Disclaimer: Final Fantasy VIII e seus personagens não são meus. Eu não recebo dinheiro algum por escrever fanfics, sou apenas um pobre autor.
Pares: IrvinexSquall, LagunaxSquall, SeiferxZell
Avisos: Yaoi, Incesto. Lemon. Universo Alternativo.
Notas: Esta história foi um desafio que eu me propus. Eu nunca havia trabalhado com LagunaxSquall e SeiferxZell, então decidi tentar.
Sinopse: Os garotos do orfanato embarcam numa viagem para comemorar o aniversário de Squall. Mal ele sabia que isso levaria a uma mudança no seu relacionamento com um pai recentemente descoberto e seu amigo de infância.
De Agora em Diante
Prólogo
Squall tentou se concentrar na sua lição de casa. Ele escreveu e escreveu até suas frases não fazerem mais sentido quando ele olhava no monitor. Dez minutos antes, quando ele estava quase terminando seu dever, um certo garoto havia entrado na sala de estudos do orfanato e sentado num sofá próximo, bocejando preguiçosamente. Squall podia sentir o cheiro de sabonete e xampu no ar e, sem nem ao menos olhar, ele podia imaginar os cabelos molhados do outro jovem soltos sobre a camiseta dele.
- Squall...
Ah, aquilo era perigoso. O moreno tentou não demonstrar o seu nervosismo enquanto virava para olhar Irvine. O garoto tinha um livro em suas mãos e havia deixado vários papéis jogados sobre a mesa a sua frente.
- O quê?
- Me ajuda aqui. – Irvine olhou para baixo em seu livro por um instante. – Eu não sei essas coisas, números são tão confusos.
O moreno suspirou, respirou fundo e andou na direção do outro garoto. Ele sentou-se ao lado de Irvine e examinou a página que ele estava olhando. – O que você não consegue entender?
O rapaz de cabelos compridos jogou o livro para o ar com sua frustração. – Tudo! Eu... não consigo entender por que estudar matemática.
- O fato é que é preciso.
- É, eu sei. – Irvine olhou em volta por um momento antes de retornar o olhar para Squall. – Você pode fazer isso pra mim? Por favor?
- O que você quer que eu faça? – Squall teve vontade de bater em si mesmo.
Irvine pegou o livro rapidamente de volta e mostrou a página. – Só esses exercícios, olha. Você acaba rápido. – O garoto se levantou e caminhou em direção à porta. – Valeu, cara! Te vejo mais tarde!
E então Irvine sumira.
Squall começou a fazer a lição do outro garoto, a todo o momento se perguntando por que ele sempre acabava fazendo favores para Irvine. E o que ele recebia em troca? Um olhar azul-violeta de agradecimento e um largo sorriso. Aquilo era ridículo. Não servia para nada. De verdade. E até o momento em que ele finalmente terminou os exercícios, Squall tentou se convencer de que aquilo era algo muito idiota e que ele se recusaria a ajudar Irvine da próxima vez.
Após terminar os dois trabalhos, Squall saiu do orfanato e encontrou as ruas de Balamb. Ele havia se mudado recentemente para a cidade, como os outros garotos que cresceram com ele. Irvine, Selphie, Quistis, Seifer e ele viveram no continente de Centra, no extremo sul. Infelizmente o lugar havia sido devastado por uma tempestade furiosa, mas eles tiveram sorte de sobreviver, escapando antes que algum perigo real tivesse atingido a casa na qual eles passaram toda a infância. O marido da matrona trabalhava em um centro militar em Balamb, então ele providenciou um novo orfanato naquela ilha ao Norte.
Com o passar dos anos, a maioria das crianças que viveram no orfanato original foram adotadas. Apenas cinco restaram. De maneira a oferecer um novo lar para as crianças crescidas, Cid e Edea compraram uma casa grande perto do porto de Balamb.
Squall olhou para o mar naquela tarde que esmorecia. A atmosfera estava nublada e fria. O cinza do céu se misturava com o cinza do mar. E então começou a chover, lentamente, porém com insistência. O jovem de cabelos castanhos correu para se proteger e encontrou abrigo próximo a um café. Ele removeu algumas gotas minúsculas que haviam caído sobre seus cabelos e colocou seus braços ao redor de si para se esquentar. Ele queria voltar ao orfanato, voltar para seu quarto, para sua cama confortável, e admirar silenciosamente um certo garoto dormindo na outra cama.
Enquanto ele tentava achar um sinal de que seria seguro para que ele voltasse para casa sem se molhar totalmente, Squall percebeu algo estranho. Havia um homem parado na chuva, olhando para ele insistentemente. Ele estava completamente encharcado, mas não parecia perceber seu próprio estado. Squall quis afastar o seu olhar, mas havia algo no jeito em que o homem de cabelos compridos o olhava que fazia sua atenção continuar sobre ele. Parecia que os olhos azul-esverdeados brilhavam com tal vivacidade que o reflexo das luzes dançavam sobre suas íris. Ele parecia estar nervoso, tremendo um pouco pelo frio que a chuva havia trazido.
- Por que você está olhando para mim? – Squall pressionou mais seus braços em volta de si, incomodado com o olhar daquele estranho.
- Você... – O jovem ouviu a voz do homem como um suspiro, lentamente se esvaindo em meio ao som da chuva.
- O quê?
Passos lentos fizeram seu caminho na direção de Squall, até que o homem estava a poucos centímetros de distância do garoto. O homem respirou fundo...
...E teve câimbra nas pernas.
- Droga. – O homem xingou sem querer e se culpou por falar aquilo em voz alta.
Squall assistiu como as expressões faciais se contorciam momentaneamente pela dor, enquanto ele curvava o seu corpo para segurar sua perna. O garoto não sabia se perguntava se o homem estava bem ou se apenas deixava para trás o estranho.
- Espere. – O homem segurou o braço do adolescente gentilmente, prevendo a reação que ele teria.
Sem saber por que ele sentiu-se inesperadamente paralisado, Squall se manteve no mesmo lugar, levantando seu olhar para encarar aquele homem.
Isso não é bom.
- Você não vem comigo lá dentro? Quer dizer... – O homem olhou para a porta do café à frente deles. – Tá frio e...
Por que eu seguiria um estranho molhado?
- Por favor, eu tenho algo para dizer...
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Estava agradavelmente quente lá dentro. As cores alteradas pelo tempo ruim do lado de fora fizeram com que o local ganhasse um tom de pintura. Pastel e creme, confortável e com ares de sonho. As pessoas tomavam seus cafés e chás com expressões preguiçosas.
A dupla se direcionou a um local afastado, sentando-se em uma mesa num canto escuro.
- Pode pedir o que quiser.
Squall olhou de relance para o menu em cima da mesa, mas seus dedos não tiveram coragem de tocá-lo. – Você pede.
A expressão do homem se encheu de animo e ele acenou para que a garçonete se aproximasse. – Nós queremos dois chocolates quentes e... – Ele apontou para a direção de uma torta de baunilha. – Alguns pedaços daquilo!
A mulher olhou o estado do homem totalmente encharcado com suspeita, mas sentiu-se mais à vontade quando um sorriso brilhante se abriu. Ah, aquele sorriso poderia desmanchar qualquer incerteza que existisse no coração de uma pessoa.
- Por quê? – Squall perguntou.
O silêncio foi a única resposta que o garoto conseguiu. Ele viu o sorriso na face daquele homem ser substituído por uma expressão contemplativa. O desconhecido não estava olhando para ele no momento, então Squall teve coragem de estudar seu perfil. Ele era esbelto e um pouco alto, algumas mechas dos seus cabelos negros caiam sobre um lado de seu rosto, a cor contrastando com a pele alva. Ele vestia roupas leves para um tempo como aquele, apenas uma camisa feita de um tecido leve e um par de calças comum. Squall suspeitava que ele teria por volta de trinta anos, porque alguns pequenos sinais de maturidade traiam o que poderiam ser traços impecáveis.
- Você estuda? – O homem perguntou, como se tivesse despertado de um sonho. – O que você faz? O que você gosta?
Tantas perguntas.
- Eu estou assustando você? – O homem pôs sua mão sobre a do adolescente. – É que... Eu estou tão animado com você aqui, comigo, e...
E o pedido havia chegado.
O homem desconhecido afastou sua mão da do jovem e encarou a comida com uma expressão neutra.
Mais uma vez eles permaneceram em silêncio. Apenas encarando o nada.
Aquilo trazia um certo desconforto.
Então Squall pegou o garfo e experimentou a torta. – Ela... – Ele engoliu um pedaço. – Não é ruim.
- Mesmo? – O homem encarou os olhos azuis cheios de certeza antes de provar o doce. – É mesmo! É muito boa! – E então ele comeu o resto da torta com satisfação.
- Eu tô no segundo grau.
Então o homem parou o movimento do seu garfo e olhou para Squall com adoração. – Ah, isso é ótimo!
- Ah, não é tão bom assim. – O garoto estava começando a ficar sem jeito. – Eu só quero me livrar da escola de uma vez.
- Você vai bem nos estudos?
- É, acho que sim.
- O que você quer fazer quando terminar a escola?
- Eu não sei...
- Sabe, quando eu tinha a sua idade, eu queria ser um jornalista. Eu queria viajar pelo mundo, conhecendo um monte de lugares e depois escrever sobre eles, mas... Tudo faz parte do passado agora.
- Então o que você fez?
- Eu me casei... – Os olhos azul-esverdeados estavam encobertos por uma tristeza profunda.
- Você é...?
- Não mais...
Squall encarou insistentemente o homem a sua frente, atingido pela tristeza que era emanada por aquela atmosfera. Repentinamente, parecia como se o local que havia sido tão acolhedor o estava sufocando. O rapaz se levantou e saiu do estabelecimento.
Quando alcançou o lado de fora, ele sentiu o ar frio da noite afligir sua pele. Logo, seus passos alcançaram as ruas desertas e ele estava caminhando rapidamente em direção a... ele não sabia qual.
- Squall!
O garoto virou-se para trás. O homem estava correndo atrás dele.
- Como você sabe o meu nome?
- O que aconteceu com você? Por que você saiu daquele jeito?
- Eu... – Squall virou-se para frente novamente e continuou andando. – Eu não sei. Eu não quero escutar a história triste da sua vida... Eu nem sei por que eu me importei em falar com você em primeiro lugar...Eu...
De repente, Squall sentiu algo molhado e quente ao seu redor. Ele havia sido capturado por um forte abraço, do qual ele não conseguia escapar. Ele não queria escapar.
- Você é... – O homem fechou seus olhos e encostou seu rosto nos cabelos castanhos macios. – Você é um garoto tão perfeito. Eu... – E ele não conseguia dizer as palavras.
Squall sentiu o abraço perder força e ele se virou para encarar o estranho emotivo. Ele sentiu uma das mãos dele sobre a uma face e um beijo na outra. Sem palavras, ele sentiu um calor provocado pelo toque.
- Céus... Você é... lindo – o homem disse, surpreso por ter dito aquelas palavras.
- Eu... Eu preciso ir... – Squall estava confuso.
-...
De algum modo, o homem sentiu que não poderia dizer o que ele deveria dizer, o que ele havia planejado dizer quando ele embarcou naquele avião, o que ele decidiu dizer quando viu o jovem sair do orfanato, as palavras que se repetiam se repetiam em seu cérebro quando ele seguiu o adolescente pelas ruas.
- Meu nome é Laguna. Por favor, se encontra comigo outra vez.
- Por quê? – Squall começou a andar e então parou. – Onde?
- Aqui.
O garoto olhou uma última vez para o homem. – Aqui então.
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- Squall? – Irvine olhava surpreso para o garoto que entrara no quarto que eles dividiam. – Onde você tava, cara, você tá todo molhado.
- Eu... estava por aí e começou a chover.
- Ah, mas isso foi há muito tempo atrás. – Irvine encarou seu amigo com suspeita e andou na direção dele. – Você está bem? – ele perguntou com preocupação.
Squall tentou desviar seu olhar e encarou o chão. – Tô...
- Tem certeza? – Irvine se direcionou à cama e deitou-se ali, olhando para o teto. – Sabe, você não precisa guardar as coisas só para você. Você pode confiar em mim. De verdade. – Então ele olhou para Squall novamente. – Você não confia em mim?
- Eu não falei isso. Eu só... é que... Eu não sei se tem algo para contar.
- Ah, mas eu posso sentir que algo aconteceu. Eu tenho uma grande habilidade de ler o que os outros pensam. Tem algo com o jeito que eles se movem, o jeito que eles falam. E... Eu conheço você.
- Mesmo? – Squall suspirou silenciosamente para que o outro jovem não pudesse ouvir suas palavras.
Então o que eu estou pensando agora que você está aí deitado sem camisa na sua cama. Você não faz a menor ideia.
- É claro que eu sei o que você precisa!
Squall quase deu um pulo com a surpresa e olhou chocado para Irvine, que se levantou e andou alguns passos e então parou no meio do quarto.
- Eu acho que a gente podia viajar para algum lugar. Nós poderíamos acampar ou sei lá...
E por um momento eu pensei...
- Você só quer se livrar da escola por alguns dias, Irvine.
- Cara, eu quero me livrar disso não só por alguns dias... Mas é, eu não posso mentir para você. Eu não gosto da escola.
Que surpresa...
- Seria tão legal ficar andando pela floresta, nadando e cantando.
Cantando...?
- Um dia eu vou ser cantor. Esthar, Galbadia, em todo lugar vão me conhecer. Ou então eu vou ser um atirador profissional, como nos filmes. Eu ainda não me decidi. – Irvine sorriu. – O que você acha?
Eu gosto quando você sorri.
- Eu pensei que você queria ser um cowboy.
- É! Isso também!
Então a porta se abriu de repente.
- A Edea disse para vocês saírem desse maldito quarto e enfiarem alguma comida goela abaixo.
Irvine abriu um sorriso zombeteiro para o loiro alto. – E eu aqui pensando que ela não gostava da gente falando assim.
- Ah, Kinneas, você não pode, só a matrona pode.
- É... sei... – Irvine se direcionou para a sala de jantar.
- Você tá todo molhado, Leonhart. Ainda não aprendeu que deve tirar a roupa antes de tomar banho?
-... – Squall tentou ignorar o comentário que Seifer havia feito e caminhou em direção ao banheiro.
O loiro olhou o garoto saindo e revirou seus olhos.
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- O Cid não vai vir par ao jantar? Quistis perguntou preocupada.
- Não, querida, ele tem trabalho para fazer na Garden.
- Cad ê Suuuuu Call? – Selphie perguntou com a boca cheia de batatas amassadas.
- Ele tá no chuveiro, meu bem – Irvine respondeu.
- Pou tantu tchemmpu?
- Puberty boy – Seifer resmungou.
-...
Squall entrou na sala e sentou-se em seu lugar na mesa.
- Ah, querido, eu acho que a sua comida já está fria, você quer que eu...
- Não, tá tudo bem. – O garoto começou a comer silenciosamente.
- Estou preocupada com você.
-? – Squall olhou para o rosto consternado de Edea.
- Irvine me disse que você tem agido meio estranho.
- Leonhart sempre age meio estranho, ele é estranho.
-...- O garoto retornou o olhar para o prato, mas não antes de olhar rapidamente na direção de Seifer.
- Squall, eu quero falar com você depois do jantar.
- Puberty boy tá de castigo... Eu disse para não brincar muito no chuveiro.
- Seifer... – Edea encarou o jovem de maneira reprovadora.
- Eu vou lavar meu prato. – O loiro se levantou e beijou a testa da matrona antes de ir para a cozinha.
- Terminei! Terminei! Hora da sobremesa!
- Querida, eu adoro o seu entusiasmo. – Irvine sorriu de maneira galanteadora para a garota.
- Eu sei que você gosta! – Selphie piscou para o garoto. – Mas essa aqui não é para você.
- Ohhh... Não faça isso comigo. Você vai partir o meu coração...
- Eu sou uma garota muito malvada.
- Você é. Como eu posso viver quando aquela que eu amo sempre me rejeita...
- Qual delas? – Quistis perguntou. – Há tantas que você ama.
- Ah, Quisty, não fica com ciúme. Tem amor suficiente no meu coração para você também.
- E nas calças dele também. – Seifer voltou para a mesa com um prato contendo um pedaço de torta de baunilha.
- Eu pensei que você ia lavar os pratos, senhor Almasy, ou eu escutei errado? Ah, espera, você quer um pouco do meu amor também? Ficou interessado?
- Eu disse que eu ia lavar meu prato, você lava o seu.
Squall se levantou da mesa.
- Mas parece que o Leonhart quer ser voluntário.
- Minha vez foi ontem. – O garoto fez o seu caminho para sair da sala, tentando evitar a conversa que a matrona queria ter com ele.
- Ah, você não vai escapar de mim.
Droga.
- Me espera no escritório e não, meu jovem, você não tem nenhuma desculpa para não ir.
Squall suspirou e fez como lhe foi ordenado. Ele entrou no escritório, fechou a porta e sentou-se em uma poltrona. Ele se perguntava o porquê daquilo tudo. Nenhuma ideia veio a sua mente quando ele tentou adivinhar. Ele não havia feito nada de errado pelo que ele lembrava. Então ele começou a pensar sobre outras coisas, sobre o acontecimento inesperado que havia se dado naquele dia, o homem na chuva. Por que ele não pôde recusar a proposta daquele homem? Ele ia mesmo encontrá-lo de novo?
Lentamente, um ruído de porta abrindo foi ouvido no local.
- Desculpa por ter deixado você aqui esperando... As crianças... Eles nunca vão crescer. Então...
- O quê?
- Em todos esses anos que você viveu com a gente, eu sei que você deve ter se perguntando muitas coisas. Onde estava a sua família...
- Você disse que a minha mãe tinha morrido quando eu nasci, e então meu pai morreu na guerra depois.
Edea respirou fundo. – E se eu dissesse que parte disso não é verdade?
- Então eu não quero escutar.
- Espera. – Edea segurou o braço do garoto antes que ele pudesse sair do quarto. – Squall, eu sei que é difícil falar sobre isso e... Eu... Eu sinto muito por mentir para você... mas eu não tinha a intenção de...
Squall apertou a mão de Edea. – Eu sei que você só fez isso para me proteger.
- Você precisa saber a verdade.
O garoto olhou diretamente para os olhos dourados enevoados pelas lágrimas que ainda não haviam sido derramadas. – Eu sei a verdade.
- Não, você não sabe.
- Eu... tentei esquecer. E isso funcionou por um tempo... mas... Agora eu lembro, quando eu era mais novo, você me contou uma vez que o meu pai estava muito ocupado com algo importante, mas ele viria me buscar logo... E um dia... você me disse que ele tinha morrido.
- Mas...
- Ele morreu. Pra mim ele morreu. No momento que você contou aquela mentira, pra mim ele estava morto. Eu sabia que ele não me queria. E eu queria que ele realmente tivesse morrido... e... depois de um tempo, eu comecei a acreditar nisso. Então... ele está morto agora, nada mais importa.
- Por favor, Squall, me escuta! Ele me ligou ontem e...
Squall se distanciou de Edea e abandonou o escritório. Ele tentou não escutar o chamados e os pedidos dela enquanto ele sentia seu peito se encher de raiva. Ele não estava com raiva dela, ele sabia que tudo que ela havia feito fora para protegê-lo. Sempre. Ele só não podia deixar que aquela conversa continuasse, afinal, ele havia tomado a sua decisão há muito tempo.
O garoto adentrou seu quarto e bateu a porta atrás de si.
- O que aconteceu? – perguntou o assustado colega de quarto.
O moreno respirou fundo. – Nada.
- Fala pra mim...
A raiva de Squall começou a se diluir ouvindo o tom de voz de Irvine. Era tão não característico dele falar daquele jeito. Os olhos acinzentados encontraram os azuis profundos quando Squall falou quase que de maneira inaudível. – Eu tenho um pai.
- Verdade? – Irvine perguntou animado.
- Na verdade, eu tinha um.
- O que você tá tentando dizer? – Irvine se aproximou do outro garoto. – Você está me deixando confuso.
- Eu não quero encontrar ele. Tudo que eu quero é esquecer que ele existiu. – Squall olhou para o rosto de Irvine. Ele estava tão perto.
O garoto de cabelo comprido alisou os fios castanhos do seu amigo e então beijou a testa dele. – Eu fico feliz que você deixou uma cicatriz na cara dele também. – Ele tentou mudar de assunto. – O Seifer é um filho da puta.
- É, ele mereceu. – Squall encobriu sua face no ombro do seu amigo e colocou seus braços ao redor das costas dele, enquanto o outro rapaz fazia o mesmo. Ele sempre gostou quando Irvine o abraçava daquele jeito.
Talvez essa seja uma das razões por que eu me sinto desse jeito com ele...
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Squall abriu seus olhos e foi saudado por uma manhã ensolarada. Após bocejar algumas vezes, ele se levantou da cama, apenas então se dando conta de que ele não havia dormido em sua cama. Surpreso, ele tentou lembrar o que aconteceu na noite passada e ficou desapontado ao descobrir que ele havia conversado um pouco ao lado de Irvine, na cama dele, e depois havia adormecido. Squall olhou para a sua própria cama e viu os lençóis desarrumados, prova de que seu amigo havia dormido na outra cama...
Ele deixou o quarto e se dirigiu à cozinha, onde ele podia ouvir vozes animadas demais para uma manhã de escola. O garoto viu Irvine e Selphie sorrindo e conversando. Eles estavam muito próximos, mas ele procurou afastar esse pensamento de sua cabeça. Então uma voz alta surgiu do corredor.
- É claro, princesa, eu levo você na sua casa. A gente se vê depois. – Seifer desligou o celular em seguida.
- Uhhhh, quem é? – Irvine perguntou. – Parece um encontro.
- Nada disso... ainda. – Seifer sentou-se à mesa da cozinha. – Uma garota nova na cidade, não conhece a escola, eu vou mostrar para ela o lugar... É, ela meio que gosta de mim.
- Que cara sortudo – Irvine suspirou. – A sorte não está do meu lado. Eu sou um cara tão solitário. Sabe, tem essa garota que eu gosto e ela fica sempre rejeitando o meu amor... – Ele olhou na direção de Selphie.
- Eu me pergunto quem é essa pobre coitada... – Selphie disse com a boca cheia de um cereal colorido.
- Eu não, graças a Deus! – Quistis colocou sua pilha de livros em cima da mesa e ocupou o seu lugar.
- Puberty boy tá todo silencioso. Acho que ele não entende do assunto ainda.
Vê se cresce, Seifer.
Squall não gostava muito de falar de garotas.
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O lugar estava cheio. Ele odiava tanto aquilo. Squall caminhou silenciosamente até uma pequena mesa em um canto da lanchonete e sentou-se. Ele queria desviar o seu olhar, mas não conseguia ficar sem fitar o chapéu de cowboy à distância, um garoto perseguindo uma menina de vestido amarelo. Irvine era só seu amigo. Por que ele ainda tinha esperanças? Era sempre assim, ele pensava por um momento que Irvine poderia sentir o mesmo, mas quanto mais ele se aproximava, mais o outro garoto parecia distante. Ele sempre estava lá de alguma forma, mas... nunca estava lá... não do jeito que ele precisava.
- Que foi, cara? – Um garoto sentou-se ao lado dele.
-...
- Sabe, eu sei como você está se sentindo, eu também odeio esses hamburgers, eles nunca vão ser tão bons quanto os hot-dogs que eles fazem aqui. Se eu estivesse aqui um minuto antes... talvez eu pudesse conseguir um deles, mas aquela...
- E aí, Chicken. – Um sorriso zombeteiro surgiu no rosto do loiro alto.
Olhos azuis da cor do céu admiraram com adoração a comida nas mãos dele. – Eles fizeram mais hot-dogs?
- Não... Esse é o último. – Uma grande mordida. – Mas, sabe, eles têm um gosto horrível.
Eu não vou implorar. Não vou...
- Acho que ninguém vai querer isso.
-...
A última mordida.
- Por que está tão quieto, Dincht?
- Desgraçado. – Zell cruzou os braços e se deprimiu.
- Ohh... Você machuca os meus sentimentos, Chicken.
- Por que você sempre... Ah, esquece.
Seifer sentou-se ao lado do outro garoto. – Você sente a minha falta? Sozinho naquela sua casa grande?
- Mas de jeito nenhum!
- Ah, vai, você sempre gostava de brincar comigo antes.
- É... Você adorava me trancar num armário e me amarrar na cadeira.
- Não esqueça os bons tempos que eu enterrava você na areia.
-...
Céus, por que esses dois não vão embora...
Squall se sentia tão miserável... Por que a vida de um adolescente precisava ser tão difícil?
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A campainha tocou histericamente.
Eu não estou escutando.
Squall tentou se concentrar em seu livro.
E aquele barulho continuava reverberando pela casa.
Não tem ninguém aqui, vai embora.
Squall virou a página do livro com força. Edea havia saído para fazer compras. Quistis tinha ficado na biblioteca da escola com o fanclub dela. Selphie tinha saído com alguns amigos. Irvine foi namorar algum instrumento musical em uma loja. E Seifer... Onde diabos estava ele?
Com um suspirou de frustração, o garoto se levantou do sofá e decidiu atender a porta.
- Oi.
Por quê? Tem uma garota sorrindo... para mim?
- Eu sou Rinoa, a amiga do Seifer.
Masoquista.
- Olha, ele não está aqui.
- Ahh... – A garota parecia desapontada.
- Talvez ele volte depois.
- Mesmo?
- É... Talvez tenha algo atrasando ele lá no trabalho.
- É, você tem razão.
Isso não é bom.
- Posso esperar ele aqui?
Na porta? Claro.
- Hum... Você não vai me deixar entrar?
- Tá, entra – Squall suspirou e fechou a porta. – Você pode sentar aí. – Ele apontou para o sofá e se dirigiu ao seu quarto.
- Espera! – Rinoa segurou o braço dele gentilmente. – Você não vai me fazer companhia?
Por que você acha que eu faria?
- Sabe, você é o garoto mais bonito daqui. Eu gostaria que você ficasse aqui comigo. – A garota sorriu para ele.
Eu sou o único cara aqui... E não, eu não quero ficar aqui com você.
- Eu preciso convencer você a gostar de mim? Por favor, por favor, fale comigo. – Rinoa riu docemente.
Squall queria se esmurrar. – Tá bom. – Ele sentou no sofá e logo a garota sentou-se ao lado dele.
- Entãoo... qual o seu nome?
E a porta foi aberta de repente. – Squall! Você precisava ver a coisa linda que eu vi na loja. Que guitarra sexy... – E Irvine deu um sorrisinho quando ele percebeu a cena a sua frente. – Estou interrompendo alguma coisa?
- Ah, não. – Rinoa sorriu e olhou para o rapaz ao seu lado. – Então, o Squall e eu estávamos só conversando, como amigos...
- Ah, garota, você é incrível, ele realmente falou com você?
Eu fui forçado!
- Oooh, cowboy, o que você tá fazendo gritando na porta, eu quero entrar na minha própria casa... – E os olhos de Seifer se arregalaram quando ele olhou na direção do sofá. – E aí, Rinoa... O que você tá fazendo aqui? Eu ia te buscar na sua casa, lembra?
- Eu não pude esperar, então eu lembrei que você tinha dito que morava aqui e eu decidi vir! Espero que você não esteja bravo comigo!
- Hum... claro que não...
- Eu estava falando com o seu irmão, e ele foi tão legal e gentil comigo.
- Leonhart?
- Cara, você acabou de perder a garota – Irvine suspirou ao ouvido do loiro.
De repente, Squall se levantou e caminhou em direção ao seu quarto. – O Seifer já tá aqui, então eu tô indo.
Rinoa olhou para o garoto, confusa.
- É, vai mesmo, Puberty boy.
Squall andou furiosamente pelos corredores, até alcançar seu quarto.
- Cara, por que você falou daquele jeito com aquela menina bonita?
-... – O moreno tirou as suas roupas.
Irvine ficou olhando. – O que você tá fazendo...?
- Me trocando. – Ele abriu o guarda-roupa.
- Você tá saindo?
- Tô.
- Pra onde?
- Um lugar aí.
Ele vestiu suas calças de couro e uma camiseta branca.
- Um lugar, onde?
- Fica quieto, Irvine!
-...
E Irvine ficou quieto.
Squall olhou para o rosto do seu amigo e sentiu-se culpado quando viu um olhar triste.
- Eu não tive intenção...
- Tá legal. – Irvine se deitou na cama.
-...
- Você pode ir para o seu encontro, você não precisa me dizer nada.
- Eu não estou indo a um...
- É... Você fica muito bem quando se veste assim, você sabe disso.
- Irvine... – Squall se aproximou da cama do seu colega de quarto.
- Vai pegar a sua garota! – Irvine afastou o toque do moreno. – Eu sei que você merece uma garota legal...
- Quê?
- Eu sei que ela deve ser linda e tudo mais.
-...
- Vai logo. – Irvine escondeu seu rosto no travesseiro.
- Tá bom...
- Esquece. Eu só... – Irvine sentou-se. – Bom... pensando nisso, você e aquela garota, Rinoa ou algo assim, vocês formam um casal legal. Vocês ficam tão bem juntos.
Mas o quê...?
- Eu tô indo. – Squall fez seu caminho até as ruas. Droga, o Irvine era tão confuso. Por um momento ele quase pensou que o outro garoto estava com ciúmes...
Após um breve momento, Squall se encontrou no porto de Balamb. O sol brilhava no límpido céu azul e as ondas banhavam gentilmente a praia.
O que eu estou fazendo aqui?
Fugindo de garotas?
- Ei! – Um homem sorridente acenou, aproximando-se... até que ele parou quando teve uma câimbra.
Encontrando homens com câimbras constantes?
- Você está bem?
- Ah, não é nada! É só... Isso só acontece às vezes quando eu me sinto nervoso ou... – Ele reparou em como o garoto estava vestido e... - Nossa, você tá muito bem!
Squall se ruborizou. -...Obrigado.
E o coração do Laguna se derreteu.
Hum... Isso não é bom... Ele é seu...
- Aonde nós vamos? – Squall perguntou.
- Eu não sei... Eu acho que a gente poderia andar pela praia e conversar...
Eu acho que realmente precisamos conversar...
- Hum... Tá legal.
Enquanto eles andavam pela areia, Squall percebeu que as roupas de Laguna estavam bem mais condizentes com o local onde ele estava. Ele calçava chinelos e usava uma camisa com os primeiros botões abertos. Squall realmente gostava de olhar para ele.
- Então, como foi a escola hoje? – Laguna sentiu a brisa do mar acariciar sua pele.
- Chata.
- É, eu também achava quando eu era mais jovem... – Então Laguna parou.
- O que aconteceu?
- Você quer sorvete? – O homem perguntou com nervosismo.
-...Ham... quero... Por que não?
Squall sentiu-se um pouco sem jeito sentado em degraus de uma escada de madeira ao lado de um homem crescido, com um sorvete colorido nas mãos. Isso o fazia sentir como uma criança idiota. Mas Laguna parecia que estava muito feliz. Squall podia sentir o corpo quente perto dele. Ele desejava poder entrelaçar seus braços ao redor dele mais uma vez.
E foi o que ele fez.
- O que... – Laguna ficou surpreso quando ele sentiu o corpo pressionado ao dele e a respiração sobre o seu pescoço. O homem inspirou profundamente. O que ele poderia fazer? Ele pensou em afastar o garoto... mas ele não podia, então ele colocou seus braços ao redor dele e o abraçou fortemente. No entanto, bem no fundo ele sabia que tinha algo terrivelmente errado na maneira em que ele se sentia naquele abraço. – Squall...
Mais uma vez, como ele sabia o nome dele?
E o jovem também sabia que havia algo de errado. – Por favor... não fale nada.
- Mas eu preciso...
- Você vai me deixar...? – Squall não sabia de onde aquelas palavras vieram.
- Não, é claro que não... – Laguna olhou nos olhos azuis. – Eu nunca mais vou deixar você.
Squall abruptamente se separou do abraço. – O quê...?
- Eu ia encontrar você antes mas... Eu não pude... Por favor, não me odeie. Me deixa explicar...
O garoto se levantou.
Quem é você?
Mas ele não pôde achar sua voz para perguntar. Então ele se afastou.
- Espera! – Laguna correu atrás dele.
E Squall fez de conta que não ouviu as palavras que vieram em seguida.
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Squall entrou na casa furiosamente. Edea havia feito muitas perguntas que ele ignorou. Ele se trancou no quarto por horas, até que ele se encontrou sentado no chão gelado, no escuro.
- Por favor, me deixa entrar.
- Vai embora... – Squall suspirou.
- Esse é meu quarto também.
-...
- Eu... Eu tenho que pegar umas coisas...
-...
Squall abriu a porta debilmente, e retornou a sua posição anterior no chão, encostado à parede.
Irvine acendeu as luzes e caminhou lentamente. – Você está chorando? – Ele sentou ao lado do seu amigo.
- Claro que não – veio a fria resposta.
- Eu fico triste quando você fica. – Irvine encostou sua cabeça no ombro de Squall.
Uma lágrima rolou sobre o rosto do moreno.
- Por que você se importa?
Por que eu me importo...?
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Continua...
Notas: Eu achei esse capítulo um pouco triste e eu não gosto de tristeza por muito tempo. Embora os próximos capítulos não sejam alegres sempre, acho que os ânimos melhoram! E mesmo que demore um pouco, vai ter Irvine x Squall, Laguna x Squall e Seifer x Zell, e lemons para todos. Pode ser que tenham alguns outros relacionamentos durante a história, mas o romance é concentrado nesses três. Eu tentei dividir de uma forma equilibrada, mas acontece de um se sobressair mais que o outro, e já que essa história é focada no Squall...
