1649 – Reino Unido – Inglaterra
"Oliver Cromwell chega ao poder!"
Essa era a manchete do jornal britânico quando acordei mais uma vez naquela prisão que chamava de casa. Esse homem, Líder do Parlamento, que tinha o apoio popular, ignorou a todos ao conseguir o cargo de governador da Inglaterra. O mesmo homem que eu deveria chamar de pai, embora ele não exercesse essa função. Nem um pouco.
Nasci para suprir as ambições de Olivier. Para dar continuidade aos sonhos e as conquistas que ele conseguia. Eu precisava ser o melhor sempre. O melhor militar, o melhor político, o melhor economista, o mais inteligente do país.
Um dia eu substituiria meu pai. E comandaria todo um verdadeiro reino. E a firmeza que Oliver tinha em seus discursos ele também tinha quando me ensinava algo. Um obsessivo por perfeição, não me permitia errar. Meu erro era resultado da minha incapacidade, ele dizia enquanto me espancava. E um filho seu tinha a obrigação de ser capaz de fazer tudo.
Sentia-me uma verdadeira marionete, onde tudo o que eu desejava, tudo o que eu queria era anulado para ser digno a mim um cargo tão importante, que vinha com muitas responsabilidades. Ninguém nunca havia perguntado se eu desejava me tornar um líder algum dia, e se me perguntasse e eu respondesse "não", certamente receberia mais uma sessão de espancamento –quase diário– de meu pai.
Minha mãe, ah! Ela era uma linda senhora, cabelos loiros e ondulados até o meio das costas, pele tão branca quanto de uma boneca e delicada como uma flor. Uma verdadeira lady. Houve uma época qual me perguntei o porque de uma mulher tão bela quanto ela estar com um homem feito meu pai, que a tratava mal, humilhava-a e quando nervoso, descontava suas frustrações em sua esposa. Ela quase não saia do quarto, e eu pouco podia a visitar.
Meu tempo era tomado por estudos, treinamentos, acompanhamento no Parlamento e no Governo. Mas ela sabia que eu não queria essa vida, mas a única vez que fizera um comentário desses em um jantar rotineiro da família, meu pai se levantou irado e na minha frente vi aquele homem bater em minha mãe, sem que eu pudesse fazer nada para ajudar. O choro baixo dela apenas irritava mais o homem cruel que Oliver era, que não permitia que sequer sentíssemos dor. Eu entendia o sofrimento da minha mãe. Assim como ela entendia o meu.
