PROLOGO

E lá estava ela novamente. Naquela rotina monótona que tinha se tornado a sua vida. Todos os dias eram a mesma coisa. Ela acordava sempre no mesmo horário, tomava um banho, comia alguma coisa, se dirigia até o carro, ia para a empresa na qual trabalhava, entrava naquela mesma sala de sempre, sentava na sua mesa, olhava para o computador já ligado esperando para que ela começasse mais um dia de trabalho, lia os mesmos papéis que tratavam dos mesmos assuntos de sempre, escrevia algumas coisas no computador, atendia algumas ligações, conversava com algumas pessoas, fazia algumas contas, se dirigia à sala do seu chefe para falar como estava o andamento das seções da empresa, voltava para sua sala, organizava o próximo dia de trabalho e ia embora. Ao sair da empresa ia para o seu carro, dirigia até o seu restaurante favorito na cidade, pedia a mesma comida de sempre, comia ali mesmo, por volta das nove horas da noite voltava para casa, tomava um banho, assistia a sua novela preferida, e lá pelas onze horas da noite ela já estava a dormir.

Naquele dia parecia que nada iria ser diferente. Como todos os dias ela acordou no mesmo horário de sempre, tomou o seu banho e se dirigiu a sua cozinha, com a mesma vontade de quem está prestes a ir para a forca. Quando entrou na cozinha ela lembrou-se de como ela era antes de começar a trabalhar, de como ela adorava comer, dar risada, sair com as suas amigas, ficar jogando vídeo game, e de como odiava fazer contas e acordar cedo. Agora era tudo tão diferente, ela era obrigada a acordar cedo por causa de seu trabalho, tinha de fazer contas o dia inteiro, pois era disso que se tratava o seu trabalho. Ela já há muito tempo não dava uma risada de verdade. As amigas que ela tinha quando estudava, nunca mais as viu. Não tinha mais vontade de comer, nunca mais chegou perto de um vídeo game. Ah como ela odiava a vida que ela tinha agora.

Abriu um pequeno armário e pegou um pacote de bolachas, sentou-se na mesa e começou a pensar em todas as voltas que a sua vida tinha dado, de como ela tinha um sonho completamente diferente de como estaria a viver quando tivesse 26 anos. Ela sonhava que agora já estaria casada, com a sua filha nos braços, a viver feliz com o homem que amava. Foi então que ela se lembrou que a única vez que ela pensou que tinha amado alguém, fora uma simples ilusão. O homem por quem ela pensou ter esse sentimento apenas queria brincar com ela, mas agora isso não importava mais. Já fazia dez anos desde que ela o viu pela ultima vez, naquela época ela tinha seus 16 anos, era muito bobinha e realmente tinha acreditado que ele a amava. Foi com ele que ela aprendeu que os homens mentem, que eles usam as mulheres para o que querem e depois lhes jogam fora como se fossem uns pedaços de tecido sem utilidade alguma.
Enquanto ficava pensando nisso, se esqueceu que tinha que sair para o trabalho, essa era uma qualidade sua que nunca mudava, estava sempre atrasada, para qualquer coisa que fizesse, não importa o quão importante fosse. Largou as bolachas que estava comendo em cima da mesa, se levantou indo à direção de um grande espelho que tinha na sala, ficou de frente para ele reparando onde é que tinha que ajeitar a sua roupa. Ela sabia que era bonita, que os homens reparavam nas suas formas, pois afinal ela já tinha 26 anos, o seu corpo tomou uma forma invejável, e ela sabia disso. Os seus cabelos loiros que antes usava presos em uma forma um tanto quanto incomum, agora os usava sempre soltos, já não eram compridos e sim ficavam na altura dos ombros, para dar a ela um ar mais adulto. Os seus grandes olhos azuis já não eram cheios de vida quanto uma vez foram, agora ela mantinha um olhar mais sério, mais penetrante e imponente. Todas essas coisas juntas e ainda por cima o seu carisma faziam com que ela fosse admirada por quase todas as pessoas com quem ela convivia, mas ela não ligava para isso. Ela não pensava e nem queria um homem se metendo novamente em sua vida, e toda a sua atenção era virada para o trabalho. Não tinha amigos de verdade, apenas aquelas pessoas que se diziam suas amigas, mas que estavam realmente interessadas nas suas relações com pessoas importantes.

Ela olhou mais uma vez para o espelho, deu mais uma ajeitada na sua saia, e se dirigiu à porta do apartamento. Pegou a sua chave na bolsa, olhou para o apartamento mais uma vez, como se nunca mais fosse voltar para aquele lugar. Ela não sabia o porque, mas tinha impressão de que aquele dia não seria igual aos outros. Por um lado ela estava gostando da sensação de uma mudança por vir, mas por outro lado ela já estava tão acostumada a tudo isso que tinha medo do que poderia estar por vir. Desceu as escadas do seu prédio, foi até a garagem onde se encontrava o seu carro. Entrou nele e dirigiu até a sua empresa. No caminho colocou algumas musicas para desanuviar um pouco a sua cabeça. Não sabia o porque de estar lembrando da sua adolescência neste dia em especial, pois ela nunca pensava nisso, para falar bem a verdade ela pouco se lembrava daquela época, nem mesmo o nome e o rosto daquele que partiu o seu coração ela lembrava.

Quando chegou a empresa, parou um pouco em frente a ela e ficou admirando aquele prédio de quatro andares, da cor branca e marrom, e pensou que hoje com certeza era um dia diferente. Ela andou um pouco olhando para aquela aglomeração anormal em frente à entrada do prédio, ficou um pouco espantada por ter tanta gente ali, mas não estava interessada nisso, o seu interesse era em entrar no prédio como sempre, e começar o seu trabalho.

Como era muito difícil entrar pela porta da frente ela deu a volta no prédio e entrou pela porta dos fundos. Era a primeira que tivera que usar essa porta nos sete anos que trabalhava ali. Dirigiu-se até o elevador, apertou o botão esperando para que ele descesse. Ao perceber que o elevador já tinha chegado pegou a sua pasta que estava recostada no chão ao seu lado, entrou ouvindo aquela música chata de elevador que ela odiava, olhou para o painel com todos os números dos andares em que ele passava e apertou o ultimo botão. Largou a sua pasta novamente no chão e esperou até chegar no seu destino.

Quando o elevador parou, ela pegou a pasta do chão mais uma vez, saiu de lá e foi em direção a sua sala. Ao entrar lá ela sentiu-se mal por que mais uma vez teria fazer o que mais odiava no mundo, ficar olhando para aquele monte de papéis e fazendo contas. Olhou para a mesa que ficava ao lado da sua e reparou que a sua secretária já estava ali. Aquela menina era uma das poucas pessoas de quem ela dizia realmente se importar, deu-lhe um sorriso amigável ao qual foi retribuída, sentou-se na sua mesa e começou o seu tortuoso trabalho.

A manhã corria sem que nenhuma das mulheres daquela sala dirigisse a palavra uma à outra, até que o telefone tocou. A primeira reação que tiveram foi levar um pequeno susto, pois durante a manhã toda aquela sala fora habitada somente por silencio. As duas se entreolharam, com um sorriso no rosto, por causa da cara que faziam naquele momento. A moça que trabalhava com ela então finalmente pegou o telefone.

-Empresas SilverMoon, Bom Dia!

-Bom Dia. Eu gostaria de falar com a senhorita Usagi Tsukino. – Disse a voz feminina no outro lado da linha.

-E quem fala, por favor? – perguntou a moça educadamente antes de passar o telefone a Usagi.

-Aqui quem fala é uma amiga de infância de Usagi, me chamo Makoto e tenho certeza de que ela ira falar comigo! – a moça do outro lado da linha falou num tom confiante e provocativo ao mesmo tempo, como se fosse obrigação da mulher que estava a atender ao telefone saber quem era a desconhecida que falava com ela do outro lado da linha.

-Espere só um momento, senhorita! – ela pôs o telefone no modo de espera e se dirigiu a Usagi. – Senhorita Usagi, uma mulher chamada Makoto, está no telefone e diz querer falar com a senhorita. Posso passar a chamada?

Usagi ouvia aquilo com atenção, esperava que fosse qualquer um dos cobradores que sempre lhe ligavam para saber como andavam as suas contas e coisas do gênero, mas nunca esperava que fosse ela. Há tanto tempo não ouvia o nome de Makoto que sua primeira reação foi ficar em choque, pensava o porque daquilo naquele momento, porque Makoto resolver ligar-lhe depois de 10 anos afastada? Então olhou para a secretária e falou:

-Claro, Misugi, pode passar a chamada. – respirou fundo, olhou para o telefone na sua frente e com a voz um pouco receosa atendeu. – Usagi Tsukino falando!