Autora: Blanxe
Revisão: Andréia Kennen
Par: SasuNaru
Gênero: Yaoi, Romance, Angst, Drama, Violência, MPREG
Aviso1: Essa fic é continuação de Reminiscência, para melhor entendimento é necessário tê-la lido anteriormente.


Prelúdio:

Você estava sentado no chão. Suas costas apoiadas contra a parede de rochas, sua cabeça pendida para frente, suas roupas desalinhadas, sujas, esfarrapadas; seus cabelos negros escondiam parcialmente seus traços derrotados, perdidos…

Eu me aproximei, mesmo assim. Com passos comedidos, ciente da tristeza impressa em meu rosto. Mas, acima de tudo, resignado internamente.

Você não se moveu, sequer demonstrou estar consciente de minha presença ali. Me ignorando, novamente – que novidade… Você sempre teve esse dom. Entretanto, dessa vez, eu estava resoluto.

Fitei com amargura a espada que jazia ao seu lado, embebedada de carmim. O líquido que manchava a lâmina nada mais era do que sangue. Eu não me impressionei por isso, sequer retinha qualquer rancor por sua luta. A vitória havia sido mascarada pela dor, a derrota se mostrava bem diante de mim.

Você e suas escolhas tolas.

A vingança contra seu irmão fez com que você colocasse todos de lado. Você não se importou com quem, nem a quem ferir para alcançar seus objetivos. Ambos víamos e sentíamos onde sua sede o havia levado.

Não foi como você imaginou, não é mesmo?

Fizeram com que seu coração se perdesse, mas eu persisti na esperança de que, no fundo - bem lá no fundo mesmo -, envolto na escuridão que havia se tornado a sua alma, o garoto que se tornou a minha pessoa especial mais importante, ainda existisse.

Você jamais saberia da enorme vontade de abraçá-lo que me angustiava. Você estava tão perto…

Finalmente tão perto…

Mas eu não podia. Por mais que eu desejasse envolvê-lo com meus braços, me arriscar, como antigamente, estava fora de questão. Você exerce sobre mim um grande poder e, uma vez demonstrada minha vulnerabilidade, duvidava se não se aproveitaria disso para me destruir.

Eu tinha que me precaver; pensar além de mim. Não poderia cometer seus mesmos erros. Queria, mas não seria egoísta a esse ponto.

- Não acha que já foi longe demais? – perguntei, querendo desesperadamente ganhar a sua atenção.

Percebi a minha voz mais rouca do que usualmente, mas eu sabia que o motivo de minha rouquidão estava ligada ao enorme passo que estava para dar e que afetaria imensamente a minha vida e, quem sabe, a sua também.

Mostrando sua completa indiferença, você ignorou a minha pergunta. Daria tudo para saber o que se passava em sua mente nesse momento, qualquer coisa, apenas para estar dentro de seus pensamentos e assim, entender o que realmente o motivou a chegar até aqui. O que continuava o impulsionando a rejeitar a minha ajuda.

Você sempre foi, inegavelmente, regido por um orgulho desmedido. Eu queria acreditar que seus atos insanos e despropositados fossem reflexos da sua incapacidade em aceitar o quão falho e irresponsável tinha agido durante aqueles anos. Porém, todo o resto parecia ter mais peso, mais razão do que a ilusão que eu tentava sustentar, apenas para não ter que te perder definitivamente.

Certo ou errado?

Destino ou acaso?

Não importa qual a causa. Eu não tinha mais como alcançá-lo, enquanto você não se libertasse desse seu outro lado: a parte obscura de sua alma.

Eu não queria desistir, mas já era hora de começar a caminhar sozinho.

Não obter uma resposta sua, uma reação sequer, me fazia sentir muito mais derrotado do que jamais me senti em minha vida. Estupidamente, eu desejava que você olhasse para mim, que me dispensasse um pouco de atenção, que verdadeiramente demonstrasse que escutava o que eu dizia para você.

- O que você tem a provar? – outra dúvida que eu expus sabendo que seria inútil; que não receberia uma resposta sua.

Um sorriso irônico e, ao mesmo tempo triste, brotou em meus lábios. Nesse instante, percebi o quão estúpido eu continuava sendo. Por mais que me convencesse e afirmasse a minha decisão, eu insistia, inconscientemente, na minha obsessão de arrancar algo que você não queria ceder; algo que me desse o que argumentar: uma margem para convencê-lo a repensar seus caminhos e aceitar a mão que sempre estendi.

Inspirei profundamente.

O passo final precisava ser dado.

- Fui prepotente achando que poderia ir contra a sua vontade. – confessei, consternado.

"Itachi estava certo." – Ri internamente. Você nunca saberia o quão difícil estava sendo definir a nossa situação. Mas, também, para você não tinha qualquer importância.

Virei meu rosto e, forçando as palavras a saírem, sacramentei o meu destino.

- Daqui volto para Konoha, mas… se algum dia precisar, realmente precisar, de um amigo… é só vir até mim. – meu corpo se moveu, virando as costas para o passado que eu tanto persisti em perseguir e finalizei: - Eu estarei sempre te esperando.

- Por quê?

A sua voz – monótona e amargurada – fez minhas pernas congelarem, antes mesmo de se moverem, e meu coração bater mais forte. Minha vontade de encará-lo nesse instante era intensa, mas não cedi. Não olharia para trás, não seria regido pelo passado como outrora ocorrera.

Sem compreender o teor verdadeiro de sua pergunta, limitei-me a rebater:

- Acabou. Eu assumo que perdi para a sua teimosia.

- Fraco. – você retorquiu com escárnio.

Meus sentidos captaram sua movimentação. Os grunhidos que você fez para se colocar de pé, nada mais eram do que um espelho de seu estado frágil e dolorido resultante de sua luta. Meus instintos se aguçaram em uma auto-preservação intensa que anteriormente era inexistente.

Porém, a voz dentro de mim desviou, parcialmente, o foco que eu deveria estar dedicando a você.

"Vamos logo! O que está esperando, idiota?"

" Cala a merda da boca, Kyuubi." – grunhi, mentalmente, para a raposa.

" Ele vai matá-lo quando souber o que temos aqui dentro."

" E a culpa é de quem?"

" Não fui eu quem pediu por isso." – ele cantarolou, sarcástico.

" Cale-se! – ordenei, me arrependendo por estar perdendo o controle tão facilmente. Em um tom mais ameno, pedi: - Apenas fique quieto e me deixe resolver as coisas aqui. Por favor, Kyuu…"

O demônio que habitava meu ser se calou perante meu último pedido. Ele continuava insatisfeito, mas respeitou o meu intento. Eu merecia pelo menos isso vindo dele, depois do que havia aprontado. Só o perdoei por saber que, no fundo, Kyuubi se importava realmente comigo, não só como seu hospedeiro, mas também como alguém querido.

- Ainda não acabou.

A sua voz disse, me tirando da momentânea ausência mental. Assustado, senti seus braços me circundarem e seu corpo encostar-se atrás do meu. Meus olhos, mesmo que você não pudesse ver, se arregalaram em pura surpresa e apreensão. Um erro que poderia ser fatal: abaixei a guarda por um mísero minuto e ali estava você, pronto para retaliar contra a minha determinação.

Engoli em seco e evitei que o tremor se espalhasse por meu corpo quando seu hálito acariciou meu pescoço. Mantive-me inerte, mas, por dentro, estava confuso e incrédulo. Sua ousadia não parecia com as ameaças que sempre recebi de você. Não… Não era de seu feitio tocar seus inimigos dessa forma. Eu, mais do que ninguém, sabia disso, pois sempre ansiei por um momento como esse, totalmente voluntário, em que seus lábios roçariam pela curva de meu pescoço, como fazia agora.

Esse não era você. Você nunca me quis da maneira que eu te desejo.

Entretanto, seus braços estavam ao meu redor e uma de suas mãos passeava por meu tórax, por debaixo de minha jaqueta, alisando meu abdômen de uma forma apreciativa. Abri minha boca com a intenção de dizer algo, perguntar sobre o que infernos você estava pensando e fazendo, mas as palavras se perderam com o carinho, assim como meus olhos se fecharam contra a minha vontade.

Eu preferia estar imaginando tudo isso, principalmente, quando ao som de sua voz imperativa, tornei a abrir os olhos, assustado.

- O que é isso? – você me questionou e senti o sangue se esvair quando notei onde sua mão descansava.

Quis me afastar, mas você me impediu, usando seu outro braço para envolver o meu pescoço de modo a me prender firmemente contra seu corpo.

- Que… Mas o que diabo é isso? – você indagou, mais uma vez, em demanda, ainda mantendo a mão em meu ventre, usando sua habilidade para tentar distinguir o que já havia percebido anteriormente. - Que chakra é esse?

- Me larga! – gritei nervoso, tentando me livrar, mas não foi necessário, pois logo você me empurrou para longe de si.

Cambaleei, tropeçando uns bons passos à frente, mas consegui manter meu equilíbrio. No mesmo instante, me virei para olhá-lo nos olhos e vi que existia um extremo desgosto e curiosidade misturados com confusão em seu semblante.

Você era a única pessoa que eu não queria que descobrisse isso. Mas, mesmo sendo perspicaz, você não compreendeu o que havia de diferente em mim.

- Tem algo aí dentro, além da raposa. – você apontou, transformando em escárnio a sua réplica. - Que monstruosidade está abrigando agora? Foi por isso que conseguiu me derrotar?

As palavras me feriram muito mais do que você poderia julgar, mas, mesmo assim, as disse de modo consciente e com a intenção de proferi-las. Era por reações como a sua, que eu mantinha esse segredo, até então. Por temer que, futuramente, o meu passado infeliz se repetisse com alguém que eu já amava sem ao menos conhecer.

Por isso, meu rosto se fechou em pura ameaça e meus olhos se crisparam em fúria.

Enquanto eu vivesse, a história de Naruto Uzumaki jamais se repetiria.

- Não ouse insultar o meu filho!

- Filho?

O choque, em seus belos traços faciais, ficou evidente. Você não esperava por essa resposta – acredito que ninguém esperaria por uma revelação assim. Entretanto, apesar de soar totalmente insano, era a verdade.

A única verdade que existia ali.

oOo

Quando tudo se tornar realidade
É onde tudo estará acabado para você e para mim
Eu estou prestes a perder o controle
O amor encontrará um caminho a tempo?
Por favor, não tente afastar essas lágrimas com beijos
Sabemos que ambos já cometemos erros
Se eu pudesse fazer tudo de novo
Eu não mudaria coisa alguma…

oOo

Continua...


Notas da Blanxe:

Aí está o prelúdio de Essência. Esse arco contará o passado de Naruto e Sasuke e todo o processo que desencadeou o envolvimento dos dois. Pode parecer um pouco confuso no momento, mas essa parte é um ponto mais adiante dentro da própria Essência. Ou seja, o próximo capitulo vai começar com o Naruto criança ainda e a historia vai ser contada até chegar a esse determinado ponto aqui e daí prosseguir pro final, ok?