Nota da autora: Quando estava lendo o último livro da trilogia, por minha cabeça sempre aparecia: "E se fosse Katniss a torturada?" " Como reagiria Peeta?". Então não agüentei e decidir pôr no papel tudo o que eu imagino que aconteceria! As cenas não irão ser igualzinhas ao do livro, não. Também terá capítulo com o ponte de vista de Katniss , já que houve poucos detalhes sobre os tipos de tortura usadas na Capital. Lembrando que Katniss estará nas mãos do aterrador presidente Snow...
Capítulo um
Os gritos, a confusão, o cansaço nos meus membros inferiores que resistiam ao meu comando de movimento e finalmente o pequeno mundo da arena pareceu explodir numa luz forte. A névoa clara ocupa meu campo de visão e alguém grita por mim, incansavelmente. Acordo violentamente com o nome de Katniss na boca. Estou confuso. Pequenos fragmentos aparecem em flash na minha mente. Estava na arena, no Massacre Quartenário, a armadilha de Beetee destruiu a arena e eu ajudei nisso. Então os aerodeslizadores apareceram e nos tiraram de lá. Não foi? Acho que foi isso.
Tento me sentar na maca e olho ao redor, é uma sala pequena. Ao meu lado há sons de máquinas hospitalares e vejo que alguém está inconsciente e ligado a vários tubos. Katniss! Não, Não pode ser Katniss! Levanto-me apressadamente e quase caiu já que a minha prótese foi retirada, porém consigo me equilibrar e meio que vou pulando pro leito ao fundo do aposento. Mas não se trata de Katniss, e sim Beetee. A poucos passos da maca dele o reconheço. Ele está com tantos aparelhos ligados a si que é difícil ver onde termina o homem e começa a máquina. Nem sei o que pensar, é um alívio que não seja Kat , entretanto, uma preocupação começa a me paralisar.
Destruímos a arena dos jogos então os idealizadores nos tiraram de lá. Seríamos punidos mas de que forma? A sensação de impotência me domina e eu tento fracamente lutar contra ela. Encontro minha prótese numa mesinha junto a porta e a recoloco. Abro a porta esperando encontrá-la trancada, porém ela desliza facilmente e começo a caminhar o mais silenciosamente que posso pelo corredor até que ouço vozes abafadas, reconheço a voz do idealizador chefe, lembro-me dele dançando com Katniss na nossa festa de noivado. Meu primeiro instinto é irromper na sala e exigir a presença dela. Eu nunca devia ter deixado que nos afastassem, depois que ela e Johanna saíram e o fio foi cortado tudo virou uma confusão e eu a perdi...
-O que está acontecendo com ela agora?
A voz , embora baixa, me faz avançar trôpego pra sala ignorando minha anterior decisão de agir o mais sigilosamente que podia.
Dentro do aposento estão Plutarch, Haymitch, Finnick e Gale. Finnick está numa cadeira de rodas muito pálido e parece evitar meu olhar. Eu sei que devo estar com uma cara muito estranha já que Haymitch aproxima-se e coloca a mão no meu ombro me fazendo sentar. Por uns momentos minha cabeça fica dando voltas, não entendo o que Haymitch está fazendo aqui, muito menos Gale. Gale que nem me viu entrando, ele está com o rosto voltado firmemente pra mesa enquanto as mãos seguram violentamente a cabeça.
-O que está acontecendo aqui? -pronuncio-me com uma voz que mal parece a minha. -Onde está Katniss?
-Oh! Peeta! Você parece bem melhor realmente. -Plutarch estende as mãos para um aperto, não faço menção de cumprimentá-lo mas ele não parece irritado com a minha falta de educação. -Vou explicar tudo.
O homem me dá uma enxurrada de informações das quais não analiso metade, mas acabo entendendo o básico como a existência de um distrito 13 relativamente forte e atuante, a criação de um plano de retaliação feito por esse distrito a fim de interromper o Massacre Quartenário e o conhecimento dele pela maior parte dos tributos. As coisas começam a ganhar um pouco de sentido, como as atitudes de muitos dos participantes na arena.
-... Felizmente você percebeu o que tinha de fazer no último minuto, meu rapaz. Uns segundos a mais e provavelmente não teríamos conseguido te tirar de lá. O pessoal da capital mandou um aerodeslizador pouco depois de nós, se ficássemos mais tempo sobre a arena teríamos sido todos capturados e quem sabe o que seria da rebelião.
Eu pisquei desconcertado diante do entusiasmo do homem.
-Rebelião?
-Sim! Muitos distritos estão em guerra nesse momento, a nossa ação contra a Capital foi ao ar em todos os distritos! Invasão da arena! Resgate dos tributos! Tudo isso deu o gás para que os rebeldes estabelecessem uma força em cada distrito. É óbvio que os levantes estão no início mas temos muita esperança no fortalecimento da causa!
Eu não retribuo a animação do homem. Sentia-me uma peça nos jogos de outros jogos. A dor na têmpora latejava continuamente. Virei meus olhos acusadores para Finnick e Haymitch, embora fosse difícil manter a dureza no rosto devido a tristeza e o semblante doentio de Odair.
-Vocês sabiam disso.
Embora a acusação fossem para os dois, minha raiva inteira era para o homem que deveria ser o meu mentor. Mas quem se sentiu atingido pelo tom da minha voz foi o antigo "aliado". Por isso ele havia se juntado a mim e Katniss, por isso abandonou Mags e me levou quando eu não fui mais capaz de andar.
-Eu... Nós juramos que protegeríamos vocês, com a nossa vida inclusive. Mas nem todos estavam por dentro do plano, como você e Katniss haviam outros que não tomaram conhecimento por isso tinha de tomar um cuidado extra com esses vencedores. Mas eu não sabia de tudo o que aconteceria. Apenas que em algum momento os rebeldes iriam intervir no Massacre, pela quantidade de pães recebidos tomaríamos o conhecimento de quando seria, contudo, a invenção de Beetee... Eu não tinha ideia de como funcionava.
-Mas sabia que fazia parte do plano, não é? -não me preocupo de esconder meu ressentimento. E então volto-me para Haymitch. Ele parece visivelmente mais velho do que quando saímos do nosso distrito 12, um pouco mais encurvado, não sei se está abalado por ter enganado a mim e a Katniss ou se é o efeito de alguma bebida. De fato, posso sentir um pouco do cheiro de álcool no seu hálito quando ele se dirige a mim.
-Desculpe-me garoto mas ,na época, não me pareceu uma boa ideia dividir com vocês o que estava acontecendo. Você sabe que Katniss não é muito boa em representar algo, não é uma boa mentirosa... Contar a vocês seria o mesmo que deixar estampado que havia alguma coisa sendo planejada, principalmente porque foi justamente a ação de vocês que desencadeou todo esse movimento . Antes de tudo, era evidente que a Capital visaria em vocês nessa temporada e era preciso que realmente acreditassem que vocês não tinham nenhuma esperança...
A voz dele fica fraca e eu me debato entre gritar com ele ou simplesmente ignorá-lo. Na verdade, pouco me importa como tudo foi orquestrado ou como pode ser que o 13, que todos acreditavam estar inabitável, estava por dentro de todas aquelas reviravoltas. Eu só queria mesmo falar com Katniss, ver que como ela está. Depois poderia pensar em tudo aquilo de forma mais consciente e até me sentir agradecido com aquelas pessoas que me enganaram.
-Você decidiu me deixar no escuro novamente... -murmuro pra mim mesmo, porém com a sala tão silenciosa todos escutam. -Mas como a minha ideia era proteger Katniss não importando as conseqüências, não importa muito como tudo aconteceu. -digo mais firmemente. Os presentes trocam ligeiros olhares nervosos. -Onde ela está? Quero vê-la.
Espero a resposta que não chega e levanto os olhos irritados. Estou prestes a indagar por uma resposta quando lembro dos canhões. Dois tiros. Um foi Brutus, ele nos atacou quando percebemos que o fio tinha sido cortado e que as garotas poderiam estar em perigo. Na hora, olhamos atordoados o fio embaralhado e então, num piscar de olhos, Finnick adentrou a mata, eu estava a poucos passos de distância quando Brutus surgiu na clareira e me derrubou; ele tinha como arma um tipo de marreta e me golpeou, consegui impedir a força total do golpe com as mãos mas, mesmo assim, a batida na têmpora me fez ver estrelas. Ele investiu novamente e dessa vez eu sabia que esmagaria meu crânio contra o chão, porém Beetee o apunhalou com a faca desviando a atenção de Brutus pra ele. Levantei-me e pegando o punhal da minha cintura investi um golpe na sua garganta. As arcadas que ele fez procurando um pouco de ar a fim de prolongar a vida me transtornaram; gritei por Katniss e só parei quarei quando Beetee me chamou fracamente com a faca enrolada no fio e caiu inconsciente apontando pro muro de força...
-A armadilha... Ela foi, foi... - chegar até mesmo a por em palavras meu maior medo me deu calafrios.
-Não! Não Peeta! -Finnick interrompe meus pensamentos. - Quem morreu foi Chaff, eu o matei.
Não ouso respirar aliviado, há algo na expressão do ruivo que não me deixa relaxar.
-Então? Ela está ferida, é isso? -levanto-me derrubando a cadeira e dirijo meus olhos para todos. -Eu preciso vê-la.
Antes mesmo de me dizerem alguma coisa eu já sei o que é. Por quê o rosto abatido de Haymitch e o pesar no de Odair...
-Você não faz ideia realmente?Eles a deixaram na Capital, foi isso o que houve. -a voz embargada de Gale preenche cada canto do aposento. Parece que ele tinha ficado a espera para dizer as palavras que iriam me causar maior dano.
Ele se levanta e vai embora.
Não sei direito o que acontece depois. Haymitch se aproxima pra me confortar mas eu o afasto.
-O que você fez Haymitch? Só precisava seguir o plano! Ela viva, eu morto! -grito fora de mim e não sei quantas vezes repito isso antes de ser sedado.
N/A : E aí? Merece continuação?
