Não sei quanto a vocês, mas ser o garoto novo em Lima, o novo aluno e ainda ter dislexia não é o sonho de qualquer adolescente... Eu me mudei com a minha família para cá já faz uns dois meses, meu pai foi transferido do trabalho e a não ser que eu quisesse falar com ele apenas pelo webcam, eu tive que vir junto. A cidade é legal, bem diferente de Nova York, onde eu morava. A escola é muito boa também, estou no time de futebol, sou popular, o único problema são as aulas, como eu já falei antes, sou dislexo e tenho tido notas realmente deploráveis .

Já tinha me acostumado com minha rotina na escola, as aulas chatas como sempre, só o que salvava era o futebol. Mas depois de ver uns caras assustando um menino no corredor e atirando raspadinha em sua cara, fiquei meio em dúvida sobre se eu realmente deveria ser amigo deles...

Em uma dessas semanas, depois de ser reprovado pela terceira vez em um teste oral, Sr. Shue, meu professor de espanhol veio falar comigo, parecia estar preocupado com a minha situação atual.

"Sam... será que posso falar com você um minuto"

Eu parei na porta e dei meia volta, encarando meu professor.

"Uh... claro, alguma coisa errada Sr. Shue?"

" Não, não. Eu só acho que se você continuar com essas notas, bem, você vai reprovar de ano", ele fez uma pausa para verificar minha reação, e como eu continuei em silencio, ele prosseguiu" Acho que você devia ter um tutor".

Não, Não, Não! De jeito nenhum, o último tutor que tive tentou apalpar minhas partes íntimas, não vou ser forçado a outra humilhação igual a essa.

" Não tem outra maneira..."

"Sinto muito, mas se você quiser passar na minha matéria, eu vou te recomendar um tutor". Ótimo, o primeiro dia a caminho da morte, pensei.

Bem, talvez ele fosse diferente, talvez não fosse tarado que nem o outro. Isso mesmo, eu exagerei, não vai ser tão ruim.

No dia seguinte, eu cheguei na escola, respirei fundo e me encaminhei até a sala de espanhol, onde meu tutor estaria esperando. Cheguei na porta e hesitei, será que eu precisava mesmo de ajuda? Para de ser idiota Sam, é claro que você precisa! Gritei comigo mesmo em minha cabeça. Coloquei a mão na maçaneta e entrei. Foi então que eu o vi, o menino que era agredido pelos caras do futebol, muito pequeno e branco- fiquei me perguntando se ele passa protetor solar pra vim pra escola- cabelos cuidadosamente arrumados de lado e olhos muito azuis.

" Oi, você deve ser o Sam, certo?" , a pergunta do garoto me tirou do transe e me fez recobrar a consciência.

"Ahn, sim, sou eu", estiquei a mão para cumprimentá-lo. Meu deus, como são macias, parecem mãos de bebê.

" Meu nome é Kurt e eu vou te ajudar em espanhol", ele deu um sorriso amigável, que me fez sorrir em resposta. Sentamos na primeira carteira da sala, e ele, estranhamente, se certificou de sentar pelo menos a um metro de mim.

" Cara, pode sentar mais perto, não vou te morder". Ele corou... que fofo, NÃO, o que você está pensando Sam, ficou louco!

"Me desculpa, só não queria que você ficasse sem jeito..."

" Por que eu ficaria sem jeito?", ele corou de novo.

" Porque eu sou, você sabe... gay", eu olhei para ele e de repente a saia que ele usava fez sentido.

" Eu não ligo. Não sou que nem aqueles trogloditas do futebol, não me preocupo em "pegar o gay" que nem eles falam".

Um silêncio recaiu sobre a sala, o que nos deixou visivelmente desconfortáveis.

" Ok, acho que já podemos começar", graças a deus!

Os dias foram passando e Kurt se tornou, além de meu fiel professor, meu melhor amigo. Eu podia me abrir com ele, falar qualquer coisa, podíamos rir juntos e fazer tudo juntos, ficamos realmente próximos.

Depois de uma de nossas aulas extras de espanhol, Kurt e eu estávamos saindo juntos da escola conversando e rindo.

" Eu ainda não acredito que confundi cachorro com árvore!"

"Não se preocupa, isso acontece, principalmente para quem tem dislexia!"

Eu ri.

" É, nisso você está certo... Oh merda, eu esqueci me casaco na sala! Me encontra no estacionamento." Ele concordou e eu sai correndo até a sala. Já tinha pego meu casaco e estava saindo pela porta, quando eu vi um bando de caras do futebol saírem correndo do estacionamento, e então me veio em mente: Kurt!