Você olhou para mim como se fosse eu o fim do mundo. Não posso negar que, naquele breve momento em que nossos olhos se cruzaram (as coisas parecem durar infinitos miseráveis quando estamos juntos), sentisse como se fosse o início e o fim de tudo. Cheguei a fraquejar minhas pernas, e fui obrigada a disfarçar minha estúpida invalidez emocional com uma tontura. Nada é certo e nada deve (ou deveria) realmente existir quando estou perto de você. A prova disso é que tantas pessoas foram me ajudar, mas nenhuma era você, e isso doeu mais que o seu olhar de fim de mundo. Livros recolhidos, folhas voando, e eu implorando para que ninguém visse nenhuma das inúmeras linhas nas quais escrevi seu nome.

Enquanto tentava ficar de pé (- Estou bem, obrigada.), ainda sentia seus olhos queimando minha face com tamanho frio, e estar anestesiada por aquelas íris tempestuosas não ajudava em nada meu desempenho. E, falando nisso, você vem me atrapalhando nas aulas, e isso é fundamental para que a gravidade dos fatos seja comprovada. Eu, que nunca me distraio, encontro-me perdida e desesperada, incapaz de processar ou produzir qualquer letra, por mais pífia que seja, se ela não pertencer ao seu nome. Francamente, a culpa é sua (ou minha, mas meu ego não permite que diga isso em voz alta).

De pé, desviando de todas as mãos que tentavam me tocar de qualquer forma e "ajudar", embora eternamente caída e imersa nos olhos cinzentos e braços fictícios nos quais mergulhei (ou afoguei) por puro descuido (nunca imaginei que sorrir para você, um único dia, resultaria em tamanho desastre emocional), caminhei até seu corpo – alto, magro, firme, austero e incrivelmente belo, com a simetria assustadora desses lábios finos –, e pude jurar que suas garras alvas roçaram minha pele quando passei sem respirar e implodi meu coração. Mas minhas juras não fazem mais sentido, então olhei para baixo, com as bochechas corando e os cachos que (por Merlin, o que acha do meu cabelo?) cobriam-me a face, abarquei o fim que me pertencia e voltei a andar como se cada passo meu não pertencesse a você.

Não admito que seja eu o fim do mundo sendo que foi você quem começou com tudo.