Neve
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Era noite e fazia frio. Podia sentir pequenos pontos de calor em seu rosto gélido. Suas bochechas e o nariz eram alguns deles, e a cor que predominava naquela região eram as provas disso. Arrumou melhor o cachecol preto em seu pescoço e, em seguida, colocou as mãos dentro dos bolsos do vestido, de mangas longas, da mesma cor. Os fios de cabelo negro azulados caíam em suas costas como cascatas em suas costas. Tirou as mãos dos bolsos e apertou-as em um gesto de nervosismo, sentindo os dedos ficarem mais brancos que o normal.
Continuou caminhando. Flocos finos de neve começaram a cair e, depois de olhar ao redor e ter certeza de que estava sozinha, ousou tentar pegar um com a língua. Como quando sua mãe ainda era viva e costumava sorrir nas tentativas (falhas) da pequena Hina-chan, chamando-a para voltar para casa, tomar chocolate quente e sair da neve para que não adoecesse. Talvez fosse por isso que gostasse de ficar naquele parque quando nevava. As memórias daquele inverno frio a aqueciam como nenhum chocolate quente que sua mãe já havia feito em vida.
Respirou fundo, com os olhos marejando gradativamente e as bochechas agora se tornando mais vermelhas. Sorriu para o céu sem conseguir ver boa parte das estrelas, consequência das nuvens espessas que ali estavam. Mas sabia que por trás delas havia mais estrelas que poderia ver. Assim como sabia que sua mãe também a observava de algum lugar, mesmo que não pudesse vê-la - mesmo com a linhagem sanguínea que possuía. Ela sabia. Ela sentia.
Ou queria tanto sentir, que acabava sentindo. Não descartava a possibilidade de ser puramente psicológico, apesar de tudo.
Sentou-se em um dos bancos da praça sentindo os braços arrepiarem-se com o contato do banco de concreto com parte das suas coxas que estavam cobertas apenas por uma meia calça fina demais para aquela época no ano. Não demorou muito para ouvir passos ao seu encontro e parar à uma certa distância.
- Eu sabia que te encontraria aqui. - ela não precisava se virar para saber de quem era aquela voz - Vamos Hinata.
Além daquele lugar e a neve, apenas aquela voz - e aquele rapaz - a aquecia como nenhum outro chocolate quente e a acalmava tanto quanto o cheiro do chocolate meio amargo junto com o chantilly. Às vezes, podia sentir o cheiro do mesmo quando estava perdida em devaneios.
- Desculpe. - se levantou com um sorriso pequeno, mas verdadeiro, e continuou - Eu precisava fazer isso.
Caminhou na direção do homem que estava com uma das mãos no bolso da calça jeans preta, assim como a camisa, entrando em contraste com a pele branca demais e a expressão impassível. Estendeu para a moça um buquê com rosas brancas. Passando uma das mãos para a cintura da mulher, começaram a caminhar em silêncio.
Ele sabia que dia era, e ela sabia o porquê de ele também usar preto. Era o aniversário da mãe de Hinata. E desde que ele havia voltado para a vila e encontrado os túmulos dos seus pais cuidados e com flores - murchas, mas flores - não tardou para descobrir quem havia o feito e não se surpreendeu ao saber quem era. Ele apenas apareceu com um buquê de rosas brancas em um inverno e a acompanhou até o cemitério. Acabou tornando-se um ritual.
Sasuke percebeu, nos anos de convivência com a Hyuuga que não se importaria em passar o resto da sua vida com uma mulher, se fosse com ela. Os anéis em seus dedos provavam isso.
Sem que percebessem, as rosas brancas, a mãe de Hinata e a Neve tornaram-se significados muito importantes para eles.
