Prólogo.

Lola, onde você está?

Está perdida? Ou apenas sonhando demais?

Ela sentou-se na calçada, deixando seus cabelos caírem levemente pelo rosto, enquanto seus olhos de um verde intenso analisavam as palavras grafadas por ela mesma em um papel pautado e parcialmente amassado. Ela procurava em sua mente um fim para seu romance e somente no silêncio e na parcial escuridão acreditava que em qualquer momento o encontraria.

Levantou-se ao perceber que não estava sozinha. Sabia muito quem vinha em sua direção. Era ele, ela tinha certeza. Ao lado de Lola o moreno parou. como eram escuros seus olhos! Tão profundos... A garota nunca tinha estado tão perto dele. Seu coração disparou, suas mãos estremeceram. Ela deixou o caderno cair na lama. Todas as páginas de mais uma história espalhadas. Todos seus monstros, personagens e finais felizes perdidos em poça de água. Palavras sem leitores. Escritos lançados no vazio.

Incompreensível. Por que permaneces em silêncio, Lola? Por que se rendes tão fácil? Por que teus olhos se tornam espelhos de água e tu não se moves exasperada? Por que estás erguendo a cabeça agora?

Ela o fitou e sorriu.

Ele sorriu e pisoteou as rosas que ela escreveu.

Frágil, Lola. Incapaz de falar, de fazer algo. Permaneceu parada, enquanto ele, aquele que ela amara, espezinhava o único sentido de sua vida: as palavras.

Pobre, criança! Seus olhos se afundaram na própria angústia. Ela correu deixando-o sozinho com as páginas carcomidas. Lola precisava de um abraço carinhoso, de um amigo, alguém que pudesse protegê-la, mas não havia ninguém. Necessitava vomitar em qualquer página branca sua memória inacabada. Mas ela não tinha mais cadernos ou folhas desgastadas, estava realmente sozinha, abraçada a própria inércia.

Ela caminhou para qualquer lugar, andando às vezes em círculos, Lola não voltou para casa. Não queria voltar e ver seus pais brigando, sua mãe bêbada, seu pai perante a televisão e seu irmão com mais uma meretriz. Estava cansada, se ao menos ela tivesse um caderno, uma folha amassada, um lápis para desabafar e encontrar-se no mundo das palavras.

O sono fez cair suas pálpebras e a fadiga consumiu-a, mas ela não cessou os passos. Somente resolveu desviar o caminho. Chegando a uma casa branca de dois pavimentos circundada de arbustos verdes sem flores ou frutos, aproximou-se da porta e apertou o interruptor da campainha.

Alguém abriu a porta. Não quem ela desejava ver.

- Lola? O que faz essa hora na rua? – assustou-se o homem.

- Sr. McCord, David está em casa? – perguntou abaixando cabeça com um leve rubor cobrindo-lhe a face.

- Sim, mas já está dormindo. Nos últimos dias, ele tem agido estranho. Você sabe por quê?

- Eu não sei de nada. – Mentiu descaradamente, caminhando rumo a avenida vazia. – Boa noite, sr. McCord e diga-lhe a seu filho que o procurei.

- Boa noite, Lola. – antes fechar a porta fitou mais uma vez a adolescente. Por que ela também estava tão estranha? Não era mais aquela garota doce e sorridente que brincava com seu filho, era quase uma mulher agora, que escondia em seu olhar uma evidente tristeza. Ele fechou a porta.

Lola, para onde está indo? Mais uma vez pôs-se a andar em círculos, mas já estava muito desgastada e por isso resolveu descansar em uma praça como um o banco, um caderno chamou sua atenção. Nada relevante até então. Ela o tocou, em sua capa simples duas palavras: Death Note. Abriu-o curiosa e em sua primeira página encontrou: "O Humano cujo nome for escrito nesse caderno morrerá". Interessante. Colocou o objeto na bolsa. Lola não pensou, apenas agiu. Afinal o achado não é roubado. Ela sorriu e caminhou de volta para casa, ou talvez não.

†††

O banco estava vazio. Alguém carregara o caderno.

- Maldição! – sussurrou o rapaz cerrando os dentes. Sua pele pálida se contrastava visivelmente com a camisa e a calça negra que trajava. Ele fechou o punho e sentou-se.

Como faria justiça com as próprias mãos agora que perdera o objeto que o transformava em deus? – perguntava-se, segurando o próprio queixo impacientemente.

Silêncio. Somente o silêncio. Odiava a si próprio por ter sido tão bobo, sabia que no fundo era mais uma armação daquela Shinigami maldita! Mas tinha a certeza que dessa vez sua posse do caderno estava por um fio.

Alguém, camuflado na penumbra tocou seu ombro. Uma voz feminina, melodiosa e calma informou com um sarcasmo evidente:

- "Caso se perca o caderno ou ele seja roubado, o dono perderá sua posse em 49. Caso não o encontre todas as memórias relacionadas ao caderno se perderão".

Após um hiato de denso silêncio, ela continuou:

- Dai-me maçãs e talvez eu te diga quem é o novo dono do Death Note.

Ele colocou as duas mãos sobre os joelhos apertando-o.

- Culpa tua, Yami! Culpa tua, maldita!

- O tempo está passando, Michel! Tic-tac, tic-tac... É melhor se apressar caso ainda queira ser o deus de um novo mundo! – falou a mesma voz doce e irônica vinda da escuridão.

Ele ergueu os olhos. No horizonte, tênues raios de Sol tingiu o horizonte. Um novo dia, um novo começo. Levantou-se e se pôs a caminhar reticente. A partir daquele instante, Michel faria tudo para encontrar o que foi perdido... Mas por, hora, era melhor voltar para casa.