OS PERGAMINHOS DE NOSSA EXISTÊNCIA
Autora: Angela Miguel
Contato: angela.miguol.com.br e ametistaluahotmail.com
Categoria: Geral/Romance
Shipper: Harry/Hermione
Spoilers: 1 a 5 livros
Sinopse: Pós-Hogwarts. Hermione é uma jornalista famosa do Profeta Diário e é designada para uma reportagem especial com o Departamento de Espionagem e de Aurores do Ministério da Magia. Porém, pior do que pisar onde prometera não mais pisar é reencontrar alguém que não se esquece. Para voltar a ter sua vida de volta, Hermione só precisará realizar esta matéria. Mas, quando o passado reabre feridas e sentimentos, não há vida que volte a ser a mesma.
Disclaimer: Esta história não tem ligação com J.K.Rowling ou qualquer empresa ligada a série e marca Harry Potter. Não há fins lucrativos.
Nota da Autora: Oi pessoal! Eu criei essa fic hoje mesmo, estou postando e já aviso que não li uma segunda vez ou passei por qualquer beta reader. Prometo que arranjarei um logo! Essa é uma fic sem ligação com a série Varinha de Prata ou outras que farei adiante, como a da parceria com a Karen. É apenas uma diversão com o meu casal favorito, H/H. Dedico esta fic a todos da Família H², ou agora só H. Amo todos vocês! Beijinhos e espero que gostem!
CAPÍTULO UM – A MELHOR JORNALISTA DA INGLATERRA
"Por mais quanto tempo terei de agüentar esse falatório?", pensou a mulher, rolando os olhos nervosamente. "Já não paguei todos os meus pecados na semana passada?", continuou a lamentar, ouvindo com impaciência a irritante e nasalada voz daquele homem.
- Ouça com atenção Granger, eu necessito desse relatório na minha mesa amanhã de manhã! Se ele não estiver, poderá dar adeus ao seu novo cargo, está entendendo?
Hermione exibiu um sorriso com os lábios cerrados, aparentando calma. O homem resmungou qualquer outra coisa e deu as costas, deixando-a em sua sala. A porta foi batida em seguida. A jovem bufou e colocou o rosto entre as mãos, seus cotovelos apoiados sobre sua mesa. Porque havia aceitado o maldito emprego? Sua vida não estava lá àquelas coisas para ficar se enchendo de mais tarefas! Agora, ela respondia diretamente ao diretor, e ninguém, definitivamente, merecia um chefe como o dela.
Seu sonho sempre fora trabalhar em algo que realmente fizesse diferença para o mundo. Pensou em se tornar uma auror, mas lutas e ferimentos não eram sua praia. Depois, em espionagem, porém seu disfarce era facilmente descoberto quando as palavras começavam a sair de sua boca. E finalmente, trabalhar no Ministério da Magia e fazer algo ligado a Cooperação Mágica. Mas que graça teria trabalhar lá, afinal?!
- Srta. Granger – sussurrou uma senhora, adentrando em sua sala. – Gina Weasley mandou uma coruja perguntando se a senhorita poderá comparecer ao jantar.
Com os olhos ainda fechados, a voz de Hermione veio baixa e exausta.
- Diga que não, Sra. Walters – respondeu, curvando os dedos de decepção. – Tenho que terminar um relatório, não chegarei a tempo. Diga que sinto muito.
A senhora de curtos cabelos acinzentados e olhos castanhos concordou com a cabeça e fechou a porta novamente. Hermione chutou o tampo da mesa, proferindo um palavrão. Erguendo sua cabeça das mãos, abriu os olhos e mirou o escritório parcialmente escuro. O trabalho no Profeta Diário encaixou-se perfeitamente em seu estilo, seu perfil e suas convicções. Porém, nada a esperava por tanto trabalho! Fazia três semanas que não saía de sua casa. Seu único caminho era da casa para o Profeta, do Profeta para sua casa. Gina certamente ficaria furiosa.
A jovem de corpo esguio e profundos olhos castanhos cruzou as pernas e largou as costas em sua cadeira. Por um breve instante, perdeu-se em lembranças. Exatamente ela que não gostava mais de pensar muito. Dava-lhe muita dor de cabeça.
Hermione Granger tinha vinte e sete anos, completos há pouco mais de um mês. Era repórter do Profeta Diário e, recentemente, havia sido promovida a editora de sua área. Hermione trabalhava em política mágica e adorava interferir nos assuntos mais inflamáveis do Ministério da Magia. Em seis anos de muito trabalho, Hermione já havia adquirido uma lista considerável de inimigos por toda a Inglaterra, se não além. Não que fosse uma má jornalista, pelo contrário. Suas reportagens tornaram-se as mais temidas pelos políticos, e por isso mesmo, somente sua presença já causava comoção em todo lugar.
O problema era que o trabalho no Profeta consumia todo seu tempo, ainda mais nos últimos três anos, em que tornara repórter especial. A bruxa nunca quis ser promovida, até porque o trabalho de editor era menos intenso do que o de repórter, mas o salário era definitivamente mais satisfatório. "Só para checar, eu realmente escolhi este trabalho, não é?", brincou consigo mesma, o olhar paralisado em um pedaço vazio de sua mesa.
Uma nova batida em sua porta. Hermione endireitou-se e permitiu a entrada. Assim que viu o contorno do corpo daquele homem, suspirou aliviada. Voltou a recostar-se na cadeira. O homem adentrou e fechou a porta em seguida, aproximando-se da mesa dela.
- Já são sete horas, sabia? – disse ele, num tom de advertência.
A mulher o ignorou e continuou quieta. O senhor andou até ela e sentou sobre sua mesa, exatamente na direção de seu olhar. Hermione ergueu os olhos, dando-se por vencida.
- Dia difícil? – questionou o homem.
- Você não acreditaria se te dissesse o quanto – respondeu a jovem, voltando à postura correta no assento. – Eu passo todos os dias pensando se foi a decisão correta ter aceitado esse cargo.
O homem passou a mão sobre o queixo. Hermione pôde ouvir o som dos dedos raspando na leve barba que residia ali. Ela fechou os olhos, imaginando coisas passadas, como aquele exato som. Assim que os abriu novamente, notou que ele permanecia encarando-a.
- Hermione, você é perfeita para esse cargo, não me venha com essa agora! – ralhou o olhar, passando os dedos ainda no queixo. – Só que você se esforça demais, o Nicholls só faz que é bravo, mas é uma florzinha...
- Oh, pelo amor de Deus, Justin! – replicou Hermione, pigarreando. – Você não imagina como ele pega no meu pé, fica procurando erros o tempo todo em seus textos, imprecisão nas minhas informações, buracos nas minhas pautas, é horrível!
Justin Williams ergueu uma das sobrancelhas e riu diante da parcial histeria da jovem. Hermione era divertida em seu modo, exatamente aquele. Levando tudo até as últimas conseqüências.
- Ele é mesmo, é todos nós sabemos – respondeu Williams, piscando para Hermione. – Você mesma o pegou com o cara do café, não foi?
Hermione fez uma careta.
- Na verdade, foi minha amiga Gina, e ela me arrastou até lá para assistir. – corrigiu com certa preguiça.
Por um momento, Hermione segurou a risada. Os olhos de Justin brilharam ao anúncio do nome da caçula dos Weasley. A bruxa mordeu os lábios, imaginando como gostaria de ter aqueles doces olhos azuis sobre ela. Justin era uma obra prima do mundo, certamente. Cabelos loiros que caíam em seus belos olhos, Williams tinha qualquer mulher que ele quisesse. Pena que fosse tão safado com as mulheres.
- Gina hein... – murmurou Justin, o olhar cheio de malícia. – Como está a Gina?
- Bem, pelo que eu saiba – afirmou a mulher, ajeitando a meia calça na região do tornozelo. – Eu ia encontrá-la daqui uma hora, mas tenho que preparar o último relatório do caso Chipre, então desmarquei...
- Você desmarcou?! – gritou Justin, dando um pulo da mesa. – Me diga aonde ia encontrá-la, por favor! Deixe-me ir atrás dela, Hermione! Por favor, você sabe que eu sou um cara legal!
A editora ergueu-se de sua cadeira e começou a juntar alguns papéis sobre a mesa e em uma bolsa. Justin ficou pulando que nem um idiota enquanto ela, pacientemente, guardava seus pertences em sua sacola. A velha Sra. Walters adentrou na sala e disse que estava indo embora. Hermione permitiu e agradeceu pelo dia.
Com Justin no seu pé, Hermione deixou o âmbito e entrou logo no elevador de seu andar. Williams ficou agitando sua blusa, como um garoto de cinco anos, pedindo que ela permitisse e dissesse o lugar em que ia encontrar-se com Gina. A mulher começou a perder a paciência e a graça naquilo e tornou-se velozmente para Justin, aparentando nervosismo.
- Escute, e escute muito bem, Justin – disse ela, apontando o dedo no rosto do belo rapaz. – Se você fizer qualquer coisinha com a Gina estará morto! Eu posso até te indicar aonde iríamos nos encontrar, mas você deve me prometer que não sairá um dedinho da linha, entendeu?!
Williams pegou ambas as mãos de Hermione e sorriu plenamente, beijando-as com delicadeza.
- Oh, você é minha deusa! Minha musa inspiradora! Minha gata...
- Chega Justin! – Hermione arrancou as mãos de Williams e deu um passo para trás, observando que o elevador chegara em seu andar. – Eu ia me encontrar com a Gina na Madame Cartingans. E eu espero que você não mencione o meu nome para ela, faça que seja um encontro casual, ok?!
Justin juntou os pés e bateu continência para Hermione, soltando um "sim senhora" em alto e bom som. Hermione bateu com a bolsa na cabeça de Justin e seguiu seu caminho. Que espécie de repórter seria aquele? Provavelmente, do tipo que adora descobrir qual a posição sexual preferida de suas entrevistadas.
Seu apartamento não era grande coisa, mas simplesmente tinha a sua cara. Dois quartos, uma sala espaçosa e, logicamente, uma grande estante cheia de livros e enciclopédias. Em uma das prateleiras, três estátuas, duas de prata e uma de ouro – seus prêmios de jornalismo. Toda vez que Hermione chegava em sua casa, fazia questão de encarar aqueles três prêmios e recordar-se de do propósito de ter escolhido aquele caminho. Vendo-os ali, tudo valia a pena.
Largando sua bolsa sobre um dos sofás, Hermione jogou um sapato para o lado da cozinha, e outro para o lado da varanda. Sentindo os pés formigarem, caminhou com dificuldade até a cozinha e preparou rapidamente um lanche com salame e queijo. Tirando uma taça do armário, encheu-a com vinho tinto e voltou à sala. Largando-se em seu sofá, ligou a televisão – nada como uma vida bruxa somada aos costumes trouxas.
Hermione saboreou o lanche e tomou duas taças cheias de seu vinho. A sensação quente que começava a se espalhar pelas suas estranhas a deixava satisfeita. Olhando para a taça sozinha sobre sua mesinha, a mulher percebeu como sua vida andava um repleto caos. Sua vida social estava destruída e, como se não bastasse, seu chefe a ordenara preparar um extenso relatório sobre o caso Chipre para o dia seguinte. Quando escolheu ser jornalista, não imaginou que sua vida seria comprimida àquilo. Não que ela não gostasse da sua profissão, estava completamente apaixonada, porém nada a preparara para as conseqüências dela.
Tomando a última taça de vinho – a quarta – Hermione dirigiu-se para o dormitório. Sua cama era de casal, longa e com dossel azulado. O luar convidava-a para a varanda de seu quarto, mas Hermione preferiu trocar-se primeiramente. A camisola branca caiu como uma luva em seu corpo, e seu corpo a guiou até a varanda. Era noite de lua minguante, bela e majestosa. A brisa atingiu seus cabelos ondulados e agitou as madeixas em seus olhos.
Voltando para dentro e paralisando na meia-luz, a jovem iniciou uma busca por seus papéis em inúmeras gavetas de sua escrivaninha. Cerca de dez deles foram colocados sobre a mesa e Hermione puxou a luminária e uma cadeira para se sentar. Sabia que o vinho começava a fazer efeito sua visão estava preguiçosa e seu corpo já não correspondia aos estímulos tão rapidamente quanto deveria. As palavras começavam a ficar embaçadas, e as frases destorcidas. A pena não ficava segura entre seus longos dedos. Então, seu olhar recaiu sobre um novo espaço vazio, desta vez na sua escrivaninha.
Alcançando a mãos sobre a última gaveta dela, Hermione retirou um porta-retrato. Era delicado, de madeira trabalhada. Seu olhar escorregou pela moldura, passando os dedos gentilmente até pousarem sobre a foto que ali estava. Hermione trajava um vestido negro e o homem ao seu lado, uma veste esverdeada. Fechando os olhos, relembrou como ele segurava sua mão, e como ela estava envolvida por aquele momento tão especial. Seus fios lisos e avermelhados que encontravam o brilho de olhos castanhos, olhos que estavam postados nos dela. Hermione sabia que era feliz.
Namorou por longos cinco anos com ele. Ele que fora seu amigo em Hogwarts que a acolhera nas situações adversas, que chamava atenção para seu jeito bitolado e agitado demais, que ofereceu um ombro amigo e que lhe deu todo seu coração. Aqueles eram tempos de felicidade plena, de realização, de satisfação. Hermione amara Ronald Weasley com sua alma. Entretanto, nada dura para sempre.
Por inúmeras vezes, pensou se não seria mais fácil se ele tivesse morrido na Grande Guerra. Voldemort havia assassinado tantos, por que não poderia ter o levado também? Mas isso era totalmente irracional de sua parte. Lidar com a dor é incrivelmente difícil, mas Hermione sabia que o barco, um dia, afundaria. Só não imaginava que ela seria a culpada.
Talvez fosse por isso que Hermione escolhera aquele trabalho de editora. Podia reclamar que sua vida social estava sendo esmagada, que consumia até suas horas de sono, mas tudo se justificava. Sua obsessão por ser a melhor, bem-sucedida, realizada profissionalmente, destruiu seu relacionamento. Rony trabalhava no Chudley Cannons por quatro anos e pertencia à seleção da Inglaterra de quadribol como goleiro titular absoluto. O sonho fora realizado após uma temporada espetacular no Puddlemere United em que tomara apenas dez gols em cinqüenta partidas. Ninguém poderia ficar mais feliz que ela. Mas nem tudo ia como deveria.
Rony pedira Hermione em casamento no quarto ano de namoro. Provavelmente, aquele dia – o da foto – fora o mais emocionante de toda a sua vida.Tão romântico tão simples e tão apaixonado. Sabia que se casaria com Rony, que teria filhos e mais filhos com ele, e que todos nasceriam ruivos. Por mais piegas que isso pudesse ser, era o sonho de Hermione continuar com Rony pelo resto de seus dias.
O trabalho não permitira. Quando se tornou repórter especial, Hermione não tinha mais noites, finais de semana ou feriados. Cada dia o Profeta Diário a consumia, e destruía sua relação com Rony. O velho boboca e apaixonado garotinho por quem decidira casar não era mais o mesmo. Exatamente como ela também não era mais. "Escolha, eu ou o Profeta, e eu realmente falo sério, Hermione!", foi o ultimato. Cerca de seis meses depois, ficou sabendo que Rony havia tido um affair no último mês de relacionamento com Lilá Brown. Sua velha companheira de Grifinória era a relações públicas do Cannons. Extraordinariamente, aquilo não surpreendeu em absoluto. Toda vez que deitava com Rony, sentia o perfume de Lilá. "bvio.
"Sua culpa, idiota!", lamentou, encarando a foto tão bela, mas, hoje, tão mentirosa. Hermione não amava mais Rony. Isso acontecera à cerca de um ano e meio. Encontrara-o por três vezes depois do acontecido. Já eram oito meses sem encontrá-lo. Era melhor, preferia saber de seu relacionamento com as mulheres à distância.
O relatório do caso Chipre permanecia intocável. Hermione bufou e dirigiu-se até o despertador, colocando-o para despertá-la duas horas antes do horário normal. Agora, ela somente precisava deitar a cabeça no travesseiro e esquecer os erros do passado.
Deixando um envelope sobre a mesa de Nicholls, Hermione deu meia-volta e dirigiu-se silenciosamente para sua sala. Não pretendia ser incomodada às sete e meia da manhã. Assim que deu de cara com seu escritório, quase caiu para trás. Sobre sua mesa havia um grande vaso de rosas vermelhas. Realmente enorme.
Boquiaberta Hermione caminhou até ele e procurou freneticamente um cartão. Suas narinas foram invadidas pelo suave perfume das rosas, e os pêlos de sua nuca arrepiaram-se. Quem poderia ter mandado aquilo a ela?
A Sra. Walters entrou sorrateiramente na sala e paralisou ao lado de Hermione. O cheio começava a se espalhar por todo o escritório. Hermione tornou-se para a secretária e continuou boquiaberta, procurando o cartão, mesmo que encarasse ainda apenas à senhora. Não demorou para que ela sorrisse desanimada para Hermione e dissesse:
- A senhorita não gostará de quem é esse presente – imediatamente, Hermione ficou branca e encarou a Sra. Walters temerosa. Não poderia ser. – É do Chefe de Espionagem do Ministério da Magia.
A perplexidade de Hermione transformou-se numa onda de descontentamento. A mulher soltou a respiração e fechou a cara. Olhando as rosas com pena, colocou o vaso sobre o chão. Sra. Walters mordeu os lábios, também desapontada.
- Será que ele nunca se cansa! Já falei que não aceito presentes do Ministério, muito menos vindos dele! – exclamou a editora, jogando alguns papéis sobre a mesa nervosamente. – Pensei que tivesse finalmente me deixado em paz!
Lentamente, a secretária estendeu um pedaço de pergaminho para sua superior. Hermione olhou torto para a Sra. Walters e bufou logo em seguida. No cartão, dizia:
Cara Srta. Hermione Granger,
Gostaria de que aceitasse meu presente, ao menos desta vez. Antes que me atinja com seu, perdão da palavra, "falso moralismo" queria que entendesse o porquê do presente. Isto é como uma comemoração, um convite de boas-vindas aqui no Ministério da Magia. Seu editor-chefe, o Sr. Robert Nicholls, comunicou-me sobre sua permanência e atuação nas nossas dependências a partir da próxima semana. Posso expressar minha sincera satisfação de tê-la entre nós. Tenho certeza de que iremos nos dar muito bem. O Profeta Diário é o veículo de comunicação de maior prestígio de nossa comunidade bruxa, e espero que mostre como está a sua altura.
Espero sua presença na segunda-feira, em meu departamento e no Departamento de Aurores. Certamente, ambos a receberam com muito prazer. Desde já agradeço sua compreensão.
Sr. Draco Malfoy
Chefe do Departamento de Espionagem do Ministério da Magia
- O QUÊ?! – berrou Hermione, perplexa demais para conseguir completar alguma informação a mais para sua secretária, que tinha os olhos curiosos e sedentos por dados.
- O que aconteceu, Srta. Granger? – perguntou Sra. Walters aflita.
Hermione caiu em sua cadeira, com o pergaminho trêmulo entre seus dedos, respirando com dificuldade. Durante todos aqueles anos, procurou fugir do Ministério da Magia ao máximo. Agora, o Nicholls colocou-a para fazer uma reportagem lá. E como se não bastasse, nos departamentos de Espionagem e Aurores. Todos os seus pesadelos haviam se consumado em cerca de quinze segundos.
- Eu não estou para ninguém, Violet... – sua voz saiu como se fosse um sussurro medroso de uma garotinha. – E se o Nicholls chegar perto da minha sala, mande-o para o inferno.
- Mas senhorita, eu não posso fazer isso! – retrucou a Sra. Walters.
A editora apenas ergueu o olhar para a senhora e Violet segurou a respiração, dando meia-volta e batendo a porta. Hermione deixou que seu corpo se amolecesse por um minuto e então eles vieram. Seu corpo começou a tremer incontrolavelmente. Aquilo estava completamente fora de cogitação. Nunca gastaria seu precioso tempo para correr atrás de espiões e aurores.
Já perdera a conta de quantos presentes recebera anteriormente de Draco Malfoy. O antigo sonserino, asqueroso, e que desejara a sua própria morte havia mudado. Por mais inacreditável que poderia soar, havia um coração naquele corpo de pedra. Logo após deixarem Hogwarts, Malfoy revelou-se um grande aliado e espião de Dumbledore. Aquele ano havia sido a derrocada e a derrota do Lorde das Trevas. A Grande Guerra chegara a um final.
Junto com a correnteza, Hermione decidiu estabelecer uma relação de trégua com Malfoy, afinal, querendo ou não, ele havia ajudado e muito o esquadrão de Dumbledore a derrotar Voldemort. Porém, torná-lo chefe do Departamento de Espionagem fora demais. Hermione assistira de camarote as enrascadas em que ele se metera. Há pouco mais de seis meses, Malfoy parara com os presentes. Como ela era a melhor jornalista da Inglaterra e sempre cheia de furos, Draco Malfoy, em inúmeras situações, tentou suborná-la a não abrir o bico sobre todas as aventuras que ele e o pessoal de Aurores se metiam. Nada que destruísse a reputação deles, mas certamente causaria um buraco no campo do Ministério.
Agora, o problema, infelizmente, não residia no Departamento de Espionagem. O quê Hermione temia era o de Aurores. Afinal, quem gostaria de reencontrar um antigo desafeto?
- FICOU MALUCA?! NINGUÉM ME MANDA IR PARA O INFERNO!
Hermione imediatamente saiu de seus devaneios e ergueu-se de sua cadeira num súbito. Não, aquela Sra. Walters não poderia ser tão ingênua assim!
Abrindo a porta de seu escritório, Hermione deu de cara com o rosto furioso e em ebulição de seu superior, o editor-chefe Robert Nicholls. O homem tinha cerca de trinta e cinco anos, talvez quarenta, mas era bastante bonito, apesar de completamente intragável. Nicholls olhou diretamente para Hermione e apontou para seu escritório de volta.
- Agora Granger! – ordenou, seguindo-a a duros passos.
Engolindo em seco e temendo pela saúde da Sra. Walters, Hermione fechou a porta assim que Nicholls passou por ela, espumando. Mordendo o lábio inferior, assistiu-o tornar-se para ela e cruzar os braços. Hermione permaneceu calada. O homem ergueu as sobrancelhas.
- Não tem nada a me dizer, Granger?! – insinuou Nicholls. – Primeiro, seu relatório do Chipre parece muito mais completo do que os outros que me dera antes – Hermione quis socar o chefe. – Segundo, manda a sua secretária mandar-me para o inferno?!
Hermione apertou os grandes olhos castanhos e cruzou os braços como o chefe. Sua voz veio num tom cínico, mas profundamente aborrecido.
- Realmente quer saber qual o problema? Quer saber o que tenho pra lhe dizer? – Nicholls descruzou os braços e passou a prestar atenção maior na sua editora. – QUE HIST"RIA É ESSA DE PERMANÊNCIA E ATUAÇÃO NO MALDITO MINISTÉRIO?!
Nicholls notou a fúria de Hermione, olhando para os lados e notando um aroma completamente diferente do perfume da jornalista. Dando um passo para trás, topou com o grande vaso de rosas vermelhas. "OW!", ouviu Hermione do homem, que corou, mas ainda e voltou o olhar para Hermione.
- Eu ia falar com você hoje, Granger – disse Robert, batendo as mãos ao lado do quadril. – Eu tenho uma reportagem muito...
- NÃO QUERO SABER DE REPORTAGEM ALGUMA! NÃO VOU PARA O MINISTÉRIO! – retrucou, ainda muito nervosa.
O editor-chefe respirou muito fundo desta vez e aproximou-se de Hermione. Ela ergueu o queixo, mostrando-se superior.
- A senhorita me respeite – disse Nicholls, no melhor estilo ditador. – Eu a designei para uma reportagem que nenhum jornalista fizera antes porque sei que é a melhor de todos nessa Inglaterra – Hermione não conseguiu evitar os olhos se arregalando. – Você irá passar um mês com aurores e espiões, participará de todas as missões deles, já que trabalham em conjunto, e poderá reportar absolutamente tudo sobre tudo.
- Mas... – o som morreu na garganta dela.
- Não quero saber se "mas", Granger – interrompeu o homem, o olhar ficando ameaçador. – Se que tem problemas com os dois chefes de departamento, mas eu sinceramente não dou a mínima para suas rixas pessoais – agora, Nicholls foi intensificando o olhar. – Isso aqui é a minha editoria, minha editoria de política, e eu ordeno que a minha melhor jornalista vá e faça a melhor reportagem já publicada na merda do Profeta Diário, entendeu?
Não houve tempo de resposta. Nicholls deixou a sala e Hermione para trás, batendo a porta e soltando um sonoro palavrão para alguém. Hermione, lentamente, andou até a porta e abriu uma pequena fresta, podendo observar o monte de gente que iniciava a dispersão. "AH! Todos devem ter ouvido!", pensou, envergonhada. Pensando na atitude de Nicholls, soltou uma expressão qualquer sobre o suposto – ao menos, comprovado por seus olhos – homossexualismo de seu chefe.
Então Nicholls havia designado-a para uma reportagem daquele porte. Nunca Hermione imaginou chegar a este ponto em sua carreira. Com uma reportagem daquelas, poderia fazer a vida com toda a certeza. Além de poder conseguir viver um pouco da adrenalina que somente espiões e aurores possuem. Os tempos negros haviam acabado, mas ainda havia focos de violência, disto todos sabiam. A tarefa de aurores espiões era a de abafar e eliminar esses casos. Especialmente, do foco da imprensa.
Parecendo chocada demais para poder pensar em outra coisa, não notou a entrada triunfante de Justin em seu escritório. O homem adentrou com pompa, cantarolando e trazendo uma rosa branca nos lábios. Hermione permaneceu paralisada, enquanto Justin fazia uma dança ridícula, misturando salsa e qualquer outra coisa – era impossível de definir, já que ele era um péssimo dançarino.
"Eu vou reencontrá-lo", pensava Hermione repetidamente. "Não acredito que vou reencontrá-lo."
- Hei! Terra para Hermione! Alôôô! – chamou Justin, abanado sua mão sobre o rosto da editora.
Hermione quase deu um pulo de surpresa ao assistir as mãos de Justin indo ao seu alcance. Elas encontraram seus ombros e ele aproximou-se dela, retirando a rosa dentre seus lábios e colando os lábios nos de Hermione, provocando um estalado beijo.
A mulher deu um pulo para trás e bateu o quadril contra a mesa, gemendo de dor e de surpresa.
- Que pensa que está fazendo, Williams? – gritou Hermione, massageando a região dolorida.
- Isso foi meu agradecimento – disse Justin com um pleno sorriso e a rosa branca entre seus dedos. – Ontem foi simplesmente espetacular, Hermione! Você não pode imaginar como foi divertido! E como ela cheira bem! O cabelo é lindo, é estonteante! E o modo como seu olhar parece penetrar na minha alma...
- Sabia que esse discurso eu já ouvi sair dessa mesma boca uma centena de vezes somente nesse mês? – retrucou a bruxa, olhando torto para ele.
Justin aproximou-se e entregou a flor para Hermione, piscando charmosamente para ela.
- Mas estou falando realmente sério desta vez, Hermione! Eu juro!
Hermione iniciou um movimento para abaixar-se, com a mão sobre o quadril, enquanto Justin prosseguia em sua explanação sobre a noite anterior com Gina.
- Eu sempre gostei de mulheres ruivas, não sei se já tinha te contato – Hermione resmungou baixinho. – Mas a realidade é que Gina é bem melhor do que qualquer ruiva que se pode encontrar no mercado! – agora, Hermione soltou uma reprovação. – Ela é engraçada, é leve, é despreocupada e o melhor de tudo, é difícil! Adoro mulheres que não caem no meu encanto logo de cara, são formidáveis!
A mulher ergueu-se do chão, carregando o vaso enorme de flores vermelhas de Malfoy. Justin arregalou os olhos e murmurou alguma coisa, mas ela levantou a mão.
- Explicações desnecessárias no momento. – disse num tom estressado.
O jornalista ainda teve que piscar algumas vezes ao ver Hermione junto daquele enorme maço de rosas vermelhas, a cor da paixão, e a assistiu colocou sua rosa branca no centro de todas as outras.
- Bom, continuando minha descrição sobre a noite passada – prosseguiu, fazendo caras e bocas. – Foi tudo incrível no Madame Cartingans, pode ter certeza que ela nunca desconfiará de que você indicou o lugar para mim! – Hermione ergueu uma das sobrancelhas, aceitando aquilo como uma desculpa. – A comida estava ótima, o papo foi demais! E minha nossa, como a Gina é gostosa!
- OH! Honestamente! – interrompeu Hermione, franzindo a testa abismada com um termo tão adolescente.
Williams ergueu as sobrancelhas igualmente.
- É verdade, de qualquer forma. Você é muito antiquada e não tem o mínimo senso de humor, Hermione, honestamente digo eu! – retrucou aborrecido.
A editora do Profeta preferiu não continuar aquele diálogo e apenas bufou, sem muita paciência para discutir princípios elementares das mulheres com Justin Williams.
Assim, ele sentou-se na cadeira que havia na frente de sua mesa e cruzou os dedos sobre o colo, batendo o pé nervosamente.
- E então, vai me dizer quem foi o Don Juan? – questionou com um sorrisinho malicioso nos lábios.
A mulher encarou Justin e fechou os olhos, pensando como seria difícil o próximo mês.
- Nicholls me designou para uma reportagem especial no Ministério da Magia, com o Departamento de Espionagem e de Aurores...
- UAU! Mais isso é incrível, Hermione! – festejou Williams, o sorriso em seu rosto se intensificando. – Você não está feliz? Porque não parece muito contente? E afinal, de quem são essas rosas?!
Após um minuto de perguntas em seqüência de Justin, Hermione respirou fundo e disse, com todas as letras, sua verdadeira realidade dali três dias.
- Essas rosas são do chefe do Departamento de Espionagem...
- O Malfoy de novo?! Putz, esse cara não desiste mesmo hein! – interferiu Justin, e calando-se logo depois ao ver a expressão de choque e temor de Hermione.
- O problema não é Malfoy, Justin – disse Hermione Granger, jurando que seus temores seriam deixados de lado ao encontrá-lo pela primeira vez em quase dois anos. – O real problema é o Chefe do Departamento de Aurores. Recorda-se de Harry Potter?!
N/A: Vocês gostaram? É só o comecinho... Estou aproveitando minha própria experiência no jornalismo... ;P Agora pode demorar um pouquinho para o próximo, mas espero que vocês tenham paciência de esperar mais! Beijinhos pra todo mundo e deixem reviews!
