Masoquista


"Ah, o amor... que nasce não sei aonde, vem não sei como, e dói não sei por quê." – Luís de Camões


O amor machuca.

Muito. Embora muito agradável ao início, o sentimento, a longo prazo, tende a piorar. Claro, talvez não seja com todos; Naruto já vira muito casais alegremente casados. No entanto, para o loiro, amor era tão trágico quanto uma história de contos de fadas. E era tão triste que seu conto fosse o único a terminar sem felizes para sempre.

O amor machuca.

Muito. Quase tanto quanto o enorme corte que rasgava o tórax de Naruto. Quase tanto quanto ouvir seus amigos chamando seu nome e você querendo desistir – pela primeira vez. Naruto somente deixou as gotas de chuva pingar em seu rosto – ou eram isso as lágrimas de Sakura e Tsunade? – e em seu ser, sentindo-se tão alegre quanto triste como nunca na vida.

O amor machuca.

Muito. Mais do que um Chidori em seu peito. Mais do que a lâmina afiada que lhe cortara. Mais do que a dor de seus próprios amigos. Naruto permitiu-se ser egoísta um pouco; eram seus últimos momentos de vida, esperava que o perdoassem por seus pensamentos. Ele suspirou, ou tentou suspirar; seu peito ardia tanto. E estava quente.

O amor machuca.

Muito. Naruto abaixou os olhos em direção de seu próprio corpo, onde se podia ver uma poça enorme de um líquido vermelho se formando. Era sangue? O loiro não tinha muito certeza. Bom, também não importava muito; a dor em seu peito o fez esquecer-se, mesmo que por brevíssimos segundos, do amor. Da amizade. Da tristeza. Talvez, até um pouco da alegria.

O amor machuca.

Muito. Naruto fechou novamente os olhos. Podia ouvir os gritos sem sentido e apavorados, mas não conseguia trazer-se a permanecer consciente. A dor do vago estava tão boa – por que não podiam deixá-lo assim? Repentinamente, algo pareceu repuxar em seu peito; aquilo era um brilho verde? Ele não queria que o curassem.

O amor machuca.

Muito. E talvez leve até mesmo à loucura – se assim o fosse, Naruto seria louco, porque ele já amara tanto um mesmo individuo que era difícil acreditar que tal pessoa seria a mesma que o cortara diagonalmente. Ele apertou os olhos ainda fechados – agora que o curava, a dor no peito dava espaço à dor do amor.

O amor machuca.

Muito. Ainda mais agora que era uma dor solitária. Solitária como ele. Desejou que devolvessem seu corte no tórax como uma alegre distração do sentimento de solidão dentro de si. Mesmo assim, não conseguiu trazer as palavras à boca, elas soariam amargas. Ou - era possível – Naruto gostava da dor do amor. Era um fogo ardente, invisível dentro de si, mas tão brilhante quanto uma tocha no meio da noite.

O amor machuca.

Muito. Naruto tocou no fogo e, por um segundo, sua mão queimou. No instante seguinte, um sentimento tomou conta de si e ele sentiu-se confortável. Entreabriu os olhos e viu que não havia labareda alguma, somente um quarto de paredes brancas. Decepcionado, fechou os olhos. Agora que tocara na chama, queria-a de volta. Ela era bonita, tão brilhante no início, porém tão escura ao apagada; queimaria ao primeiro toque também, mas aqueceria seu corpo frio com o passar do tempo.

O amor machuca.

Mas não tanto para um masoquista como Naruto.