Título: Forbidden.

Autora: Lady Anúbis.

E-mail:

Beta: Samantha Tiger Blackthorn

Banda: the GazettE

Casal: Aoi x Uruha

Classificação: + 18

Gênero: Slash/ Angust/ Romance/ Lemon.

Status: Fic em andamento.

Direitos Autorais: Infelizmente Aoi e Uruha, nem a banda the GazettE me pertencem.

Sinopse: Há tempos o guitarrista moreno está apaixonado por Uruha, no entanto, o loiro vive um sonho perfeito com 'um príncipe encantado', mas... Poderia Aoi permanecer afastado quando quem ele mais ama é ferido?

ooOoo

FORBIDDEN

Capítulo I – Iludido.

Os olhos negros se abrem devagar, sentindo a luz da manhã bater em seu rosto. Então se dá conta de que não está em sua casa.

"As janelas desses quartos de hotel..." – Pensa, ainda cansado.

Apesar de amar aquilo que faz, é isso que o cansa e o sufoca... Não ter um lugar fixo que pode chamar de lar, pois naquilo que chama de 'casa' não há ninguém que o aguarde, que divida com ele seus desejos e sonhos. E por mais que procure no passado alguém que quisesse ter junto de si... Apenas uma pessoa e somente ela poderia preencher o seu vazio. Mas, como sempre, sabe que é proibido... Que há coisas demais entre eles.

Suspira devagar, passando a mão pelos cabelos suados... Mais uma vez sonhara com ele e ao invés de ser prazeroso isso só torna sua dor ainda maior. Fica durante longos minutos observando o teto, se convencendo a levantar, sem qualquer vontade de fazê-lo e assim mesmo sabe que precisa, como todos os dias. Senta-se na cama, os olhos parecendo contemplar o chão, mas perdidos em algo muito além desse quarto.

A água do chuveiro começa a tirá-lo do sonho e das divagações que o acompanham, como toda manhã desde que descobriu exatamente o que sentia. Ela desperta as reações da pele, arrepiando-se com o contato gelado, forçando sua mente a deixar de lado aquilo que o perturba, pensando quase que exclusivamente no trabalho... O que sempre foi seu porto seguro, onde se sente completo.

O ato de vestir-se é quase automático, com a calça preta justíssima subindo devagar por suas pernas, enquanto os pensamentos se forçam a refletir sobre as músicas, os instrumentos e o show que acontecerá nessa noite...

"Preciso ficar atento aos detalhes... Cada um deles..." – Um sorriso triste surge em seus lábios. – "Afinal eles mantém minha mente ocupada..."

Alguém bate à porta e seu coração pára um instante. Todas as manhãs quando está em turnê sempre sente isso, pois sabe quem bate e teme que ele veja em seus olhos toda a intensidade do que sente, do que o possui como um animal voraz, corroendo cada fibra de suas entranhas. Caminha devagar, parando diante dela, tocando a maçaneta, sabendo que detrás da mesma está à causa de suas aflições, a razão de nunca mais ter dormido uma noite sequer sem acordar suando... Perdido que está para sempre dentro de algo que não pode controlar. Por segundos que parecem eternos se faz a mesma pergunta...

"Devo abrir?" - Teme a resposta, mas teme muito mais que os olhos chocolate nunca mais o olhem se descobrirem aquilo que sente.

Sabe que vai ter que abrir e acaba cedendo, finalizando o ritual que se repete dia após dia. Agarra a maçaneta com força e abre depressa, não dando tempo a si mesmo de desistir... E dá de cara com o rosto bonito, ainda sonolento, os cabelos loiros um pouco desalinhados, no seu estado habitual de preguiça para se arrumar logo cedo. Não pôde deixar de rir de seus olhos fundos, ainda desejando ardentemente pela cama que deixou a contragosto.

- Bom dia... – Uruha diz baixo, ainda assolado por uma terrível dor de cabeça. – Alguém podia ter a idéia de mudar o horário desses ensaios... Na verdade... Pra que ensaio em turnê?

- Ah... Deixa de ser preguiçoso. – Aoi diz se divertindo com a expressão exausta do loiro. – Quem ensaia evita erros... Sabe disso.

Uruha sabe que não adianta argumentar sobre trabalho com o workaholic que está a sua frente. Melhor ficar calado e esperar que alguém tenha uma aspirina pra lhe doar, pois se esqueceu de comprar... Como sempre.

- Queria saber... Por que você demora tanto pra atender à porta? – O loiro não está bem humorado a esse horário, depois de ter ido dormir às quatro horas da manhã. – Se eu soubesse teria dormido uns minutos a mais.

- Pára de reclamar. – O riso é contido com dificuldade, pois esse tom manhoso de sua voz somente o torna ainda mais atraente.

Aoi fecha a porta atrás de si, respirando fundo diante da visão do loiro andando a sua frente, olhando ocasionalmente para trás, assemelhando-se a uma aparição... Aquela que assombra suas noites e seus dias... Que o enlouquece quando se movimenta, que o desconcentra quando sorri para ele, mas que vive em seu mundo de sonhos... Apenas nele.

ooOoo

- Vocês estão atrasados! – Kai diz automaticamente, pois já está acostumado com ritmo do loiro.

- Pior que o senhor atrasadinho... – Reita diz com sarcasmo, recebendo um olhar fulminante de Uruha. – Sempre atrasa o Aoi na turnê.

O moreno não se importa com nada que é dito, pois no instante em que entra nos bastidores, ele é um profissional. Está pensando no equipamento e nos detalhes do show e somente pensará em outra coisa assim que tudo estiver perfeito. Ouve por algum tempo ainda os amigos implicarem um com o outro, mas logo cessa, pois eles também sabem o que têm que ser feito e começam a se preparar.

E após um bom tempo Aoi relaxa, deixando-se cair sobre um sofá. Fecha os olhos, as músicas povoando sua mente, um leve torpor de sono quase o fazendo dormir, mas logo é acordado por alguém que levanta suas pernas, se senta e as coloca sobre o colo. Teme abrir as pálpebras e se deparar com o loiro, então permanece quieto, quase imóvel, decidido a fazer com que a pessoa, quem quer que seja, acredite que está dormindo.

- Aoi... Eu sei que você está acordado! – A voz de Uruha soa necessitada, como se desejasse demais conversar.

- O que você quer? – Tenta imprimir um tom frio, mas sabe que jamais consegue ser assim com ele. – Já conseguiu terminar?

Abre os olhos finalmente e se depara com o outro bem humorado, até um pouco eufórico, coisa comum nos últimos tempos.

- Ainda bem que esse é o último show. – Uruha está realmente feliz com isso. – Já não consigo ficar tanto tempo longe do Kaoru...

O moreno suspira, pois o rapaz novamente vai falar do 'maravilhoso' Kaoru, o homem perfeito com quem está namorando. E quase que como se fosse um sacrifício por sua amizade ouve pela milionésima vez como o grande advogado é lindo, rico, famoso, gentil e tantos outros adjetivos que o tornam o príncipe encantado. Sua mente praticamente abstrai todas as palavras, que se tornam um rumor, apenas se concentrando no belo rosto cheio de felicidade que movimenta os lábios carnudos.

- Eu sei que quando chegar... Oh Aoi... – O loiro dá um tapa na perna dele ao perceber que o outro o olha, mas não ouve. – Humm... Ele vai fazer aquela massagem deliciosa...

Aoi não suporta mais tudo aquilo. Pela amizade tem ouvido tudo de delicioso que o maldito advogado de porta de cadeia faz nele, quando sabe o quanto gostaria de estar em seu lugar, beijando, acariciando e... É melhor deixar para lá, senão logo Uruha vai perceber o que esses pensamentos provocam em seu corpo.

- NÃO! – O moreno levanta em um pulo. – Estou cheio de ouvir falar desse cara!

- Aoi... – Os olhos de chocolate o observam, assustados. – O que...

Por mais que não queira tratá-lo dessa forma, é doloroso demais amar alguém e ouvir cada detalhe de como outro tem tudo que tanto deseja. Vira as costas e deixa Uruha para trás, murmurando seu nome, ainda aturdido pela atitude que jamais tomou antes.

Pela primeira vez Uruha observa Aoi com mais atenção, afastando-se nervoso. Não consegue imaginar a razão de tanta hostilidade por algo que sempre conversam desde que iniciou seu namoro com Kaoru. Afinal, o moreno é o único amigo que sempre está disposto a ouvi-lo, mesmo nos tempos em que está mais melancólico. Por isso sente-se ferido por sua ação, triste ao pensar que talvez o outro apenas o ouvisse pela amizade, mas sem querer realmente dividir com ele a felicidade que está sentindo.

"Talvez ele esteja com ciúme! Sim..." – Apesar de parecer uma opção plausível, não torna a realidade mais fácil de suportar. – "Afinal, nós sempre saíamos juntos... Mas... Bom... Ele vai ter que aceitar a idéia."

Suspira e se levanta, servindo-se de um pouco de saquê, apesar de ter prometido ao Aoi que ia diminuir a quantidade que ingere, porém deixa o líquido descer devagar, tentando dissolver o nó que ficou em sua garganta. Não sabe dizer a razão, mas o que aconteceu não lhe sai da cabeça.

- Que foi? – Ruki se coloca diante dele, percebendo a expressão emburrada em seu rosto.

- Nada... Nada não... – Não quer em absoluto falar no assunto.

- E o seu koi? – Tenta falar de coisas agradáveis na tentativa de vê-lo mais contente.

- Ah... – O assunto o faz esquecer momentaneamente o que o perturba. Saca uma foto que estava em seu bolso. – Este é ele.

Ruki segura à foto e observa com cuidado, pois lembra alguém que conhece. O tão falado advogado é moreno, de olhos negros, a franja teimosamente caindo-lhe sobre os olhos, um sorriso alegre e gentil. Parece ser brincalhão, fazendo pose exagerada, apesar das roupas sérias... É indiscutível que o homem é lindo demais, mas... Algo nele o incomoda... Não sabe dizer o quê... Algo em seu olhar...

- Vocês não vão se vestir? – Kai aparece sério, um pouco nervoso por ser o último show.

Uruha pega a foto e a guarda, sem perceber como Ruki continua pensando. Além daquilo que o incomoda... A semelhança dele com alguém que conhece fica martelando em sua cabeça.

"Espera! Sei com quem o cara parece!" - Sorri por ter percebido algo que ninguém mais percebeu, mas... Logo pensa se isso foi proposital ou puramente acidental, ouvindo então mais um chamado por parte de Kai. – "Depois eu penso melhor sobre isso..."

ooOoo

Uma semana depois.

Os orbes negros observam a rua pela janela do estúdio, aflito com a demora excessiva de Uruha. Apesar da pontualidade não ser uma das qualidades do loiro, ele jamais atrasou três horas para um ensaio. Já tentou contatá-lo pelo celular, mas não houve qualquer sinal e isso somente reforça a sensação de apreensão que revira seu estômago. Acordou assim, com uma aflição inexplicada e a ausência dele a torna ainda pior.

- Será que ele não vem? – Kai se junta a ele, também preocupado com a demora.

- Melhor sentarmos para acertar os detalhes... – O moreno continua a vislumbrar a rua e as pessoas que a percorrem ocupadas. – O pessoal da produção precisa disso pra poder sair de férias.

É então que ouvem a porta se abrir devagar e um silencioso Uruha entrando, cabeça baixa e cabelos jogados displicentemente sobre o rosto. A aparência dele os assusta, como se tivesse se jogado de cabeça no guarda-roupa e saído com a roupa que o vestiu. E... Mesmo sempre chegando sonolento, jamais pareceu tão destruído.

- Oi gente... – Sua voz é quase um sussurro. – Desculpe o atraso. Meu despertador não tocou.

Isso é dito automaticamente, sem olhar para os demais, com rapidez se dirigindo para o banheiro e fechando a porta.

- O que aconteceu? – Reita parece ser o único que tem coragem de expressar aquilo que todos pensam.

Aoi se levanta sob o olhar dos demais, decidido a verificar a causa de tal estado. Sabe melhor do que ninguém que há algo errado e Uruha vai ter de falar, nem que seja a força. Caminha devagar até o banheiro, segurando a maçaneta, temeroso, respirando fundo ao girá-la, constatando que a porta não está trancada... Entra com cuidado, vendo o loiro diante do espelho, com o frasco de base líquida na mão. A sua entrada o paralisa, ficando assim, parado diante do reflexo que parece não querer encarar e sem demora, o moreno fecha a porta atrás de si, aproximando-se e se colocando a seu lado, percebendo como os olhos chocolate o observam por entre os fios loiros.

- Quer me dizer o que houve? – Fala com calma, consciente de que Uruha pode desabar a qualquer instante.

- Nada... – A voz doce parece ainda mais frágil do que quando chegou. – Já falei... Meu relógio não tocou.

- Kouyou... Você está falando comigo... – Procura manter o tom mais suave possível. – Sabe que pode se abrir.

Uruha permanece imóvel, evitando o olhar direto do outro, um leve tremor percorrendo seu corpo. Sente vergonha, muita vergonha... Aoi jamais entenderá e sabe que sua reação vai ser das piores. Preferia não ter vindo, talvez ligando para dizer que estava doente, mas poderia ser pior, com todos os rapazes vindo ao seu apartamento com o intuito de animá-lo... E isso seria um desastre, pois Kaoru poderia chegar e a situação sairia do controle.

- Eu sofri um pequeno acidente em casa... – Diz isso, mas ainda sem encará-lo.

- Me deixa ver! – Aoi já começa a se exaltar, tocando seu queixo e forçando-o a encará-lo... E o hematoma está ali, bem visível em torno de seu olho. – Não vai me dizer que isso foi um acidente doméstico! Não subestime a minha inteligência.

- Mas... Ele não quis fazer isso... – A voz do loiro sai quase chorosa. – A culpa foi minha.

- Como assim?! Sua culpa?! – Aoi não pode acreditar no que ouve, pois seu amigo jamais foi passivo a esse ponto. – Você por acaso bateu nele?

- Não... Eu... – Uruha não sabe muito bem o que dizer. – Você não entenderia.

Yuu força o loiro a sentar na privada, encarando-o com seriedade.

- Desde quando você virou 'mulher de malandro'? – Há uma autêntica raiva em sua voz.

- Pára com isso! – Kouyou se sente ofendido com essas palavras. Afinal, o que acontece entre ele e Kaoru não é o que Aoi está insinuando. – Sabia que você ia levar pra esse lado. O Kaoru não é o que você está pensando.

- Se você prefere se enganar... É problema seu. – Yuu não sabe se deseja continuar uma conversa que pelo visto será infrutífera. – Mas não venha querer me convencer que o 'senhor perfeito' não é o safado que esse olho roxo revela... Me poupe desse papo furado.

Essas palavras são muito dolorosas para o Aoi que deseja insanamente protegê-lo nesse momento, mas sabe muito bem que Uruha está impondo um limite para o seu envolvimento. Sente uma dor apertando seu peito, como jamais sentiu. A visão daquele ferimento machucando-o demais. Nunca faria algo assim, ainda mais com o loiro, que é incapaz de fazer mal a qualquer pessoa. Isso o revolta... E muito mais por vê-lo assumir a culpa e defender o miserável que fez isso com ele.

- Não conta pros outros... Por favor. – Diz em tom súplice.

- Por quê? – Não consegue segurar o sarcasmo. – Está com vergonha?

Não há uma resposta para isso, os olhos chocolate se enchendo de lágrimas, a dor clara neles. Arrepende-se então do que disse, ainda mais triste por perceber a fragilidade dele neste momento. Deseja demais tomá-lo nos braços, protegê-lo, beijá-lo até fazer com que esqueça toda a dor... Mas não pode! Uruha vive a ilusão de seu 'amor idílico' com o príncipe encantado... E nada pode fazer quanto a isso, por mais que o ame.

- Ok... Não vou dizer nada a ninguém. – Aoi toca seu rosto, mas se afasta depressa, temeroso de entregar com isso aquilo que sente. – Mas não me peça pra aceitar isso como algo normal.

Os dois se olham, sendo quase impossível para Aoi conter o desejo de agarrá-lo e confessar tudo que se torna a cada dia mais penoso esconder.

- Vamos sair de férias... – Sabe que é a única coisa que pode dizer. – Mas eu quero que você se cuide e... Saiba que pode contar sempre comigo.

Um sorriso lindo surge na boca carnuda, quase enlouquecendo de vez o moreno, que decide sair o mais rápido possível, antes que suas forças se extingam. Abre a porta, mas se volta para ele antes de sair.

- Agora... Recomponha-se. – Sorri também para ele. – Todos estão te esperando.

Uruha se sente aliviado por ter conseguido contornar a reação de Aoi, feliz por este não ter insistido, o que somente o faria se sentir pior. Afinal, foi por sua culpa que Kaoru perdeu a paciência e bateu em seu rosto. Quando iniciaram o relacionamento combinaram as regras e não consegue cumpri-las... Por pura preguiça e desleixo de sua parte. Seu koi não quer bater nele, mas precisa-se de regras para poder manter uma boa relação. Por isso não pode deixar que os outros se voltem contra ele... O ama e sabe que é correspondido. O que aconteceu só prova isso, pois mostra que ele se importa. Precisa acreditar nisso... Desesperadamente.

ooOoo

Aoi permanece estático diante da porta, apreensivo com aquilo que vai encontrar no interior do apartamento de Uruha. Seu coração está disparado, sabendo que há algo de muito errado. Toca a maçaneta, mas ela se abre, fazendo sua respiração ficar presa na garganta. Tudo parece parte de um pesadelo e ao entrar o silêncio o faz gelar.

Segue pelo corredor apreensivo, percebendo na penumbra que gotículas pegajosas se espalham por ele, manchas cada vez maiores pelo chão e paredes, a quantidade também aumentando conforme avança devagar. Marcas escorridas de mãos vão se esticando ao longo da parede branca, como se alguém ferido tivesse se apoiado nela.

Aperta o passo, temendo o pior, entrando no quarto com a imagem terrível do loiro caído sobre uma enorme poça de sangue. Aproxima-se trôpego, caindo de joelhos ao lado do corpo, observando o rosto pálido, os olhos sem vida, emoldurados pelo cabelo empapado do líquido vermelho.

- NÃOOOOOOOOOOOO!! – O moreno abre os olhos assustado, custando a acreditar que tudo não passou de um pesadelo... Muito ruim.

Senta na cama, ainda ofegante, o suor escorrendo em profusão por seu peito. Por mais que tenha acordado a sensação ruim permanece, causando-lhe um mal-estar, o que o força a correr até o banheiro. Tira a camiseta suada, jogando água gelada no rosto, procurando evitar o incômodo vômito, olhando-se em seguida no espelho, procurando em seu rosto a resposta para não ter interferido no que aconteceu com Uruha.

"Mas eu não podia... A vida é dele... As escolhas também..." – Por mais que pense assim, permanece a impressão de tê-lo abandonado nas mãos do lobo. – "Não devo pensar no pior... Ele geralmente passa as férias na casa dos pais... Lá está seguro..."

Retorna ao seu quarto, temendo voltar a dormir, assombrado que está pelo pesadelo. Observa o relógio na cabeceira e vê que passa pouco da meia-noite... Pára diante da janela, a lua alta no céu sem nuvens, trazendo-lhe uma impressão funesta. O toque do telefone o sobressalta, correndo até ele antes que desliguem.

- Alô! – Diz aflito

Um silêncio assustador se faz do outro lado da linha, apenas o suave som de respiração revelando que há alguém. O medo se apossa de Aoi, o pesadelo retornando como um furacão a sua mente.

- Kouyou... É você? – A falta de resposta apenas o deixa mais aflito. – Por favor... Fala comigo.

- Yuu... Me ajuda... – O tom da voz é tão baixo que quase não consegue ouvir.

- Uru, o que aconteceu? – Mas o telefone é desligado e isso apenas torna o medo de Aoi ainda maior.

Vestido apenas com a calça de malha grafite que usa para dormir, Aoi calça os tênis sem desamarrá-los e joga o sobretudo preto sobre o dorso despido, descendo as escadas, pois sua impaciência o impede de esperar o elevador. Chega à rua em tempo recorde, correndo sem qualquer cuidado, desesperado demais para chegar ao prédio onde Uruha mora. Chama um táxi, já sentindo as primeiras gotas de chuva caindo sobre si, entrando esbaforido.

- Pra onde vamos? – O homem o observa por alguns segundos.

Somente então ele se lembra que precisa dar o endereço para o motorista, passando-o rapidamente.

- Mas... Por favor... – Diz aflito. – Vá o mais rápido possível.

ooOoo

Uruha está na cozinha, preparando animado um jantar especial para Kaoru. Afinal, os dois completam um ano de namoro e vai ser muito bom comemorar em casa. Planeja algo bonito, com a mesa bem arrumada, um delicioso Sukiyaki e muito saquê. Esforça-se bastante para fazer tudo, pois sabe como o koi não gosta de comida pronta, dizendo que não têm qualquer sabor. Para si... Qualquer coisa está ótimo, pois está muito mais interessado na 'sobremesa', mas seu namorado gosta de tudo certinho, perfeito e na hora certa.

Quando o homem dorme em sua casa tudo tem de estar absolutamente limpo, bem arrumado e o loiro precisa tomar cuidado para não deixar-se levar por sua velha mania de demorar. Sabe que ele é perfeccionista, mas isso é uma qualidade, não um defeito... Não é?

Já está com tudo praticamente pronto, os ingredientes da refeição todos sobre a mesa, os pratos com os legumes cortados, os cogumelos e a carne fatiada. O fogareiro pequeno no centro dela e sobre ele a panela wok. Prepara o último detalhe, um molho especial que aprendeu a fazer procurando na internet. Pretende impressionar e ver o sorriso carinhoso de Kaoru quando faz tudo certo.

- O que está fazendo? – Kaoru vem por trás dele e o enlaça pela cintura, colando seu queixo sobre seu ombro.

- Algo especial para o nosso aniversário. – Uruha se derrete com o calor do corpo do outro colado ao seu. – E preparei tudo com perfeição.

- Bom menino... – O homem o vira de frente para si e toma-lhe a boca em um beijo sensual.

Quando os dois se separam o advogado tira o paletó e o entrega ao loiro, que anda até o seu quarto e o pendura em um cabide em seu guarda-roupa. Olha para si mesmo no espelho, arrumando um cabelo que teima em ficar sobre seus olhos, observando cada detalhe da roupa que escolheu... A camisa branca impecavelmente passada, por fora da calça jeans preta. Verifica se não se esqueceu de tirar todos os anéis, pois o seu koi não gosta deles, dizendo que lhe emprestam uma aparência desleixada. Não... Tudo perfeitamente arrumado. Volta para a sala e vê o homem já acomodado em seu lugar, sorrindo para ele com gentileza. Traz então o molho e o coloca sobre a mesinha baixa, sentando-se no chão, de frente para o namorado.

- Essa mesa ficou linda, Uru! – A voz de Kaoru é calorosa.

- Tudo do jeito que você gosta. – A expressão de felicidade do loiro é indisfarçável.

Com a panela já quente Uruha derrete a manteiga, fritando a cebolinha, os cogumelos e a acelga. Junta tudo no canto dela e frita a carne na outra extremidade. Percebe como Kaoru observa seus movimentos e sorri feliz por estar começando bem o jantar. Despeja o molho aos poucos adicionando o broto de bambu, o tofu e o macarrão shirataki. Agora é aguardar que cozinhe até o ponto perfeito, então se acomoda e encara o namorado que sorri para ele.

- Nossa! Está me impressionando! – Kaoru está claramente admirado com toda a organização do loiro.

O aroma delicioso espalha-se rapidamente pela sala, revelando que está pronto. O guitarrista faz sinal para que o moreno se sirva, desejoso de vê-lo provar aquilo que tanto se esforçou para preparar. O homem então se serve com o hashi e leva um pedaço de carne à boca, mas sua expressão não é de satisfação, como Uruha esperava, mas aquela de quando uma das regras é quebrada, quando algo não está perfeito.

- Quantas vezes te falei que eu não gosto de shoyu japonês? – O rosto sorridente desaparece, dando lugar àquela fúria que o loiro tanto teme. – Ele é salgado demais, prefiro o shoyu chinês, que é mais adocicado... Mas você nunca me ouve mesmo. Sempre pensando nas suas músicas, no seu sucesso...

- Mas... Eu... – O músico fica desconcertado, incapaz de se levantar, apenas afastando-se instintivamente.

Kaoru se irrita com o medo estampado nos olhos chocolate e com um golpe derruba parte dos alimentos que estão sobre a mesa, levantando-se depressa e partindo na direção do outro. Segura-o pelo braço, claramente machucando, mas pouco se importa. Gosta de ver tudo perfeito, de ser obedecido e o incomoda a falta de disciplina do namorado.

- Você nunca me ouve... E me deixa assim... Irritado... – A voz dele é quase um grito, forçando Uruha a levantar-se. – Por isso é tudo sua culpa... Apenas sua.

- Kaoru... Por favor... – Ele sabe muito bem o que o namorado é capaz de fazer quando está 'irritado'.

Mas a atitude súplice do loiro apenas o irrita ainda mais, desferindo em seu rosto o primeiro tapa, jogando-o contra a parede, a cabeça batendo com força, deixando-o tonto, caindo no chão. Os gritos de Kaoru então soam distantes, como se Uruha adentrasse em outra dimensão, onde não sente quando é agredido seguidamente.

Infelizmente as sensações voltam depressa e vislumbra o homem chutando o restante das coisas sobre a mesa, tendo se desinteressado de continuar batendo no namorado desmaiado. Uruha então engatinha em silêncio, torcendo para que ele não o veja e rapidamente pega seu celular sobre uma mesinha, mas percebe que foi visto.

Uruha se levanta o mais rápido que consegue, correndo para o banheiro e fechando a porta no instante exato em que Kaoru quase o alcança. Senta no chão, dentro do box, aos prantos, ainda assustado demais, percebendo que o namorado continua ali, chutando a porta e praguejando, deixando claro que não vai embora... Pretendendo ficar ali e mostrar que é quem manda.

Abre o celular sem quase enxergá-lo, cego pelas lágrimas que descem em profusão, as mãos trêmulas manejando o teclado em busca do número de Aoi. Sabe de cor, mas neste momento não consegue se lembrar, por mais que force sua mente a focar. Finalmente o encontra, apertando o botão para que faça a ligação e o ruído do toque o amedronta. O que dirá para ele...? Está tão envergonhado por não ter lhe dado ouvidos...

- ...! – Ouve a voz do outro lado da linha, mas nada consegue dizer. Precisa do amigo neste momento, mas como dizer que o seu príncipe encantado virou um monstro?

- Yuu... Me ajuda... – São as únicas palavras que consegue proferir, deixando o telefone cair com o barulho de mais um chute que quase derruba a porta.

Encolhe-se no canto, temendo que Aoi não chegue a tempo, que o descontrolado Kaoru entre e acabe com sua vida, como destruiu todas as suas ilusões.

- Aoi... Chega logo... Por favor... – Ele diz baixinho para si mesmo.

E enquanto aguarda, o medo aumentando a cada pancada violenta que ouve na porta, Uruha se pergunta como chegou a isso. Nunca foi um homem passivo, muito menos com namorados. Apesar de fugir de uma briga a todo custo, jamais deixou que qualquer pessoa o tratasse dessa forma... E agora está sendo agredido física e moralmente, pois Kaoru continua a ofendê-lo, como se tivesse feito algo imperdoável. Tenta se conter, mas as lágrimas correm por seu rosto. Como entender que o seu koi, lindo, carinhoso, gentil... Um cara sem problemas... Tão parecido com o Aoi... Pode se transformar... Nisso? E não é a primeira vez!

"Sou um idiota!" – Pensa, sentindo-se enganado e traído em sua esperança de que tivesse encontrado O homem da sua vida.

ooOoo

Aoi chega esbaforido à porta do apartamento, pois sua ansiedade o impediu de esperar o maldito elevador, subindo as escadas de doze andares. Sente-se um idiota por causa disso, mas em sua mente ainda ecoa o pedido sussurrado de Uruha por ajuda. Pára uns minutos diante da porta e respira fundo, tentando controlar o próprio nervosismo. E não é apenas o cansaço, mas o medo de ver o sonho que teve transformado em realidade.

Toca a campainha uma vez, mas não há resposta. Insiste, ouvindo que alguém se agita no interior do apartamento, mas não se aproxima da porta. Resolve bater, primeiro devagar, mas começa a esmurrá-la ao perceber que a pessoa não faz menção de atendê-la. Somente após longos minutos finalmente ela se abre e Aoi se depara com um homem mais alto que ele, cerca de um metro e oitenta, moreno e até o consideraria bonito se não o odiasse.

- Pois não... – Kaoru diz de forma fria, claramente desconhecendo com quem está falando.

O guitarrista resolve lidar com a situação com o máximo de calma possível, refreando em seu interior o que queima como fogo.

- O Uruha, por favor. – Fala da forma mais fria que consegue imprimir. – Vim buscar uma encomenda.

Kaoru o observa de cima a baixo e vê a aparência dele... Uma calça de malha, peito nu, tênis e um sobretudo todo aberto, com aparência de que foi jogado de qualquer jeito sobre seu corpo. Ele é bonito, mas com certeza não veio buscar nenhuma encomenda neste estado. Será que Uruha o esperava para outra coisa? O ciúme o corrói por dentro, sentindo-se traído, querendo ainda mais pôr aquela porta do banheiro abaixo e ensinar para aquele 'cantorzinho' que ninguém o faz de bobo.

- Ele não está. – Tenta dispensar o incômodo intruso de uma vez.

- Eu sei que ele está. – Aoi diz já empurrando Kaoru, que bate contra a parede.

Aoi entra aflito pelo apartamento, buscando Uruha, percebendo pelas coisas quebradas e espalhadas pelo chão que algo de grave aconteceu. Kaoru o segue de perto, segurando-o pelo braço.

- Quem você pensa que é pra ir entrando assim? – O homem o força a encará-lo.

- Sou o cara que vai te arrebentar se tiver feito algo com o Uruha... – O ódio em seus olhos é genuíno.

Apesar de irritado, as palavras de Aoi fazem Kaoru recuar e soltar seu braço. Não sabe exatamente quem é o sujeito, mas percebe que fala sério. Fica se remoendo, ciumento, pensando em qual atitude tomar diante dessa ameaça. Ele é um cara lógico e metódico, tudo deve ser muito bem pensado e planejado, mas o que fazer diante dessa situação?

O amigo de Uruha avança pelo apartamento, observando o quarto todo arrumado, ainda mais ansioso. Teme cada vez mais pelo pior, concluindo que sua última chance é tentar o banheiro. Chega até a porta e a encontra trancada. Bate com calma, procurando não assustar ainda mais o loiro.

- Kou-chan... Sou eu... – Diz suavemente. – Você está aí?

- Yuu... – Sua voz soa chorosa, como Aoi nunca ouviu.

Isso acende ainda mais o inferno que se forma dentro dele, voltando-se a procura daquele que fez Uruha sofrer dessa forma. Logo se depara com o homem, pouco distante da porta que estivera esmurrando até há instantes, e sem pensar duas vezes, avança na direção dele, encarando-o bem de perto.

- O que você fez com ele? – Isso sai como um rosnado.

- Que eu saiba, ele é o meu namorado... – Há uma profunda indignação em sua expressão. – E você... Quem é?

Apesar de menor Aoi agarra o homem pela camisa, mas de tal forma ameaçadora que o outro engole em seco. Tenta manter uma postura superior, mas fraqueja diante da fúria nos olhos negros.

- Se ele é o seu namorado... Devia tratá-lo melhor... Seu... – Sua vontade é esganar o sujeito, mas se contenta em encará-lo. – Nem sei definir alguém como você.

- Olha aqui... – Kaoru empurra Aoi para longe de si, cada vez mais indignado com a intromissão. – Ainda não sei com quem estou falando...

- E se eu disser que sou o amante dele... O que você vai fazer? – É clara a sua disposição em provocar o 'homem perfeito' de Uruha.

Kaoru fica vermelho, a raiva transparecendo em cada movimento, em sua respiração ofegante e nos olhos fuzilantes. Seu desejo é acabar com esse sujeito atrevido, pois sabe que isso não é apenas provocação, o que sente claro em seus olhos. Então o loiro o traía mesmo?

"Devia ter batido ainda mais nele!" – Kaoru pensa, irritado.

- Qual o problema? – Aoi gosta do efeito negativo que suas palavras produzem nele. – Não sabia que eu esperava você sair e tomava seu lugar na cama dele?

Ele se encosta à parede, numa postura displicente, sem tirar os olhos do homem que se remói com o puro ódio que o possui.

- Coitado de você... O último a saber... – Ele ri sonoramente, esperando que isso derrube os últimos sinais de autocontrole do namorado violento.

E o limite de Kaoru é ultrapassado, avançando contra o guitarrista com um profundo desejo de matá-lo, mas como Aoi imaginava, a raiva o deixa descuidado, sendo facilmente atingido por um soco no estômago, caindo no chão, se contorcendo inteiro.

- Vou ter que bater mais ou já está satisfeito? – Carrega suas palavras de sarcasmo. – Por mim... Eu bateria em você muito mais por tudo que fez.

O homem se escora na parede e se levanta. Percebeu com este soco que Aoi, apesar de menor, é bem mais forte que ele e sabe que não tem chance numa briga justa. Coloca-se de pé com dificuldade, tentando manter uma postura altiva, mas sem conseguir.

- Eu vou... Mas não pense que vai ficar assim. – Fala com raiva, mas sem força, pois ainda está ofegante.

- Ui... – Está decidido a humilhar ao máximo. – Estou morrendo de medo...

Os dois homens se encaram, mas é uma disputa desleal de forças, pois Aoi está claramente pedindo que Kaoru o enfrente. O advogado não parece pensar nessa possibilidade, apesar de seu ressentimento ir muito além do que poderia suportar.

- E agora... Tira sua carcaça 'perfeita' daqui... – Um sorriso sarcástico surge em seus lábios. – De hoje em diante ele é só meu... Não se atreva a voltar.

Humilhado e enfurecido Kaoru sai, esquecendo-se completamente do paletó que deixou para trás, apenas desejando vingança, mais nada. Olha uma última vez para o rapaz que o observa sair, gravando em sua mente cada detalhe de seu rosto, imaginando como adoraria fazê-lo sofrer de verdade.

Ao se ver sozinho na sala, o guitarrista se volta novamente na direção da porta do banheiro, andando e colando-se nela.

- Kouyou... Ele já foi. – O moreno bate de leve na porta

Uruha ouve a voz de Aoi, chamando-o... Dizendo que Kaoru já foi, batendo de leve na porta, porém, o loiro não se move... Permanece encostado à madeira fria, parado, com vergonha do amigo. Falara tão bem de Kaoru e quando sofreu aquele 'acidente', Shiroyama o aconselhou e se irritou...

- Yuu... - Sussurra baixinho, a testa encostada na porta, as mãos abraçando a si mesmo, com medo...

E se Aoi brigasse com ele? E se ficasse bravo e não quisesse mais ser seu amigo? Morde o lábio inferior, impedindo que um soluço escape, o peito doendo, o nó em sua garganta sufocando-o...

- Pode sair... É seguro. – Não entende porque o amigo demora tanto e se aflige, temendo que esteja muito ferido. – Você está bem? Está machucado?

Está decidido a arrombar a porta se o loiro não a abrir, a apreensão em seu peito tornando sua respiração difícil.

- Abre a porta... Por favor. – Diz devagar e com calma. Sabe que Uruha deve estar apavorado e não deseja assustá-lo ainda mais.

Uruha ouve a voz agoniada dele e sabe que Aoi está preocupado, mas teme tanto que o moreno esteja bravo... Que o rejeite e isso, mais do que Kaoru descontrolado, o apavora. Pisca os olhos, pensando na pergunta do amigo e... Apenas seu braço dói e sente uma ardência na bochecha direita.

- Você... Você não está com raiva? – Indaga, temeroso, a voz saindo frágil, parecendo a de uma criança que fez algo errado e teme a repreensão dos pais.

Lentamente abre a porta, ainda com medo, afastando-se vários passos para trás, se recostando ao box, a cabeça baixa. Seu braço está visivelmente vermelho e provavelmente a pele clarinha ficará roxa. Em sua bochecha direita há alguns arranhões, provavelmente causados pelo anel de Kaoru, sangrando um pouco... Mas Uruha não fita o moreno, as lágrimas adornando-lhe os olhos, enquanto ele tenta contê-las.

- Por que eu estaria com raiva? – Aoi diz ao entrar no banheiro, vendo-o tão frágil e machucado.

Tenta se aproximar, mas percebe que isso o incomoda. Gostaria de puxá-lo para si e estreitá-lo em seus braços, demonstrando como alguém realmente o ama, mas sabe muito bem que não deve... Então se mantém encostado na porta, cabisbaixo, tentando disfarçar o que sente.

- Eu vim aqui por você... - Sua voz soa suave e protetora.

Uruha ouve as palavras dele e lentamente ergue o olhar, os chocolates fitando-o ainda temerosos, as mãos agora estavam em frente ao corpo, juntas, como se fosse uma barreira natural, percebendo como ele se mantém afastado e isso o incomoda. Quer se aproximar, mas não sabe se deve...

- Po-Por mim? - Sussurra baixinho, olhando-o.

- Sim. – E a voz protetora e suave de Aoi faz eco em sua mente, amainando o aperto em seu coração... E o desejo de se aproximar e se aninhar entre aqueles braços se tornam forte demais para ser contido.

- Yuu... – O nome dele sai num tom baixo, choroso e lentamente Uruha se move, caminhando até ele, a respiração ofegante e como uma criança o abraça, escondendo o rosto na curva de seu pescoço, um soluço se fazendo ouvir dentro do banheiro.

- Calma... Ele não vai mais te machucar. - Não consegue conter toda a gama de sensações que seu corpo produz nele, levando sua mão a seus cabelos, acariciando sua nuca.

Uruha não consegue segurar o choro, não com Aoi falando naquele tom doce, protetor e carinhoso. Agarra-se a ele, tentando dessa forma dissipar aquele aperto no peito, o nó na garganta. Está tão envergonhado... Se sente tão humilhado que deseja simplesmente sumir, porém os carinhos que aqueles dedos fazem em seus cabelos, em sua nuca o relaxam... E o que era um choro convulsivo, vai se reduzindo e se acalmando. Não consegue falar nada, apenas permanece ali, abraçado a Aoi, sentindo os braços protetores ao redor de seu corpo, envolvendo-o por completo.

O moreno fica assim por alguns minutos, desejando nunca se separar desse abraço, curtindo o seu calor e perfume. Como sonhou com um instante como esse... Mas sabe que não pode se enganar. Uruha está frágil, ferido e... Nada mais que isso. Separa-se então do corpo quente, tocando seu queixo e erguendo seu rosto.

Uruha sente Aoi se afastando e recua alguns passos, o rosto molhado pelas lágrimas, apesar de não mais chorar. Olha-o de modo inseguro, temendo uma represália, quase se encolhendo, mas o toque em seu queixo o faz mergulhar nos olhos negros, o coração batendo rápido, o medo evidente nos seus.

- Você foi à vítima... – Sorri com tristeza, tentando lhe passar segurança, tocando-lhe com delicadeza o leve ferimento em seu rosto. – Pare de se culpar.

- Yuu... – O nome dele sai em um gemido baixo, lamentoso, uma lágrima escorrendo por sua bochecha direita. – Você não vai se afastar de mim, não é? Por favor... Diga que não vai me deixar...

- Não! Eu... – Controla seu ímpeto de dizer o que sente, pois não é certo.

Uruha até poderia aceitá-lo, mas como saber se apenas não seria uma forma de aplacar a dor que deve estar sentindo? Afinal, Aoi está ciente de que o loiro ama o calhorda e acabou de ver um lado dele que nem o amor pode esconder.

O loiro o fita, curioso, ansioso por algo indefinido quando Aoi começa a falar, mas ele pára, ficando a observá-lo com um olhar indecifrável, deixando-o confuso. Pisca os olhos, querendo saber o que ele pretendia dizer, uma sensação estranha, mas em hipótese alguma ruim, bailando em seu peito.

- Vou te levar pro meu apartamento... Aqui não é seguro. – Passa o braço pelo ombro do amigo, tentando confortá-lo, mas mudando sua linguagem corporal, afastando qualquer conotação afetiva. – Amanhã vemos o que podemos fazer contra esse cara...

- Ok... – Uruha diz baixinho, uma parte de si ficando decepcionada com aquelas palavras, mas ao mesmo tempo gostando da preocupação dele. Sente-o passando o braço por seu ombro, aconchegando-o e Uruha dá um tímido sorriso, seguindo junto com o outro, a cabeça baixa.

- Você... Vai cuidar de mim, Yuu? – Uma expressão quase infantil se forma em seu rosto delicado.

"Que droga! Por que ele fala assim?" – Torna-se cada vez mais difícil para Aoi focar o pensamento racional, o seu tom indefeso sendo tão tentador...

Engole em seco, tentando disfarçar como isso o afeta.

- Sim, Kou. – Diz em resposta, se controlando.

Separa-se dele, procurando sobre a mesinha da entrada a chave da moto dele, tentando esquecer as 'coisas' que passam por sua cabeça, mas não as encontra e se volta para o amigo ainda parado no centro da sala, parecendo absorto na bagunça e em seu significado.

Takashima sente Aoi se afastar e seu peito dói de um modo que não sabe explicar. Abraça-se, vendo-o procurando algo e seus olhos percorrem a sala, reparando nos pratos quebrados, a mesa desfeita... A comida que fez com tanto carinho destruída, espalhada pelo carpete e fecha os olhos por um momento. Vergonha... Tristeza... Decepção... Se acumulando em seu peito.

- Kouyou, onde estão as chaves da moto? – Diz com seu lado mais prático.

- O que? – Indaga, piscando os olhos, fitando-o, ainda tentando entender o que ele diz, até se dar conta de que Aoi fala da moto. – Ela... Está no mecânico.

Shiroyama não esperava essa resposta, mas sabe que precisam partir. Kaoru não pareceu muito contente ao deixar o local e não sabe do que seria capaz. O negócio é sair e procurar um táxi, mesmo a essa hora da madrugada. Na verdade, pensando bem, será melhor caminharem um pouco para que possa se acalmar... Seus sentimentos lhe parecem evidentes demais.

- Então vamos. – Fecha o sobretudo para proteger-se do frio da noite. – Pegamos um táxi.

Uruha concorda com a cabeça, ainda olhando-o um pouco confuso pelo modo como ele está agindo, parecendo incomodado com algo. E o loiro quer entender o quê o perturba. Caminha em sua direção, mansamente, parando ao lado do moreno, até que o mesmo o incentiva a sair do apartamento, e logo se direcionam pelo corredor, chamando pelo elevador, que demora a chegar.

Descem, saindo do prédio em silêncio. Uruha se encolhe com o vento mais frio, envolvendo o braço de Aoi em resposta, sem realmente perceber o que faz, querendo, inconscientemente, um pouco do calor dele, olhando ao redor, não se lembrando onde tem um ponto de táxi por ali.

- Yuu... Onde... Vamos pegar o táxi? – Indaga, fitando-o, esperando que ele lhe responda.

- Vamos andando... Pegamos algum passando. – Percebe que o loiro sente frio e se condena por não ter pensado em pegar um casaco para ele. – Está frio, mas... Pelo menos parou de chover.

Passa o braço por seus ombros, o aproximando o máximo que pôde de si, procurando aquecê-lo. Caminham assim, muito juntos, Uruha enlaçando seu corpo, aninhando-se dentro de seu casaco, que abre para acolhê-lo... E o toque em sua pele o faz estremecer, muito mais que o frio.

Uruha suspira ao se ver envolvido pelo moreno, que o puxa para si e o loiro sorri timidamente, sentindo-se seguro naqueles braços, sua mão por baixo do casaco sentindo a quentura da pele, se aconchegando a ele, não reparando em nada ao redor. Caminham em silêncio e o mesmo não é opressor, mas sim cúmplice, fazendo-o se sentir melhor. Sua casa não é assim tão longe da de Aoi e talvez possam fazer o percurso a pé. Chegam à avenida principal... E o loiro somente sente vontade de deitar a cabeça no ombro do mais velho.

- Wow!! Oh loira gostosa! Deixa o tio e vem pro papai aqui... – Um rapaz, de aproximadamente vinte anos, diz, um sorriso malandro nos lábios, os outros três ao lado dele rindo e olhando avidamente o guitarrista de lábios carnudos.

- O que? – Uruha sussurra, fitando os quatro, não entendendo bem do que eles estão falando.

Ao ouvir os jovens mexendo com Uruha, Aoi reage, colocando-se diante dele, em atitude defensiva. Não teme por si mesmo, pois não é a primeira vez que têm que lidar com idiotinhas como esses, mas não sabe se o loiro está pronto para mais uma situação estressante nessa noite. E também, como pode saber se um dos otários está armado?

- Se eu fosse vocês nos deixava em paz. – Diz de forma incisiva, expressão dura no rosto.

Uruha vê Aoi se colocando a frente dele, protegendo-o dos quatro adolescentes, falando em um tom tão severo e sério que o surpreende. Os garotos recuam um passo, mas então eles o observam melhor, reparando enfim que é um homem... E parecem se irritar com isso.

- Ora, ora... Vejam só... O moreno quer proteger o namorado... Que coisa linda! – O rapaz fala de modo sarcástico e debochado. – Está levando ele pra qual beco pra comer?

- Ora seu...! – Uruha trinca os dentes, irritado e envergonhado, seus punhos se fechando, as palavras dele reverberando em sua mente, algo dentro de si saindo do lugar quando o garoto confunde Aoi com seu namorado.

- E aí, tio... Ele é gostoso? – As palavras são ditas, acompanhadas de uma sonora gargalhada de todos.

- Kouyou... Sai daqui! – Aoi o empurra para longe de si.

Precisa desesperadamente tirá-lo dali, pois teme a reação dos rapazes, e quer vê-lo em segurança. Sabe o que fazer com os babaquinhas, mas Uruha não, já se alterando diante das ofensas. Não que ele mesmo não deseje virá-los do avesso, mas não pode arriscar caso estejam armados.

- Yuu?! – O loiro pisca os olhos, confuso quando Aoi pede que ele se afaste. Pensa em protestar, mas o amigo está tão sério, que apenas assente, resolvendo chamar um táxi para saírem dali o mais rápido possível.

Quando o loiro se afasta, os quatro rapazes sorriem, estralando os dedos, se preparando para brigarem, observando o homem de sobretudo que se mantém no mesmo lugar, irredutível... E aquele olhar é de dar medo, mas... Eles têm a vantagem dos números, certo?

De longe, olhos negros apenas observam a cena, vendo Uruha distante, fazendo uma ligação, provavelmente chamando a polícia e permanece quieto, desejando que aqueles moleques quebrem o maldito Shiroyama.

- Pelo visto você come mesmo ele, não é... – Um rapaz de roupas negras diz, sorrindo sarcasticamente, resolvendo provocá-lo. – Mas até que te entendo... Ele é bem comível.

- Hehehe... Isso mesmo. Vamos quebrar esse idiota e estuprar o loiro coxudo na frente dele! – Um menor diz, cheio de coragem por estar com os amigos.

- Se eu fosse vocês... Saía daqui rapidinho. – Aoi não parece de forma alguma intimidado pela vantagem numérica deles. – Eu não gosto de ser interrompido nos meus encontros... E... Odeio ser chamado de 'tio'.

Os rapazes se agitam, desconfiados de sua atitude relativamente calma, mas acreditando que é um blefe. Um deles avança, o maior de todos, bem mais alto que Aoi, mas é atingido diretamente entre os olhos, gritando com a dor do nariz quebrado, o sangue saindo em profusão.

- Quem é o próximo? – O guitarrista olha para os outros. – Se eu derrubei ele... Vocês...

A postura do moreno os assusta, pois não esperavam essa reação em absoluto. Entreolham-se com medo, ajudando o ferido a levantar e fugindo depressa, antes que o estranho resolva persegui-los.

Aoi sorri, pois idiotas são iguais em todo lugar e geralmente são covardes. Derrube um e o bando foge em disparada. Olha Uruha distante, falando no celular, de costas, alheio ao término da situação. Sorri ao vê-lo trêmulo e indefeso sob a luz da lua que já começa a reinar no céu limpo. Tão lindo... Resolve ir até ele e acalmá-lo, sem notar que alguém se aproxima por trás, oculto pelas sombras.

Uruha tenta convencer a polícia de que o que ocorre é sério, ouvindo-os fazer várias perguntas, que dizem ser de praxe, mas aquilo o irrita profundamente.

"Aoi está enfrentando quatro rapazes, por que aqueles policiais idiotas não levantam o traseiro de suas poltronas e vem fazer seu trabalho?" – O nervosismo claro em sua expressão fechada.

Lança um olhar em volta, em busca de um táxi, mas a rua continua deserta e fria. Poderia começar a gritar por socorro, alertando algum porteiro de prédio, mas sabe que apenas se esconderiam atrás de seus balcões, temendo se envolver.

- Eu já disse o endereço! Eles vão machucar o Yuu. – Fala, exasperado, seu corpo tremendo, enquanto seus olhos continuam procurando por um táxi. Talvez se parar com o carro perto deles, os idiotas vão embora.

O loiro se vira, fitando a calçada, vendo que o moreno vem caminhando sozinho, calmo, um sorriso doce nos lábios... Ele não parece ferido e isso acalma um pouco Uruha, que se esquece do policial falando ao telefone, enquanto vislumbra o amigo querido, sorrindo para o mesmo, dando passos à frente em direção a Shiroyama.

Andando na direção do loiro, Aoi só consegue vê-lo, parecendo uma criança assustada, e é tão delicioso quando age assim de forma inocente. E todo esse medo é por ele... Por serem tão amigos. Observa quando se volta e sorri para ele, sentindo-se feliz por vê-lo assim apesar de tudo o que aconteceu.

- AOI, ATRÁS DE VOCÊ!! – Uruha grita, desesperado, vendo um vulto atrás dele, que não consegue identificar devido à sombra que o prédio faz sobre o indivíduo.

Quando a expressão do loiro se modifica e seu grito corta o ambiente, o moreno olha para trás, sendo atingido na cabeça com um pedaço de madeira antes que possa vislumbrar um rosto.

Ao ver o moreno caindo, um sorriso satisfeito se desenha nos lábios de Kaoru, que se delicia ao notar o sangue escorrer pelo rosto daquele idiota que ousou humilhá-lo. Segura com mais força o pedaço de madeira que pegou em um lixo, desejando esmagar o crânio de Shiroyama, que tenta roubar Uruha dele.

- Yuu!! – Uruha não pensa duas vezes, correndo na direção dele... E não se importa de se machucar... Só quer ter Aoi em seus braços... Bem!

- E quando você morrer... Eu vou fazer Uruha entender de uma vez por todas que ele é meu. – O advogado sussurra.

Prepara-se para atingi-lo de novo, mas a imagem do loiro correndo em sua direção o alarma. Não pode ser visto e com isso em mente, recua, entrando em um beco, sumindo na escuridão.

- Aoi!! – Uruha grita mais uma vez, chegando até onde ele está, o telefone já abandonado e desligado a essa altura, toda sua atenção voltada para o moreno caído no chão.

Tudo se turva na mente de Aoi, sua percepção como se desvanecendo aos poucos, sentindo um fino fio de sangue correndo por sua testa e chegando logo à boca, deixando um gosto estranho. Nestes seus devaneios parece ver Uruha, seu rosto emoldurado por uma luz difusa.

O loiro vê o atacante fugindo e se ajoelha ao lado de Aoi, segurando-o em seus braços, tocando com cuidado o ferimento, vendo um corte na cabeça dele, o sangue escorrendo por cima do olho esquerdo, manchando a bochecha do moreno, chegando aos lábios e Uruha quer chorar de nervoso, medo, desespero.

- Aoi! Aoi, fala comigo. Por favor... – Pede, enquanto lágrimas escorrem de seus olhos, sua mão direita dando tapinhas na face dele, tentando acordá-lo. – Acorda! Vamos... Fala comigo...

Os olhos chocolate vêem os negros se abrirem e seu coração pára por um momento. Suspende a respiração, fitando-o, esperando que ele fale algo. Perdê-lo traz um desespero inédito, numa sensação de vazio que jamais experimentou.

- Kou-chan... Me leva... Pra casa... – Não sabe se está imaginando sua presença.

O loiro ouve então o murmúrio, pedindo que o leve embora e... Os orbes negros vão se fechando... E Uruha começa a se desesperar de novo. Não pode permitir que algo aconteça com ele, por sua culpa... Apenas sua...

- Aoi, não! Fica comigo! Não me deixa... Abra os olhos... – Pede, olhando para os lados, não vendo ninguém, praguejando.

Seus orbes então captam um carro vindo, a plaquinha escrito 'táxi' chamando sua atenção, então, delicadamente, Uruha o coloca no chão e se levanta, fazendo sinal para o mesmo parar e assim que o faz, o loiro abre a porta de trás.

- Espere um pouco. – Diz em tom sério, quase agressivo e volta à calçada, segurando o moreno, erguendo-o.

Seu pulso e costas reclamam, devido à agressão que sofreu, mas isso é insignificante... Entra com ele no táxi, sob o olhar assustado do motorista, falando o endereço ao qual deve ir.

- Rápido, por favor. – Diz, seus dedos acariciando a face de Aoi.

ooOoo

A luz que se espalha pelo ambiente é fraca, deixando-o na penumbra. As janelas estão fechadas para impedir que o vento frio entre e as cortinas cumprem seu papel de ajudar a manter o quarto não muito claro nem muito escuro. Na cama de casal, um jovem de madeixas negras se encontra inconsciente sob o olhar atento do companheiro de banda, que o fita com atenção.

Uruha se encontra sentado ao lado de Aoi, seus dedos passando suavemente pelo ferimento, agora já tratado, escorregando pela face dele com um cuidado ímpar, extremamente preocupado, desejando afoitamente que ele acorde o mais rápido possível.

- Yuu... Acorda... Abra os olhos pra mim... Por favor! – Pede num tom doce, preocupado, carinhoso. Ele tem que acordar logo, antes que enlouqueça.

Uma voz doce corta o silêncio, alguém o chama, tentando resgatá-lo do vazio em que se encontra. E em seus delírios parece ser Kouyou, falando de uma forma que nunca ouviu, mas... São apenas seus desejos manifestados ali, materializados na impressão de ouvi-lo.

- Te a-amo... Sai... Não me... Engana... – Aoi tem a impressão de mover os braços, tentando afastar suas ilusões perturbadoras.

Sussurros abandonam aquela boca delineada, fazendo Uruha se sobressaltar, entreabrindo os lábios como se fosse dizer algo, mas as palavras não saem. O que Aoi está falando? Quem... Quem ele ama? Aquilo o alarma, deixando uma sensação estranha em seu peito, sentindo então aquela mão se mover, como se tentasse afastá-lo...

- Yuu... Yuu!! – Chama ainda com suavidade, mas mostrando urgência, segurando a mão dele, entrelaçando seus dedos, enquanto se aproxima mais.

- Acorda! Por favor, acorda... – Pede, aflito, curvando-se sobre o moreno, seus dedos deslizando pelos cabelos negros, seu rosto perto do dele, separados por menos de dez centímetros. – Abra os olhos...

Os olhos de Aoi se abrem devagar, vislumbrando a imagem turva de Uruha, tão próximo que pode sentir seu perfume e o toque suave dos fios loiros sobre seu rosto. Seu corpo curvado sobre o seu, tão quente... E antes que a razão volte a comandar suas ações, sua mão passa por sua nuca e o traz mais para perto de si, tomando-lhe os lábios em um beijo suave, mas intenso.

Uruha vê aqueles olhos se abrirem em expectativa, um sorriso doce e contente se desenhando em seus lábios, aliviado apenas por vê-lo acordar, porém, antes que possa dizer qualquer palavra, sente os dedos da mão dele em sua nuca, puxando-o e quando dá por si... Aoi simplesmente o beija!

A primeira coisa que sente é choque! Jamais esperava uma situação como aquela... Uma ação daquele nível da parte de Aoi. Os lábios dele estão nos seus, a boca quente se movendo sobre a sua lentamente, provando-o, aquecendo-o por completo. Sente o perfume e o gosto dele... Inebriando-o... Envolvendo-o... E seus olhos se fecham devagar, deixando-se ser beijado...

O desejo do moreno é permanecer ali eternamente, mas se dá conta do que faz... De como se deixa levar por seus sentimentos, desrespeitando a amizade que o loiro lhe devota. Separa-se então do contato, empurrando-o para longe de si, murmurando maldições contra si mesmo.

- Yuu? – Sussurra ao ser empurrado com força, o ato doce findando abruptamente.

O guitarrista moreno tenta se levantar, mas sente-se tonto, um de seus joelhos fraquejando e se dobrando. E mais do que seu físico, sua mente está confusa, perdida no medo de ter atravessado o limite que há tanto tempo luta para manter.

Uruha também se afasta da cama, ainda sem saber o que dizer, sem nem sequer entender o que está acontecendo, mas antes que possa questionar qualquer coisa, o moreno mais uma vez vai ao chão, fraco demais para se manter de pé, ficando ajoelhado diante dele.

- Não... Desculpa... Me perdoa... – Diz em um tom aflito, ainda zonzo demais, perdendo mais uma vez a consciência.

- Aoi! – Uruha vai em seu socorro, segurando-o, fazendo com que se deite na cama novamente, praguejando ao vê-lo inconsciente mais uma vez

O que foi aquilo? Aquele olhar... Aquele beijo... A língua macia dentro de sua boca, vasculhando seu interior, lentamente, despertando sensações e... Uruha não se sente nervoso, traído, nem enojado... Apenas sente o calor daqueles lábios ainda em sua boca, o gosto dele ainda impregnando seu paladar e... Por que Aoi fez isso? Por que o beijou com tanto... Carinho?

- Yuu... Por quê? – Sussurra bem baixinho, ainda fitando-o, seus dedos voltando a acariciar a face do moreno, se deitando ao seu lado.

Não cuidara de seus ferimentos, pois para si aquilo era irrelevante no momento. Apenas Aoi importava... Só o bem-estar dele lhe interessava. O amigo é tão doce, gentil, preocupado... Estar perto dele é muito bom! Gosta de vê-lo sorrir, de ouvir os seus conselhos... Ou somente escutar sua voz. Não entende o que aconteceu, mas...

- Yuu... – Fala bem baixinho, os dedos percorrendo os lábios, seus olhos fechados e sem nem perceber, Uruha adormece, exausto pela agressão e principalmente, pela carga forte de emoções.

Continua...

ooOoo

Minha primeira fic de J-Rock e um pedido especial feito pela minha amiga e beta Yume Vy, que me desafiou a fazê-lo. E como sou alguém que adora um desafio e jamais fujo de um... Aqui está o resultado. Espero que ela te agrade tanto quanto foi prazeroso escrevê-la.

E por você ter me desafiado... Essa fic é sua, como um presente para ajudá-la a deixar os tempos ruins para trás e voltar com todo o seu talento para nós... Fãs enlouquecidos dos seus textos.

Essa fic também é um presente para minha amiga e beta Samantha Tiger Blackthorne, que como sempre me apoiou e a betou com muito carinho, deliciando-me com seus comentários.

Espero que gostem e COMENTEM!!

24 de Agosto de 2008

04:29 PM

Lady Anúbis