Episódio 1

24 de Novembro de 2008:

O dia finalmente chegou; o dia que qualquer um tinha vindo a aguardar desde o inicio do ano, o dia em que o destino de Buzzwire podia mudar para sempre.

Tess Mercer, filha de um dos políticos mais influenciáveis da região, tinha vindo a adquirir, juntamente com o pai, posse de todos os jornais de Vancouver.

Quando Beth conheceu Tess Mercer, há 2 meses, num evento, já sabia que iria tornar a ver aquela mulher mais vezes ao longo da sua vida; nunca pensou é que pudesse ser tão mais rápido do que pensava: era uma mulher com expressão decidida, uma máscara implacável; um olhar frio e distante.

Naquele momento, Beth pensou que Buzzwire já tivera líderes suficientes e que com o anterior, qualquer um que viesse depois, nunca o iria ultrapassar.

Beth esperava, muito sinceramente, que aquele pensamento se verificasse verdadeiro: Buzzwire não se podia dar ao luxo de fechar também ali, naquela zona, onde empregava cerca de 6% da população de Victoria, em plena Vancouver, e o que se verificou em Nova Iorque e Kansas não se podia repetir também naquele local; colocaria no desemprego milhares de desesperados repórteres, que tinham lutado durante anos, para manterem Buzzwire o mais imortal e forte possível.

Beth Turner, de 30 anos, conseguira colocação no jornal aos 22 anos, depois de se ter especializado em Jornalismo, tendo-se tornado, em apenas 2 anos, uma das melhores jornalistas do Buzzwire.

Allison, sua irmã, ameaçava seguir os seus passos, desde que fora aceite, por mero próprio, para integrar nos quadros do jornal.

Allison era a sua irmã mais nova, com apenas 26 anos; Cindy era a segunda irmã mais nova, com 28 anos.

Beth era a quem todos recorriam quando precisavam de conselhos; Allison era a mais nova, mas a luz das vidas de Beth e Cindy, a que as alegrava com a sua boa-disposição e o seu humor, o seu sorriso; Cindy era a mais problemática: gostava de se envolver com rapazes de história duvidosa e saía quase sempre a sofrer com isso; nunca tinha muita sorte no amor nem na vida profissional até que Beth e Allison conseguiram com que ela fosse trabalhar no Jornal Buzzwire.

Cindy tinha um dom, desde pequena: sempre adorou observar as pessoas e tudo o que a rodeava, adorando tirar fotos, incluindo a animais e objectos.

Certa vez, Beth e Allison precisavam de um fotógrafo e decidiram levar Cindy, quando investigavam um caso de assassínio; nenhum fotógrafo foi capaz de o fazer, mas Cindy captou, com o seu olhar de lince, provas cruciais que ajudaram a descobrir e a revelar o assassino.

Desde aí, Cindy foi imediatamente aceite e passou, de imediato, a trabalhar com Allison e Beth no mesmo Jornal.

Neste momento, Cindy estava bem, assim como Beth e Allison a nível profissional, claro está, se Buzzwire não fechasse como os outros e fosse adquirido por Tess Mercer, a nova compradora.

O evento continuou, até que a mulher ruiva, de aspecto austero, subiu ao palco e começou a falar: - É com grande ansiedade que tenho aguardado por este dia: 24 de Novembro de 2008; nunca o esqueçam, repórteres e leitores do Buzzwire porque este vai ser lembrado como o dia em que Buzzwire continuará a crescer… - A voz da mulher elevou-se desta vez, secundada pelas palmas aliviadas, alegres dos trabalhadores - … Por isso, eu, Tess Mercer, é com grande honra que me torno a nova chefe… - Tess Mercer sorriu, um sorriso que parecia genuinamente orgulhoso - … De modo a que possamos continuar a divulgar os assassinos, os corruptos e os podres desta sociedade, para que possamos, assim como os nosso amigos e familiares, viver numa maior harmonia… - As palmas abafaram o resto do discurso da mulher, que segundos depois, abandonava o palco, dirigindo-se para uma sala ao lado, onde se iria proceder ao negócio.

Buzzwire estava salvo, ninguém sabia por quanto tempo mais; as irmãs suspiraram de alívio e começaram a falar entre todas, entusiasmadas, mas Beth tornou novamente a sentir aquela sensação estranha de que estava a ser observada.

Olhou para trás e lá estava o mesmo vulto masculino, quase nas sombras, que olhava para ela; Beth sentiu o seu coração bater de nervoso; já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha visto aquele mesmo vulto a observá-la.

- Beth, hei, truz truz – Beth desviou o olhar rapidamente, quando a irmã Allison estalou os dedos perto da sua visão, fazendo-a retornar ao "presente".

- Ai, parva!

- 'Tavas a olhar para onde, mana? – Allison seguiu o olhar da irmã; Beth tornou a olhar para o mesmo lugar, mas desta vez, o vulto tinha desaparecido.

Beth não sabia o que sentia naquele momento, mas suspirou, sentindo a respiração voltar ao normal e desta vez, olhou para um outro vulto, que vinha a correr, com as faces coradas, sorrindo.

O vulto aproximou-se de Allison por detrás e tapou-lhe os olhos, piscando o olho a Cindy e a Beth.

- Clark! – Allison disse com um sorriso radiante, tocando nas mãos do namorado.

Allison voltou-se na sua direcção e abraçou-o, beijando-se ambos de seguida.

- Uhhh! – Cindy olhou de lado para o par, com um sorriso trocista.

Clark e Allison conheciam-se desde o 7º ano, tendo começado a namorar à 5 anos atrás.

A relação que Allison tinha com Clark era segura, mas as irmãs não sabiam ao certo se era realmente amor, mas era uma relação linda de se ver, como se ambos soubessem os segredos um do outro.

Por vezes, quando os apanhavam sozinhos, Allison e Clark segredavam algo que Beth e Cindy e mais ninguém nunca eram postos a par, mudando o casal rapidamente de assunto.

Allison e Clark encontravam-se abraçados num aperto forte, Allison concedendo beijo após beijo nos lábios e face dele; tanto Beth como Cindy se derretiam ao vê-los.

- Então, já soube que Buzzwire está salvo! Eh! Eh! – Disse Clark.

- Yap! E podemos continuar na boa vida. Yupiii! – Secundou Cindy.

- Sinceramente estou surpreso! Pensei que o Buzzwire não tivesse hipóteses contra o Daily Planet!

- Bah! Nem me fales! A nossa prima não pára de nos massacrar com isso… a dizer que é a melhor… Blah Blah Blah…

- Ela não vinha hoje, Allie? – Perguntou-lhe Beth – Onde está ela?

- Provavelmente anda por aí a ver se "engata" mais algum… Bah!

- Por falar no "diabo"… - Troçou Cindy.

Lois Lane surgiu-lhes à frente, com aquele seu sorriso trocista.

- Oh Christ! – Bufou Clark, rebolando os olhos.

- Olá, prima! – Allison sorriu para ela que a abraçou, assim como a Beth e a Cindy, de seguida.

- Olá, Clarky! – Disse Lois, para Clark, que desta vez, assumiu uma expressão ainda mais impaciente.

Lois e Clark andavam sempre a implicar um com o outro; por vezes, Beth e Cindy pensavam se Lois e Clark não teriam um fraquinho um pelo outro, mas rejeitavam a ideia de imediato; isso deixaria Allison de rastos, que amava Clark demasiado e suspiraram, sentindo aquela pontada de embirração contra ela, não o conseguindo evitar.

Cindy, então, era a que mais parecia notar aquela química entre a prima e o actual namorado de Allison, sendo a que menos a tolerava de todas; Allison nada dizia, limitando-se a olhar, até que, quando Lois se ia embora com ar altivo, Clark a beijava ou a abraçava e Allison parecia voltar ao seu estado sorridente.

Por vezes, Beth e Cindy comentavam que Clark não era o homem ideal para Allison, quando a viam pensativa e até tristonha, estados esses que se observavam depois de Lois lhes surgir à frente, incluindo a Clark.

Clark, Beth, Cindy e Allison podiam, assim, continuar com o trabalho: desta vez, tinham em mãos corpos que foram encontrados com mordeduras no pescoço; o caso era extremamente intrigante, porque na maior parte dos casos, os corpos eram encontrados sem qualquer rasto de sangue no seu interior.

- Ah! Ah! Temos um morcego mutante entre mãos – Surgiu a voz conhecida de James Dampet, o especialista em informática, mesmo por detrás dos quatro repórteres.

- Bem, se calhar, os vampiros existem mesmo. Será que há por aí algum sexy, lindérrimo, jeitoso, que me podia salvar? – Allison olha de lado para o namorado, que faz beicinho.

Naquele momento, no entanto, a brincadeira é interrompida, quando a nova chefe, Tess, lhes surge à frente e diz, apanhando-os de surpresa e fazendo com que todos se calassem, abruptamente.

- Agradecia que você, Beth Turner e vocês as duas, se preparassem para investigar o caso. Posso contar com vocês? – O tom de voz de Tess era ao mesmo tempo cordial e autoritária, não dando margens para a desobediência – E já me custa mandar três irmãs para o mesmo caso. Você, tenho outro caso para si… siga-me… - Tess olhou para Clark, que engolindo em seco e concedendo um beijo rápido nos lábios de Allison, a seguiu até ao gabinete.

Vários fotógrafos encontravam-se já no local onde o corpo ainda não tinha sido retirado pelas autoridades.

No entanto, uma pequena multidão assistia, chocada, enquanto vários agentes colocavam a fita amarela para ninguém se aproximar.

Beth e as irmãs, Cindy com a máquina fotográfica ao peito, aproximaram-se do local, onde alguns paramédicos as fixavam, uns aborrecidos, notando-se claramente que odiavam jornalistas, outros parecendo admirar a beleza e o corpo delas.

Podia ser que três raparigas bonitas ajudasse a situação, apesar de Beth odiar utilizar a sua beleza e a das irmãs como uma vantagem.

- Boa tarde – Beth e as irmãs tiraram a identificação de jornalistas do Buzzwire – Que informação nos podem fornecer sobre este caso…

- Nada – começou um deles, muito carrancudo, depressa interrompido pelo colega ao lado.

- Só sabemos que este corpo foi encontrado hoje por volta das 17:00h, por uma rapariga ainda jovem – O paramédico apontou na direcção de uma ambulância, onde se encontrava sentada uma rapariga loira muito jovem; 2 agentes do FBI pareciam estar a interrogá-la.

- Obrigada – Sorriu Cindy para os 2 paramédicos, enquanto outros, por detrás destes, davam risadinhas, mirando-as.

Aproximaram-se da rapariga e dos 2 agentes; um deles era muito alto, extremamente atraente, um tipo de homem que deixava Beth e Allison de coração em alvoroço: alto, atlético, olhos verdes carinhosos e com a face mais perfeita que alguma vez viram; Beth olhou atentamente para Allison, que parecia não conseguir desfitar o agente, com uma expressão interrogativa, ao mesmo tempo que a sua face se encontrava num tom escarlate.

Beth não pôde disfarçar um sorriso, quando a via deixar cair constantemente a caneta e o bloco de notas ao chão, atrapalhadíssima.

Cindy, essa, não parava de olhar para o agente ao lado, o seu género de homem, loiro, ligeiramente mais baixo que o colega, olhos de um tom verde claro e com um sorriso trocista, também ele muitíssimo atraente.

- Boa noite, senhores agentes – começou Beth, esperando a qualquer momento, uma reprimenda ou um tom de voz antipático da parte deles.

No entanto, o loiro, pouco olhou para Beth, parecendo dirigir-se essencialmente a Cindy, enquanto o mais alto só parecia fitar Allison, conforme a conversa entre o agente e Cindy decorriam, ao mesmo tempo que a rapariga ia acrescentando alguma coisa.

Tudo o que Beth ouvia ia tomando nota no seu bloco, constatando pelo que a rapariga dizia, que o homem tinha sido morto por outro homem, mas a descrição que ela dava do assassino é que lhes chamou a atenção: pelas palavras dela, o homem era alto, bastante entroncado e movia-se a uma velocidade incrível, apanhando a vítima em segundos, debruçando-se sobre ela, à qual lhe sugou o sangue, relatando também, que o homem mal vira que a sua vítima se encontrava morta, se erguera de um salto, com os lábios e o queixo completamente sujos de sangue e partira em segundos, à mesma velocidade sobre-humana.

A rapariga baixou a cabeça, parecendo envergonhada, enquanto Beth, Allison, Cindy e os 2 agentes trocavam olhares, Beth não soube descrever o que significavam a troca de olhares entre Cindy e o agente loiro.

Minutos depois, Beth despediu-se dos 2 agentes; Allison seguiu-a, mas parecia renitente, lançando olhares para o agente mais alto, parecendo pensativa, o agente também ele, seguindo-a sempre com o olhar, como se lhe custasse vê-la partir.

Cindy, no entanto, surpreendeu as irmãs, quando disse ao agente mais baixo: - Obrigada, Dean… I mean… agente… - Cindy corou e seguiu as irmãs até ao carro, Allison agora com uma expressão intrigada, ao mesmo tempo que Cindy se apressava a entrar no banco traseiro do Jipe de Beth, sem abrir mais a boca.

Tudo aconteceu em segundos, mas naquele instante, 3 vultos surgiram-lhes à frente do Jipe, obrigando Beth a travar: eram 3 homens assustadores, que as observavam com olhar faminto; Beth sentiu Cindy mexer-se, irrequieta ao seu lado e Allison abafar um grito, no assento de trás, até que o Jipe sofre um abanão e Beth sente a porta do seu lado ser arrancada, com uma força extrema.

Em segundos, Beth e as irmãs eram conduzidas a uma rua, quase voando, sendo atiradas contra uma parede; a cabeça de Beth ressentiu-se da dor e viu tudo a andar à roda, até que um dos homens se debruça sobre ela, não sentindo qualquer grito sair da sua boca, mas ouvindo claramente o das irmãs.

Beth tentou sair daquela situação, até outros gritos furiosos, desta vez, os dos seus raptores, soaram aos ouvidos das 3 e é nesse preciso instante que Beth, Cindy e Allison vêem com os seus próprios olhos, dentes, como presas, crescerem na boca dos homens que se encontravam sobre elas.

Os homens largam-nas no chão, não conseguindo sentir mais nada para além de ruídos do que parecia ser uma luta e berros.

As irmãs encontravam-se ainda tontas, Beth sentindo a sua nuca com sangue e o seu sabor na boca; Allison sentia-se entorpecida com a pancada que recebera na cabeça contra a parede e Cindy não sentia um dos braços, tentando erguer-se, mas gemeu, com dores.

Até que ouviram passos e vozes preocupadas.

Beth sentiu uma presença alcançá-la e quando o viu, sentiu uma pancada no coração: era como se uma pintura que estivera desbotada, se encontrasse agora nítida à sua frente.

O vulto que a observara durante meses antes, talvez anos, sem nunca se revelar, apresentou-se-lhe diante dos seus olhos: era um homem moreno, extremamente atlético, com uns belíssimos olhos castanhos e em suma, transmitindo uma sensualidade que Beth se sentiu corar e suspirou quando sentiu o homem pegar nela ao colo, não parando ambos de se fitar.

Allison tentou erguer-se, mas sentia a cabeça pesadíssima, até que o agente que conhecera naquela tarde, o mais alto, cuja face Allison jurou já ter visto mais vezes, sem, no entanto, se recordar de onde, lhe surgiu à frente, com os olhos abertos de pura preocupação.

Allison sentiu-se segura com aquele homem perto dela; ela também se sentia segura com Clark, mas enquanto que Clark era seu namorado e guarda-costas em simultâneo, com este rapaz, Allison sentiu um outro tipo de segurança, como se o rapaz fosse capaz de fazer tudo por ela, até ás últimas consequências e fixou o olhar dele, terna.

O rapaz olhou-a de volta e Allison não soube dizer quanto tempo assim estiveram, o olhar dele agora carinhoso, até que a tocou suavemente na face com uma mão, como se já esperasse por aquele momento há muito tempo e Allison sentiu-se nas nuvens.

De seguida, o rapaz segurou nela ao colo, com uma agilidade surpreendente para um humano.

Allison sabia que para Clark, ela era uma pena, mas para este humano, também ela assim lho parecia e sentiu-se bem nos braços dele e depois nada mais.

Cindy sentiu uma mão forte erguê-la do chão: - Não te preocupes, Cindy. Vai tudo correr bem!

- Dean?

- Shiu! Não eras tu que não querias que ninguém soubesse que andavas com um caçador? Então podemos aproveitar esta ocasião para fingirmos que nos conhecemos assim…

Cindy beijou-o na face, sentindo-a abrir-se num sorriso, deixando-se ser conduzida até ao carro dele, onde o irmão e Allison também já se encontravam.

- A Beth? – Perguntou Cindy

- Não te preocupes, Cindy. De todas, ela é bem provável que seja a que esteja melhor – Dean piscou-lhe o olho e o irmão arrancou com o carro de ambos, um Chevrolet Impala, de 1967.