CAPÍTULO I
Isabella olhava pensativa através da janela daquele escritório sombrio, constatando entediada que nada havia mudado nos dez minutos em que se encontrava ali.
A angústia prolongava sua espera. Ainda estava nervosa com a carta que recebera no dia anterior, marcando um encontro com o advogado que representava a firma de seu padrasto.
Para piorar ainda mais sua aflição, a expressão do homem frio e elegante que acabara de recebê-la não lhe dizia nada. Talvez, se ele tivesse demonstrado um mínimo de compaixão, ou mesmo simpatia, fosse mais fácil enfrentar a situação.
— Eu gostaria de saber por que o senhor ficou encarregado de me esclarecer a respeito da trágica situação financeira de meu padrasto Charlie — disse, por fim.
O advogado estendeu-lhe as mãos, num gesto amigável.
— O sr. Cullen achou melhor que a senhorita tomasse conhecimento da situação do sr. Charlie através de um representante legal.
— Mas... quem é esse sr. Cullen e o que ele tem a ver com a falência de meu padrasto?
— O seu padrasto devia muito dinheiro a ele. É só isso que eu sei.
Isabella ficou desnorteada. Todos os acontecimentos importantes de sua vida se desenrolaram em sua mente, como slides em um projetor. A morte súbita de Charlie Roussos, que fora seu pai nos últimos quinze anos; a morte de sua mãe há sete anos; a mudança com Carmem para uma pequena casa no subúrbio; a universidade onde estava cursando biologia marinha.
— Deseja saber mais alguma coisa, srta. Swan?
Era óbvio que aquele homem gostaria de se livrar dela, o mais rápido possível, constatou Isabella, enquanto se levantava e se despedia polidamente do advogado, rumando em direção à porta.
Havia tantas perguntas ecoando em seu cérebro! Mas do que adiantaria falar com ele?
Isabella caminhou pela cidade como um autômato. Depois pegou o ônibus, sem se dar conta do trajeto, até chegar à pequena casa de tijolos aparentes, de portão de madeira e jardim bem cuidado. Uma pálida lâmpada no hall de entrada parecia lhe dar as boas-vindas.
— Que bom Bella, você chegou! — exclamou Carmem, ansiosa.
Sem conseguir conter por mais tempo sua revolta, Isabella sentou-se na poltrona quase chorando.
Carmem tentou acalmá-la. Por fim, atirou-se desanimada na poltrona.
— As coisas começaram a dar errado para Charlie assim que sua mãe morreu. Ele a amava tanto! Acho que perdeu a vontade de viver. Teve muito azar nos negócios, as redes cada vez mais vazias, e os barcos cada vez mais caros... começou então a pedir dinheiro emprestado, e foi obrigado a arranjar mais para pagar o que devia. Isso se tornou um círculo vicioso, entende?
— Vocês deviam ter me contado.
— E o que você poderia ter feito?
— Largado a escola, procurado emprego, qualquer coisa que pudesse ajudá-lo!
— Sua educação era mais importante. Charlie queria que você tivesse o melhor.
— Mas eu teria entendido! — gritou Isabella, deixando que grossas lágrimas rolassem por suas faces.
— Oh, minha querida, não chore... — implorou Carmem, abraçando o corpo esguio de Bella.
— Acho que estou apenas desabafando. Ainda não me conformo com a morte de Charlie — murmurou, com a voz rouca pela emoção.
— Pois eu acho que seria uma boa idéia tirarmos umas férias. Pelo menos por uma semana. O que acha? — sugeriu Carmem, tentando animá-la. — Sexta-feira começa o seu período de descanso na faculdade. Podemos ir para Sidnei. Que tal?
— Mas é tão longe!
— Tenho uma irmã que mora lá, e muitos sobrinhos também. Gostaria de revê-los.
A idéia de mudar de ambiente, ainda que por pouco tempo, parecia maravilhosa.
— E o dinheiro para a viagem?
— Tenho algum guardado. Mas, para falar a verdade, já reservei as passagens para sábado. Vou confirmá-las, está bem?
Era tudo o que Isabella poderia desejar naquele momento! E sem acreditar no que estava acontecendo, quatro dias depois, lá estava ela cruzando os céus rumo a Sidnei.
Vista do alto, a cidade parecia fantástica. Isabella já se animava com a perspectiva de explorar as ruas arborizadas e as águas límpidas que cercavam o lugar.
Depois de liberarem a bagagem, pegaram um táxi. Isabella estava absorta demais, impressionada com a paisagem para prestar atenção no endereço que Carmem havia dado ao motorista.
As casas assobradadas eram lindas e impecáveis, com grandes terraços e paredes de tijolinhos, assim como as construções modernas que dominavam a outra parte da cidade.
Isabella começou a sentir algo estranho no ar quando o táxi percorreu um dos bairros elegantes da cidade, parando em frente a uma casa que mais parecia uma mansão.
— Carmem.
— Seja boazinha, Bella, e segure esta valise para mim enquanto pago a corrida.
Isabella pegou a valise e desceu do carro, hesitante, enquanto Carmem aguardava o troco do motorista. Não demorou muito, e logo um homem de meia-idade, com maneiras muito distintas, se aproximou dela.
— Você deve ser Isabella — disse, sorrindo com cordialidade. — Vou cuidar de sua bagagem. Entre, por favor.
Ao ver que Carmem se aproximava, Bella esperou ser apresentada ao cavalheiro, mas nada foi dito. Sem outra opção, ela o seguiu até a entrada da casa.
— Vou levá-las direto para seus quartos — disse o homem, subindo a escada. — Creio que gostariam de se refrescar um pouco, após a longa viagem.
A suíte de Isabella era luxuosa. Ela olhou à sua volta, admirada. O carpete felpudo e macio era da cor do mel e combinava perfeitamente com as cores das cortinas, da colcha, e até das toalhas do banheiro, que variavam do laranja ao bege-claro. O quarto, bem amplo e arejado, era muito aconchegante, parecia ter sido preparado para uma estrela de cinema.
Isabella pegou sua valise e dirigiu-se para o banheiro. Refrescou o rosto e escovou os cabelos castanhos, brilhantes e macios. Então, foi correndo até a suíte de Carmem.
Bateu à porta e, ao escutar a resposta, entrou.
— Ah, é você, Bella! O jantar será servido às oito. Jacob nos espera lá embaixo, para um drinque.
— Seu cunhado?
— Não.
— Então quem é ele?
— Jacob? — Carmem deu de ombros. — Ora, apenas um amigo. Mas, deixe isso para lá, Bella. Vamos logo tomar aqueles drinques, estou precisando muito de uma bebida.
Andando em direção à porta, Carmem segurou-a pelos ombros e conduziu-a até o hall.
— Mas, se não é ele o dono da casa, então, quem é? — insistiu Isabella, tensa, enquanto desciam a escada. Como a outra permanecesse calada, ela explodiu: — Quer me explicar por que está sendo tão evasiva, Carmem?
Nesse instante, uma voz grave e profunda soou, assustando-a:
— Boa noite!
Isabella olhou para o canto da sala e viu um homem alto e bem constituído, com um sorriso radiante nos lábios.
Dinâmico e infinitamente másculo, ele transmitia uma virilidade eletrizante. Apesar de se vestir bem, possuía um magnetismo que era impossível ignorar. Devia ter mais de trinta anos, e a julgar por seus modos, tratava-se de alguém muito rico, que certamente não seria prudente ter como inimigo.
— Fizeram uma boa viagem? — continuou ele.
Quem era aquele homem, afinal? Seu sexto sentido lhe dizia que não seria nada prudente confiar nele. Carmem fez as apresentações.
— Isabella, ainda não conhece Edward, não é?
"Edward... Edward Cullen. Só pode ser ele! Mas, por quê?" pensou virando-se para Carmem, como se exigisse uma explicação.
— Então, somos hóspedes de Edward...
— A meu convite — interveio ele, aproximando-se delas. O cheiro de sua colônia invadiu-lhe as narinas, provocando-lhe tonturas. — Seu pai era um velho amigo de minha família, Isabella. Fiquei muito triste ao saber de sua morte.
Havia tanta ironia naquelas palavras, que ela sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha.
— O que gostariam de beber? — perguntou ele, suavemente. Carmem pediu um brandy com soda.
— Isabella?
— Um pouco de vinho branco, por favor. — Ela observou-o cruzar a sala, incapaz de desviar os olhos daquele corpo forte e atraente, até que retornasse com as bebidas.
— Gostaram dos quartos?
— São lindos, Edward! — respondeu Carmem, com um sorriso radiante nos lábios.
Isabella achou melhor tomar o vinho, tentando recuperar a calma. Deu uma olhada na sala e uma série de pinturas a óleo chamou sua atenção. Não era grande conhecedora de obras de arte mas, a menos que estivesse enganada, uma das telas estava assinada por Renoir. Se Edward era um colecionador, seu gosto pela arte não deixava nada a desejar.
— Gosta de quadros? — perguntou ele, aproximando-se dela repentinamente.
— E quem não gosta? — retrucou Bella, forçando-se a encará-lo.
— Mas o estudo da arte não faz parte do seu currículo.
— Apenas no curso básico. Creio que se trata de uma questão de prioridades — respondeu ela, intrigada. Como ele podia saber o que estudava?
— Gosta da vida universitária?
— Você está se referindo às aulas ou ao espírito estudantil?
"Por que será que ele se interessa tanto por meus estudos?" perguntou-se Bella, sem entender sequer o que estava fazendo ali, naquela casa.
— Isabella é uma estudante muito dedicada — observou Carmem, maliciosa.
— Tenho certeza de que há assuntos mais interessantes para conversarmos — interrompeu Isabella, irritada, provocando um brilho de divertimento nos olhos escuros de Edward.
Nesse momento, Jacob anunciou que o jantar estava servido. Edward conduziu-as à sala de jantar, onde havia uma mesa arrumada com todo o requinte, e gentilmente afastou as cadeiras, indicando os lugares.
"Para que tantas gentilezas?", perguntava-se Isabella, transtornada de raiva e confusa.
Nervosa, atribuiu seu estranho estado mental ao recente choque da morte de Charlie.
Cinco pratos muito apetitosos foram servidos. A conversa correu amena, embora escassa. Quando mudaram de sala Isabella já se sentia bem mais relaxada. Talvez o vinho fosse o causador do seu desembaraço, observou.
— Que acham de darmos um passeio pela cidade amanhã? — sugeriu Edward.
— Seria ótimo — concordou Carmem, virando-se para Isabella. — Não acha, querida?
— É muito gentil, sr. Cullen.
— Chame-me de Edward, por favor.
Isabella não tinha a menor vontade de ter um relacionamento mais íntimo com aquele homem tão misterioso. Era melhor evitar qualquer envolvimento.
— Esta é a primeira vez que vem a Sidnei, Isabella?
— Sim — respondeu secamente. O vinho estava começando a fazer efeito, pesando-lhe as pálpebras.
— Há muitos lugares interessantes por aqui. Durante toda a semana meu carro vai estar à disposição. Se quiserem sair, falem com Jacob. Ele levará vocês.
— Obrigada.
"Deus! Estou parecendo uma menininha bem-educada!", pensou Bella, levantando-se e pousando a xícara de café sobre a mesa.
— Se me permitem, vou para a cama. Estou muito cansada. Boa noite!
Isabella cruzou a sala em silêncio. Fechou a porta do quarto, encheu a banheira e tomou um banho bem quente e relaxante. Ao sair do banheiro, notou que sua cama já estava arrumada e que suas roupas tinham sido postas no armário.
Todo aquele conforto era agradável. Mas sem dúvida preferia qualquer outra coisa a ser hóspede de Edward Cullen. Cansada, afundou-se nos lençóis de seda e caiu em um sono profundo.
