Esta fic é uma adaptação da crônica "O Verdadeiro Você" do livro As Mentiras que os Homens Contam de Luis Fernando Veríssimo.
COMENTÁRIO
Obrigada Nessa, por sempre estar disposta a ajudar. E também agradeço à Ale por ter me ouvido ( inúmeras vezes ).
Roxton está sentado na sala limpando suas armas. Enquanto limpa lembra-se de uma frase que ouviu há alguns anos em Londres.
"Um homem só conhece a si mesmo em duas situações: Quando está sob a ameaça de uma arma ou quando quer conquistar a mulher amada".
Quando ouvi essa frase meu ego inflou, me sentia um símbolo de virilidade. Por diversas vezes estive sob a mira de uma arma, mas nunca me abalei e, até então, nunca havia tido um segundo sequer de hesitação ante uma mulher, nem consigo contabilizar quantas passaram por minhas mãos, mas isso não vem ao caso.
Muitas vezes em minha vida fui testado pela ameaça de morte iminente, mas sempre me mantive inabalável, isso me levava crer que era integrante da exígua categoria dos "homens controlados" (que pensam com racionalidade). Mas estava errado, fui bruscamente subtraído do rol dos "controlados" no momento em que avistei Marguerite Krux pela primeira vez.
Já ouvi algumas idéias sobre essa frase, uma delas a de que ambas são situações estressantes que podem levar um homem ao total descontrole emocional, concordava com essa teoria pois, apesar de nunca ter acontecido comigo, vi muitos à minha volta sucumbirem, a maioria absoluta pelo laço de uma mulher. Entretanto, hoje, penso que não se trata de descontrole emocional, mas sim de um homem descontrolado. O descontrole é o estado natural do homem, o controle é o disfarce que só é desnudado em situações extremas. Cheguei a essa conclusão após uma análise de algumas atitudes minhas desde nossa chegada ao plateau.
Quantas atitudes ridículas, como a da vez em que, em visita aos Zangas, parei à sombra de uma árvore para verificar meu rifle e, de vez em quando, observava quão animada estava a conversa entre ela, Verônica, Finn e Assai. Pelo menos essa é a imagem que espero ter passado para quem pudesse estar a me observar. Apesar de tudo, creio que a verdade (que eu me posicionei estrategicamente junto a arvore para descobrir se a animação da conversa estava baseada em algum guerreiro da aldeia, o rifle foi apenas um subterfúgio!) não passou despercebida aos olhos de Challenger e Malone, mas não comentaram nada sobre o assunto.
Este tolo escondido atrás de uma árvore, não o renomado caçador, homem respeitável, comedido, um Lorde, esse tolo sou eu. Todo o resto é o envoltório do tolo essencial. Tudo o mais é imagem, disfarce. Nunca fui tão genuíno quanto atrás daquela árvore.
Isso sem falar nas coisas que fiz para senti-la mais perto, mesmo quando se portava tão arredia. Durante as caminhadas roçava, "acidentalmente" meu braço em sua pele macia, fazia o máximo para ficar perto dela, provocava-a para vê-la zangada (ela fica linda quando está brava!). As atitudes corajosas que tomei tentando impressioná-la. Pior, as atitudes corajosas que foram motivadas por ciúmes, meus ciúmes. O pavor que sentia cada vez que a via em perigo, o medo de perdê-la em alguma de nossas tantas aventuras pela selva, quantas vezes optei por colocar a minha vida em risco para que a dela não fosse ameaçada. Tantos bilhetes que escrevi e nunca entreguei. Passei dias e dias só penando nela. Tantas coisas para fazer e o nome e, principalmente, a imagem dela dominando meus pensamentos.
E o quanto sofri quando pensei que não fosse dar certo, como um adolescente. Eu era aquele adolescente.
Agora estou usando o disfarce de caçador, o tolo essencial está em recesso provisório e, enquanto a observo, ali na sacada, em meio à suas costuras, tendo sua beleza ressaltada pela incidência dos raios do sol poente, vejo que toda essa teoria possa estar errada, afinal, como um tolo conseguiria chegar ao coração da mulher mais prodigiosa deste mundo. Ou talvez eu seja um tolo com muita sorte.
Fim.
