Título: Delicate
Autora: Nah
Sinopse: Uma boate. Uma dançarina ruiva. Todas as lembranças. Talvez uma segunda chance. Mas eles sabiam que não mereciam isso. Continuação de Um Certo Alguém.
Beta: Li
Disclaimer: Os personagens e lugares não me pertencem são todos da J.K. Rowling. Essa fanfic foi escrita sem fins lucrativos. Mas ela me pertence sim, então nada de plágio ou publicar em outro lugar sem a minha devida autorização.
AVISO: Como prometido aqui está a continuação de Um Certo Alguém. Então para entendimento dessa fic seria melhor ler a outra antes, mas sinta-se a vontade para fazer o que quiser. Resolvi colocar a classificação dessa aqui como M, então não vou censurar nada. Talvez eu leve a fic para um rumo mais pesado, na verdade eu não sei ainda, vai depender de como conduzirei as coisas. Mas esteja avisado desde já. Diferente dá primeira essa aqui não terá songs, apenas algum trecho no começo do capítulo de alguma música que eu ache que tenha a ver.
Parte I
I feel you (Eu sinto você)
Your sun it shines (Seu sol que brilha)
I feel you (Eu sinto você)
Your heart it sings (Seu coração que canta)
I feel you (Eu sinto você)
Your precious soul (Sua preciosa alma)
I Feel You – Depeche Mode
-
Não havia mais guerra. Não havia mais Voldemort e seus comensais. Não havia mais nada para mim.
As ruas de Londres me pareciam acolhedoras naquela noite que era como tantas outras. As luzes brilhavam, o cheiro de chuva nas calçadas e aquele ar gélido e impessoal que costumava se acentuar com as típicas manhãs nubladas. Londres era um verdadeiro paraíso. Um inferno úmido e frio, esse era o meu paraíso.
Andava firmemente pela rua pouco movimentada àquela hora, indo em direção a um beco escuro e qualquer em meio a parte trouxa. Eu só queria um pouco de paz aquela noite. Eu só queria esquecer por algumas horas o que tinha me levado a mudar de lado. Era o fim, não é mesmo? Eu finalmente havia me convencido que Ginny partira. Então não havia mais nada.
O que eu mais desejava era ter tido um caminho diferente, porque, até o momento, o que eu escolhi não estava me recompensando. Meses depois da morte de Ginny, eu decidi saber o que realmente tinha acontecido. Pesquisei sobre o Tom que ela falara e sobre os seus pesadelos. Quando consegui juntar as peças desse quebra cabeça, eu só tinha uma coisa em mente: Eu só queria me vingar.
Todas as máscaras caíram. O Lord das Trevas não passava de um mestiço e nós éramos meros fantoches em suas mãos. Eu queria acabar com ele. Vingar a morte do meu pai, a loucura da minha mãe e a perda de Ginny. Mas eu não era o herói daquela história. Essa parte era toda de Potter.
Decidir ser espião era o primeiro passo para a minha vingança. Não durou muito. Alem de não ser herói, eu não era o tipo de cara corajoso. A única coisa que me movia ali eram as perdas que eu tinha tido. Eu não queria salvar vidas, tampouco ajudar pessoas. Eu só queria que ela voltasse. Se eu acabasse com Voldmort, talvez ela voltasse.
Lutar ao lado de Potter e engolir o meu orgulho tinha sido a parte mais difícil. Mas foi a isso que a minha vida se resumiu durante aqueles anos - agora eu não tinha mais nada para ocupar minha cabeça. Era por isso que eu estava na Londres trouxa, o meu refúgio nos últimos meses. Lá eu não esbarraria por acaso em Granger ou Potter e não teria que ouvir sermões de como estava arruinando a minha vida. O que eles pareciam não saber é que minha vida já tinha sido arruinada há muito tempo. Eles podiam parar com aquele sentimento grifinório deles de tentar ajudar os outros e me deixar em paz.
Afinal eu me transformei em um Malfoy decadente. Mas ainda assim um Malfoy.
Quem se importava com isso? Eu, pelo menos, não. Às vezes me perguntava por que tinha chegado àquele ponto. Então me lembrava da saudade que tinha dos toques dela, das provocações e dos malditos sorrisos. Minha maior burrice foi ter me envolvido com ela. Ter me deixado levar por aquele capricho que ela tinha em me conquistar.
Com as mãos nos bolsos, entrei em uma Boate Club, a fachada vermelha me chamando atenção. Junto com o letreiro luminoso:
Welcome to the Babylon
Não estava lotada, as coisas talvez não fossem tão ruins aquela noite. Uma dançarina seminua estava no que parecia ser uma espécie de palco revestido por um tapete vermelho, as luzes estavam fracas, com exceção das do palco em um tom prateado. Fui em direção ao bar, dando as costas à dançarina loira.
Pedi uma dose de whisky duplo com gelo, a tão confortável sensação de que meus problemas iriam sumir dentro de algumas horas começando a me assolar. Permiti-me dar um sorriso vazio quando levei o copo aos lábios. Sorvi devagar, apreciando a queimação e de repente a dançarina loira começava a ficar levemente interessante. Sorri mais uma vez, bebendo todo o conteúdo do copo e colocando um pedaço de gelo na boca. Em seguida pedi mais uma dose. Quando o barman me serviu, olhou para o lado e depois para mim.
- Esse é por conta da moça ali – disse apontando para onde tinha olhado antes e virou de costas.
Olhei para a mulher sentada duas cadeiras depois da minha. Ela sorriu, sedutora, as mãos espalmadas no balcão. Levantou e pude admirar seu corpo em um minúsculo vestido preto. Tinha os cabelos loiros na altura do pescoço, seios fartos e um decote que deixava isso mais que explicito. Olhos escuros e pele clara. Sentou-se ao meu lado e se inclinou um pouco para me olhar melhor.
- Não tinha idéia de como chamar sua atenção... Então recorri ao velho truque da bebida – sem me pedir, pegou o meu copo e bebeu.
Eu apenas sorri, convidativo. Não precisava falar muita coisa, já sabia disso. E talvez aquela noite não fosse tão ruim assim.
Ela ainda falou algumas coisas para mim, enquanto eu continuava a beber e pagar as bebidas dela. Não tinha idéia do que ela dizia, nem lembrava mais seu nome. Sua mão passava pela minha coxa sem nenhum pudor e eu só fazia rir com o canto da boca. O perfume dela era extremamente enjoativo. Mas isso não importava.
Até que a música que começou a tocar chamou minha atenção. Olhei para o palco, onde uma outra dançarina acabava de aparecer. A cor dos seus cabelos prendendo minha atenção. Ruiva. Cabelos na cintura, graciosamente dispostos, as mechas que ondulavam nas pontas passeando pelo quadril enquanto ela dançava lentamente. Usava um corpete preto, short curto e sandália de salto com amarras nos tornozelos. A pela branca e com sardas distribuídas pelo colo indo de contraste com a luz vermelha. Fiquei atento aos seus movimentos. Em como seu corpo mexia ao som da música.
- Linda, não? – a mulher ao meu lado sussurrou em meu ouvido. – Talvez, você possa convencê-la a... quem sabe... junto comigo...
Queria ver o rosto dela. Apertei o copo de bebida com força, esperando a ruiva se virar mais para o meu lado. Quando ela remexeu o quadril de leve, a loira desceu com a mão até a minha virilha. Mas eu só tinha atenção para a dançarina que abaixava até o chão, os cabelos esvoaçando. Então ela se virou mais para o meu lado. A semelhança era assustadora.
Engasguei com a bebida e a loira riu, beijando meu pescoço. Meus olhos estavam me enganando, era mais uma ilusão. Era o álcool me afetando. Mas se era mesmo uma ilusão que durasse para sempre! Levantei-me bruscamente, ignorando os protestos da loira e me aproximei do palco. Precisava vê-la, tocá-la, mesmo que fosse uma miragem.
Ela continuava dançando graciosamente, os cabelos balançando e eu quase pude imaginar o aroma deles. Já fazia tanto tempo... Algumas mechas cobriam um pouco seu rosto e eu cheguei ao palco, meus olhos procurando os dela. Ela não olhava para aqueles que a viam dançar, como se apenas existisse ela ali. Mostrando que ela não pertencia a nenhum deles, os esnobando.
Chamei seu nome baixo, apenas um sussurro. Queria que ela olhasse para mim. Que a minha miragem me desse atenção. Até que ela olhou na minha direção. Nossos olhos se encontraram rapidamente. Eu tinha chegado ao meu fim. Estava louco. Completamente louco. Ela voltou a me olhar como que para ter certeza do que via. Eu reconheceria aqueles olhos castanhos em qualquer lugar.
Parou de dançar. Estacou no palco me encarando por alguns segundos, até que pareceu cair em si, virou-se de costas e recomeçou a dançar.
- Ginny! – chamei e por um segundo imaginei o corpo dela estremecendo. – Ginny! – chamei mais alto, mas a música estava absurdamente alta ali.
Eu precisava tocá-la. Apóie minhas mãos no palco e peguei impulso para subir, ela continuava a dançar. Não havia mais som, pelo menos não nos meus ouvidos. Dei dois passos me aproximando e estique meu braço, ela ainda estava de costas para mim. O perfume talvez fosse o mesmo! Consegui alcançar sua pele com a ponta dos dedos, apenas rocei levemente. Não tive tempo de mais nada, fui agarrado pelos seguranças da boate que me tiraram do palco.
Gritei para eles me soltarem. Ameacei matá-los e chamei por Ginny. Disse que ela era minha, que precisava tocá-la. Eles me largaram em um dos sofás confortáveis, mais afastado do palco e um outro homem apareceu no mesmo instante.
- O que está acontecendo aqui?
Eu berrava ridiculamente por Ginny e quando me virei para o palco ela já não estava mais lá.
- Mais um desses bêbados tentando agarrar as dançarinas – um dos seguranças respondeu.
O homem que deveria ser o gerente olhou para mim com pouco caso e disse:
- É contra regras da casa o cliente tentar tocar nas dançarinas, Sr...
- Malfoy! E você não tem idéia no que está se metendo – esbravejei com toda a dignidade que me restava.
- Certo, Sr. Malfoy! Entendo que esteja alterado por conta da bebida, mas serei obrigado a expulsá-lo da casa se continuar com esse escândalo.
- Quero ver, Ginny! Onde ela está? – levantei e apontei um dedo para ele. – Se não me disser onde ela está...
- Não há nenhuma Ginny aqui, Sr. Malfoy – respondeu, enérgico.
- Como não? Ela estava dançando... – apontei em direção ao palco.
- Não fornecemos o nome das nossas dançarinas, mas posso garantir ao Sr. que a ruiva que estava dançando não se chama Ginny.
- Seu mentiroso! – perdi o controle e avancei até ele. Os seguranças me seguraram imediatamente.
- Tirem-no daqui! – o homem ordenou, enquanto eu continuava a berrar impropérios contra ele. Eu não podia perdê-la. Não novamente.
Fui tirado dali, sendo jogado no chão que ficava aos fundos da boate. E mais uma vez eu me vi perdido.
Bêbado, louco e agora sujo. Não era mais o mesmo. Eu sequer era alguém. Afundava cada vez mais na minha própria escuridão.
"...não seria a pessoa certa para estar ao seu lado, já que seria tão ou mais sombria que você. E escuridão, Draco, é algo que você não precisa."(1)
Se era essa a desculpa que ela dava por ter fugido, falhou com êxito.
Eu odiava Ginny por isso.
Levantei com dificuldade, mas não tinha a menor vontade de voltar para casa. Eu nem ao menos tinha uma casa de verdade. A mansão Malfoy havia sido confiscada, assim como todas as outras propriedades da minha família. A sede da ordem da Fênix não existia mais e o que sobrava era um reles quarto de hotel de quinta no Beco Diagonal. Draco Decadente Malfoy, meu mais novo e humilhante sobrenome.
Encostei-me ao poste e fechei os punhos. A brisa gelada da madrugada retalhava, assim como meus olhos frios. A sensação era boa e reconfortante. Então o tempo passou e eu continuei ali, as mãos nos bolsos do casaco preto, cabeça encostada no poste e olhos injetados na escuridão. Sem vida.
Era como se eu apenas esperasse. A porta dos fundos abriu mais uma vez e os inconfundíveis cabelos ruivos não se escondiam da noite. Era ela, com passo calmo, seu perfume adocicado, seus cabelos flamejantes e o inconfundível cigarro de canela sendo aceso.
Não contive o sorriso melancólico.
Ela continuou andando, sem notar meu vulto negro encostado ao poste, se aproximava sem cautela, como se fosse um hábito seu andar pelas ruas londrinas na madrugada.
Passou por mim e eu não hesitei em segurar seu braço com força, a assustando. Ela gritou e eu a encostei com força contra a parede, prendendo-a com o corpo, procurando seus olhos amendoados. O cigarro jogado no chão.
- Ginny?
- Me solta – ela tentou me empurrar, seus olhos sem me encararem diretamente.
- Olha pra mim! – pedi, quase uma súplica.
- Me solta! Eu vou gritar...
- Olha pra mim – pressionei com mais força meu corpo contra o dela. – OLHA PRA MIM!
E ela olhou.
Sufoquei um grito de frustração. Como se fosse melhor que eu estivesse enganada. Mas não estava. Era ela. E mais do que nunca eu senti raiva dela. Raiva por saber que ela estava viva, que desistiu de mim, que tinha uma outra vida, enquanto eu perdi a minha naquele maldito incêndio.
Afrouxei o aperto no corpo dela. Uma confusão de sentimentos se misturando e me deixando atordoado. Afundei meu rosto na curva do pescoço dela. Ginny tremeu e suas mãos tentaram me repelir.
Eu queria chorar, mas já tinha derramado lágrimas o suficiente por ela.
Afastei-me e ela pareceu respirar aliviada. Olhou-me, indiferente, e voltou a andar. Meu sangue congelou.
- Por que, Ginny?
Ela tentava fugir. Segurei seu braço com força mais uma vez e forcei para que ela se virasse para mim, assustada.
- O Sr. está bêbado e me confundido com alguém.
Comecei a rir.
- Agora você vai fingir que é outra pessoa? – apertei com mais força e ela não conteve a exclamação de dor. – Até o cigarro! Meu Deus! Até isso continua a mesma coisa em você... e você sempre foi uma péssima mentirosa, Ginny... Céus! Esses anos todos e você estava viva...
- Se você não me soltar eu vou gritar por socorro.
- E eu aparato direto com você na casa dos seus pais. Imagino a reação deles ao verem o fantasma da filha em casa.
Ela pareceu chocada.
- Eu nem ao menos conheço você.
- Pára com isso! Pára com isso agora! – berrei. – Pára de fingir que é outra pessoa. Você sabe o que eu passei esses anos? Sabe o quanto foi difícil? Tudo por quê? Por um mero capricho seu de se tornar uma dançarina de boate?
Os olhos dela nublaram ligeiramente e por um instante eu vi a minha Ginny ali, a que chorava se despendido de mim, a minha Ginny perdida. A abracei com força. Uma mistura de raiva e saudade. Ela permanecia como se não soubesse quem eu era. E aquilo machucava tanto.
E tudo começou a girar. Fechei meus olhos com força, com medo de que fosse um sonho. Estava enjoado, tonto e senti meu corpo vacilar como se quisesse ir ao chão. Talvez eu estivesse morrendo e indo encontrar minha Ginny ou então fosse apenas o efeito de tanto álcool. Minha cabeça pendeu e eu deslizei. Os braços dela tentando me segurar, mas eu caí, me afastando e a última coisa que vi foi os olhos amendoados de Ginny presos aos meus.
Continua...
(1) – Trecho da carta de Ginny no último capítulo de "Um Certo Alguém".
N.A: Nhá, depois de tanta demora finalmente essa continuação saiu... Eu só tenho que agradecer a todas que me incentivaram a escrever, que cobraram por essa continuação, por e-mail, por review ou por msn. E agradecer também a Li que aceitou me aturar mais uma vez e betar essa fic. Como eu já avisei nada de músicas, há não ser trecinhos. Espero que gostem dessa continuação e que eu não acabe decepcionando, até porque, pra falar a verdade eu nunca fui muito chegada em continuação de fics longas.
Bjus e deixo vocês com uma pequena previa do próximo capítulo.
No Próximo capítulo:
" -Por quê?
Ia ser muito mais difícil do que eu imaginei. Não queria responder àquela pergunta e o que mais cortava ali era a expressão dele. Havia decepção, mágoa e amargura. Eu queria gritar, pedir para ele parar de me olhar assim. Ele se levantou e meu corpo tremeu ligeiramente com a sua aproximação.
- Podemos esquecer isso por enquanto? – os olhos dele escureceram ao ouvir o que eu disse.
- Não."
