Em um local isolado do Texas, homens e mulheres trabalhavam arduamente. Em condições precárias, cada um deles se arrependia pelos atos que os levou até lá. Apenas uma mulher não compartilhava desse sentimento. Há 3 noites sem dormir, o cansaço depois da árdua limpeza pesou. Passou as mãos em seu ombro que há semanas fora operado, se é que podemos chamar o açougueiro de doutor.
- Hora do remédio, cambada! - gritou um homem de jaleco branco.
Era sempre assim. Depois de dias de esforço contínuo, o bendito remédio era dado para que todos dormissem muitas horas sem interrupções. Ao acordar, os prisioneiros sentiam dores e localizavam hematomas em seus corpos.
O homem de jaleco forçava o tratamento com a medicação entorpecente e se certificava que todos engoliam a pílula roxa.
A moça oriental tomou o remédio e depois abriu a boca. Após a verificação, foi liberada para ir se deitar.
Não se agüentando mais em pé, ela caiu próxima de sua cama e desmaiou. Teve alguns sonhos malucos, envolvendo ela, seu ex e a atual esposa dele.
Ela abriu os olhos lentamente e olhou ao seu redor. A cama estava a centímetros de distância e a única janela disponível mostrava que ainda era noite. Levantou-se e colocou a mão no ombro operado recentemente. A dor ainda era grande, mas não tão grande quanto à vontade dela de sair daquele horror.
Viu os guardas fazerem a ronda, andando calmamente de um lado para o outro. Ada se aproximou das barras de ferro que a separavam do corredor.
- Está olhando o quê? - gritou o guarda.
"Estou olhando essa sua pança enorme de porco" - pensou ela.
- Tu não fica me encarando, não! Olha que eu vou aí e arranco seus olhos!
Ada sentou-se na beirada da cama e ficou observando a parede branca que a cercava. Perdeu a noção de quanto tempo ela estava presa e que horas eram.
O guarda barrigudo recebeu uma chamada no rádio e deixou o corredor por um instante.
- Há quanto tempo está aqui? - perguntou uma voz grave e abafada.
Ada encostou-se na parede e disse:
- Não sei, talvez dois meses. E você?
- Quinze anos.
- Puxa. Você deve querer sair daqui mais do que eu.
- Exato, é por isso que bolei um plano de fuga. Você participaria? - disse a voz do outro lado da parede.
- É lógico! O que devemos fazer?
- Logo que amanhecer nos será servido o café da manha, junto com uma cápsula para dormirmos mais 48 horas. Após ingerir a cápsula, quero que você urgentemente a coloque pra fora, entendeu? Terá 30 minutos antes que a droga faça efeito no seu organismo. Finja que está dormindo e eu baterei de leve na sua parede. Esse é o sinal. Esteja preparada. Também participarão do plano os presos das celas 95, 32 e 15.
Posso contar com você?
- Eu não estou em condições muito favoráveis, mas é melhor morrer tentando do que esperar pela morte aqui. Conte comigo, Senhor...?
- Lione. Nos vemos na liberdade.
Cheia de entusiasmo e emoção, Ada dormiu. Ao toque do café da manhã, os presos sentaram-se e tomaram o desjejum. Estava na hora da temida pílula. Ada reparou em um homem de aparentemente 35 anos, de cabelos castanhos e olhos verdes. Ele se parecia com alguém que ela conhecia, no momento não se lembrava quem. Ele correspondeu ao olhar da oriental, depois tomou sua cápsula e foi levado à cela.
Ao chegar a seu cubículo, Ada cronometrou mentalmente e aos exatos 22 minutos, foi até o vaso sanitário e forçou a saída do remédio o mais silenciosamente possível, depois se deitou e fingiu dormir. Já era noite quando finalmente ouviu um barulho vindo da cela de Lione.
"É agora ou nunca!" - pensou ela.
