Conhecendo a Discípula

Em um dia qualquer, numa tarde no Santuário, Athena solicitou a presença de Dohko, que acabara de chegar da China após passar um tempo com seu discípulo Shiryu e com Shunrei. Chegando na presença da deusa, o libriano fez uma reverência para logo ela começar a falar.

– Seja bem vindo de volta, Dohko. É sempre bom tê-lo aqui por perto.

– Muito obrigado, senhorita. É sempre bom estar de volta.

– Dohko, você foi e ainda é um excelente mestre para o Shiryu.

– Ele é um ótimo pupilo.

– Sim,eu sei. Agora chegou a hora de você treinar outros aspirantes, o que me diz?

– Adoraria. É muito bom novos desafios. Tem alguém em vista?

– Sim, tenho e já chegou.

– Já? E onde ele está?

– Na vila das amazonas.

– Então é uma garota? E por que ela não pode ser treinada pela Marin ou Shina?

– Porque, digamos, ela precisa de alguém com mais paciência e sabedoria para conseguir se tornar uma amazona. Não que a amazona de águia ou cobra não sejam boas mestras, mas não são ideais para a garota. Então, posso contar contigo?

– Claro. – respondeu o libriano um pouco preocupado.

– Ótimo! Vou mandar um recado para que amanhã cedo ela se mude para sua casa.

– Está bem.

– Dohko, só mais uma coisa. Por favor, não desista dela.

– Por que o pedido, senhorita?

– Porque ela não é como o Shiryu, não tem seu coração tranqüilo. Possui um grande potencial, porém disciplina alguma.

– Entendi. Não importa o que aconteça eu não desistirei dela.

– Obrigada.

Ao sair dali, lembrou-se de Ohko, um antigo pupilo bem indisciplinado que competia a armadura de dragão junto com Shiryu. Tinha um grande potencial, teria sido um cavaleiro muito forte, porém seu coração não era puro como de seu concorrente. Ohko era fácil de ser corrompido e isso poderia causar problemas futuros para a deusa, por isso foi necessário ser expulso das cinco montanhas. Dohko sentiu um pesar ao lembrar do ex- pupilo, questionava hora ou outra se deveria ter tentado mais um pouco antes de desistir de vez dele. Agora, uma situação parecida iria ocorrer novamente em sua vida, mas não desistiria da aspirante de forma alguma. Até porque foi um pedido da deusa e faria de tudo para cumpri-lo com eficiência.

Na vila das amazonas, um servo levou um comunicado da deusa para Marin que leu junto a Shina.

– Quer dizer que a pestinha vai embora daqui? – disse a cobra.

– Coitado do Dohko. – respondeu a águia.

– E maravilha pra nós! Estava a ponto de esganar a garota. Devíamos comemorar.

– Não é pra tanto. – tentou amenizar Marin

– Não? Tenho certeza de que farão uma festa quando ela sair, você vai ver.

– Vamos até ela para comunicar sua partida amanhã para a casa de libra.

As duas amazonas se entreolharam e foram até o alojamento falar com a garota.

– Natasha, precisamos falar com você. – falou Shina em pé na porta.

– Que foi? – respondeu a garota.

– Isso lá é maneira de falar?

– Ah, tá bom. Diga.

– Athena teve misericórdia de nós, nos livrando da sua presença e ...

– Shina! – interrompeu Marin.

– E você vai passar a ser treinada pelo cavaleiro de ouro de libra, indo morar na casa dele.

– Isso não é justo! – gritou Isis, uma das aspirantes do lugar. – Essa garota aí não faz nada direito e nem quer ser amazona. Por que ao invés de ser expulsa ela vai morar no bem bom na Casa de Libra com servas e tudo mais? Além de ser um desperdício para Dohko treinar essa coisa inútil. – completou

– Cuidado, o ministério da saúde adverte: inveja mata! – debochou Natasha.

– Cheguem meninas! Amanhã cedo, quero te ver pronta para se apresentar na Casa de Libra, ouviu bem? Athena está sendo muito generosa com você e ainda não entendi por que, então vê se não estrague tudo dessa vez.

– Pode deixar, Shina. Vou me dar benzão naquele lugar. – falou a aspirante em um tom suspeito.

– Agora vão dormir, é tarde. – disse Marin apagando as luzes e saindo.

– Você é uma praga mesmo. Deve ter vendido a alma para Hades pra ter esse privilégio. – falou Isis muito irritada.

– Se eu tivesse vendido minha alma pra Hades, com certeza não iria desejar ser uma amazona e ir treinar com um cavaleiro de trocentos anos. Eu seria muito louca pra desejar isso ao invés de grana e outras coisas. Agora vá, me deixa dormir.

– Natasha você vai ser dar muito mal lá.

– Obrigada pelo incentivo, agora cala logo essa boca e me deixa descansar.

Natasha tinha 16 anos, era uma garota ruiva, de cabelos curtos na altura do queixo, liso e todo repicado. Tinha a pele clara e com algumas sardas. Era uma das menores do lugar e aparentemente frágil, por ser bem magra. Seus olhos eram castanhos esverdeados e possuía uma boca pequena e um nariz arrebitado, dando um ar atrevido ao seu rosto.

No dia seguinte, milagrosamente a garota tinha tudo pronto desde cedo e aguardava Marin chamá-la para ir.

– Natasha, vamos! – falou a amazona ajudando a garota com uma mala.

As duas seguiram em silêncio, enquanto os olhos curiosos da aspirante visualizavam a proximidade com as doze casas. Chegando na de Áries a amazona largou a bagagem no chão.

– Pode seguir daqui sozinha, preciso voltar para a vila. – falou se retirando em seguida.

– Mas que merda, viu? Vou subir isso tudo cheia de coisas. –dizia a garota olhando o longo caminho.

– Seja bem vinda. – falou alguém se aproximando com um sorriso gentil.

– Oi.

– Sou Mu de Áries, guardião da primeira casa. Você deve ser a pupila de Dohko.

– É é, sou eu sim. – falou a garota olhando estranho para o rosto do ariano. – É impressão minha ou você não tem sobrancelha mesmo? – perguntou enfim deixando-o sem jeito. – Meu nome é Natasha. – falou esticando a mão para o ariano.

– Prazer Natasha.

– Mu, então, você pode me dar uma mãozinha aqui com essas malas?

– Sim, posso te ajudar. Vou te tele-transportar diretamente para a Casa de Libra.

– Nossa, que maneiro. Me ensina isso depois?

– Bem, não sei se vou poder, mas...

– Ótimo! Combinado assim! Qualquer dia desses eu dou uma passadinha aqui e você me ensina.

O ariano observava a garota vendo que seu amigo iria ter trabalho. Com um movimento, a tele-transportou para a sétima casa.

– Isso foi demais! Ah, se eu tivesse esse poder. – falou a garota para si mesma, se deparando em seguida com a figura de um cavaleiro.

– Seja bem vinda.

– Valeu. Sabe onde posso encontrar Dohko? Sou Natasha, sua pupila e gostaria de falar com ele.

– Eu sou Dohko.

– Ah, não brinca vai. Ninguém com duzentos e vários anos pode ter essa sua cara de vinte. – respondeu notando uma expressão bem séria no rosto dele. – Você não está brincando mesmo, está?

– Não! Sou Dohko de libra, seu mestre de hoje em diante. – falou deixando a garota boquiaberta.

– Taí, irá me ensinar como vencer a idade, pois te imaginava todo carcomido e me aparece você, todo inteirão. Precisa me dizer depois seu segredo, ouviu? – falou a ruiva dando uma piscadela pra ele.

O cavaleiro resolveu ignorar o comentário e de certo ponto, o achou engraçado. Ele a conduziu até o quarto onde ficaria, deixando as bagagens dela em um canto.

– Fique à vontade. De hoje em diante, essa aqui será sua casa também.

– Pode deixar, já me sinto em casa. – respondeu se jogando numa cama de solteiro, perfeitamente arrumada.

– Vai se trocar, iremos treinar daqui a meia hora.

– Mas já? Acabei de chegar. Não podemos levar um papo hoje e amanhã ou depois para assim começarmos?

– Não está de férias aqui, Natasha. Seus treinos continuarão ocorrendo normalmente. Agora anda, não gosto de atrasos. – disse o libriano se retirando do quarto.

"Que chato! Pelo menos é bonito. Credo, nunca pensei que fosse achar um cara de quase trezentos anos gato. " pensava enquanto se arrumava.

A ruiva se arrumou rápido e em menos de trinta minutos, foi ao encontro do mestre que a esperava do lado de fora.

– Cadê a sua máscara? Athena liberou o uso no Santuário, mas nos treinos e nas batalhas ainda se faz necessária.

– Ela me dá coceira. Está muito quente hoje. – respondeu a garota recebendo um olhar de completa desaprovação pela sua postura. – Está bem, vou pegar aquela porcaria.

Não demorou muito e ela voltou com o objeto no rosto. Os dois desceram em seguida indo para uma arena isolada.

– Hoje treinaremos aqui, sozinhos, para nos conhecermos melhor. Nos outros dias, compartilharemos uma arena com outras pessoas. Faça um aquecimento para começarmos.

A ruiva começou a dar voltas pelo lugar para em seguida fazer um alongamento puxado, por sinal.

– Treinaremos uma seqüência de chutes e socos para eu saber o nível em que está.

Ao dizer isso, se puseram em posição de luta para em seguida, o libriano a atacar em diversos pontos, testando suas habilidades. Natasha desviou uma boa quantidade de golpes, surpreendendo seu mestre, porém se distraiu com algo sendo acertada em cheio.

– Você está bem? – falou o libriano preocupado.

– Estou, ai.

– Estava indo tão bem, o que houve? – após fazer a pergunta, um barulhinho agudo e insistente chamou sua atenção, levando-o a querer identificar a origem do som.

Nessa hora, a garota se levantou apressada indo em direção a sua sacola de treinamento, que continha água e outras coisas. A ruiva pegou um objeto eletrônico com uma expressão preocupada.

– O que é isso?

– Meu bichinho, olha, ele está com fome.

– Bichinho?

– Vou te explicar. Isso aqui é um Tamagotchi, um animal de estimação eletrônico. Você cuida dele como se fosse de verdade, ó. – falou a garota mostrando o brinquedo para o mestre que olhava aquilo incrédulo. Tá vendo? Ele estava azul de fome , tadinho.

– Você se desconcentrou dos meus ataques, podendo ser machucada seriamente por conta disso?

– Ei, não chama o Fofo de "disso".

– Não posso permitir esse tipo de distração nos meus treinos. Desliga essa coisa, por favor.

– Não! Vai matá-lo assim, seu desalmado. – falou a garota abraçando o "bichinho".

Dohko não sabia como agir pela primeira vez como mestre. Era uma situação tão sem noção que o deixou sem ação.

– Teremos uma conversinha sobre o Fofo depois. Anda, precisamos terminar o treino.

No geral, a garota se saiu muito bem, apesar de mais uma interrupção do brinquedo. Ao final do dia, a ruiva voltou exausta para a casa com seu mestre. Na subida, se deparou com Shaka de olhos fechados, na entrada da Casa de Virgem. Natasha olhou curiosa aquela figura parada diante dela.

– Boa tarde, Shaka. – falou Dohko

O virginiano não disse nada, apenas fez um gesto com a cabeça como cumprimento.

– Essa é Natasha, minha pupila. E esse é o cavaleiro de ouro de virgem.

– Olá! Me diz uma coisa, você não é indiano?

– Sim eu sou.

– Como pode ser tão loiro? Juro, te imaginava bem diferente. Se bem que imaginava meu mestre um velhinho caduquinho, mas também quebrei a cara. De qualquer forma, prazer em conhecê-lo vizinho.

– Melhor irmos, até mais Shaka. – falou Dohko completamente sem jeito pelos modos de sua pupila e a tirando rápido dali antes de arrumar algum tipo de confusão com o virginiano, pois ele não era do tipo paciente com comentários de certas naturezas.

– Não sabia que Athena tinha uma cota de deficientes para cavaleiros, como nas empresas. Coitadinho, tão bonito e ceguinho.

– Shaka não é deficiente visual. Ele mantém seus olhos fechados para acumular uma enorme quantidade de cosmo para usá-lo contra inimigos em potencial.

– Que maluquice. Ficar de olhos fechados e não ver as coisas ao redor só pra acumular energia para um possível inimigo forte. Tá doido. – falava a garota adentrando a sala.

– Deveria ter mais respeito ao falar de Shaka, pois é o cavaleiro mais próximo de Deus.

– Pra um cavaleiro próximo de Deus ele me parece bem antipático. Bem, mas isso não tem importância, preciso é de um banho. Estou fedendo horrores, só não estou pior que você. – disse a garota indo em direção ao banheiro.

Dohko observava aquela garota tagarela e sem papas na língua, vendo ser o completo oposto de seu querido pupilo Shiryu. Teria muito trabalho não apenas nos treinos, mas por ver que ela arrumaria constantes problemas com seu jeito, deveria estar sempre alerta para evitar dores de cabeça. Sua casa nunca mais seria tranqüila dali por diante.