Oi! Essa é uma das minhas fics-xodós que postei por aí e resolvi postar aqui também.

Já está terminada, então a velocidade de postagem dos capítulos depende inteiramente das reviews e follows e etc...

Espero que gostem. :*


Capítulo 1 - Eu ganho um amigo sátiro

Eu não deveria ter ficado tão chocado. Quer dizer, meu olfato certamente não é dos melhores, mas aquele sátiro não estava tão bem disfarçado. Ele parecia até assustado, o que eu honestamente não entendi. Mas quando ele apareceu na minha sala sendo apresentado como aluno novo, eu praticamente virei uma estátua daquelas de olhos bem arregalados e boca aberta. Ainda bem que eu sentava na última fila.

Tentei, juro que tentei, ficar longe dele e não fazer amizade com ele. Meu pai me mataria se qualquer um no nosso mundo descobrisse quem eu sou. E de quebra, eu provocaria uma guerra.

Mas eu também não pude evitar a curiosidade. Além dos seres mágicos que eu via sempre que visitava a casa do meu pai, nunca tinha visto ninguém do nosso mundo zanzando por aí. Não que eu soubesse, pelo menos.

Mas o sátiro, Grover Underwood, recém-transferido (aham, tá certo), era obviamente um sátiro: meio humano, meio bode. Bom, era óbvio pra mim.

Caso esteja se perguntando, eu sou um semideus. Filho de um deus olimpiano que se apaixonou por uma humana. Meu pai é Poseidon, deus dos mares e terremotos. E, mesmo que ter filhos fosse algo BEM RARO pra ele, há séculos ele tinha jurado pelo Rio Estige (aquele rio negro sinistro que corre no Mundo Inferior) que nunca mais teria filhos semideuses.

O que acontecia era que, quando conseguia engravidar uma humana, meu pai tinha filhos poderosos demais. E eles sempre davam problema. Depois da última guerra mundial, Zeus e Hades o fizeram prometer que não procriaria mais. Eles se juntaram a ele no juramento, e os Três Grandes não tiveram filhos por muito tempo. Mas meu pai me contara que Zeus quebrara o juramento dois anos antes de eu nascer.

Meu pai conheceu minha mãe, Sally Jackson, na casa de praia da avó dela em Montauk. Minha mãe podia ver através da Névoa e adorava o mar, e isso fez o trabalho. Meu pai se apaixonou, de verdade. Até hoje meu pai tinha um carinho especial por ela, apesar de nunca ir vê-la ou nada assim.

Quando eu nasci, os dois acharam uma boa ideia que eu me chamasse Perseu, nome de outro semideus antigão que fizera algo incrível (eu realmente não sei). Eu apenas prefiro ser chamado de Percy. Perseu é tão... ugh.

De qualquer forma, no seu primeiro dia, Grover acabou sentando na última fileira bem pertinho de mim, e me olhava de vez em quando, desconfiado.

Isso ia dar problema. Sátiros podem sentir o cheiro de semideuses e o meu cheiro era bem difícil de mascarar. E eu supostamente não deveria existir. Ótimo, né?

Consegui evitar Grover por três semanas, evitando até lhe dizer um 'oi' ou 'bom dia' antes das aulas (ele começou a sentar bem do meu lado mesmo, mas eu resisti bravamente).

Então, na quarta semana dele na Yancy, a professora de literatura passou um trabalho em dupla, e designou as duplas.

"Percy Jackson, você fará o trabalho com o Sr. Underwood." disse a voz firme da Sra. Matthews.

"Sim senhora." eu disse, derrotado.

Meu pai teria que relevar isso. Eu não tinha mais escolha.

Grover e eu nos apresentamos oficialmente e passamos a nos encontrar todos os dias depois da aula na biblioteca para fazer o trabalho. Eu me limitava a falar o mínimo possível e tinha todo cuidado do mundo para não escorregar e acabar falando o que não devia, mas Grover era mais esperto do que eu previra. Ele simplesmente sabia.

Eu só achava que ele pensava que eu não sabia quem eu era, e por causa disso ele também não dava muita bandeira.

Tirando a tensão de falar besteira que eu sempre tinha perto dele, eu gostava de ser seu amigo. Era uma mudança, já que ninguém na Yancy parecia ser muito com a minha cara (era isso que acontecia quando você não estava em clube ou time nenhum e era um perdedor com Dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Era bom ter um amigo, pra variar. E um amigo sátiro... Bem, isso era um bônus.

~.~

Dois meses depois que Grover chegou à escola, já estava bem mais à vontade com ele. Comecei a confiar em mim mesmo que não ia escorregar, então ficava mais relaxado.

Ele e eu estávamos no meio de uma escursão escolar. Era brega, considerando que estávamos no terceiro ano do ensino médio, mas a professora de História achou que seria legal. Nos levou à nova exposição greco-romana do museu de história natural e contou histórias sobre Zeus, Poseidon e Hades derrotando seu pai, Cronos, e também algumas façanhas de Hércules.

Apesar de conhecer todas as histórias, fiz cara de interessado porque Grover estava do meu lado, o tempo todo me olhando. Em um momento, cansei disso.

"Por que você me olha tanto?" perguntei num sussurro furioso.

Ele pareceu envergonhado.

"Desculpe. É só que..."

Esperei que ele continuasse, mas obviamente ele não fez isso. Eu o ignorei pela próxima meia hora, até que a professora terminou seu discurso e nos liberou para explorar entre as galerias.

"Não vão namorar entre os monumentos!" ela gritou com um casal enquanto eu e Grover nos afastamos e fomos de volta até a seção grega.

"Você gosta de mitologia grega, Percy?"

Opa. Território perigoso.

"É legal." eu disse, parecendo indiferente.

"Só legal?" Grover parecia, ao mesmo tempo, surpreso e ofendido.

"É, bem. Você sabe. Seria mais legal se tivesse sido verdade." eu disse, segurando meu riso enquanto olhava para uma pintura. "Mas são só mitos."

Muito engraçado, Percy.

Revirei os olhos para a voz do meu pai na minha cabeça. De vez em quando ele fazia isso, conversava comigo por pensamento. Eu não sabia se me sentia satisfeito que ele falava comigo ou se me sentia irritado porque ele estava me espiando.

"Bem, talvez eles tenham sido verdadeiros." Grover disse, me olhando desconfiado, procurando qualquer reação minha. Eu coloquei minha melhor cara de pôquer e dei de ombros.

"Tanto faz."

A excursão terminou pouco tempo depois disso, e eu voltei com Grover para o apartamento em Upper East Side que era da minha mãe. Era um apartamento modesto de dois quartos, o suficiente para mim e minha mãe, e era bem aconchegante. O cheiro de todos os humanos que moravam ali era um bom disfarce, mas mesmo assim meu pai tinha protegido o apartamento com mágica. Nossa casa de praia em Montauk, herança da avó da minha mãe, era protegida com o mesmo tipo de mágica, e passávamos quase todo fim de semana lá.

Grover, como sempre, se despediu de mim na porta do prédio. Eu nunca perguntei por que ele fazia isso, porque eu não precisava, mas sabia que não podia convidá-lo a entrar porque ele poderia acabar descobrindo e isso seria uma tragédia.

Assim que fechei a porta do apartamento e saí do hall de entrada em direção à sala, encontrei meu pai olhando para mim – e ele não estava satisfeito.

"Ei pai." eu disse.

"Não venha com 'ei pai' pra mim." disse Poseidon. "O que foi aquilo?"

Franzi, confuso. "Aquilo o quê?"

"O sátiro quase descobriu, Percy."

"Como? Eu não disse nada."

Poseidon respirou fundo.

"É mais o que você não disse. Ele está chegando perto demais."

Revirei os olhos e passei por ele, largando a mochila no sofá e indo até a cozinha beber alguma coisa.

"Não pode ficar me culpando pelo que deixei de dizer, pai. Estou fazendo tudo direitinho. Grover pode até pensar que sou um semideus, mas eu tenho certeza que ele não sabe que eu sei, e muito menos de quem eu sou filho."

"E se ele quiser levá-lo para o acampamento?"

Eu não podia dizer a ele que era tudo que eu queria, porque ele era capaz de me levar para o Palácio e me deixar lá o resto da vida para me 'proteger'. Gah.

"Ele não vai fazer isso, pai." eu disse, categórico, não olhando para ele enquanto falava.

"Olhe para mim, Percy."

Suspirei e me virei. Ele tinha uma expressão preocupada no rosto, que ele assumia sempre que pensava que eu estava em risco de exposição e morte iminente.

"Você sabe por quê não quero que vá para o acampamento."

"Eu sei." suspirei de novo. "O mundo inteiro vai descobrir e minha vida vai ficar um trilhão de vezes mais difícil."

"Sem contar os deuses que vão querer arrumar briga comigo. Você não imagina como Zeus e Hades podem ser rancorosos."

Suspirei. "Eu só... não entendo. Eu queria ser normal."

Meu pai sorriu de lado, quase zombando. Revirei os olhos de novo.

"Você entendeu. Eu queria ser um semideus normal. Sem me esconder. Combater monstros. Ir ao acampamento. Ter amigos iguais a mim." sussurrei a última parte, meio encabulado.

Poseidon deu a volta na bancada de granito e me encarou de frente, colocando as mãos sobre meus ombros e me obrigando a olhá-lo em seus olhos verde-mar, que eram iguais aos meus.

"Eu só quero protegê-lo Percy. Todos vão tentar matá-lo quando você for revelado ao mundo. E eu não quero que isso aconteça. Você é meu primeiro filho semideus em mais de um milênio e eu... eu apenas me preocupo muito com você."

Meu pai evitava a palavra com 'a' porque não queria parecer um maricas, mas eu sabia que ele me amava. Qual seria sua outra razão pra ser tão preocupado e, mais importante, tão presente na minha vida, se ele tinha tantas coisas mais pra fazer?

Deixei isso pra lá, e me concentrei na parte principal de sua frase.

"Então você admite que eu vou ser revelado ao mundo um dia?"

Ele sorriu. "Quando estiver pronto, sim. Não posso te esconder sua vida inteira."

Eu assenti. Era o máximo que eu podia fazer. Poseidon largou meus ombros e fez um gesto com a cabeça para o corredor que dava nos quartos.

"Pegue suas coisas, estamos indo mais cedo hoje."

"Mas já? A mamãe nem chegou ainda!" eu disse.

Era sexta-feira, e iríamos para Montauk. Bom, minha mãe iria. Nos últimos oito anos, eu ia com meu pai ao seu palácio embaixo do mar, treinar minhas habilidades.

"Você voltará mais cedo no domingo, e sua mãe estará esperando por você em Montauk."

Eu assenti. Corri para o quarto e peguei minhas coisas, e quando voltei, meu pai tocou em meu ombro.

"Pronto?"

"Pronto." eu disse de imediato. Treinar no fim de semana era, de longe, a melhor coisa da semana.

Poseidon sorriu e começou a se transformar em água, e eu fechei os olhos, pronto para ir com ele.


Adoro Poseidon-Papai. haha

Então, o que acharam? Próximo capítulo virá assim que alguém se manifestar por aqui. :)