversário, eu tinha usado vários tipos de aparelho, o que contribuiu para eu me tornar um completo pária social até chegar à faculdade. E ela sabia disso tão bem quanto eu.

- Se o seu sonho for dormir com o time de lacrosse todo, então, parabéns, você conseguiu - respondi, hostil. Ela me fuzilou com os olhos.

- Qual é, Greg, fica feliz por mim! Eu comemorei quando você começou a trabalhar em campo e passou a correr risco de vida sempre que sai de casa!

- Eu estou feliz por você - menti. - Mesmo - pelo menos para alguma coisa tinham servido as aulas de interrogatório na Academia, já que eu ainda era proibido de interrogar suspeitos. - Eu só acho que cheerleader é uma coisa estereotipada demais pra valer a pena.

- Como se policial não fosse assim.

- Não sou eu que uso minissaia e collant. Mas... Se você quer mesmo fazer isso, eu não posso te impedir. Acho que só me resta admitir que você cresceu.

Mas eu não queria admitir que ela tinha crescido e virado uma adulta com total consciência do que podia ou não fazer - com a vida ou com o próprio corpo. Foi por isso que eu me esforcei ao máximo para negar isso - e a sensação de que eu estava ficando realmente velho - até que fosse impossível. E o "impossível" chegou um ano depois, sob a forma de um Peugeot 206 branco. O carro que ela tinha ganhado de aniversário de 16 anos dos pais assim que conseguiu a carteira de motorista.

A razão por que eu tive que aceitar que ela era adulta tinha muito mais a ver com as leis do que com a ela ter mudado alguma coisa em suas atitudes. Porque, apesar de ela continuar sendo tão irresponsável e teimosa de uma forma que beirava a infantilidade, ela legalmente tinha o direito não só de dirigir, mas também de decidir com quem iria dormir. E isso, uma coisa que eu sempre tinha achado maravilhosa e até mesmo muito coerente nas leis de Nevada, me deu um pouco de medo.

Começamos a nos encontrar na garagem, cada vez mais freqüentemente. Com o tempo, eu comecei a esperá-la, encostado na porta do carro dela. Quando notou isso, ela me pediu que adquirisse o hábito de passar no Starbucks mais próximo e trazer-lhe seu café preferido. "Eu pago, prometo", ela dissera. E eu não pude recusar esse pedido. Especialmente depois de perceber que, por causa dele, ela passou a me esperar quando eu não ligava para dizer que ia dobrar o turno e acabava me atrasando. Tudo para não ter o trabalho de parar para comprar café.

Às vezes, eu reparava que ela tinha passado um pouco mais tempo se arrumando do que o normal. Estava tão acostumado com a quase completa ausência de maquiagem da Sara e da Cath e com o fato de que ninguém do laboratório usava nenhum tipo de perfume que não fosse completamente indispensável, que esses detalhes me chamavam a atenção nela. E foi por causa deles que, num dia como outro qualquer, eu descobri que ela estava namorando.

Aquela informação, confirmada por ela com um imenso sorriso, me trouxe um certo alívio. Eu conhecia a Jenny bem o suficiente para saber que ela jamais aceitaria namorar alguém se não fosse ser fiel a essa pessoa. E isso queria dizer que ela pararia de jogar charme para mim e eu pararia de ser torturado pelas coisas que passavam pela minha cabeça de vez em quando.

Mas, mesmo ela tendo parado e começado a falar só do namorado dela, eu não conseguia evitar algumas idéias que tinham se fixado no meu inconsciente. E foi aí que, aos poucos, a Sara começou a perder lugar para a pequena Jenny. Por mais que eu me recusasse a aceitar isso.