O canto das bruxas - Sete Ventos - Prólogo

Podia sentir, os sete ventos dos sete reinos que agora estavam a minha procura. Não me perguntem como fiz para vir parar nisso, tudo começou há tanto tempo que nem mais consigo me lembrar do motivo pelo qual tantas pessoas estavam atrás de mim. Agora estava eu novamente aqui, enfrentando as varias árvores das florestas do reino da Lua para poder fugir dos guardas do rei daquele reino. A noite já dominava aquele reino, com as estrelas brilhando pálidas no céu enquanto a bela lua parecia ainda mais bela nos céus daquele lugar, com a luz azulada ao invés de prateada iluminando o caminho a minha frente.

Meus olhos funcionavam melhor na escuridão da noite do que de dia e por isso não me perdia naquela vasta floresta coberta pelo manto da noite. Ouvia os gritos atrás de mim enquanto forçava minhas pernas a correr o máximo que conseguia, passando pelos troncos das árvores o mais rápido que conseguia. Mas os Lobos de Prata, típicos daquela região, farejavam meu cheiro e seria ainda mais difícil escapar daqueles que me perseguiam.

A capa negra que usava para cobrir minha aparência tão peculiar dos olhares de outras pessoas, balançava ao vento enquanto corria, me atrapalhando um pouco, mas era impossível me livrar dela, porque sem ela, logo me achariam mais uma vez e eu nunca estaria livre. O brilho azulado que passava entre os galhos iluminava o chão terroso a minha frente, coberto por galhos secos e folha, tudo isso que se amassava debaixo de minhas botas negras de couro logo depois que passava fazendo um pequeno ruído que sumia atrás dos uivos dos lobos.

Minha respiração já começava a ficar pesada e dificultosa, minhas pernas já começavam a doer e sabia que se não achasse um lugar para me esconder eu seria pego naquele mesmo dia, seria levado para o castelo e lá meu destino seria julgado. Provavelmente morreria, fazia anos que eles me consideravam uma ameaça, uma aberração, um demônio. Apesar que, se fosse olhar minha historia, veria que não haveria motivos aparentes para me acusarem disso. Claro que depois de anos me tornei um assassino, mercenário e até mesmo ladrão, mas foi porque me obrigaram a isso!

Deixe-me explicar e esclarecer a situação enquanto ainda tenho tempo. Quando era pequeno meus pais me abandonaram na casa de uma velha senhora que me adotou apesar de minha estranha aparência. Enquanto outras pessoas possuíam cabelos das cores variadas de: castanho, ruivo, loiro e preto o meu era peculiarmente negro com pequenas pontas esbranquiçadas e meus olhos de um extraordinário prateado. Por causa dessa minha aparência tão diferente da julgada normal ganhei imediatamente o titulo de demônio, monstro entre outras coisas que danificariam minha moral. Apesar disso cresci como um garoto normal, vivendo com essa senhora até meus exatos dez anos. Foi quando a senhora que cuidara de mim fora encontrada estranhamente morta em sua casa, dilacerada, assassinada sem um pingo de compaixão.

A culpa veio para mim, por causa das acusações anteriores de demônio. Fui obrigado a fugir das autoridades e assim me perdi entre os maiores centros urbanos do reino que nasci. O reino da árvore de Sakura. Por mais que esse reino tivesse fama por ser muito belo e seguro, nos grandes centros existiam gangues de malfeitores e uma delas me acolheu. Até meus quinze anos eles utilizaram de mim, me fazendo como o assassino deles, o "cão de briga" pode se dizer. Aos meus dezesseis me cansei daquilo, cansei de ser usado e taxado de lixo, por isso fui embora e me tornei o mercenário que sou hoje, assassinava quando me contratavam, roubava se fosse preciso, tudo para arrumar dinheiro.

Talvez por isso agora estavam me perseguindo, mas a culpa era toda deles! A culpa era deles por eu ter me tornado o que sou! Se não tivessem me acusado eu nunca precisaria ter me tornado o que sou e agora me encontro nessa deplorável situação. Correndo para me manter livre, para não sofrer as conseqüências de meus atos.

Chegou um momento que a floresta finalmente terminou e eu me vi encurralado entre os lobos de pelos prateados atrás de mim e um enorme desfiladeiro que separava os limites do reino da Lua do reino da Selva. Os cascalhos que foram empurrados por meus pés quando pararam ecoaram pelas paredes daquele enorme vala logo que atingiam alguma pedra saliente em seu caminho e finalmente alcançarem o chão. Não se dava para ver onde aquilo terminava, e pelo barulho longínquo que fora transmitido pelas pedras era bem provável que não seria uma queda muito aconselhável.

Olhei para trás, vendo os quatro lobos que agora impediam que eu voltasse pelo o caminho que cheguei, atrás deles apareciam os guardas, com suas espadas, bestas e machados. Não havia a mínima chance de correr para os lados, os lobos me pegariam, não era possível burlá-los para passar direto por eles estava encurralado. Um deles se aproximou, passando entre dois dos quatro lobos e se posicionando na frente deles, a poucos passos de mim. Com o capuz tampando meu rosto o encarei, esperando que se pronunciasse.

- O jogo finalmente acabou para você garoto. Hora de se entregar. – a voz era madura, talvez de um homem de quarenta anos, mas não dava para ver seu rosto, que era tampado pelo capacete que fazia conjunto com a armadura típica do reino. Eu me recusava a acreditar que aquele era o fim, depois de quatro anos fugindo, depois de ter passado esse tempo todo escapando terminava assim por assim. Recuei um passo, mas então senti a beirada do precipício e sabia, ou era me entregar e adiar um pouco minha morte ou era morrer ali e agora.

Não sei vocês, mas eu não queria morrer naquele instante, tinha muitas coisas que queria saber antes de morrer e se fosse capturado ainda tinha chance de escapar. Deixei-me cair de joelhos no chão, indicando que me rendia finalmente. O homem que tinha falado se aproximou, me derrubou violentamente no chão e retirou a bainha que tinha pendurada em minhas costas, ainda contendo minha espada dentro. De maneira brusca ele fez minhas mãos ficarem nas costas e então as amarrou com uma forte corrente que trazia em uma bolsa. Uma outra fora colocada em meu pescoço, uma coleira de metal que era conectada a uma corrente que usariam para me puxar.

Naquele instante, enquanto a lua azul brilhava sobre mim eu vi, refletida nela, o rosto de uma bela garota. Nunca a tinha visto antes em toda minha vida, mas no mesmo instante que desapareceu um forte vento soprou, não era forte o bastante para nos arrastar, mas fora mais forte que qualquer vendo que já tinha sentido em toda minha vida e fez o capuz que usava cair para trás mostrando meu rosto que por muito tempo escondi. Meus olhos se voltaram para cima. Podia ter jurado que tinha ouvido uma voz ecoando com aquele vento... Mas isso não era possível...