"- Me desculpe, Sakura. Até uma próxima vez."
Era novamente a imagem da amante à espera. Aquela que, solitária, aguarda pela sua pessoa amada. No escuro tira a roupa e se aconchega nas cobertas pensando nele. Olha pela janela. Enamorava ele por ser a paixão que é sua, não por ser seu. Poderia ambos pertencerem a ninguém mais além deles mesmos? Ele era um espírito livre e assim se foi embora outra vez.
Quando repousa atormentada sua cabeça consegue lembrar mais claramente daquela despedida. Os olhos se fecham por alguns instantes e consegue ouvir, sentir agora. A voz de Sasuke não machucava e seus dedos tocando sua testa eram quentes. Ela se entregou e, descontente, escolheu ficar sozinha – não por ser só, mas por ser dele. Não lhe pertencia o próprio amor – o que era seu, o deu sem pensar no valor. Sem considerar o peso.
Lá fora está nevando. Lá fora está tão bonito e frio e tudo que consegue enxergar, nos flocos de neve caindo suave e delicadamente por sobre os telhados de Konoha, era ele. Manchas abafadas no vidro sujo, configurando alguém. Pessoa cega é aquela que não consegue enxergar nada além do breu. Pensava em seus olhos, pensava em seus cabelos. Qual é a descrição do seu quarto? Sequer há um quarto em sua mente. O corpo presente está ali para funcionar como uma boneca.
Abraçava o vazio e beijava um espaço sem ninguém. Há uma ausência que apenas ela pode ver e por ela se apaixona perdidamente noites em claro.
Desta vez, entretanto, não era ruim. Nunca mais arderia o peito em braça dolorosa como as mesmas chamas do passado fizeram. Ele nunca foi tanto dela quanto ela sempre foi dele. Era certo isso, mas em algo cativara sua alma que pela primeira vez sentia ser sua, também. Aquele segundo que em algum momento de suas vidas Sasuke resolveu guardar de lembrança, uma imagem dela, para delirar sobre em noites de inverno.
