DISCLAIMER:
Doctor Who e seus personagens não me pertencem, todos os direitos são da BBC.
Essa história se passa imediatamente antes do episódio "Turn Left".
MADRUGADA NA TARDIS
Donna acordou, sem saber bem que horas – ou que ano – eram. Olhou para seu relógio de pulso, descansando na mesa de cabeceira, e viu que, em Londres, seriam 2 horas da manhã. Deu um sorriso meio amargo ao levantar da cama, vestindo um roupão felpudo sobre o pijama de flanela.
- Parece que velhos hábitos não morrem. – ela resmungou, ao sair de seu quarto aconchegante e agora tão familiar, próximo à cozinha da Tardis. - Embora eu esperasse que uma voltinha pelo vórtice temporal pudesse, pelo menos, colocá-los em coma. – arrematou, parando por um instante para colocar a mão sobre um dos grandes rebites na parede da nave. Ela gostava de sentir a vibração dos motores da Tardis enquanto eles navegavam sem rumo pelo Vórtice; parecia um grande felino, ronronando ao tirar uma soneca ao sol. A Tardis não passava mesmo de um grande gato: mimada pelo dono, ciumenta e voluntariosa.
Donna gostava de gatos.
Ela encostou a testa no metal morno e fechou os olhos. Tivera O Sonho de novo. Não era um pesadelo, não exatamente. Era mais como um gigantesco flashback de alguns dos piores momentos de sua vida. Donna apenas via, a noite toda, todas as vezes que sua mãe lhe dizia o grande fracasso que ela era, como ela não era boa em nada, que grande decepção ela era para a mãe, como ela nunca conseguiria um bom emprego, como ela nunca encontraria um bom homem... apenas ouvindo, a noite inteira, sobre o grande nada que ela era, sobre como a sua existência não fazia diferença nenhuma no universo.
Ela nunca tivera O Sonho a bordo da Tardis. Era a primeira vez. Imaginou que sua estratégia habitual – uma boa xícara de chá, enquanto pensava em voz alta todas as coisas que gostaria de dizer para a sua mãe, mas não tinha coragem – iria funcionar para acalmá-la e, quem sabe, retomar o sono. Foi até a cozinha, e teve uma surpresa ao encontrar a porta aberta e a luz acesa. Sentado no balcão, com uma jaqueta já familiar para Donna em mãos, estava o Doutor. Ele tinha aquele olhar no rosto – um olhar que vinha se tornando a cada dia mais constante. Ao invés de seu olhar amalucado e brilhante, seus olhos estavam apáticos, cansados, e tão, tão velhos, enquanto ele acariciava de leve a manga da jaqueta. Donna entrou na cozinha com estardalhaço.
- Oe, cara de alien! – O Doutor olhou para cima com surpresa, parecendo embaraçado de ter sido pego de surpresa. – Qual o milagre de te ver na cozinha, magrelo? – ele deu um sorriso leve, inclinando a cabeça para olhá-la colocar a chaleira para ferver.
- Bem... eu precisava pensar um pouco. E a cozinha é o lugar mais tranquilo da Tardis. Ou pelo menos era. – o sorriso tornou-se brincalhão.
- Eh, não venha dar uma de engraçadinho, não estou de bom humor. – Donna franziu a testa, enquanto pegava uma caneca – Quer uma xícara de chá? Vai ajudar a melhorar essa sua cara azeda. – o Doutor olhou para ela parecendo incrédulo, passando uma mão pelos cabelos espetados.
- Qual o problema de vocês britânicos com chá? Tudo pede uma xícara de chá! Está doente? Tome chá. Está triste? Tome chá. O mundo está acabando? Não antes de uma xícara de chá, não! – Donna riu enquanto arrumava duas xícaras sobre o balcão, pegando dois saquinhos de Earl Grey. Arrumou o açúcar e o leite e sentou-se para esperar a água esquentar.
- Sabe como dizem, não há nada como uma boa xícara de chá para melhorar o ânimo. – o Doutor baixou o olhar para a jaqueta e deu um suspiro, parecendo lembrar de algo.
- A mãe dela dizia isso. – ele falou, em voz baixa, acariciando a jaqueta. – Chá podia consertar qualquer coisa. E sabe o pior? Ela tinha razão. – ele carranqueou, ao lembrar de todo o incidente com os Sycorax, pós-regeneração, em que a térmica de chá de Jackie acabara por salvar o mundo, indiretamente.
- Você sente falta dela? – ele levantou aqueles olhos (Deus, eles sempre tinham parecido assim, tão velhos?), e Donna balançou a cabeça – Que pergunta estúpida. Você a ama, claro que sente falta dela.
- E quem disse pra você que...
- Eh, garoto alienígena, não precisa ser um gênio pra se dar conta disso. – Donna pegou a chaleira fervente e arrumou o chá para os dois. Entregou a xícara para o Doutor e escorou-se no balcão, tomando um gole e suspirando de prazer. – Você não gosta de falar sobre ela diretamente, mas está sempre escondido por aí com essa jaqueta, e enfiando o nome dela no meio dos seus discursos e quando está falando sozinho na sala de controle. Não precisa ter um cérebro de ET pra adivinhar que você a ama, e que ainda não superou o fato de ter que deixa-la pra trás; seja lá o que tenha acontecido.
O Doutor suspirou e tomou um gole de chá, em silêncio. Ele às vezes se esquecia que Donna era extremamente perspicaz em relação à sentimentos, e que o fato de nunca tê-lo visto com olhos românticos lhe permitia uma maior clareza de análise. Ela estava certa, é claro; ele passava boa parte de suas horas de solidão na Tardis pensando em Rose, na falta que ela lhe fazia, e em como ele não podia vê-la sem rasgar um buraco no tecido da realidade que poderia acabar com os dois universos.
Fale sobre amor à distância, hein.
Ele olhou para sua companheira, que parecia anormalmente quieta e triste. Ela tomava o chá e murmurava algo sob a respiração, e o Doutor conseguiu distinguir as palavras "mãe", "trabalho", "universo", "fracasso" e "foda-se".
- E o que tirou você da cama, Donna Noble?
- Minha mãe, como sempre. – ele olhou-a, à espera de uma explicação. – Eu costumo ter esses sonhos... em que eu lembro tudo de negativo que ela já me falou na vida. E não foi pouca coisa. Minha mãe gosta de esfregar na minha cara o grande fracasso que eu sou.
- Donna...
- Não, eu não tenho ilusões acerca disso. Eu não fui pra universidade, passei a vida pulando de emprego em emprego, e quando finalmente achei que tinha encontrado um sujeito decente pra casar, é claro que ele ia acabar sendo um agente maligno de um alienígena querendo dominar a Terra. Não fiz grande coisa da minha vida. Mas aí eu conheci você, cara de alien. – ela disse, brincando – E de repente, estou viajando para outros planetas, conhecendo o passado e o futuro e salvando civilizações. E pra ela, não faz diferença nenhuma. Todas as coisas maravilhosas que você faz, que nós fazemos, não têm importância pra ela. E eu gostaria de ter a coragem de chegar na cara dela e realmente dizer tudo o que tenho engasgado desde os dezoito anos. Mas fico com pena do meu avô, tendo que lidar com ela depois. Ela sempre o culpou por eu ser como sou. – ela respirou fundo e terminou a xícara de chá em um gole, sentando-se em um banco e cruzando os braços. O Doutor ergueu-se e olhou para ela com carinho.
- Bom, então já sei a quem agradecer quando voltarmos para Londres. – Donna ergueu o olhar e encarou-o. O brilho amalucado e risonho estava de volta nos olhos de seu amigo. – Você, Donna Noble, é brilhante. Você é uma mulher forte, inteligente, teimosa, e que precisa aprender a se dar valor. Você é a mulher mais importante do Universo.
- É, que seja. – ela falou, com uma risada cansada.
- Então, o que acha de irmos até um festival? Conheço o lugar perfeito. Quilômetros e quilômetros de barracas de comida, quinquilharias e todo o tipo de diversão! – ele soava empolgado como uma criança.
- Parece maravilhoso. – ela falou, sorrindo. O Doutor deixou a cozinha e Donna resolveu arrumar as coisas antes de voltar para seu quarto para vestir-se e juntar-se a ele na sala de controle. Lembrou do dia improvável em que se conheceram, e em tudo que passaram juntos desde então. Pensou no que seria a sua vida se nunca houvesse conhecido o Doutor, se por algum truque do Destino seus caminhos nunca houvessem se cruzado naquela véspera de Natal, no dia de seu malfadado casamento. – Bom, aí está uma coisa que eu nunca vou conseguir imaginar direito. – ela pensou em voz alta, lavando as xícaras de chá.
DWDWDWDWDWDWDWDWDWDWDWDWDWDW
N/A: Bit rubbish, eu sei. Mas eu precisava tirar essa imagem do meu cérebro.
A amizade da Donna e do 10th sempre me encantou. A Donna é uma das poucas companions que nunca teve sentimentos românticos pelo Doctor! Pelo contrário, sempre tratou ele com aquele carinho e deboche que reservamos apenas para os melhores amigos.
Isso brotou na minha cabeça quando eu vi dois fanarts, um que mostrava os dois sentados num sofá, tomando chá, o Doctor lendo e a Donna enroscada num cobertor, sorrindo; e outro do Doctor e da Rose, na mesma situação, em que eles estavam abraçados, ela meio que no colo dele. Então comecei a refletir na diferença entre as relações e, ta-da. Sei bem que não ficou grandes coisas , mas espero que tenham apreciado ^^
Deha mata!
Eowin
