Era primavera. Um lindo dia de primavera. Dia que eu nunca vou me esquecer. Dia em que eu me arrependi. Arrependi de consolar um amigo. Amigo que, naquele momento mais do que nunca, precisava de mim. Ajudei. Hoje me arrependo. Tanto ele, quanto eu, perdemos. Perdemos coisas preciosas. E até hoje não sei como posso viver sem ele... (sic) Giuliano Tranqilli.
Naqueles dias, Shaka estava estranho. No treinamento do dia, havia perdido do cavaleiro de touro, Aldebaran, coisa que até então não havia acontecido. Percebi que ele estava triste, apesar de não demonstrar. Virgem, às vezes, se preocupa com os outros, sem se preocupar com si mesmo. Mascara da Morte me dizia que eu tinha o dom para alegrar as pessoas... No fim da tarde, fui até o Templo de Virgem conversar com Shaka. Quando cheguei lá, vi uma cena que nunca vou esquecer. O Cavaleiro mais próximo de Deus chorando. Ele estava perto de seu Budha que fica no pátio principal do templo. Estava encolhido e chorando com um papel não mão. Parecia um exame médico. De início não consegui acreditar no que via. Cheguei perto dele e fui conversar. Sabe, tentar animá-lo um pouco. Sabendo que ele era um Santo de Ouro, uma doencinha qualquer não faria mal ao Shaka. Achava isso até ele me contar o que acontecera. Fiquei pasmo.
Por ele ter desobedecido a seu voto de castidade, já que Shaka era um monge, Budha lançou sobre ele uma maldição. Disse que qualquer coisa que Athena fizer não irá diminuir o sofrimento que estava destinado a ele naquele momento. Shaka tinha largado tudo para ficar com o Cavaleiro de Áries, Mu. O casamento dos dois estava marcado para daqui a cinco dias.
Nos cinco dias até o casamento, fiquei o tempo todo com Shaka. Achava que ele precisava de mim, e precisava, e que não tinha nada de mais nisso. Afinal, eu era casado, não é? Não. Dois dias antes do casamento de Virgem e Áries, ouvi boatos de que o Shaka estaria traindo o Mu comigo antes mesmo de casar. Conseqüentemente, eu estaria traindo o Mascara da Morte. Reconheço que ele (Mascara da Morte) tentou não acreditar. E não estava acreditando, até me defendeu, antes do que aconteceu no casamento.
Tudo ia muito bem. Era uma cerimônia linda. Era simples, como o Shaka queria. Ao ar livre, decorado com tulipas brancas. Shaka estava lindo. Ele e Mu estavam lindos. Ia tudo muito bem até a hora do 'sim'. O que Shaka disse, ninguém esperava. Depois de um 'sim' do Mu, Shaka disse 'não'. Todos, inclusive eu, ficaram chocados. O que Shaka tinha dito? Foi mesmo um Não? A cerimônia tinha acabado ali. Shaka saiu correndo em direção a sua casa. Fui atrás. E essa era a gota que faltava para transbordar o copo.
Na casa de Virgem, perguntei ao Shaka por que ele tinha dito 'não'. Ele apenas me disse que ia morrer. Ia sofrer. E por isso mesmo não queria que Mu sofresse junto. Não adiantou dizer a ele que Mu o amava e por isso tinha que contar da doença para ele e ele ia entender. Ia ficar do lado dele. Todos iam ficar do lado dele. Ele não me ouviu. Cabeça-dura. Dormi com ele naquela noite. De novo.
O almoço seguinte foi, como sempre, no refeitório. Não era agradável ver os olhares dos outros cavaleiros em cima de nós. Senti-me incomodado. Então Mascara da Morte me puxou dizendo que queria conversar comigo. Disse que não podia por que o Shaka não podia ficar sozinho. Ele perdeu a paciência. Começou a gritar comigo. Dizendo que não imaginava que eu seria capaz de o trair. Tentei argumentar, e quase contei da doença do Shaka. Ele começou a chorar. Ainda com raiva, gritando, me disse que nosso casamento era uma coisa que já não existia. Comecei a chorar. Shaka também. Nunca imaginei que terminaria meu casamento em público. Saí correndo em direção à minha casa. Shaka não foi. Não sei por que, achei que ele viria. Quando eu estava saindo, vi que ele estava incomodado.
Passei o resto da noite chorando. No outro dia, decidi que ia sair do Santuário. Ia entregar minha armadura para alguém que merecesse. Falei com Shaka. Ele decidiu fazer o mesmo. Mas precisava falar com Mu primeiro. E enquanto ele falava com Mu, eu fui falar com a Saori. Ela me disse que não havia problema e que essa era a melhor solução, já que o clima entre nós dois e os outros cavaleiros estava pesado. Percebi que ela gostou da nossa decisão. Até me deu umas economias por anos de serviço.
Quando eu estava saindo, vi Shion. Ele me disse que não acreditava que eu e Shaka tínhamos um caso. Mas que nós dois sairmos após tudo o que aconteceu só ia afirmar. Tentou me convencer, mas eu estava decidido.
A doença que Shaka tinha era grave e só tinha tratamento em Londres. Fomos para lá. A primeira coisa que fizemos foi procurar a clínica e saber como era o tratamento. Não gostei do que ouvi. Para o tratamento, gastei todo o dinheiro que Saori havia nos dado. E Shaka teria que ficar internado na clínica por seis meses. Eu só poderia visitá-lo aos sábados. Decidimos que não havia problema e que eu me viraria. Despedi-me de Shaka e fui procurar emprego. Ainda era manhã, comprei um jornal, olhei nos classificados e havia pouquíssima coisa para alguém que não tinha experiência nem algum curso superior. Alguns que achei eram vagas para estudantes, tinham limite de idade. Não tive outro recurso. Comecei a andar pelas ruas à procura de emprego e me oferecendo nem que fosse para limpar chão. Chegando de noite, estava sem dinheiro, sem emprego e sem lugar para ficar. Estava cansado e com fome. Não havia comido nada o dia todo. Sentei no banco da praça, já tinha largado minhas malas em uma loja que tinha ali perto. Olhei para o céu. Estava estrelado. As noites ficam lindas naquela época do ano. As estrelas... As constelações de virgem e peixes... Parecia me dizer que estava tudo bem. Que ia melhorar. Fiquei imaginando se Shaka estava olhando para o mesmo céu e imaginando o mesmo que eu. Estava distraído, quando passou um homem. Não o conhecia. Ele me disse seu nome. Era Andrew. Pediu que o chamasse de Andy. Talvez por estar solitário, aceitei sua companhia. Ele me levou a um restaurante. Aceitei, afinal, estava com fome. Comi mais que devia, reconheço. Andy só sorria. Ele era educado. Tipicamente inglês. Era meio loiro, cabelo curto, alto e robusto. Uma coisa que me chamou a atenção foi a cicatriz que ele tinha. Era no rosto. De cor escura, perto da boca. Era grande. Era difícil não olhar para ela. Depois do jantar ele me levou a um hotel. Não desconfiei de nada, apenas pedi a ele para eu ir buscar as malas. Ele disse que ia. Fiquei no hotel. Era um quarto grande de luxo. Tinha hidromassagem e tudo mais. Quando ele chegou com as malas, fiquei de certa forma aliviado. Até ele fazer aquilo.
Eu tinha acabado de sair do banho, ainda estava de toalha e ele chegou perto, retirou a toalha que estava em minha cintura e começou a dizer que nunca tinha visto alguém como eu. Fiquei incomodado com aquilo. Então ele me puxou, me jogou na cama. Não tive tempo de argumentar ou me defender. Ele retirou a roupa. Virou-me de costas. Penetrou seu membro em minha estreita abertura. Ele foi bruto. Doeu. Passei o tempo todo chorando. Mais que minha primeira vez. Tentei sair, mas ele me disse que se eu tentasse me mataria. Fiquei sem reação. Fui penetrado muitas vezes. Ele não teve dó. Começou a me morder, chupar, lamber selvagemente. Doeu mais em meu coração do que em outra parte qualquer. Senti que estava traindo o Mask. Senti dor. Vontade de sumir do mundo. Nunca vou esquecer o que Andy fez. Foi uma mancha que ficou comigo.
Depois de acabado, Andy me empurrou para fora do quarto. Jogou minhas malas fora. Era tarde. Meia noite. Saí perambulando pelas ruas. Procurei uma delegacia para dar queixa, mas achei melhor não. A única coisa que pude fazer foi deitar no mesmo banco de praça que havia conhecido Andy e tentar descansar. Deitei. Estava visivelmente abatido. As pessoas que passavam pelas ruas diziam algumas coisas que não entendi. Dormi.
No outro dia, vi que minhas malas haviam sumido. O guarda que havia me acordado disse que uns moleques haviam levado. Saí sem rumo. Fiquei sem rumo por mais uns dias. Cinco dias até sábado. Estava contando nos dedos o dia que ia falar com Shaka. Mas ao mesmo tempo tinha vergonha. Havia me tornado um mendigo. Passei os próximos dias numa situação que nunca imaginei que estaria. Não tinha dinheiro, lugar para dormir, estava com fome, cansado. Fiz uma coisa inimaginável. Prostitui-me. Não vou negar, dá dinheiro. Os outros diziam que era eu. Que eu dava dinheiro. Tudo isso em cinco dias.
Quando fui visitar Shaka, estava em uma situação um pouco melhor. Tinha um lugar para ficar. Eu aluguei uma kitnet num bairro pobre de Londres. Era modesto, mas eu tinha onde ficar. Contei o que aconteceu para Shaka e ele ficou atônico. Disse que o caminho que eu tinha tomado não levava a nada. Eu disse que sabia disso, mas que era melhor que ficar mendigando nas ruas. Eu disse também que se eu achasse outra solução teria feito. Eu estava com raiva. Briguei com ele. Eu estava com tanto ódio que não havia reparado que Shaka estava em uma cadeira de rodas. Depois que briguei com ele, me arrependi. Ele começou a chorar. Pedi desculpas. Perguntei a ele por que ele estava em uma cadeira de rodas. Apenas me disse que havia ficado paralítico nesses cinco dias. Perguntei como, mas ele não disse mais nada.
Nos próximos meses, a situação não melhorou. É certo que o Shaka estava melhorando da doença, mas não ia voltar a andar. Eu não melhorei nada. Continuei me prostituindo. Sentia muita falta dos velhos tempos. Tempos em que eu treinava o dia todo, reclamava, saia com meu marido e nossos amigos à noite. Ninguém nos procurou. Devem estar com raiva. Pergunto-me se não percebem que eu e Shaka estamos tristes. Afinal, nosso cosmo está visivelmente triste. Nosso cosmo. Desde que deixamos o Santuário, meu cosmo e do Shaka diminuíram consideravelmente. É capaz de eles nem estarem sentindo eles. Pensando melhor agora, deve ser exatamente por isso que não reagi no incidente com Andy.
Duas noites antes de Shaka sair da clínica, vi Andy. Ele havia me procurado durante todo esse tempo. Pediu para sair comigo. Eu aceitei. Até hoje não sei por que, mas acho que eu sabia, no fundo, o que ia fazer com ele.
Naquela mesma noite saí com ele. Fomos mo mesmo hotel em que ele me estuprou. Mesmo quarto. Ele quis fazer sexo selvagem. Disse que ele teria que ser mais delicado dessa vez, que naquela tinha doído. Disse que ia tomar um banho antes e fui para o banheiro. Não sei como, talvez seja por instinto, consegui fazer uma rosa branca envenenada o bastante para matar um humano 'normal'. Cheguei lá com a rosa na boca, cena que fazia com o Mascara. Disse que ia fazer uma surpresa e que não ia doer. Em uns instantes encravei a rosa no seu peito. Ele começou a gritar. Disse que não havia por que gritar. E saí. Sei que ele morreu. Só não sei se ele tentou retirar a rosa ou simplesmente esperou.
No outro dia fui comprar os itens que Shaka precisaria agora. Também decidi me mudar. Não dava para deixar Shaka morando onde eu estava. Aluguei uma casa em um lugar menos 'favelado' e que correspondia às necessidades dele. Mudei-me para lá naquele dia mesmo. Quando levei Shaka para lá, ele ficou espantado. Disse que não precisava eu ter me mudado só por ele. Disse que não era problema. Ele disse que queria me ajudar. Disse que ia trabalhar. Pensei que se foi difícil (até impossível) para eu achar um emprego decente, imagina para ele, que agora estava paralítico? Mas não teimei. Acho que ele percebeu, pois disse que ele tinha fé que acharia. Ele estava curado, nós já tínhamos sofrido, a maldição acabara. Não contestei.
Shaka saiu cedo no outro dia. O acompanhei. Reparei que ele estava um tanto habilidoso com a cadeira. Imagino o que ele deve ter sentido quando soube que não ia mais andar. Deve ter sido difícil. Passado algum tempo, nós vimos uma doceria que precisava de atendentes deficientes. Não pensamos duas vezes. A mulher que nos atendeu, mais tarde fui saber que era a gerente, gostou do Shaka e ofereceu o emprego a ele na hora. Ele começaria a trabalhar no mesmo dia. Vi que ele ficou alegre. Deu o primeiro sorriso sincero desde aquele dia. Ele trabalharia no caixa. Fiquei lá para ver como ele ia ser tratado. Preocupo-me com ele. Ele era, é, minha família. Minha única família. Então entrou na doceria uma pessoa que não imaginava ver. Não agora. Milo. Cavaleiro de Escorpião. Fingi que não vi, mas não adiantou. Ele veio me cumprimentar. Achava que ele guardava mágoas de nós. Veio perto de mim como se nada tivesse acontecido. Não agüentei e perguntei por que ele me tratara com tanta naturalidade. Apenas me disse que me conhecia e conhecia o Shaka suficientemente bem para saber que não faríamos aquilo. Preferi não perguntar por que ele estava ali. Ele me perguntou como estava o Shaka. Percebi que ele não o tinha visto ainda. Não deu tempo de responder. Então entrou Kamus. O jeito que Kamus me olhou não seria possível de descrever. É como se ele estivesse ao mesmo tempo decepcionado e irado conosco. Puxou o Milo e não deixou que o loiro dissesse nada. Milo havia tomado café, então teria que passar no caixa.
Aí Milo viu Shaka. O caixa era transparente, dava para ver a cadeira de rodas do Shaka. Milo e Kamus apenas olharam. Não sei o que conversaram ou o que aconteceu. Só sei que Shaka se saiu bem. Saiu sorrindo. Gostei.
No outro dia, tive outra surpresa. Estava de manhã, eu tinha acabado de trocar a fralda do Shaka e eu fui tomar banho. Quando cheguei do banho, vi Mu e Mascara da Morte sentados em meu sofá. Talvez Shaka tivesse os atendido e contado tudo, pois eles estavam com uma feição diferente. Não estavam transmitindo ódio ou raiva. Apenas arrependimento e pena... Então parei para pensar que Shaka havia saído sozinho noite passada depois do expediente. Talvez ele tivesse encontrado com Milo. Mas o que importa, se Mu e Máscara estavam lá. Não vou negar que de alguma forma fiquei feliz. Parecia que Shaka e Mu tinham reatado. Estavam se beijando e nunca tinha visto o Mu ter tanto cuidado com Shaka. Era como se Shaka fosse uma bonequinha de porcelana que quebraria facilmente. Então Máscara pediu para conversar comigo. Saí com ele e deixei os dois pombinhos a sós.
Fomos a uma sorveteria. Ele começou a me perguntar como era minha vida depois que eu entregara minha armadura. Imaginei que ele estava querendo ouvir de minha boca, pois pelo menos um pouco da historia ele deveria saber para me perdoar. Contei tudo. Não tive dó. Contei de Andy e de como o tinha matado. Contei como comecei a me prostituir. Por que comecei a me prostituir. De quando descobri que Shaka ficara paralítico, como passei esses meses sem ele. Como sentis sua falta. Chorava enquanto contava. Vi que ele ficou comovido e boquiaberto. Então, quando terminei, ele começou a chorar. Disse que me levaria a um lugar em Londres que era importante para ele. Entrei no carro.
No caminho, começou a me dizer que me amava e que queria ficar comigo apesar de tudo. Eu neguei. Ele não acreditou quando eu disse que não estava o traindo. Agora não voltaria a ficar com ele. Ele ficou irado comigo. Ele estava no volante. A rua era movimentada, estávamos perto do Big Beng, é natural. Ele olhou para mim e disse que era um absurdo, que ele viera para cá para pedir perdão, se humilhara e eu apenas disse não. Acho que é um motivo bobo, mas não para o canceriano. Então ele começou a gritar e me chamar de puta, gigolô, prostituta, viado e outras humilhações que não merecem ser mencionadas. Fiquei com raiva e dei um tapa não cara dele. Ele, que ainda estava no volante, se virou para mim para revidar. Apenas reparei que estávamos em um cruzamento. Não vi mais nada.
Quando acordei, estava em um hospital e os santos de ouro, sem exceção, do meu lado. Quando abri o olho estranhei. Estavam todos diferentes, mais velhos, talvez. Perguntei o que aconteceu. Disseram-me que fiquei em coma por dez anos. Muito tempo. Acharam que eu não acordaria. Perguntei por que estavam todos reunidos. Disseram-me que hoje era aniversario. Perguntei de quem. Disseram do Mascara. Aí reparei que ele não estava lá. E olhei para fora. Era outono. O aniversário de Mascara da Morte era no verão. Reparei também que Shaka ainda estava numa cadeira de rodas. Perguntei onde estava o Mascara. Queria vê-lo. Queria pedir desculpas pelo que eu fizera. Os mais emotivos, como Aldebaran e Milo começaram a chorar. Não sei por que, mais logo pensei no pior. Estava morto. Morrera por minha causa. Comecei a chorar. Então me confirmaram o que suspeitava. Estava mesmo morto. Saga viu que eu estava desesperado e me entregou uma carta. Hesitei, mas ele insistiu. Dizia o seguinte:
Querido Afrodite.
Não sei se por acaso você vai chegar a ler esta carta. Talvez eu e você nunca mais nos veremos. Pesando nisso, resolvi me abafar com você uma ultima vez.
Quando começaram a dizer que você me traia com Shaka, não quis acreditar. No inicio não acreditei. Mas quando Shaka largou o casamento com Mu e você ficou com ele, perdi a razão. Nos seis meses que ficamos separados, sofri demais. Sentia sua falta. Então quando Milo me chamou por cosmo e disse que eu precisava conversar com você, não pensei duas vezes e fui como Mu. Por teletransporte, claro. Então, num jantar acompanhados por Kamus e Milo, Shaka nos contou que ficara doente e você apenas estava o confortando.E foi exatamente por isso que ficou paralítico. Não perguntei mais nada. Apenas Kamus perguntou como ele, justamente ele, ficou doente. Ele disse algo como maldição de Budha, não entendi direito. Eu e Mu nos decidimos que iríamos na casa de vocês no outro dia bem cedo. Sabe, foi bonito ver Mu e Shaka se reconciliando. Não sei o que Mu pensou, mas eu senti um certo aperto quando vi Shaka na cadeira de rodas. Não importa.
Quando você me contou o que aconteceu nesses meses, fiquei com pena de você. Com dó. Tanto que até chorei. Resolvi te levar até o Big Beng. Sempre quis ir até lá. Queria ir com você. Na verdade, tinha passagens compradas para cá uns dias depois do falecido casamento do Mu e do Shaka. No caminho, quando você disse não, fiquei irado. Tinha certeza que você diria sim. Talvez por isso fiquei tão irado.
Nunca foi minha intenção te machucar. Nunca quis isso. Agora que nós, principalmente você, estamos quase morrendo, queria apenas me desabafar. Me arrependo amargamente de não ter confiado em você. Queria que você me perdoasse. Hoje estou com medo de morrer. Irônico. Estou com medo de morrer e você ficar aí. Sozinho. Que seja. O que importa é que não vai me importar hora, mês, situação, ano, vida, morte. Eu sempre vou te amar e sei que você me ama. Mas não conseguiria descansar em paz sem seu perdão.
Me perdoa?
Do eterno seu, Giuliano Tranquili.
Depois que eu li a carta, senti que queria ter morrido também. Mas não. Como disse Shaka uma vez, tudo o que fazemos tem um motivo. E uma razão de ser. Talvez isso teria que ter acontecido. Hoje, já se passaram dois anos que eu saí do coma. Não voltei para o Santuário, aliás, fiquei sabendo depois que todos os Santos de Ouro haviam saído de lá depois que Shaka contou toda a história. Não vou negar. Foi até engraçado saber qual era a profissão de cada um. Shaka é medico, Mu, advogado, Saga, professor de grego, Kanon, professor de biologia marinha, ambos professores em universidades. Kamus é arquiteto. Milo, cantor. Até que ele faz sucesso. Aldebaran é personal trainer. Shura é executivo. Trabalha na fundação Kido. Aiolia é fisioterapeuta. Me disse que só virou fisioterapeuta para fazer o Shaka andar. Aiolos é professor de educação física numa escola infantil.
Todos eles criaram família, tem filhos. Eu hoje não sou nada. Quer dizer, não sou um prostituto mais. Estou estudando design. Sei que já tenho meus 36 anos, mas a vida continua. Até não sei por que estou dando esse depoimento. Sabe, 'cutucar' o passado é coisa de quem não tem futuro.
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Bem, essa fic foi repostada pq fiquei com preguiça de continuar ela... mas a vontade voltou, entaom façam uma latura feliz e mandem reviews!
