N.A.: Ficlet baseada no final do capítulo 56, volume 7, do manga ou no episódio 17 do anime.
Eu tentei que isto ficasse minimamente canon, mesmo sabendo que o Ichigo nunca seria assim tão profundo. Eu gosto de pensar que todas as personagens, no seu interior, têm capacidade de pensar de formas mais intensas.
Ichigo's POV.
Rukia's POV.
Saving me
- Se me tentares seguir... eu nunca... te irei perdoar!
Ela virou costas, a dor insuportável gritava pelos seus olhos. Ela não estava a aceitar, ela apenas estava, mais uma vez, a salvar-me, sacrificando-se, quando esse era o meu papel.
A chuva começava a cair, lenta, ligando o céu à terra, como sinal de que aquela era a nossa despedida. Os meus olhos acompanhavam cada movimento dela, cada mísero gesto de auto-tortura, cada passo de sofrimento que ela dava na companhia daqueles dois. Havia dor, muita dor, e tudo para me dar mais uns insuportáveis minutos de vida.
As lágrimas teimavam em tentar cair dos meus olhos enquanto eu aceitava o meu destino, apenas para que ele pudesse viver mais uns momentos. Encarei-o, dizendo-lhe o que não queria, forçando-o a desistir mesmo sabendo que ele morreria de qualquer forma. Eu apenas não queria que ele morresse à minha frente, daquela maneira. Eu apenas queria poder dizer-lhe que ele ia conseguir sobreviver, agradecer por aqueles meses de companhia e pedir desculpa por ter mudado a vida dele tão drasticamente.
Virei costas, contendo as lágrimas que desejavam escorrer com a chuva, convencendo Byakuya-aniki que não valeria a pena dar o golpe final... que Ichigo morreria de qualquer forma.
A porta para o que eu pensava ser a Soul Society abrira-se. Três borboletas negras esvoaçaram delicadamente ao redor da noite cerrada. E a chuva continuava a cair, cada vez mais forte, cada vez mais sinistra, cada vez mais deformando a minha última visão daquela que para sempre mudou a minha vida. Passo após passo, ela atravessou aquela porta, instantes após olhar para trás, encarando-me pela derradeira vez. A chuva entre nós, quebrando a minha visão sobre ela, impedindo-me de lhe gritar qualquer coisa que fosse. Não, ela apenas passou para o outro lado, a porta fechando-se atrás de si, deixando-me ali, quase morto, esvairado em sangue, no meio da rua, apenas a vê-la partir.
As borboletas negras apareceram, revelando a sua beleza e o seu significado para mim. O fim era certo e estava próximo. Não havia forma de o evitar. A chuva caía intensamente, seria um sinal de despedida? Ou seria apenas os céus a chorarem os nossos destinos? Olhei levemente para trás, para ele, uma última vez. Tristeza e dor. Era isso que eu via nos seus olhos, era isso que, de certo, ele veria nos meus. E eu apenas queria salvá-lo, dar-lhe mais uns instantes.
Atravessei a porta para a Soul Society, Renji e Byakuya-aniki à minha frente. Não voltaria ao mundo dos humanos, não voltaria a viver entre eles, não voltaria a ver nenhuma das pessoas que me sorrira naqueles meses e, pior de tudo... nunca mais voltaria a vê-lo.
A porta desapareceu e apenas a chuva ficou para acentuar ainda mais a minha dor. Não do meu corpo, não do meu sangue misturado com água, não dos cortes profundos do meu peito... mas da minha alma. A dor de não conseguir evitar, a dor de me sentir incompetente, a dor de a ver partir. A dor de ser salvo em vez de a salvar.
A chuva caía forte sobre o meu corpo quase sem vida, um grito de ódio rasgou a minha garganta, espalhando-se na noite, ecoando no vazio em que se afundava a minha alma. A escuridão começava a tomar posse de mim, a morte chegava lenta e tortuosamente. E, no meio de todo o sofrimento insano e insuportável, uma única palavra surgia nítida na minha mente.
Silêncio. Era apenas o que me rodeava. O som da chuva a cair já não era perceptível. O mundo humano ficava para trás enquanto eu caminhava para o meu destino final. No fundo, eu desejava com todas as minhas forças que ele me perdoasse. Que perdoasse tudo o que eu o obrigara a passar, todas as lutas, todos os ferimentos, todos os sermões sobre o dever de um shinigami. Que perdoasse o facto de eu ter virado a sua vida ao avesso, sem sequer pedir licença.
Sentia uma dor no peito ao pensar que, mesmo depois de tudo, ele seguira-me, ele não ouvira o que eu lhe dissera, correndo atrás de mim para me salvar. E que morreria por essa sua opção. As lágrimas teimavam em, novamente, tentar escapar dos meus olhos. A dor era imensa, o sofrimento era imenso, a escuridão começava a apoderar-se da minha alma. E só havia um pensamento preso na minha mente.
"Rukia"
"Ichigo"
N.A.: Agradecimentos ao Les que betou mesmo sem querer ler/ver Bleach; e à May que leu e aprovou ^^
R.E.V.I.E.W.S.
Just
