Hocus Pocus

Sinopse: 'É realmente incrível como algumas pessoas ainda acreditam que bruxas voam pela noite montadas em vassouras...'

Disclaimer: Naruto não me pertence, e qualquer acéfalo no mundo é capaz de saber disso. U.u'


Capítulo 1 – Sangue de Bruxa.

Talvez eu devesse começar essa história com o clássico e tedioso há muito tempo atrás, seria o correto para que vocês pudessem entender. Mas, na realidade, não faz tanto tempo assim. Bom, pelo menos não para alguém como eu.

Quando se está vivo a mais de duzentos anos é normal que a percepção do tempo se torne diferente. Aliás, praticamente tudo se torna diferente visto pelos olhos de alguém que já viveu tanto tempo. E antes que pergunte, isto nada tem haver com vampiros e seus dilemas de imortalidade. Trata-se de uma história de bruxas, e unicamente sobre bruxas.

Agora, se você, curioso em potencial, tem algum problema quanto a isso eu sugiro que pare por aqui. Sabe, a nossa história não é de toda recheada de fatos agradáveis. O fato é que uma bruxa nunca tem um destino muito favorável, e você pode invariavelmente, perceber-se enfeitiçado por uma delas no meio do caminho.


Calor infernal durante o dia, ar congelante quando caia a noite, e tempestades de areia que podia-se dizer serem imprevisíveis. Qualquer um concordaria que não era um cenário agradável, muito menos confortável para se viver. Mas é de se esperar também, que locais convencionais não atraiam o interesse das bruxas.

A sua natureza mágica as leva, na maioria das vezes, para um ambiente considerado inóspito. Seja por seus fatores climáticos ou pela energia que nele se acumula. E as bruxas gostam de lugares assim, as faz sentir-se bem.

Este talvez tenha sido o motivo principal na escolha dela, mas simplesmente, inventaria qualquer motivo para permanecer ligada aquela terra. O Egito lhe fascinava de tal modo que ela seria capaz de abdicar até mesmo da companhia dos irmãos para ficar ali. Mas Temari sabia que não seria preciso, a terra dos antigos faraós parecia exercer o mesmo tipo de fascínio em Gaara e Kankuro.

A casa de tamanho médio lembrava a arquitetura egípcia em cada mínimo aspecto, passando um ar de imponência sem deixar de ser simples em sua estrutura. A fachada era simples, sem muitos detalhes, embora por dentro a construção ostentasse um luxo inegável. Grande parte dos móveis eram ornados de uma decoração de cores vivas, e flores de lótus, papiro, brotos e animais também apareciam em alguns para completar a decoração.

Ela levantou os olhos do livro a sua frente, fechando-o cuidadosamente para que as folhas já amareladas não se despregassem, empurrou a cadeira ruidosamente pelo piso de madeira e se pôs de pé. Caminhou em passos lentos e despreocupados, sendo acompanhado o tinir das tornozeleiras toda vez que seus pés tocavam o chão.

Assim que alcançou o corredor, seu andar tornou-se mais firme e apressado, como se algo estivesse, de súbito lhe incomodando. As íris verdes focalizadas em uma única porta, pela qual ela pretendia entrar, quer ele quisesse ou não.

Bateu de leve na porta. Sem resposta. Tentou novamente, desta vez um pouco mais forte, e apenas recebeu a mesma resposta: silêncio. Respirou fundo e mordeu os lábios para conter um xingamento. Tudo bem, ela já esperava aquele tipo de reação, mas ainda assim lhe era extremamente desgastante manter a calma.

Resolveu tentar uma última vez, se ele não respondesse ninguém poderia culpá-la por lançar um feitiço no próprio irmão. Ora, ser ignorada era uma – das muitas – coisas que ela não era capaz de tolerar.

- Gaara, abra a porta. Sou eu, Temari. – tentou transmitir tranqüilidade ao falar, o que não convenceu muito bem pelo modo irritadiço com que ela enfatizou o próprio nome.

Não houve resposta. A boca se contraiu em uma careta enquanto as mãos, outrora dispostas ao lado do corpo disparavam com fúria para a maçaneta da porta, abrindo-a sem se importar com qual recepção receberia. E toda e qualquer reclamação que tivesse morreu em seus lábios assim que seus olhos se encontraram com os do irmão.

Às vezes ela esquecia o quanto os olhos dele podiam ser perturbadores. Ainda mais quando transmitiam claramente a mensagem de que a imagem dela, não era o que ele desejava ver. Mas ela não era o tipo de pessoa que se deixava intimidar por um olhar, ou talvez não o tipo que deixava transparecer o quanto podia ser afetada.

Sustentou por um bom tempo os orbes verde-água lhe encarando antes de desviar o olhar, focalizando em um ponto qualquer do quarto dele. Agora que estava ali, a simples razão que a impulsionara não parecia mais tão clara. Afinal, sua preocupação não surtia qualquer efeito nele. Gaara continuava distante como sempre foi, até mesmo para ela, sangue do mesmo sangue.

- Como passou a noite? – ela se esforçou para começar uma conversa amigável, mesmo tendo absoluta certeza de que a conversa entre eles não passaria de alguns poucos minutos.

- Assim como passo todas as noites... – ele manteve-se em silêncio por certo tempo antes de respondê-la. – acordado.

Ela piscou, atordoada. Não esperava esse tipo de resposta, tão pouco receptiva, e...havia um toque de rancor na voz dele? É claro que ele tinha motivos para falar assim, ela bem sabia disso, mas ela havia sentido como se aquilo fosse direcionado especialmente para ela. Como se fosse culpa dela.

E com a mesma rapidez com que havia entrado no quarto, ela saiu, parando ainda a poucos passos da porta dele. Ela era uma bruxa, e ele um amaldiçoado, vítima de um feitiço. Temari sabia o porque da hostilidade, mas não compreendia. Não era justo com ela.

- Não é minha culpa, você sabe disso. – ela sussurrou baixinho, em um misto de mágoa e raiva antes de refazer seu caminho pelo corredor.


A fumaça desprendendo dos incensos estava começando a deixá-la enjoada. Na verdade, toda aquela atmosfera de falso mistério lhe causava náuseas. Era incrível como algumas velas coloridas, cartas e desenhos de pentagramas conseguiam convencer grande parte de seus clientes de que ela, Madame Ino, poderia prever o futuro de cada um deles.

Não que ela fosse uma fraude, Ino tinha seus poderes, mas estes nada tinham relação com a leitura do futuro. Trabalhar como vidente era divertido, ela podia conseguir uma boa quantia apenas inventando histórias mirabolantes sobre amores e famílias para aqueles que vinham procurar por seus serviços.

Espreguiçou-se na poltrona de veludo e bocejou longamente, o dia estava sendo terrivelmente longo e ela já estava cansada de fazer tantas falsas consultas às cartas ou aos búzios. Mesmo a contra gosto, acenou para que um de seus assistentes permitisse a entrada de mais uma pessoa na tenda. A última por hoje, ela pensou, entediada.

O pano que encobria a entrada da tenda foi retirado, dando passagem à figura de um jovem relativamente alto, cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e olhos da mesma cor. Ino sorriu, em mais de vinte anos que não se viam, Shikamaru continuava o mesmo. Idêntico a imagem do rapaz de dezessete anos que ela se lembrava.

- Sabe, você é a última pessoa que eu esperava ver hoje. – ela comentou calmamente, enquanto seus olhos azuis esquadrinhavam o rosto dele. – veio fazer uma consulta? – perguntou, o tom divertido na voz servindo para esconder sua preocupação.

Afinal, quando se recebe a visita de alguém que você considerava morto, não pode ser por motivos de simples cortesia, não é? Há sempre uma razão maior; e Ino poderia apostar consigo mesma de que não gostaria de saber qual era.

- Ah, não foi por isso que eu vim. – ele fez um gesto vago com a mão, como se para espantar algum tipo de pensamento. E como ela continuava a encará-lo com seus orbes azuis; continuou – não exatamente por isso.

Ela o mirou com curiosidade evidente. Shikamaru sabia muito bem que ela não possuía um pingo sequer de habilidade para clarividência, e ela tão pouco via motivos para que ele quisesse saber algo sobre o próprio futuro. Então porque parecia que ele precisava da ajuda dela?

- Eu não entendo. – ela declarou verdadeiramente. Os pensamentos dele sempre foram algo incompreensível para si, mas pareciam agora, muito mais distantes de seu entendimento.

- Como se isso fosse novidade... – ele usou do mesmo tom divertido que ela, provavelmente com o mesmo intuito. Ainda assim, ela não pode deixar fazer uma careta com o comentário, logo em seguida atirando uma almofada na direção dele, que foi facilmente desviada, é claro.

- Preciso da sua ajuda. – ele afirmou, categórico. Ino arqueou as sobrancelhas, a conversa estava tomando um rumo que não lhe era de todo agradável, se Shikamaru se dera ao trabalho e procurá-la e pedir sua ajuda, certamente era porque precisava de seu dom especial.

- Você esteve muito tempo fora, sente-se um pouco. – ela indicou a poltrona vazia ao seu lado. – e eu sinto muito quando digo que não posso ajudá-lo. – ela completou, vacilando um pouco ao falar.

Ele a encarou surpreso, e de certo modo, magoado. Receber uma negativa dela, sempre doía mais.

- Porque? – ele quis saber; ela esperava que ele não fizesse essa pergunta. A resposta não era das mais agradáveis, mas Ino não iria dizer a verdade, de qualquer forma.

- Eu simplesmente não uso mais esse dom. – ela frisou bem a última palavra, as mãos apertando o braço da poltrona enquanto ela falava. – então se é isso que veio procurar, e eu tenho certeza que é, foi uma completa perda de tempo. – revirou os olhos, zangada.

- Você continua falando demais. – ele sorriu de leve, para surpresa dela. E preguiçosamente se pôs de pé. – Não respondeu a minha pergunta, mas não é como se eu não esperasse por uma resposta assim. – suspirou, se dirigindo lentamente para a saída. – Então só me resta dizer, até logo, problemática.

Ino continuou a olhar para a frente da tenda, mesmo depois que ele havia ido embora. Era difícil acreditar que Shikamaru estivesse realmente de volta, mas não de todo ruim. Definitivamente não, ela pensou, com um meio sorriso.


Ela andava descalça pelo terreno, os pés mal tocando a terra fofa abaixo de si; tão graciosa e leve quanto uma bailarina. Os cabelos em um tom azulado chegavam até o meio das costas e balançavam um pouco devido à brisa noturna; usava um vestido cinza sem muitos exageros, de malha fina e ombros desnudos apesar do frio.

Continuou caminhando em seu passo de bailarina até o final do que parecia ser uma estradinha de terra, parando somente quando alcançou um portão de ferro antigo, grande parte dele já enferrujada por conta do tempo.

A distância entre as grades era grande o suficiente para que ela pudesse passar sem maiores problemas, coisa que ela fez, mas não sem antes lançar olhares apreensivos para o caminho pelo qual percorrera. Logo que passou pelo portão, ela suspirou aliviada, seus olhos perolados vasculhando minuciosamente o local a procura de alguém, mas ela estava completamente só. No meio de um cemitério; e em nada parecia se importar com tal fato.

Alisou o vestido de modo apressado, andando sem mostras de temor até uma das lápides, encostando-se nesta e fechando os olhos. Não se importava de esperar por eles, mas contava que pelo menos aquela vez fossem pontuais, ela ainda tinha muito trabalho para terminar até o fim daquela noite.

Não demorou mais do que alguns minutos para que ela ouvisse o som de alguém – ou algo – se aproximando. Abriu os olhos vagarosamente, apenas para encontrar a figura de um gato negro, parado graciosamente a poucos metros de si. Sorriu.

- Bem na hora. – ela comentou satisfeita, a voz não passava de um sussurro, mas ela sabia que ele podia escutá-la claramente.

Observou com interesse como aos poucos, o corpo do gato parecia se alongar, os pêlos desaparecerem e as feições tornarem-se cada vez menos felinas, até o gato de outrora dar lugar à imagem de um rapaz. Cabelos e olhos negros como a pelagem do gato que fora, e pele de uma palidez mórbida.

Ao contrário dela, suas roupas estavam gastas e um tanto fora de moda, fazendo-o lembrar um personagem saído de algum conto antigo. Sem fazer qualquer ruído ao se movimentar, ele sentou-se no chão ao lado dela, o rosto completamente impassível, como uma estátua de mármore.

- Cinqüenta anos... – ela suspirou, no mesmo tom baixo de voz. – achei que fosse tempo suficiente para que você se livrasse da maldição, Sasuke.

Ele a encarou com seus orbes negros, e ela sustentou firme o olhar, não era algo que usualmente faria, mas ela mudara muito desde a última vez que o encontrara. Desde que fora designada para aquele trabalho.

- Você não tem mais medo. – ele constatou, levemente surpreso. Hinata parecia muito mais confiante de si mesma, embora ainda apresentasse claros sinais da timidez que lhe era tão característica. Ou melhor, fora tão característica.

E como ela dava mostras de esperar por uma resposta, ele continuou:

- Não é tão fácil quanto parece. – ele falou calmamente, mas Hinata notou que havia raiva contida na voz dele. – Tente ascender uma vela quando você é um gato, verá que não é uma tarefa possível. – completou, com descaso.

- Imagino que ela tenha reforçado os feitiços de proteção durante a noite. – ela falou, pensativa, tomando o cuidado de não mencionar nenhum nome.

- É claro.

- Sinto muito. – ela abaixou a cabeça, os cabelos cobrindo parcialmente o rosto, momentaneamente despertando a lembrança do quanto ela era insegura e tímida. Hinata não havia mudado completamente, afinal.

Ele poderia ter respondido, mas o som de mais alguém se aproximando fez com que ambos virassem a cabeça para a origem do ruídos de passos, a fim de identificar quem estava a caminho. Logo podia-se distinguir a silhueta de um jovem, caminhando apressado na direção dos dois. Os cabelos castanhos estavam soltos e passavam da altura dos ombros, uma estranha tatuagem cobria-lhe a testa, mas o que mais chamava atenção na fisionomia do rapaz eram os olhos. Os mesmos olhos perolados de Hinata.

- Atrasado. – falou o moreno, em tom de deboche. Hinata limitou-se a desviar o olhar, visivelmente incomodada com a presença dele, os braços cruzados na frente do corpo em uma atitude protetora.

- Tive alguns...problemas. – ele respondeu a contra gosto, acomodando-se o mais longe possível da garota. – E não tenho muito tempo de sobra, então, sejam rápidos. – emendou, parecia tão desconfortável quanto a jovem pela presença dela, mas isto ficava menos claro pelo seu modo de agir.

Hinata se permitiu suspirar de leve. Embora ela mesma não quisesse, a noite seria longa, pois o que tinha para contar não era coisa de alguns poucos minutos.


O cheiro do chá de ervas borbulhando naquela espécie de caldeirão tomava rapidamente todo o interior do pequeno chalé. A garota de exóticos cabelos rosa misturava o líquido com um sorriso satisfeito estampado na face, sendo observada sem muito entusiasmo por um jovem loiro, o cabelo comprido tampando um de seus olhos azuis.

- Entediado? – ela perguntou, observando-o com o canto dos olhos.

- Extremamente entediado, un. – ele bufou, revirando os olhos. – Não sei por que temos que tomar conta de um moribundo inútil como ele. – o tom de voz transmitia uma leve irritação, que a jovem fez questão de ignorar.

- Itachi-san não é inútil, por isso mesmo estamos cuidando dele. – ela respondeu séria, parando de mexer no caldeirão para encarar o loiro parado ao lado da janela. – Aliás, eu estou cuidando, já que você não faz nada além de reclamar, Deidara. – acusou, enquanto lançava um olhar de censura a ele.

- Grande tratamento, Sakura. – ele resmungou, contrariado. – E isso é o quê, remédio caseiro? – perguntou, lançando um olhar desconfiado para a solução de ervas que ela voltara a mexer.

- É uma poção para repor as energias. – ela explicou, já irritada pelo descaso com que ele falava sobre suas habilidades de cura. Ele nem ao menos sabia o trabalho que ela tivera para reunir todas aquelas plantas!

- Só espero que desta vez funcione, un. – ele riu baixinho. – O último infeliz que você tentou ajudar acabou morrendo envenenado... – piscou para ela, um sorriso de deboche no rosto. Aparentemente, os erros dela o divertiam.

Sakura apertou com força a beirada da mesa, a raiva atingindo níveis perigosos. Repetiu para si mesma que não era uma boa idéia colocar de fato, algo venenoso na comida dele. Ela precisava de ajuda, mesmo que esta não fosse muito cooperativa na maior parte do tempo. E falando em ajuda, onde foi que Konan se metera?


N/A: Só para esclarecer, aqui bruxas não vivem para sempre, eu só prolonguei a vida delas para um período bem considerável, oks :P. Sem casais definidos por enquanto, sugestões serão muito bem-vindas (é claro, só não me venham com SasukexSakura e esses outros casais tradicionais, eu quero algo diferente 8D).

Então, reviews, sim?