Declaração: Tudo é da JKR. A única coisa do HP que me pertence são os 7 livros na minha prateleira.

N.A. : Se gostar da história e estiver disposto a ser um beta por favor entre em contato!

Resumo: Uma praga se espalha pelo mundo e Harry se vê sozinho num mundo de pesadelo onde os mortos voltam à vida. Valores se distorcem e a luta pela sobrevivência assume uma proporção muito maior do que apenas um conflito contra Voldemort.

MORTOS-VIVOS

CAPÍTULO 1 : RUA DOS ALFENEIROS

O Sol já tinha nascido há algum tempo e o dia já começara a esquentar. Os raios oblíquos passavam pelos topos das casas em direção a uma janela, entrando desimpedidos no pequeno cômodo da casa. Resmungando o único ocupante tentou enfiar o rosto no travesseiro e conseguir mais um pouco de sono. Pouco mais tarde o astro havia percorrido mais da sua trilha pelo céu, reposicionando seus fachos de luz de modo à novamente incomodar o pobre garoto.

De má vontade o adolescente viu-se obrigado a novamente se mover, desta vez de barriga para cima, cobrindo os olhos com o braço. Silenciosamente, porém gritando em pensamento, o rapaz amaldiçoou a mesquinhez de seu tio em negar-lhe até mesmo o conforto de uma cortina. Após vários minutos de adaptação a nova condição por fim o garoto pôs-se sentado na cama. O rádio relógio indicava que a hora usual de acordar já havia passado fazia tempo. Por algum motivo sua tia não o havia acordado para preparar a refeição matinal da família.

Pensando melhor o rapaz lembrava vagamente de uma discussão sobre uma viagem até a casa de sua outra tia, Marge. Possivelmente toda a algazarra que ele havia escutado na noite anterior havia sido seus parentes se arrumando e indo viajar sem ele, provavelmente a idéia de seu tio Valter de discrição. Ele não se importava nem um pouco com nenhum deles, e desgostava particularmente de tia Marge. Bocejando ele se levantou e foi em direção a sua coruja. O lindo animal parecia triste e deprimido atrás das barras de sua pequena prisão.

- Eu sei exatamente como se sente garota. Se os Dursleys tiverem mesmo viajado na calada da noite eu tiro o cadeado que o tio Valter usou para fechar a gaiola. Mas se eles estiverem aí, você voando livremente só vai deixá-lo mais irritado... Só temos que suportar mais algumas semanas.

Após encher o pequeno pote com ração para a ave, o garoto parou em frente ao pequeno espelho e colocou-se, inutilmente, a tentar ajeitar seus indomáveis cabelos. Após alguns momentos de tentativas ele desistiu da tarefa sem sentido e dirigiu-se ao banheiro. O primeiro sintoma de estranheza foi as portas dos quartos da tia e do primo abertas. Sua tia odiava desordem e as portas dos quartos, especialmente o dela, sempre deviam ficar fechados. De relance ele viu que o quarto de seu primo estava ainda mais revirado que de costume. Dando de ombros o rapaz apenas pensou que o outro jovem da casa estava em apuros quando a tia visse a bagunça. Se existia uma coisa que a mulher não suportava, mesmo que viesse do filho, era bagunça e desorganização.

Ao entrar no banheiro, novos indícios de que a rotina fora quebrada. As escovas de dente dos parentes, usualmente alinhadas no suporte plástico, que sua tia havia comprado justamente para essa função, não se encontravam ali. A sua própria escova encontrava-se jogada no meio da pia, abandonada. Além disso, os armários de tolhas encontravam-se abertos, uma toalha de rosto parcialmente dobrada caída no chão.

Por alguns momentos o garoto ficou paralisado. Uma toalha de rosto, caída no chão e simplesmente deixada ali era algo impensável na casa dos Dursleys. Algo assim provocaria a ira absoluta de sua tia. Todos os homens da casa sabiam disso e policiavam-se ao extremo para evitar esse tipo de deslize. Se uma saída noturna para uma viagem de surpresa era incomum, mas não impossível tendo como exemplo o aniversário de onze anos do rapaz, sair com tanta pressa ao ponto de deixar uma toalha de rosto no chão para ser pisoteada era algo surreal. Era mais fácil imaginar tio Valter dançando tango com Dumbledore em frente a associação dos moradores.

Antes mesmo de perceber o que estava fazendo, o garoto dobrou a toalha e a guardou no local certo. De quebra ele arrumou as demais toalhas para a posição correta, não que ele fosse perfeccionista, afinal ele vivia boa parte do ano num dormitório com quatro outros jovens bastante bagunceiros, mas essa casa era o templo de sua tia. Não obedecer a suas orientações era algo como uma heresia, ou sacrilégio. Um bocado mais preocupado do que antes, ele rapidamente lavou o rosto e voltou para o quarto.

Após despir-se das roupas de dormir e substituí-las pelo típico jeans e camiseta, o garoto por fim vestiu os tênis e pela primeira vez reparou no silêncio da vizinhança. Aproximando-se da janela, o rapaz prendeu a respiração e devotou alguns segundos a quieta observação. Normalmente a rua dos Alfeneiros era um lugar pacato e razoavelmente silencioso. Mas sob os olhos e ouvidos atentos do rapaz tudo estava imóvel, estagnado. Ninguém caminhava na rua, nenhum cachorro latia, nem sequer um pássaro cantava.

- Hedwig, algo está muito errado aqui...

Sem realmente esperar uma resposta da ave engaiolada o rapaz pegou a sua varinha e saiu novamente do quarto. Após descer as escadas ele se deparou com mais sinais de que os seus familiares haviam saído às pressas. A sempre imaculada sala estava com os tapetes fora do lugar, uma cadeira caída e sobre a lareira apenas o espaço onde outrora estiveram as fotos da família.

A cozinha estava igualmente desarrumada, várias gavetas estavam entreabertas e a maioria dos armários onde os alimentos eram estocados estava aberta. Grandes vãos entre as latas e os pacotes indicavam que uma grande quantidade de comida fora retirada. A isso Harry não tinha uma resposta. Sair apressado, na calada da noite, para ir a algum lugar era talvez uma atitude possível para o tio. Mas levar provisões de comida para uma ou duas semanas? Não bastavam parar em algum supermercado e comprar o que quisessem como sempre fizeram?

Sem pensar exatamente no que fazia o rapaz pôs-se a arrumar a cozinha. Gavetas foram fechadas, portas encostadas e uma cadeira desalinhada foi colocada na posição usual. Após olhar pela janela para um quintal igualmente silencioso o garoto decidiu que era melhor comer algo antes de qualquer outra coisa.

Apesar de seus parentes terem levado boa quantidade de comida muito havia sobrado. Seu tio Valter sempre fora alguém que nunca toleraria qualquer espécie de privação alimentar. Nem para ele, nem para a tia ou o primo. Enquanto comia um pote de cereal com leite o jovem tentava desvendar o que havia acontecido na noite passada.

Com a tigela na mão o garoto percorreu novamente a sala procurando alguma pista que tivesse passado despercebido durante a primeira inspeção. Porém, nada de novo se revelou sob uma olhar mais meticuloso. Após terminar na sala a investigação passou a incluir a sala de estar.

A sala estar da Rua dos Alfeneiros nº 4 era uma exceção a ditadura da tia. Ali o império era de seu tio e como tal o lugar nunca era muito organizado. Diferente do resto da casa os móveis não eram perfeitamente alinhados, a cortina não combinava exatamente com o tapete e não era incomum encontrar alguma peça de roupa sobre o sofá ou algum chinelo largado no chão. Ali as coisas pareciam mais normais, como sempre, exceto um jornal local jogado a no chão, logo ao lado da poltrona do tio.

Curioso o rapaz de olhos verdes pegou o periódico e sentou-se no sofá. Dando mais uma colherada no seu cereal o rapaz manuseou o papel e deu de cara com uma notícia que o paralisou imediatamente. Com a colher ainda na boca e com os olhos esbugalhados o rapaz leu a manchete e não pode deixar de prender a respiração.

"EPIDEMIA SE ESPALHA PODENDO CHEGAR AO SURREY AMANHÃ!"

- Epidemia?

Confuso o garoto começou a se levantar, enquanto lia o resto do artigo. Distraído esqueceu o pote de cereal com leite que repousava sobre seu colo, e o mesmo escorregou e caiu, virando o seu conteúdo sobre o tapete. Surpreso e praguejando o garoto voltou novamente à cozinha para buscar um pano para limpar o estrago, deixando o jornal sobre o sofá.

No curto trajeto, ele foi pensando na manchete lida. Epidemia? Ele havia ouvido alguma coisa do tio durante alguma refeição. Na hora ele não havia prestado atenção, agora ele se recriminava por isso. Algo a ver com uma doença, ou um vírus. Algo que estava se espalhando pelo mundo, assustando todos. Isolado em seu pequeno mundo de pesar pela morte do padrinho e pela enormidade da profecia ele havia feito o que sempre fizera, fechara-se ao mundo ao seu redor. Sem interesse para sair de sua casca ele havia ignorado a televisão, o rádio, jornais e revistas, fossem mágicos ou não. Tão grande era sua depressão que ele não havia aberto nem sequer as últimas cartas de seus amigos.

Terminando rapidamente de limpar o chão, o garoto estava resolvido a voltar ao quarto e ler as correspondências que ele havia ignorado por semanas, provavelmente alguém tinha alguma idéia do que estava acontecendo e escrevera para lhe explicar. Levantando-se o garoto se virou, com a intenção de subir as escadas e, de relance de olho, viu movimento do lado de fora da janela.

Aproximando-se do vidro da grande janela da sala de estar ele viu afastando-se da casa, seguindo seu caminho pela calçada, a cabeça loira de uma criança, provavelmente uma menina de pouco mais de sete, ou oito, anos de idade. Surpreso Harry dirigiu-se até a porta e a abriu, saindo para o sol da manhã.

- Ei! Espere! O que você está fazendo aqui sozinha? Onde estão seus pais?

Então a criança se virou. A frente de sua camiseta, outrora rosa, estava agora preta e vermelha de sangue seco. As mãos pequenas estavam cobertas de uma crosta escura e seu antebraço esquerdo tinha uma grande região descarnada onde o osso podia ser visto. O rostinho de feições outrora delicadas agora estava recoberto de sangue e curvava-se em uma feição de fúria encarando o adolescente.

Surpresa e choque impediram o garoto de agir ou de se mover momentaneamente. O cérebro do bruxo literalmente travou ante a impossibilidade da situação. Ele estava na rua dos alfeneiros! Esse tipo de coisa não acontecia no Surrey! Quando por fim a criança, ou criatura, levantou os braços e correu em sua direção o choque o impediu de reagir a tempo e sacar a varinha.

Em poucos passos e um salto a menina monstruosa estava sobre ele. O corpo pequeno teve momento o suficiente para derrubá-lo. A diminuta boca abria e fechava no vazio tentando abocanhar seu pescoço como um cão raivoso, o braços magros, até mesmo o descarnado, tinham uma força muito maior do que se esperaria de alguém tão pequena. Ela puxava-o para si e ele usava toda sua força para mantê-la longe. Em seu desespero ele gritava por ajuda, por socorro, por alguém!

Os pequenos dedos fechavam-se no seu ombro, apertando e machucando a carne, a muito custo o garoto afastava a boca faminta de seu rosto e seu pescoço. O pequeno corpo escondia uma força enorme e ele obtinha apenas um sucesso modesto em afastá-la de si. Aparentemente percebendo que a atual estratégia não surtia efeito a menina parou de tentar morder o rosto do rapaz e passou a tentar morder os braços que a mantinham longe.

Num momento todos os seus sentidos ocultos, aquela entidade quase consciente que o manteve vivo durante tantas aventuras em Hogwarts, gritaram para ele não permitir a menor das mordidas. O que quer que acontecesse ele precisava se manter longe daqueles dentes! Num esforço supremo ele afastou-a o suficiente para colocar uma perna entre os dois. Movendo-se com agilidade e reposicionando-se ele por fim firmou a planta do pé no peito da pequenina e com toda sua força ele estendeu a perna, jogando-a para longe de si, sobre o gramado.

Antes que Harry conseguisse recuperar o fôlego a garota estava de pé novamente. Seu rosto contraído numa expressão de ódio jamais vista num rosto infantil parecia rosnar para ele, sem porém produzir nenhum som. No mesmo momento em que ela se pôs em movimento o garoto sacou sua varinha. Enquanto a garota corria em sua direção o garoto gritava um feitiço.

- Expeliarmus!

O feixe de luz seguiu certeiro em direção a criança, impactando com o peito da mesma. Mas o que aconteceu a seguida foi algo inesperado. Ao invés de projetá-la para trás o jato foi refletido, voltando pela mesma trajetória de antes em direção ao bruxo!

Com reflexos aprimorados com anos de quadribol o garoto saltou para o lado deixando o feitiço seguir para trás de si desimpedido. Segurando a varinha firmemente na mão ele se viu novamente numa situação muito próxima da anterior, a garotinha monstruosa novamente tentando morder seu rosto, pescoço, mãos ou braços, qualquer coisa que pudesse alcançar. Desesperado o garoto apontou a varinha na direção da garota e soltou novo feitiço.

- Expulso!

O feitiço de banimento foi disparado de tão perto que a varinha encostava no peito de seu alvo. O mesmo que havia acontecido com o feitiço de desarmamento aconteceu com este e o facho de luz rapidamente refletiu na garota e voltou para o rapaz. O impacto da magia o fez soltar todo o ar do corpo ao tentar empurrar o garoto violentamente ATRAVÉS do chão, encontrando resistência o fez disparar escorregando sobre a grama e passando por cima da entrada da garagem, parando quase no terreno do vizinho.

Liberto momentaneamente de seu pequeno algoz o garoto gemeu de dor enquanto suas costas e ombros ardiam do contato forçado contra o chão. Sua camisa havia rasgado ao esfregar-se no jardim e a pele estava raspada do contato com o concreto da entrada da garagem. A dor era tão forte que ele mal teve tempo de se proteger quando a criança demoníaca novamente veio tentar morder-lhe.

Desesperado e novamente a estaca zero ele procurava uma saída para sua desesperadora situação. Olhando de soslaio ele viu a garagem dos Dursley aberta e, encostado em um canto o cortador de grama do tio Valter. Pão duro como era, o tio ainda mantinha um cortador antiquado, que pesava uma enormidade, e não era alimentado por eletricidade, a máquina de aço pesava cerca de vinte quilos e era o suplício do Harry no verão, quando era obrigado a cortar a grama.

Sem tempo para planejar o garoto apontou a varinha para a antiquada peça e soltou mais um feitiço.

- Accio!

Obedecendo ao comando mágico a peça saiu de seu gancho na parede e veio voando em direção ao rapaz. A velocidade da máquina era proporcional ao desespero do garoto, então ela veio MUITO velozmente. Sem pensar o garoto torceu-se, colocando sua pequena adversária na trajetória do cortador. O impacto foi forte o suficiente para projetá-la rodopiando por sobre o corpo do bruxo, indo estatelar-se, juntamente com a ferramenta, no meio da rua.

Respirando fundo para recuperar o fôlego, o rapaz pôs-se de pé, preparado novamente para se defender, mas não foi necessário. Aparentemente o cortador, voando com a velocidade de um balaço, fora o suficiente para derrubar a garota e mantê-la n chão. Com passos cuidadosos e mantendo a varinha na mão ele aproximou-se do corpinho inerte. Para seu horror ele viu que a lâmina do cortador tinha entrado no crânio e aberto um rasgo enorme na cabeça da garotinha. Imobilizado por suas emoções ele só pode continuar olhando para as feições agora novamente suaves, os traços delicados não mais deformados pela máscara de fúria.

Chorando ele não conseguiu desviar o olhar e com isso ele a reconheceu. Era a filha do senhor Thompson, do nº16, ele não conseguia lembrar o nome dela. Fungando entre soluços ele retirou o óculos e limpou o rosto com a manga da camiseta. Ele havia matado uma menina! Ela estava doente, ou talvez sob o efeito de um feitiço, talvez até mesmo império e ele a havia matado! Ele era um assassino!

Chocado demais ele deu alguns passos para trás e olhou ao redor. Talvez ela ainda pudesse ser ajudada! Talvez se alguém ajudasse... Antes que sua mente pudesse prosseguir nesse sentido ele viu alguém correndo no meio da rua. O velho Pete, que trabalhava no posto de gasolina localizado duas quadras a baixo corria com abandono em sua direção. O rapaz levantou as mãos pronto a se justificar e pedir ajuda quando ele notou a condição do homem que corria.

Arrastando-se atrás do frentista vinhas seus intestinos. Ou o que sobrou deles. Seu abdômen estava aberto de forma irregular e suas entranhas projetavam-se para fora, metros deles sendo arrastados no asfalto atrás de si. O horror da cena o teria paralisado, não fosse a adrenalina que já corria em seu sistema. Virando-se rapidamente ele correu para dentro da casa dos tios e fechou a porta atrás de si. Olhando ao redor ele pegou uma cadeira do conjunto da mesa de jantar e rapidamente calçou a porta. Nem um segundo atrasado.

Com uma batida forte, um pedaço da porta quebrou. Com outra uma mão grande e coberta de sangue seco entrou para dentro da sala. Com um ruído de madeira se partindo mais um pedaço se foi e uma cabeça enfiou-se pelo buraco. O velho Pete estava entrando através da porta, com parte de suas entranhas ainda espalhadas no jardim.

A mente do rapaz estava a toda a velocidade. Não era Império. Não havia como alguém sobreviver ao ter os órgãos fora do corpo. Não um trouxa pelo menos. Alguma magia estava agindo na rua dos alfeneiros, isso era certo. Algo que fazia com que os mortos andassem e atacassem. Voldemort imediatamente veio a mente do garoto, mas o que quer que ele tivesse feito agora não importava. Ele precisava sobreviver.

Aflito ele tentava lembrar-se de algo sobre mortos voltando a vida. Algo sobre mortos-vivos. Aonde ele tinha lido algo a respeito dos mortos? Desesperado o garoto usou a varinha para levitar e jogar o maciço e pesado armário de madeira de lei, orgulho de sua tia Petúnia, no caminho do frentista morto. Se a garotinha parecera forte para ele, o homem parecia monstruoso.

Após levitar e apoiar a mesa, as cadeiras, e o balcão contra a porta o jovem bruxo ganhou um tempo de respiro para pensar novamente. Subitamente, num momento de clareza o garoto lembrou, entre tantas outras coisas de Lockhart. Sim, em seu segundo ano, num de seus livros, Lockhart supostamente havia enfrentado um morto que andava. Como era o nome? Inferi! E como Lockhart havia derrotado o Inferi? Os livros do professor fraudulento não continham muito conteúdo útil, mas nesse momento ele estava desesperado então ele precisava lembrar-se de como o bruxo derrotou o morto-vivo.

As batidas incessantes contra a porta constatavam que a barreira improvisada pelo garoto não resistiria muito tempo. Okay, Lockhart. O que estava escrito no livro de Lockhart? Hermione provavelmente poderia lhe dizer imediatamente, mas ela não estava aqui. Como Lockhart escrevia? Poesia. Não, algo poético, cheio de enfeites e tomando duas páginas para algo que podia ser descrito em duas ou três linhas. Na passagem do morto-vivo ele falava de flores, rosas ou algo assim. Falava de esmeralda, não, eram rubis. Okay, rosas e rubis. O que mais? Algo a ver com vermelho, carmesim. Que diabos era carmesim? Uma cor, vermelho. Rosas, rubis, vermelho. FOGO! Ele derrotou o inferi com fogo!

Exultante, e mal acreditando em si mesmo que ele realmente estava feliz por ter lido um livro de Lockhart, o garoto se posicionou de frente para a porta, varinha em mãos pronto para conjurar o feitiço. As batidas na barreira se repetiram e a criatura, com sua força fabulosa, destruia os móveis como se fossem feitos de material muito mais frágil. Porém, antes que ele pudesse agir, o ruído de vidro quebrado denunciou um novo problema.

Levantando-se no meio da sala de estar uma mulher encarava o jovem bruxo com um rosto repleto de ódio. Sua única vestimenta era uma saia imunda, seus busto estava desnudo e o seio direito parecia ter sido arrancado a mordidas. Sua garganta também estava completamente lacerada e uma cascata de sangue seco tingia toda a lateral esquerda de seu corpo. Sem pensar mais a respeito o garoto levantou a varinha e soltou mais um feitiço.

- Incendio!

Quando a esfera vermelha do feitiço se chocou com a invasora ele não refletiu. Ao invés disso o feitiço explodiu em todas as direções e novamente o garoto foi forçado a se jogar para trás de uma parede enquanto as chamas espalhavam-se em todas as direções. Papel de parede, cortinas, tapetes, sofás e poltrona imediatamente entraram em combustão. Num instante metade da casa estava pegando fogo. Surpreso com o resultado do feitiço o garoto forçou-se fora da sua cobertura para ver se a ameaça tinha sido neutralizada.

Com a saia queimando, mas sem demonstrar qualquer outro empecilho a mulher parecia se reorientar procurando o jovem. Em meio as chamas Harry viu outros braços levantando mais uma pessoa através da janela quebrada e para dentro das chamas.

- Maldito Lockhart. Eu realmente pensei que isso fosse funcionar...

Antes porém que o garoto pudesse continuar amaldiçoando seu ex-professor o velho Pete finalmente derrubou a barreira improvisada e estava de pé logo a sua frente, com a boca entreaberta num rosnado mudo.

Tomado de pânico o garoto correu para o quintal. Por sobre os ombros ele foi lançando os feitiços mais destrutivos que conseguia imaginar, não fazendo qualquer questão de mirar.

- Reducto! Difindo! Bombarda!

Explosões arrancaram o reboco do teto, um feitiço de corte cotou uma viga estrutural e um feitiço de combate explodiu o piso da cozinha, e boa parte do encanamento. Saltando para o quintal e fechando a porta atrás de si, ele evitou por pouco ser agarrado pelo morto. Desesperado, ele tropeçou na mangueira do jardim quando ocorreu a explosão.

Por sobre o piso da cozinha, corria o encanamento de gás da casa, levando o combustível para o fogão e forno. Com o feitiço explosivo do garoto boa parte do cano ficou em pedaços, gerando um vazamento de grandes proporções que rapidamente se encontrou com as chamas da sala. Com uma coluna de sustentação partida, metade da casa ruiu e as chamas e a fumaça subiram alto contra o céu azul.

Gemendo o garoto se levantou do meio dos canteiros de flores da tia. Seus óculos estavam em algum outro lugar que não o seu rosto, dessa forma ele só enxergava borrões ao seu redor. Com medo do que podia estar lhe esperando e não podendo arcar com as conseqüências de ficar sem enxergar por mais um minuto que fosse o garoto levantou a varinha e soltou novamente o feitiço de conjuração.

Os óculos vieram, mas colocá-los no rosto apenas trouxe a constatação que as lentes estavam quebradas e eram de pouca serventia. Enquanto reparava a peça com um novo feitiço, o bruxo colocou-se de pé. Equilibrando-se com dificuldade e sobrepujando a dor vinda de diversas partes do corpo o garoto observou incrédulo enquanto do meio dos escombros um corpo em chamas levantou-se. Parece que o velho Pete ainda não estava derrotado. A cabeça pendia torta, num ângulo estranho, o braço direito estava pendurado por apenas alguns músculos, a perna esquerda arrastava-se, obviamente fraturada em mais de alguns lugares. As roupas e os cabelos pegavam fogo, mas ele ainda assim erguia o braço funcional ameaçadoramente em direção a Harry.

Praguejando o rapaz novamente colocou-se em posição de combate. Varinha estendida ele tinha pelo menos um alento, o corpo alquebrado do morto movia-se com mais dificuldade agora que estava tão danificado. Mantendo a distância, afastando-se para o fundo do quintal, o rapaz começou a procurar uma forma de escapar. O cheiro de carne queimada e a aparência grotesca e alquebrada de seu adversário causavam uma onda de náusea e medo no rapaz.

Pensando rapidamente ele resolveu repetir a única estratégia que funcionara anteriormente: ataque indireto. Apontando a varinha para um grande bloco de concreto ele repetiu o feitiço convocatório, colocando o seu adversário entre ele e o seu alvo.

Funcionou. Ou pelo menos em grande parte. O bloco de mais de cinqüenta quilos impactou com as costas do morto derrubando-o. O feitiço foi tão sobrecarregado e o concreto veio em tanta velocidade que a colisão quebrou a coluna do frentista, derrubando-o no chão. Ele continuava tentando alcançá-lo, mas com um braço inutilizado e sem poder mover as pernas, tudo que ele podia fazer era arrastar-se pelo chão.

Sem nenhuma ameaça imediata a sua vida o garoto observou por vários segundos atônitos o lento arrastar do corpo. Chamuscado, quebrado e implacável em seu avanço. O horror da situação subitamente desabou sobre ele de forma completa. Em pânico ele pulou o muro do quintal dos Dursley para a casa dos fundos.

N.A. 2: Para quem acompanha a minha outra fic, Através do Tempo, não se preocupem, ela não está abandonada, só encontrei uma situação que eu não estou conseguindo ultrapassar. Assim que eu conseguir desenvolver a cena ao meu gosto eu a continuarei.