A promessa
Prólogo - Ginevra
Foi a claridade que me acordou. Por Merlin, minha cabeça estava prestes a explodir! Havia bebido quanto na noite passada para ter essa enxaqueca monstruosa? E que dia da semana era mesmo? Ah, tão espero que não seja segunda-feira! Segundas-feiras no Profeta Diário nunca eram boas, segundas com tamanha ressaca deveriam ser impossíveis de serem vividas até o final.
Precisava levantar, fazer alguma coisa para comer de café da manhã e aparatar para minha mesa. Tateei minha cabeceira em busca do meu relógio mas não consegui achar nada muito familiar, o que me fez abrir os olhos e dar de cara com um quarto de cores claras. Ah, merda.
Merda, merda, merda, merda, merda. Merda - e eu tão deveria parar de xingar desse jeito, segundo meu namorado. Se é que eu ainda tinha um namorado após a última noite, pois meus olhos abertos me diziam que estava numa casa trouxa nunca antes visitada, e que usava uma roupa que tinha a mais absoluta certeza não ser minha. Mas ainda havia esperança de meu quem-sabe-um-dia-noivo ter me feito uma surpresa, não?
Olhei para minha mão direita, mas não havia anel algum ali. Menos mal, pensei: me sentiria a pior bruxa de todo o universo se tivesse sido pedida em casamento em uma noite que claramente havia sido apagada da minha memória. Mas o barulho de alguém escovando os dentes vindo do banheiro que vi haver na suíte tirara o menos mal no mesmo segundo de minha mente. Ginevra, você dormiu com um bruxo que nem de perto se parecia com seu namorado, menos mal como? Eu deveria chamar por Harry, ou o nome errado só pioraria as coisas?
Eu tão queria desaparatar dali.
O corpo que vi de relance pela porta entreaberta me fez ter a certeza de estar muito, mas muito fodida - e não tinha como não xingar naquela hora. Me sentei na cama, meus pés já tocando um tapete macio quando o homem se virou e começou a andar em minha direção. Harry tinha a pele mais morena que a minha, e não mais branca como era o caso da que eu via. Harry também tinha cabelos pretos. E fazia um tempo considerável desde a última vez que Harry me olhara com um sorriso tão grande nos lábios - e mesmo quando olhava, seus olhos eram verdes. Aqueles cinzas me fizeram prender a respiração.
Merlin, o que eu havia feito?
"Gi?" Abri a boca para tentar falar alguma coisa - qualquer coisa! - uma, duas vezes. Nada saía, e eu não conseguia desgrudar os olhos daquele corpo envolto da cintura para baixo pela toalha azul-escura.
"Oh Merlin, NÃO!" Foi apenas quando ele fez menção de tirá-la que tive alguma reação. Não, não, não, eu não precisava vê-lo sem nada, por mais que provavelmente tivesse visto e revisto noite passada. "Onde estão minhas roupas?" Afinal, eu com certeza não vim para cá vestindo isso. Mas por mais que meus olhos procurassem e procurassem qualquer peça que poderia ser minha ao redor do quarto, não conseguia achar nada fora do lugar. Tudo arrumado demais para uma noite selvagem, que definitivamente era o que havíamos dividido.
E foi então que me acertou em cheio pela primeira vez: eu havia transado com Draco Malfoy. Minha cabeça parecia doer duas vezes mais após aquela constatação.
"Eu preciso ir pra casa, onde estão as minhas roupas?" falei já totalmente irritada, o mais alto que minha dor permitia enquanto procurava entre os lençóis por alguma peça que me desse mais decência do que uma camisa semi-aberta e uma calcinha. Nada além de um par de olhos que me observavam confusos, e por um instante pareciam quase machucados. Pelas barbas de Salazar, ele não achou que noite passada significou alguma coisa, achou? "Malfoy, que diabos, eu preciso ir pra casa!"
Definitivamente havia dor naqueles olhos cinzas.
"Gi, você está em casa."
Foi a seriedade do ex-sonserino ao me falar aquelas palavras que me fez ficar realmente nervosa. Senti meu coração quase explodir de tanto bater no meu peito: o loiro não estava brincando. Ao menos, não era brincadeira para ele. Com certeza enlouquecera, depois de tantos anos sumidos do mundo mágico perdera por completo a sanidade. Quando fora a última vez que alguém avistara Draco Malfoy, afinal? Que eu o vira? No fim da guerra, certo? Os anos sem dúvida foram cruéis com o bruxo, que parecia muito mais velho do que seus prováveis 25 anos.
"O que você fez comigo noite passada?" perguntei, tentando manter um mínimo de calma. Minha varinha, onde estava minha varinha? Eu estava num quarto sem um item mágico sequer e sem a porra da minha varinha! "Olha, se é alguma brincadeira doentia sua para se vingar de qualquer coisa que Harry tenha feito-" E outra vez tristeza naquele par de olhos, e as palavras se prenderam em minha garganta. Não, eu não iria chorar! "Malfoy, por um acaso você me drogou?" Mas sabia que não era aquilo, e o que via refletido no espelho fez cair a primeira lágrima. "Se você me drogou, ou se isso é algum tipo de pegadinha," Limpei com raiva os olhos quando senti a segunda lágrima escorrer pela minha bochecha. "Você já conseguiu me assustar, então pare. Por favor, Malfoy-"
"Qual é a última coisa que você lembra, Gi?" Lembro de precisar chegar na redação do Profeta Diário - mas não fazia sentido algum eu precisar chegar lá hoje, era a minha folga. Sim, hoje era minha folga, todas as quintas-feiras eu não ia trabalhar, e hoje era quinta, e não segunda. "Qual o seu nome?"
"Ginevra Molly Weasley, não é óbvio?" cuspi, me aproximando mais do reflexo da ruiva que definitivamente não era eu. Desde quando uso meus cabelos cacheados e longos desse jeito? Desde quando deixo tantas sardas à mostra? E porque, ao olhar para Draco Malfoy após falar meu nome, eu simplesmente sabia que havia algo de muito, mas muito errado comigo?
Porque não havia nada de errado com o espelho: apesar de haver novos traços no meu rosto, novas cicatrizes no meu corpo, aquele era o meu cabelo, aquelas eram minhas sardas, aquela era a pinta em formato de coração que sempre tive na coxa esquerda. Aquela era eu. E o homem ao meu lado, que me encarava com uma mão cobrindo a boca e olhar inconsolável, ou era um ótimo ator, ou de louco não tinha nada - e talvez a segunda opção fosse a mais crível. Mesmo assim, não consegui conter as próximas palavras.
"Se alguém descobrir que nós dormimos juntos, eu estou acabada." Porque acordar na cama junto de um ex-comensal no mundo mágico era algo que acabaria na primeira página de todos os jornais de fofoca. Agora ela, namorada de Harry Potter, acordar justo ao lado de Draco Malfoy: isso seria a manchete do século.
"Gi, já faz um tempo que todos sabem que dormimos juntos." E meu coração, que antes batia acelerado, parou por um instante. "Ao menos todos com quem convivemos sabem."
Merlin, aquilo era apenas um sonho. Só podia ser um sonho!
Certo?
Eu iria deitar, fechar meus olhos, e quando acordasse, eu veria meu quarto, e no reflexo o espelho mostraria meu cabelo liso e na altura dos ombros, e toda aquela maldita dor na cabeça teria ido embora. As novas sardas teriam ido embora. Malfoy teria ido embora. E eu estava prestes a fazer isso quando percebi o que usava na mão esquerda pela primeira vez.
Era o solitário mais lindo que já vira em toda a vida. E a aliança embaixo dele era igual a que via no dedo de Malfoy. E tais fatos só gritavam uma coisa para mim: havia tomado, em algum momento de minha vida, uma decisão muito, mas muito errada.
"Você não sabe quem eu sou, sabe?" Fiz que não com a cabeça - mas eu sabia, por mais que não lembrasse. Era óbvio. Ele não precisava ter falado. "Eu sou seu marido, Virgínia."
Nota da Autora: Eu não tô conseguindo ficar sem escrever, e agora? Surgiu do nada na minha cabeça, e a ideia desenvolveu, e fiquei com muita vontade de colocar em palavras. Posso pedir a opinião de quem tiver lendo? Eu realmente, realmente gostaria de ler o que acharam - claro, quem quiser comentar!
Se tiver um feedback legal, vou tentar postar pelo menos uns dois capítulos por mês! Comentários incentivam bastante a escrita hehehe
Bem, é apenas o começo, espero que tenham gostado da proposta.
Um beijo grande,
Ania.
