Huntington Beach, Califórnia. 2032.

I.

Era Julho e fazia muito, muito calor. Chegava a ser impossivel andar a pé pela cidade, e único lugar realmente gostoso era a praia. Passei as minhas primeiras semanas de férias dentro de casa, debaixo das cobertas, suando como nunca soei na vida, tomando muita água e espirrando de cinco em cinco minutos. Não sabia direito como isso havia acontecido, mas logo que acabei as aulas me vi pegando uma tremenda gripe.

De qualquer forma, depois desse tratamento extensivo e ficar sem ver meus amigos por três semanas, eu estava novinha em folha. Havia acabado de me formar no ensino médio e em Setembro entraria para a Univsidade da Cálifornia em Los Angeles, e esse era um de muitos motivos para celebrar.

Mas primeiro eu precisava sair da cama.

Pelo menos hoje não era dia de lua cheia, o que siginificava que nada poderia me enfraqueceria, a não ser pelo vírus que estava no meu corpo. Logo que abri a cortina, meus olhos tiveram de piscar algumas vezes para eu poder ver a praia na minha frente. Minha mãe havia dito que eu estava péssima, mas na hora não coloquei muita fé... Acho que ela estava certa.

Tirei a camisola rosa com estampas de pimentas coloridas e coloquei um biquíni branco. Estava fazendo um tremedo sol lá fora e eu estava louca para entrar no mar. Sim, minha parte vampira odeia nadar, mas meu genes de lobisomen e o meu sangue de bruxa adoram. Me dá uma sensação gostosa de liberdade, mesmo debaixo d'água.

Antes de sair do quarto, escovei os dentes, passei desodorante nas axilas e prendi meu cabelo com um rabo de cavalo. Se eu desse sorte, e pelo jeito esse dia estava com cara de ser bom, minha irmã ia ter saído para trabalhar.

Nunca nos demos bem, mesmo as duas tendo poucos anos de diferença, e isso se deve ao fato de eu ser uma loba sobrenatural. Meus pais, Angelina e Ted, me adotaram quando eu tinha dois anos; eles disseram que me acharam numa estrada em Nova Orleans, onde eles tinham ido visitar alguns amigos. Com tudo que havia acontecido - Ange havia perdido um bebê, o gemêo da minha irmã -, eles me adotaram e eu passei a morar na Califónia, lado totalmente oposto de onde eu imaginava que minha família biológica vivia.

Mas os problemas apareceram por volta dos meus cinco anos, quando eu comecei a gostar de sentir o cheiro de sangue, eu não sentia vontade de beber nem nada, mas era realmente gostoso. Com sete anos, eu conseguia mexer coisas, sem tocá~las; eu sentia a energia que percorria meu corpo quando eu andava descalça pela terra, ou quando entrava no mar, e pouco tempo depois eu já acendia velas com o pensamento.

Meu pai, um historiador e professor na Universidade de Berkeley em São Francisco, tinha feito um curso sobre ocultimo e quando cheguei para lhe contar o que estava acontecendo comigo, ele passou a madrugada lendo um livro de mitologia para mim. Lobisomens e bruxas que existiam antes mesmo da época do feudalismo; elas eram servas da natureza, eles uma maldição, mas nada chegava perto dos vampiros que passaram a existir anos depois.

Uma bruxa, Esther, fez um feitiço para que seus filhos se tornassem imortais, para protegê~los dos lobisomens que viviam ao redor. Ela só não sabia nos monstros que eles se tornariam, com a sede de sangue, mataram vilas, aterrorizaram moradores e continuaram sua linhagem de vampiros ao redor dos séculos.

Eles eram os Originais.

E um deles, Niklaus Mikaelson era meu pai. Quando perguntei como papai sabia disso, ele disse que era óbvio. Klaus, além de ser o híbrido original, meio vampiro, meio lobisomen, também tinha sangue de bruxo quando era humano, por parte de sua mãe. Mas apesar de todas as informações, eu não sabia onde ele estava, nem se ele sabia que eu estava viva, e mais triste ainda, nãos sabia nada sobre minha mãe.

Quando ele me explicou sobre meus genes de lobisomen, alertou os cuidados que eu precisaria tomar para não ativar minha parte lobo, eu não podia matar. E isso se tornou um grande problema quando, com quinze anos, eu passei a ser uma adolescente rabugenta, estressada e com vontade de bater em todo mundo. Mamãe dizia que eu estava revelando as características do meu signo, touro, mas eu sabia que não era bem isso.

Eu lembro de estar numa festa do colégio, no primeiro ano, e aí aconteceu. Uma garota, Maddie, vivia dando em cima do cara que eu gostava, e depois de beber muito, eu fui tirar satisfação com ela. Obviamente eu estava errada, não tinha nada com o cara, mas estava tão bêbada e tão brava, que acabei puxando seus cabelos e batendo sua cabeça num extintor de incêndio. Ela morreu alguns minutos depois.

Minha mãe, que é advogada, conseguiu que eu não fosse presa e alegou que era legítima defesa, apesar de não ser verdade, e eu fiz um ano de trabalhos comunitários. Mas o problema veio depois de um mês, na primeira noite de lua cheia.

A dor era extrema, meus ossos pareciam se quebrar um por um, e depois eu perdi o controle. Mas depois eu aprendi que, ao contrário dos outros labisomens comuns, eu posso escolher quando me transformar. Uma das vantagens de ser híbrida.

~ Hope? ~ ouvi a voz da minha mãe. Ela estava em frente ao fogão, usando seu avental "I'm a hot mom" e preparando panquecas e ovos mexidos.

~ Quer ajuda? Você sabe como eu sou boa em cozinha ~ ri ~ A Aj já saiu?

~ Sim ~ ela sorriu ~ Vocês ainda estão brigadas?

Coloquei três pratos na mesa branca redonda, sabendo que meu pai chegaria um outra ou outra e comeria alguma coisa, e coloquei os copos. Minha mãe já estava terminando os ovos mexidos quando passei as panquecas para uma travessa, peguei o suco de abacaxi e o mel.

~ Sim, você sabe como ela é. Ela não me suporta.

~ Vocês tem signos totalmente opostos, é claro que vão de encontro uma com a outra, mas ela não te odeia.

Mamãe e suas histórias de signos.

~ Ela tem inveja de mim, na verdade ~ri, sentando~me na cadeira, ela se sentou ao meu lado ~ Quero dizer, eu sei que há vampiros~bruxos, vampiros~lobisomens, mas não sei de nenhum vampiro~bruxo~lobisomen. A culpa não é minha, e eu não cheguei a ser uma vampira, você sabe.

De acordo com o papai havia lido, eu tinha sangue de vampiro no corpo desde que nasci, mas ele só serviria caso eu morresse. Aí eu me tornaria uma sugadora de sangue, perderia meus poderes e me tornaria uma híbrida. Mas eu imaginava que sendo uma loba~bruxa, teria uma longa vida pela frente.

~ Discrição sempre foi seu ponto forte, você sabe ~ minha mãe disse, pousando sua mão sobre a minha ~ Você deve ser a vampira mais boazinha que já habitou esse planeta, tenho certeza.

Sorri para ela e abaixei a cabeça, então comemos em silêncio.

Mamãe sempre sabia o que dizer para me deixar mais feliz. Sempre tivemos uma boa relação, mesmo quando ela começava a falar sobre sexo e drogas, e que eu não deveria ser pega com uma grande quantidade de maconha, mas que eu estava livre para fazer o que bem quisesse. Acho que o fato de eu ser um ser sobrenatural extremamente poderoso, mesmo que eu ainda não saiba como tudo isso funiciona, passa a imagem de que eu posso fazer o que quiser.

Papai chegou meia~hora depois, ele vestia seu terno preto de sempre e carregava sua pasta e alguns livros. Quando nos viu, se inclinou para dar um beijo em minha mãe e um beijo na minha testa.

~ Aj?

~ Foi trabalhar, e acho que depois ela vai para casa do Zack.~ disse mamãe ~ Ela te mandou um beijo.

A volta de papai para Huntington Beach siginificava que as últimas provas da universidade finalmente tinham acabado e que ele estava de férias. Ou mais ou menos isso. Ele prometera me ajuda com meus feitiços, e para que possa fazer isso, ele tinha começar pro procurando a minha linhagem de bruxas.

~ Estava lendo um livro hoje ~ ele começou ~ Deixe~me ver aquela marca novamente.

Mamãe olhou para ele com uma cara de série, e se levantou da mesa. Ela odiava quando começavámos com o papo de bruxas, lobisomens e vampiros; enquanto papai estava mais e mais interessado.

~ Eu sabia ~ ele disse, passando o polegar sobre meu ombro direito; era nele que eu tinha uma marca de nascença, dois pequenos triângulos opostos ~ Comprei o livro no E~bay semana passada, tenho certeza de que foi escrito por um lunático, mas depois de tudo o que passamos, pensei "por que não!?", e voi lá. Há uma matilha de lobos nativos de Nova Orleans, todos os membros têm essa mesma marca.

Sorri para ele e levantei para poder abraçá~lo. Sei o quanto era duro para ele correr atrás de informações sobre meus pais biológicos, que como se não bastasse, eram criaturas estranhas e medonhas para o homem.

~ E o que fazemos agora? ~ perguntei

~ Agora, nós vamos aproveitar que estamos todos de férias e fazer uma viagenzinha para a costa leste dos Estados Unidos. ~ ele sorriu

Exatamente ás dez horas da noite, eu já estava de banho tomado, com meus cabelos castanhos ondulados pelo baby~liss e usando um vestido preto tubinho com manga cigana. Era terça~feira ainda, mas Julie havia me dito que Jackson Porter ia dar uma festa, pelo ínicio do verão e fim do ensino médio.

~ Não sabia que você também ia ~ disse Aj, aparecendo na porta do meu quarto. Ela estava usando uma saia jeans rosa, uma blusa decotada branca, com um top de renda por baixo, e seu Vans preto.

~ Eu não sabia que você ia ~ ri ~ Você nem estudava lá. Mas que bom, podemos ir com um carro só.

~ É, tá ~ ela bufou ~ Eu dirijo agora. Pretendo beber bastante, então você vem na volta.

~ Como quiser ~ sorri. Coloquei um colar de pedras azuis, um brinco de prata com desenho de concha e borrifei meu perfume da Chanel ao redor do meu corpo.

Aj, que agora estava sentada na minha cama terminando de passar um esmalte branco nas unhas, encarava cada passo que eu dava, sem tirar os olhos do colar. Sempre tentei ser verdadeira com ela, mesmo sabendo que isso afetaria nossa relação, mas chegava a ser repulsivo o jeito que ela me olhava quando estávamos sozinhas. Era como se ela tivesse medo de ficar sozinha com uma pessoa meio doida da cabeça como eu.

~ Ouvi papai falando que vamos para Nova Orleans... Pelo menos sei de alguns lugares legais para ir por lá. Não quero perder minhas férias porque minha irmã é lunática.

Mandei um olhar sério para ela, que mentalmente significava que eu estava mandando~a à merda, e ela abriu um sorriso sarcástico na minha direção.

~ Qual parte de mim você odeia mais? ~ perguntei, mesmo sabendo que já tinha feito a mesma pergunta milésimas vezes. Ela sempre acabava falando que era por eu ser chata, irritante e mandona, mas eu não acreditava muito nisso ~ Vamos, seja sincera pelo menos uma vez.

Ela parou de passar o esmalte e levantou os olhos na minha direção.

~ Eu não sei... Quero dizer, é como se você estivesse morta, certo? Porque você é uma vampira, mas então eu lembro que você é uma lobisomem também; então ás vezes não sei se você é como um zumbi, ou como um cachorro. E mesmo com tudo isso, você é uma bruxa também... Você faz feitiços, acende velas, faz ventar, consegue energia da terra. Quero dizer, tudo isso é muito louco, não é? Não consigo acompanhar.

~ E você acha que eu consigo? ~ ri ~ Mas pensei que depois de quinze anos você já estaria, no mínimo, acostumada.

Sorri para ela e ergui as mãos, fazendo um dos travesseiros flutuar e ficar na altura de seu rosto, com outro gesto, o joguei para o lado calmamente e o taquei em sua cara. Ela riu, e por um momento, achei que estivesse gostando.

~ É legal os pais te ajudarem a achar sua família. E eu vou adorar sair da Califórnia um pouco ~ ela sorriu ~ Quando você estiver lá, trata de me arranjar um bruxo bem bonito, ou um lobisomen, ou um vampiro. Não, um vampiro não.

Rimos juntas por um tempo, e senti uma pontada de nostalgia de quando tínhamos sete anos e costumávamos brincar na praia. Eu era sempre a mais rápida, a que nadava melhor, a que ia mais longe; provavelmente por isso Aj tinha tanta birra comigo. Mas não queria falar nada para estragar com o clima.

Peguei meu celular e minha bolsa, e depois descemos as escadas juntas, já prontas.

~ Vejo que estão de bom humor hoje ~ mamãe sorriu ~ Não bebam muito, principalmente você, Hope.

Comecei a beber com quatorze anos e parei depois da morte de Maddie. Eu gostava de cerveja, mas bebia uma quantidade suficiente para não me deixar nem tão sóbria, nem tão bêbada. Basicamente, era sempre eu que dirigia para minhas amigas.

~ Aproveitem a festa.