Natura

Talvez Ginevra não acredite – se é que pode-se acreditar em algo quando se está morto – mas Draco se apaixonara por ela. Ele amava os olhos espertos, os cabelos vermelhos, as sardas escuras. Tinha a beleza imperfeita dos mortais, e ele a amara. Até porque, Draco sempre fora dado a fraquezas e idiotices.

Ele a observava, e quando ela se aproximava, era grosseiro e rude, porque a amava. E ela o odiava, claro, pois beleza não é tudo. Ela queria um homem gentil, e tinha um marido perfeito para seus planos.

Nunca se perguntou, de verdade, a respeito do vizinho mal-educado, porque não era dada a especulações a respeito de seu efeito. Era tolamente fiel, como só os mortais são capazes.

Meu querido Draco, não era um mortal, portanto, eu não me importava. Ele podia desejar a humana o quanto fosse, pois aquilo acabaria logo, e ela murcharia como uma flor no verão enquanto eu, Astória, continuaria belíssima e desejável. Seria para os meus braços que ele voltaria no final, como sempre tinha sido.

Ele sempre teve uma queda por ruivas, admito. Mas não sabia se controlar, e se tivesse dependido dele, eu estaria mais que morta. Ainda bem que nunca dependeu.

Foi uma noite como qualquer outra, a que ele confessou seus sentimentos. Bem, ao menos para mim foi uma noite qualquer.

Não para pobre Ginevra, tão assustada e tão relutante a princípio. Seus filhos estavam longe, e seu marido também. E o meu marido sabia como ser tentador nestes momentos, com sorrisos e toques, seduzindo-a para o que chamariam, quando fomos feitos, de pecado.

Hoje em dia, é tão comum, até banal.

E eu vibrei junto com ele, de prazer, quando a mordeu. Os dentes afundando na carne, o sangue saindo e sujando a boca pálida dele da cor dos cabelos dela. A maior parte de nós procurava a jugular, mas Draco não gostava disso.

"Muito rápido" ele dizia, e então mordia a femoral e sugava-a levando a vítima a ao êxtase junto com ele, até que ela estava morta de prazer, e ele mais forte e bem alimentado. E sabia fazer os furos desaparecerem, ninguém saberia ao certo o que acontecera.

Eu sei que Draco amou Ginevra, porque chorou depois de matá-la. Eu o consolei, e ele martirizou-se por algumas horas, antes de conseguir fazer parecer uma morte natural.

Ele a amava, sim. Mas nunca poderia mudar sua natureza, portanto, ela precisava morrer para saciá-lo. Aquela noite, eu o consolei em meus braços. E depois de um tempo, eu o consolei de outras formas.

Mas foi o nome dela que ele chamou.