Todos os personagens abaixo pertencem a J.K Rowling e quem mais tiver direito, menos a mim que só os utilizo para pura diversão.
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Fic escrita para o I Chall Severus Snape da Comu Fics Challenger/ Harry Potter
Linha de Inspiração:Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar".(Machado de Assis)
Itens:Batom/Chuva/Dança
OPA! Aconselho a ouvirem a lindíssima música It Might Be You do Stephen Bishop antes de lerem. A galera que participava de festinha americana... ¬¬... reconhecerá a música de cara!/;P
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Ele passou os dedos lânguidos e compridos por sobre os lábios finos e rachados. Havia meses que eles estavam abandonados e secos, extremamente secos. Somente água não conseguia hidratá-los, algo mais era necessário, um líquido doce e suculento que provinha da boca de alguém, de uma boca que há tempos ele não beijava. Quanto tempo? Desde o Baile de Inverno. Naquele fatídico dia Severo decretou o fim de algo que não poderia ter começado.
Balançou a cabeça para dissipar as nuvens de besteiras que a inundavam, tinha que estar preparado para o que estava prestes a fazer e nada mais; porém sua mente o levou para o segundo andar da casa. Levantou. Subiu os degraus empoeirados da escada velha que reclamou seu peso, tão magro e ainda assim ela reclamava. Ao chegar ao alto da escada com um safanão escancarou a porta do quarto e foi até o velho armário de duas portas. Abriu-o e tomou com sua mão possessiva a única lembrança material daquela que um dia fez seu coração sair da hibernação: um batom, vermelho cor de sangue, que ficava perfeitamente esplendoroso naquela boca tão bem delineada. Tirou a tampa que protegia o conteúdo da poeira e das teias das aranhas de pernas finas que empesteavam o móvel quase vazio. Num simples giro o vermelho rompeu a negritude do ambiente passando a ser a única coisa com vida em meio à aura de morte.
Os olhos de Severo se fixaram naquele pedaço de boas e dolorosas lembranças e novamente seu coração pulsou rápido, lembrando-o que ainda era um ser vivo. As pontas de dois dos seus dedos foram até o vermelho e tocaram-no, sujaram-se, avermelharam-se. Em seguida, lentamente, ele os levou ao grande nariz e sentiu o perfume que sempre provinha dos lábios dela quando eles estavam testa a testa, olhos nos olhos e em silêncio. Ele adorava aquele odor como um devoto e uma vez teve fé de que somente ela poderia tirá-lo da escuridão que mergulhara há anos, fazendo-o emergi do mar profundo e caudaloso que sempre o arrastava para mais longe da superfície. Ilusão. Sentiu uma angústia subir por sua garganta e conseguiu engoli-la antes que se derramasse em lágrimas.
- Inferno!
Falou ao procurar apoio na porta do armário. Parou. Viu seu reflexo no espelho rachado, sua alma em cacos. E em meio às trevas constatou: era apaixonado por ela. Como nunca tinha amado ninguém antes; de um jeito rude, fechado e um tanto violento, ele a amava. E por isso a afastou, na verdade a expulsou de uma forma que fez sangrar ambos. Idiota! Um completo idiota!
A chuva forte que caía do lado de fora aumentou fazendo com que Severo desviasse a atenção dos seus problemas emocionais. A hora se aproximava. Ele tomou a capa que estava em cima da cama velha e pendurou-a no braço, desceu a escada reclamona. Antes de sair olhou pela última vez para o vermelho sangue que sujava a ponta dos dedos, levou-os a boca e lambeu-os numa vã tentativa de sentir outra vez o gosto dela. Inútil. Vestiu a capa e partiu.
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Logo que apareceu seus olhos encontraram a silhueta em meio aos arbustos e a escuridão. Esguia e pequena. As opções pulularam em sua mente; desprezá-la ou insultá-la? Não teve tempo para decidir. Assistiu os passos tímidos quebrarem pequenos galhos e esmagarem as folhas cristalizadas pelo gelo. Ela parou a sua frente. Encarou-a e foi a primeira vez que Severo Snape sentiu medo ao fitar alguém. Tantas palavras vieram à mente mais sua língua sempre ferina travou, simplesmente não conseguiu destilar qualquer comentário mordaz.
- O que faz aqui? – ele perguntou e amaldiçoou-se em seguida por isso. Era óbvio o que ela estava fazendo ali. – Eu não disse que era para manter-se longe? – sua voz saiu menos rígida do que ele gostaria, mas ainda assim firme.
Não obteve resposta, viu apenas a cabeça dela abaixar escondida sob o capuz negro que se estendia como um manto por todo o corpo. Ele a tinha ferido outra vez. A dúvida cruel pendeu sobre sua cabeça como uma espada: ir embora ou ficar? Seus pés queriam se mexer para perto dela, seus braços almejavam abraçá-la, seus lábios desejavam beijá-la, mas ele não podia, não devia. Era chegada a hora. Tinha de cumprir seu dever. Deu um passo para trás e outro e outro até que estava longe o suficiente da pequena figura de cabeça baixa. Girou dando as costas e caminhou para longe, para deixá-la só, contudo suas pernas não conseguiram ir adiante, travaram.
- Droga! – ele rosnou com raiva de si mesmo.
Um momento de silêncio e de raciocínio até que virou para encontrá-la estática, ainda parada onde havia deixado. E num ato considerado incoerente, pelo seu cérebro, voltou de onde tinha partido.
- Olhe para mim. – Severo ordenou.
A escondida o fez.
Aqueles olhos... tão pedintes, sempre tão carentes da presença dele.
- O que você está querendo fazer comigo? – Exigiu num pergunta baixa e lenta.
Palavras não vieram, mas sim ações.
A encapuzada encostou-se no corpo maior que o dela e aninhou-se.
Os braços dele, cruzados no alto do tórax, transformaram-se em travesseiros, o capuz roçava em suas mãos. Ela estava provocando-o? Pois Severo resistiu, não descruzou os braços, não o faria.
- Eu não queria, não era o que planejei para mim – ela falou pela primeira vez.
Os olhos de Severo a fitaram do alto da sua falsa firmeza.
- Você acha que eu queria isso para mim? Não! Mas foi tão forte, é tão forte, não consigo controlar.
Os braços cruzados de Severo continuaram a incomodar a ele mesmo, resistir ao corpo pequeno pedindo pelo seu estava ficando cada vez mais complicado.
- Eu amo você Severo Prince Snape, eu amo você.
A voz dela cessou, as mãos soltaram suas vestes e o corpo esguio se afastou. Ela estava indo embora para longe e para sempre.
- Espere.
Ela estacou quando a voz baixa chegou aos seus ouvidos. Ficou parada, de costas, para o homem que agora estava junto dela. Ele era assim, esse era seu jeito de amar: silencioso, soturno, mal-humorado.
- Dance comigo uma última vez antes de me abandonar.
O pedido dela ruiu sua fortaleza, não teve como resistir. Agarrou-a pelos ombros e virou-a a fim de encontrar o rosto que tanto amava. Sentiu as mãos dela em suas costas e pousou as suas sobre o corpo que infelizmente quase não tocava. Animais que secretamente observavam o desenrolar da cena saíram de seus esconderijos, até mesmo a neve decidiu se fazer presente em flocos.
Num sussurro no ouvido dela ele perguntou:
- Você lembra-se da música que dançamos no Baile de Inverno?
Ela respondeu em meio ao sorriso:
- Como poderia esquecer?
- Eu estou com ela em minha mente desde aquela noite.
- Eu também – a encapuzada falou ao aferrar-se mais ao corpo de Severo.
- Você me dá a honra de outra dança?
Ela o fitou.
- Nem precisava pedir.
Assim como nos lábios dela o riso fácil também tinha se apoderado dos lábios dele.
Abraçaram-se mais e devagar os pés começaram a marcar o chão repleto de folhas, areia e flocos de neve.
Time... I've been passing time watching trains go by
Tempo... Eu tenho passado o tempo observando os trens partindo,
All of my life...
Por toda minha vida...
Lying on the sand, watching seabirds fly
Deitado na areia, observando aves marinhas voarem,
Wishing there would be
Desejando que houvesse
Someone waiting home for me...
Alguém esperando em casa por mim
Something's telling me it might be you
Algo está me dizendo que poderia ser você
It's telling me it might be you...
Está me dizendo que poderia ser você
All of my life...
Por toda minha vida...
Severo ouviu o fungar baixo dela agarrada a ele sinalizando que não queria que ele fosse, que o momento acabasse. Ela chorava silenciosamente e ele sabia que não poderia fazer nada para evitar a dor que a corroia.
Looking back as lovers go walking past...
Olhando para trás..Enquanto namorados vão caminhando,
All of my life
Por toda minha vida...
Wondering how they met and what makes it last
Imaginando como eles se encontraram e o que faz isso durar...
If I found the place
Se eu encontrasse esse lugar,
Would I recognize the face?
Eu reconheceria o seu rosto?
So many quiet walks to take
Tantos passeios quietos para andar
So many dreams to wake
Tantos sonhos para despertar
And we've so much love to make
E nós temos tanto amor para fazer...
I think we're gonna need some time
Eu acho que vamos precisar de algum tempo,
Maybe all we need is time...
Talvez tudo que precisamos seja tempo...
And it's telling me it might be you
E está me dizendo que poderia ser você,
All of my life...
Por toda minha vida...
Suas mãos se encontraram e seus dedos se entrelaçaram, ela tremia e ele não sabia se era por causa do frio ou a dor da perda. Reforçou os dedos nos dela e parou; seus pés não mais se movimentaram. Ela o acompanhou, mas manteve a cabeça baixa, escondida sob o escuro do capuz.
- Olhe para mim.
Dessa vez ela não o obedeceu e ele teve que gentilmente erguer, através de um leve toque no queixo molhado, a cabeça que se recusava a acatar a ordem. Quando pôs seus olhos sobre o rosto dela viu o retrato da dor e do desespero: lágrimas e mais lágrimas. Um pranto contínuo e verdadeiro. Os lábios dela se retorciam afogando as palavras na água salgada que rolava, em forma de gotas, pela face de pele tão lisa e suicidavam-se no infinito.
- Perdoe-me. – Ele pediu antes de reclinar-se um pouco para beijá-la.
I've been saving love songs and lullabies
Eu tenho economizado canções de amor e de ninar
And there's so much more
E existe tanta coisa
No one's ever heard before...
Ninguém jamais ouviu antes...
Something's telling me it might be you
Algo está me dizendo que poderia ser você,
Yeah, it's telling me it must be you
Sim, está me dizendo que deve ser você..
And I'm feeling it'll just be you
E estou sentindo que será apenas você,
All of my life...
Por toda minha vida...
It's you..
É você,
It's you...
É você,
I've been waiting for all of my life...
Que tenho aguardado por toda minha vida...
Ela respondeu ao beijo e chorou mais. Ao mesmo tempo em que sentia o gosto dele sua dor tornou-se mais forte e profunda, era uma despedida, uma triste despedida. Desesperou-se e seus braços enlaçaram o pescoço numa tentativa infantil de impedir o fim. Não adiantava, o fim estava próximo e nada poderia parar a cruel areia do tempo que escorria levando-o, afastando-o. Sentiu a varinha dele em seu peito, soltou-o e o olhou.
- Será assim? – conseguiu indagar apesar das lágrimas quase impedirem sua fala.
- Será menos dolorido para você - ele a respondeu com desgosto na voz.
- Prometa-me que voltará para me buscar depois que tudo isso acabar, por favor, prometa!
Silêncio.
- Severo... – ela chorou mais.
- Não torne isso mais difícil. Você sabe que não o farei.
A resposta curta e grossa a fez desabar literalmente. Os joelhos tremeram e o chão só não recebeu todo seu corpo porque ele a segurou.
- Por favor, prometa – ela pediu agarrada a roupa dele.
- Não. – Ele respondeu estoicamente.
A encapuzada encostou a cabeça no ombro dele e chorou ainda mais. A mão de Severo foi até o alto da cabeça dela tentando consolá-la, mas quem iria consolá-lo? Sem mais demora ele encostou a varinha nela...
- Eu amo você.
Ele ouviu o balbuciar da voz triste. Sugou todo o ar que pôde, fechou os olhos e falou:
- Obliviate!
A pequena parou de chorar, e os soluços cessaram. Levantou-a e lançou um Imperius antes que a encapuzada voltasse a consciência. Tratou de apagar os vestígios da dor no rosto dela.
- Volte para o castelo, precisarão de você logo. Caso perguntem diga que estava com os elfos na cozinha.
Ela meneou com seus olhos vazios, deu as costas e se foi.
Minutos após a partida dela Severo saiu de dentro do bosque e olhou para o céu negro. Sentiu seu braço arder, era a hora. Em passos firmes e rápidos ele encaminhou-se para dentro do castelo. Seu coração? Na ponta da varinha. Por amor a ela cumpriria o que prometera a Dumbledore e a Narcissa Malfoy.
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E naquela noite, ao levantar a varinha em direção ao maior bruxo de todos os tempos, na Torre de Astronomia, o rosto molhado dela emergiu dos recônditos de sua mente e ele pensou, 'Poderia ser você. Em outro tempo, em outra época, poderia ser você'.
- Severo...
A voz baixa interrompeu seu pensamento.
- Avada Kedavra!
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N/A: Espero sua opinião. Sorry pelos erros e até a próxima/;*
