Where Is My Angel?
e Ecos.
A água que caía em suas mãos era bem refrescante. O sabão já não existia, e a louça, limpa. Olhou pela janela, vendo o céu nublado misturando-se com nuvens escuras, e a fresta deixava entrar um bafo que indicava que logo naquela tarde, cairia uma tempestade forte.
Fechou a torneira, logo secou as mãos, para voltar-se à bancada atrás de si, para poder apreciar um pacotinho de gotas de chocolate, proveniente de uma idéia para cookies, mas o seu humor lhe impedia de cozinhar comida gostosa.
Pôs uma pequena gota entre os lábios, quando um vulto entrou pela porta da cozinha, lhe fazendo suspirar.
-Daniel, tenho um paciente agora às duas. – Saga entrou na cozinha, já estava pronto para sair para o seu compromisso. Não lhe deu muita atenção, apenas caminhou até a cesta de frutas próximo ao noivo e roubou uma maçã, caso sentisse fome durante o trabalho. –Voltarei depois. – Seu tom foi seco, se não fosse as suas breves palavras, poderia considerar que ignorava o moreno.
-Saga, você pode passar na feira e trazer mais maçãs vermelhas, verdes e se tiver, bandejas de abóboras? – Da mesma forma que ouvia aquele tom seco, respondia, mas fingindo um tom de bom humor.
Não ouviu a resposta do geminiano. Suspirou, e pegou um punhado de gotas, colocando tudo na boca e demorando-se a mastigar.
-Saga, você me ouviu, porra?
-Eu não sou surdo! – Gritou, irritado. O outro, o olhou cínico. –Ouvi. Agora, preciso ir, senão me atrasarei, o trânsito está horrível. – Deixou de olhá-lo depois de seu grito, lhe deu as costas.
-Use camisinha, está bem?
O geminiano parou ao batente da porta, não compreendendo aquele pedido. Mediou para então se virar para dentro da cozinha novamente. –Como assim, eu usar camisinha? Vou trabalhar.
-Sim, use camisinha. Eu não quero pegar uma doença por causa de seu adultério. – Remexia o pacote de doce. O tom de "tudo bem" ainda permanecia, apesar do cinismo. Depois, passou um pano pela bancada, e ainda mastigando, apoiou as mãos na mesma e o olhou, unicamente em cinismo. –Pelo menos ele paga bem?
-De quem está falando, Daniel? – Fazia-se de desentendido.
-Saga, não seja sonso, e não ache que eu sou idiota! – Jogou o pano na bancada. –Você acha que eu fui trouxa de cair naquela de que precisava viajar para a Holanda para uma palestra? – Colocou uma mão na cintura, e o olhou.
Ficou em silêncio por ouvir aquilo. Não fazia idéia de como ele descobrira, mas também, naquela altura de seu relacionamento sôfrego, não importava. –Onde nós paramos? Daniel. Olha para nós... Era tudo tão lindo. – Havia tristeza em seu olhar. –Decidimos morar juntos, planejávamos nos casar... Quem sabe construir uma família, não é mesmo?
-Você mal para em casa. Quando para, não fica nem perto de mim. Como você acha que dá para ainda pensar em um final feliz?
-Eu quero amor e carinho! – Ergueu em um timbre a sua voz.
-Mas achou, não é mesmo? Aposto que ele deve dar muito para você. – Comentou, sorrindo irônico.
-Ao menos ele faz o serviço que você não faz. – Respondeu afiado e cruel.
-Então se separa de mim e vai viver com ele. É só isso no que você pensa! Às vezes acho que quem precisa de um terapeuta é você. Você sabe bem que ninfomania é passível de internação. – Permaneceu com a ironia.
Fechou o seu semblante. Não pensava em sexo, desejava apenas um companheiro e uma relação estável e de amor. Não era pedir demais.
-Talvez eu o faça. Não dá mais para carregar isso por mais tempo.
"Isso". Algo que começou com "nós".
-Então depois que voltar do seu trabalho, deixo as malas prontas para fazermos. – Ao terminou de falar, lhe deu as costas e saiu pela porta da cozinha, que dava para o jardim da casa.
Encostou-se à parede, não guardando o choro que gritava por sair.
Viu o noivo sair pela porta, e encostou suas costas ao batente. Deu um suspiro. Os olhos, úmidos. Mas deu de ombros, triste e saiu para o seu trabalho.
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Decidiu não retornar para casa naquela tarde. E a pequena maçã que lhe acompanhou, foi deixada em cima da mesa de seu escritório.
Pegou o seu celular, digitando um número bem conhecido. Pôs em sua orelha e aguardou ser atendido.
-Fala irmãozinho! – Ouvir a voz de Kanon era um alento tão grande que fechou os olhos e sorriu.
-Kan... Você está muito ocupado hoje?
-Para você, nunca. Um momento, Sa... Michel, tenho um cliente daqui meia hora, você desmarca para mim?
-Novamente, senhor Agnes? É a segunda vez essa semana.
-Foda-se, se livra dele, tenho algo mais importante agora.
Saga pôde ouvir aquela conversa, e riu da praticidade do irmão. Se não fosse ele que lhe fizesse rir...
-Sa?
-Senhor Agnes...
-Que parte do que eu disse você não entendeu?
-Kan?
-Oi, maninho. Nossa, odeio gente burra… Então, o que dizia?
Riu novamente, antes de prosseguir. Porém, seus risos no momento não eram tão empolgantes.
-Podemos almoçar agora? Um café... O que for... Não comi mesmo.
-Saga, você não comeu? Nós vamos almoçar então. Onde nos encontramos?
-Naquele restaurante vegetariano que fomos semana passada.
-Até já então, meu maninho.
-Até, Kan.
A despedida foi carinhosa, notou certa possessividade naquela despedida do gêmeo, mas suspirou de alívio por poder vê-lo no mesmo dia.
Conhecia a fundo Saga. Sabia que algo não estava bem.
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Degustava um copo de água lentamente, quando viu Kanon aparecer no salão do restaurante. Levantou e pegou em sua mão, recebeu um beijo no rosto dele, e correspondeu com outro.
-Estava com saudade, Sa. Do que precisa? – O tom de Kanon era animado e bastante empolgado. A companhia que mais apreciava, e que apenas procurava ter, era dele.
-Eu também. Sabe que eu não me acostumo a não morar com você mais.
-Nem me fala. O seu noivo não me quer lá dentro, só por isso... – Escondeu o seu ciúme, muito bem. Não aprovava aquele relacionamento. Odiava Daniel.
-Kan... Eu não estou mais noivo.
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