Segundos
Um segundo e uma batida do coração. Mas um segundo não é rápido. É lendo, arrastado, a eternidade em um momento congelado. Um segundo é o que tudo parece durar, mas na realidade é mais. É uma sequência de longos segundos preenchida pelos grunhidos das criaturas sombrias, o tilintar das lâminas duplas de Leliana e o eco dos feitiços de Morrigan. É o peso da própria espada. Ele a sente contra as mãos, através das luvas. Ele sente as ondas dos golpes dançarem pelo corpo a cada ataque, a cada defesa. Mas os olhos deles estão sempre procurando.
A cada longo segundo, os olhos dele examinam o campo de batalha, intensos e ansiosos, até encontrarem quem ele mais teme perder. A calma dos feitiços de cura dela é uma sensação pela qual ele agradece a cada vez que a sente. Mas os segundos são mais longos quando os feitiços dela são dirigidos ao Arquidemônio. E quando a criatura ataca, o coração dele para até que ele volte a vê-la, apoiada no cajado, pronta para continuar a lutar. Ele não se arrepende de segui-la e muito menos de entregar o próprio coração a ela. Apesar de nova na Ordem, ela já se tornou uma das maiores entre os Guardiões e ele sente orgulho de ser aquele que ela ama.
Mas um segundo pode se tornar muito tempo e quando ele a vê largar o cajado e pegar a espada, ele teme que é o fim. Quando ele a assiste correr e cravar a lâmina na carne do dragão, ele só consegue pensar em uma coisa:
Eu vou perdê-la.
E quando ela cai junto com o Arquidemônio, ele grita:
- Ayala! AYALA!
Ele corre até ela e a pega nos braços. As criaturas sombrias estão fugindo, mas ele não vê. Ele não percebe quando Leliana e Morrigan se aproximam. Ele apenas vê e sente Ayala desacordada contra seu peito. Ele continua a chamar e cada segundo que ela não responde é como uma lâmina afundando cada vez mais no coração dele. E então, ele para de chamar e apenas a abraça.
Mais longos segundos se passam e ela treme nos braços dele. Ele respira aliviado, abraçando-a com toda força que ainda há dentro dele.
- Alistair? – ela chama, fraca e confusa, e ele ri, feliz.
Ela está viva. O ritual de Morrigan era verdadeiro e Ayala está viva, nos braços dele. Para Alistair, nem mesmo o fim da Podridão é mais doce do que o breve segundo em que Ayala chama o nome dele.
