Avisos: Olá! Essa é a minha primeira Fic, eu espero que gostem. Está sem betagem, por isso me perdoem por eventuais erros gramaticais e toda e qualquer correção será bem vinda! Assim como críticas, comentários ou (quem sabe?) elogios. Irá decorrer sobre toda a história de Sirius até o sétimo ano, por isso vai ser looonga. E terá slash. SiriusxRemus. Se não gosta, por favor, não leia. Aproveite a leitura.


O primeiro sentimento experimentado por Sirius Black foi o amor. Mesmo quando era apenas um óvulo fecundado, quando não tinha um cérebro, um coração ou mesmo um corpo e uma alma, amou seus pais por terem lhe dado a vida. Amou o útero da mãe, quente e macio, amou os cromossomos que seu pai e sua mãe haviam lhe dado e que formariam, na sua humilde opinião de embrião, um ser humano perfeito.

Nove meses depois, sua mãe lhe mostrou o mundo exterior. E Sirius Black amou cada pedaço dele. Amou o sol, quente e brilhante, amou o ar, suave e macio, amou a água, fresca e revigorante. Amou seu nome, Sirius Black. O nome da estrela mais brilhante do céu. Mas nunca houve algo que ele amasse mais que as pessoas. Sirius tinha uma paixão natural pela vida, mas nada o fazia feliz tanto quanto esses seres que chamamos de humanos.

Sirius amava sua mãe, mesmo que ela fosse fria e não lhe pegasse no colo, amava seu pai, mesmo que ele fosse ausente e não agisse com o mínimo de carinho, amava seu irmão, mesmo que ele fosse mimado e roubasse toda a atenção que ele tinha. Sirius amava sua família, seus empregados e até mesmo os estranhos que via na rua.

Sirius amava, e era isso o que ele fazia.


Um dia, quando Sirius mal havia completado sete anos, sua babá Leah levara ele e o irmão mais novo, Regulus, para um passeio no parque. Com apenas cinco anos, Regulus era pequeno demais para andar sozinho pelo parque, mas Leah julgou que já estava na hora de Sirius ganhar um pouco de liberdade e cedeu aos seu pedidos para que pudesse explorar o terreno.

No começo, Sirius seguiu o caminho asfaltado do parque mas logo se entediou e resolveu caminhar pelo bosque. A mata fechada, o chão meio úmido, o cheiro fresco de natureza, tudo era convidativo a uma aventura. Sirius achou que seria uma boa idéia subir numa árvore para ter uma vista mais panorâmica da paisagem. Começou a escalar uma árvore com vários galhos que pareciam ser firmes, mas um se quebrou, derrubando Sirius de uma altura considerável.

Quando atingiu o solo, Sirius sentiu algo em seu pé se quebrando. Apesar da dor, Sirius segurou o choro e tentou se manter de pé. Mas a dor era imensa e fez Sirius cair no chão, desolado. Nos primeiros momentos Sirius se sentiu excitado, pois afinal aquela era uma aventura de verdade. Algo que julgou poder contar aos netos como um feito heroico. Mas Sirius havia se afastado demais de Leah e os questionamentos de como ela iria encontra-lo invadiram sua mente tão rápido quanto o desespero invadiu seu coração.

- Socorro!

Gritou.

- Socorro! Alguém me ajude! Eu acho que quebrei o pé e não consigo andar!

A medida que gritava, sentia seus olhos ardendo e as lágrimas finalmente cedendo, escorrendo quentes pelo rosto.

- Eu preciso de ajuda!

Sirius ainda gritou por um belo tempo, mesmo com a voz rouca e falha, antes de perder as esperanças. O sol estava começando a se por quando do nada, com a mesma naturalidade que dois anjos apareceriam no céu, duas crianças apareceram.

A menina se ajoelhou na frente dele e perguntou:

- É você que estava gritando, tá tudo bem?

- Não. Quer dizer, eu gritei, mas não tá nada bem. Eu acho que eu quebrei o pé.

- Coitadinho.

A menina sussurrou e o menino se aproximou para examinar o pé de Sirius. Mas ao menor toque, Sirius fez uma careta de dor.

- Eu acho que quebrou mesmo.

Disse o garoto, muito embora não aparentasse mais idade que Sirius ou qualquer tipo de autoridade sobre o assunto.

- Vem, se apoie na gente que te levamos até em casa.

E o garoto se apoiou do lado direito, do pé machucado, enquanto a garota de apoiava no outro. Na sua cabeça, Sirius se perguntava por que eles estavam sendo tão prestativos. Eram apenas crianças, como ele, e totalmente desconhecidos. O que ganhariam com isso, afinal?

Depois de algum tempo Sirius chegou ao banco no qual sua Babá sempre sentava e lá estava ela, chorando aos prantos. Quando viu seu pequeno patrão, Leah correu ao seu encontro temendo muito mais pela vida de Sirius do que pelo seu emprego.

- Desculpa. Eu machuquei o pé e não conseguia andar – disse Sirius.

- Está tudo bem, querido. Está tudo bem. Você está bem? – perguntou Leah.

- Estou. Mas meu pé não. Ele acha que quebrou.

Disse apontando para o menino cuja existência Leah acabara de perceber.

- Bem, então vamos te levar ao médico - E pegou Sirius nos braço, apertando-o forte contra seu coração.

- Leah, conserta agora – pediu Sirius.

- Eu não posso, patrão – respondeu Leah.

- Pode sim! Eu já vi você consertando milhares de vezes.

- Eu não posso – e sussurrou no ouvido de Sirius – Aqueles dois são trouxas. Eu não posso fazer magia na frente deles. Você terá que esperar um pouco. Vamos Regulus.

Enquanto Sirius era levado de volta para casa, olhou para as crianças por trás do ombro da babá. Sua mãe já havia lhe falado sobre aqueles tais trouxas. Mas sua mãe sempre os descrevia como perigosos, burros, pequenos parasitas asquerosos e repugnantes. Sua mãe nunca havia lhe dito o quão atenciosos, doces e... Encantadores, eles poderiam ser.

As crianças olharam de volta, os olhos castanhos gentis idênticos. Acenaram para Sirius, desejando que ficasse bem. Sirius acenou de volta, se perguntando como poderia haver no mundo tão graciosas criaturas.


Regulus, Sirius e a babá só chegaram no Largo Grimmauld de noite. No meio do caminho, Regulus começara a reclamar de dores no pé, de modo que Leah teve que levar os dois nos braços por um bom tempo.

- Deixa, Leah, eu consigo andar se for bem devagar – Sirius pediu que ela deixasse-o andar sozinho.

- Não, o senhor está machucado – respondeu a empregada.

- E você está cansada.

- Não, Sirius – manteve-se firme.

- Eu to mandando. Meu põe no chão – Sirius disse com autoridade.

Leah sabia que ele só estava querendo ajuda-la, ao passo que realmente estava cansada ao ponto do esgotamento, mas Sirius estava sendo arrogante e prepotente. Estava ordenando-a que o colocasse no chão e Leah, na posição de serva e nada mais, não teve outra escolha se não atender.

Leah o desceu da maneira mais suave que conseguiu, mas mesmo assim, ao tocar o chão com o pé ferido uma rajada elétrico subiu pela espinha de Sirius falando que não, isso não era uma boa idéia e que voltasse ao colo da babá o mais rápido o possível.

- Está tudo bem? – perguntou Leah.

- Está – mentiu Sirius – posso me apoiar em você?

- Claro. Não coloque peso no pé.

Sirius assentiu com a cabeça, sufocando o grito em sua garganta. O pé doía mesmo com o passo lento e cuidadoso mas a sensação, passado o desespero abandonado que sentira no bosque, não era a das piores.

Ao mesmo tempo, se envergonhava e se orgulhava desse sofrimento. Se envergonhava por que era fruto de sua estupidez: aquela árvore visivelmente não aguentaria seu peso e ele subira de forma desastrosa e impensada.

E se orgulhava por que aquela dor somente a ele pertencia. A tradicional família Black utilizava de castigos físicos para educar sua prole e Sirius, como primogênito dos orgulhosos Orion e Walburga Black, era alvo dos castigos mais severos (anos depois, Sirius confessaria que seus pais já o deixaram passando fome) portando a dor não lhe era uma desconhecida. Mas aquela dor era somente sua.

Sirius desenvolveu uma consciência sobre seu corpo e sobre si mesmo que não conhecia. Reconheceu seu corpo como capaz de gerar dor e também de senti-la, mas mais ainda, de superá-la. Na fraqueza de seu membro, ele encontrara a força necessária para continuar andando. Os ossos cambaleavam de forma não-natural, mas Sirius os forçava ao equilíbrio e eles obedeciam.

Durante toda sua caminhada até em casa, não caíra um única vez. Não chorara uma lágrima sequer. Sua voz não enfraquecera quando Leah o perguntara se estava doendo. Ao contrário, pareceu mais madura que nunca fora:

- Não. E não conte a minha mãe que eu quebrei o pé.

Leah assentiu. E quando chegaram ao Número Doze, Leah apertou a campainha como sempre fazia, já que não lhe era permitido possuir uma cópia da chave.

Quem abriu a porta não fora Melody, a governanta da casa, como sempre abria, mas a própria Walburga Black, o semblante ardendo numa fúria fria, controlada e constante.

A sublime senhora deu passagem para que eles entrassem na casa e logo que se viu no chão, Regulus correu para dentro chamando por Keacher para lhe mostrar as belas pedras que havia encontrado no parque. Sirius exigiu o máximo de si mesmo. Não podia mancar na frente da mãe.

- Por que demoraram tanto?

Disse a senhora Black, a voz rasgando o ar em navalhas afiadas. E antes que Leah pudesse responder, Sirius emendou rápido como uma agulha:

- Foi culpa minha. Eu insisti para a Leah que ficássemos até tarde. Queria ver o sol se por.

A mãe de Sirius se manteve contida mas seu rosto endurecera ainda mais e sua voz escorreu todo o desprezo que sentira pelo próprio filho:

- Só fale quando eu permitir, Sirius. É verdade? - (Walburga não enunciava o nome de seus empregados. Talves nem o soubesse. Dirigia a eles as mínimas palavras o possível).

Sirius provavelmente seria castigado por tal ousadia, Leah sabia. Mas também sabia que o castigo por mentir á mãe, se contasse a verdade sobre o motivo do atraso, seria muito, muito pior. O senhor Black tinha uma sessão reservada de chicotes de couro de dragão reservada em seu armário para ocasiões como essa. Por isso, não teve outra escolha senão concordar:

- Sim senhora.

A senhora Black deu um único tapa no rosto do filho, que caíra no chão sobre o pé quebrado. Ele não gritou, não chorou. Apenas se levantou rápido e assumiu a mesma postura orgulhosa que sua mãe exigia que ele deveria ter.

- Não de ordens sem a minha permissão, moleque ingrato. Não poderá sair de casa por uma semana – e se retirou levando consigo sua capa negra e esvoaçante.

- Oh meu Deus. Oh meu Deus, oh meu Deus. Você está bem? – Leah se ajoelhou, seus olhos castanhos na altura dos cinzas.

-Sim – respondeu Sirius. Um ferimento se abrira no lado direito do seu lábio e começara a sangrar. Sirius riu – meu lado direito sempre foi ferrado.

Leah não podia negar uma piada de seu pequeno patrão ferito, por isso agracio-lhe com uma risada triste. Sirius sorria como se não houvesse dor.

- Mas se você pudesse consertar meu pé, seria bom.

- Sim, sim, claro.

Leah tirou do bolso do uniforme escuro sua vassoura pequena e flexível de coração de dragão. Com umas poucas palavras mágicas, os ossos voltavam ao seu devido lugar. Enquanto as formas luminosas envolviam e adentravam seu pé, Sirius sussurrou:

- Desculpa se eu fui grosso com você. Mas se a minha mãe soubesse ela ia te despedir. E você é a única babá que eu já gostei.

Sorriu.

- Tudo bem, meu querido, tudo bem. Mas não se preocupe comigo, se preocupe com você, jovem patrão.

- Eu sei cuidar de mim mesmo.

E mal seu pé estava curado, se pôs a correr e pular.

- Venha cá, Sirius, falta sua boca.

Sirius passou a sua língua pequenina sobre o ferimento. Sentiu o gosto forte do sangue, mas o ferimento não doía. A mão pesada e intolerante de sua mãe o havia causado, não a estupidez ou braveza de Sirius. O machucado de repente parecia diminuir e se perder e se esconder.

Devido a sua insignificância, Sirius deixou que Leah cuidasse do corte. Mas quando esta ofereceu a Sirius uma poção para a dor, negou. Claro, os ossos recém consertados estavam doloridos, mas Sirius queria aproveitar aquela dor, sua dor, por mais alguns momentos.

Por que, afinal, Sirius também amara a dor.